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De toda sorte, a preocupação em julgar com justiça está presente nas Escrituras e a aparente ambiguidade que caracteriza o conteúdo dessa virtude acaba não permitindo o estabelecimento de um padrão objetivo para a igualdade que se pretende alcançar. Mas a

justiça, mais que os sentidos humanos, é a medida para o julgamento. Como se observa em Isaías 11, 1, s., “[o Senhor] não julgará pelo que seus olhos vêem nem decidirá pelo que seus ouvidos ouvem, mas com justiça ele julgará os necessitados e com justiça decidirá pelos pobres da terra”.

A exclusão dos sentidos exteriores da visão e da audição como aferidores de mérito, aqui colocados em oposição à virtude da justiça, é significativa. Autoriza supor que o justo deve desprezar os mecanismos humanos de percepção para, livre de injunções de qualquer paixão terrena, deparar-se enfim com a visão da verdadeira justiça, esta portanto situada num plano verdadeiramente metafísico, somente alcançável por quem se tornou santo (aí de novo a semelhança com os eleitos, referidos por Platão).

Dá então a doutrina cristã ênfase ao caráter espiritual da justiça, vista como algo – verdadeiro mistério - somente apreensível por meio da fé. As Epístolas de Paulo são visível demonstração disso. Como consta da Carta aos Gálatas 5, 5, s., “Mas nós, pelo Espírito, por meio da fé, aguardamos a justiça a que ansiamos. Pois na união com Cristo Jesus nem a circuncisão nem a falta dela contam para alguma coisa, mas apenas a fé que age por meio do amor”.

Sem embargo dessa intangibilidade, tão marcante e emblemático é o sentido do justo, que essa virtude parece converter-se na medida para quase toda ação humana. Assim, aquilo que é consagrado pela justiça – e somente aquilo – é tido como a atitude reta e desejável. Isso é observável especialmente no mundo dos fenômenos jurídicos, até ao ponto de muitos considerarem direito apenas o que satisfaça o ideal de justiça, negando essa condição, por exemplo, à norma considerada injusta.

Nesse aspecto é interessante notar a sintomática e impressionante associação, que deitou raízes na nossa cultura e que se faz imperceptivelmente, entre as qualidades de

justo e de reto – no sentido do caminho reto, o inverso do caminho tortuoso e obscuro, do melhor caminho enfim.

Procurando explicá-la, FERRAZ JR., citando monografia de Sebastião Cruz (1971), lembra que o direito costuma estar vinculado a um símbolo representando a deusa romana Iustitia,

[...] a qual distribuía a justiça por meio da balança (com os dois pratos e o fiel bem no meio) que ela segurava com as duas mãos. Ela ficava de pé e tinha os olhos vendados e dizia (declarava) o direito (jus) quando o fiel estava

completamente vertical: direito (rectum) = perfeitamente reto, reto de cima a baixo (de + rectum).” 82

Daí a estreita ligação, tão cara aos juristas, de justiça com retidão e dessa retidão com direito. Ainda segundo aponta esse autor, “da palavra rectum – ou da indoeuropéia rek-to – derivou Rechts, right etc. e, da palavra derectum, direito, derecho,

diritto, droit etc.” 83

Essa tradicional associação de direito com justiça revela uma angustiada busca do ser humano por algo que, maior que suas leis terrenas, dê a estas um sentido. Um sentido universal que as legitime e que permita até mesmo conviver com a mutabilidade que se tornou sua característica – mais acentuada na medida em que se foram se convertendo em produto consumível e descartável do labor do homem. É que, de novo no dizer de FERRAZ JR.,

[...] nenhum homem pode sobreviver numa situação em que a justiça, enquanto sentido unificador do seu universo moral, foi destruída, pois a carência de sentido torna a vida insuportável. [...] Diz-se, assim, que o direito deve ser justo ou não tem sentido a obrigação de respeitá-lo. 84

Essa necessidade de justiça reclamada pelo universo do direito é bom exemplo de como o ser humano procura nela o norte para sua conduta. Mas tampouco nesse mundo das leis parece ter se resolvido o problema da definição do seu conteúdo. Revelando uma dúvida exatamente nesse ponto, o mesmo autor indaga se ela “seria um princípio racional ou seria sentimento irracional, mera crença que pode ser ‘sentida’, mas jamais demonstrada”. 85

No entanto, a abordagem da categoria justiça pelo estudo do direito descortina certos panoramas, dentre os quais um se mostra especialmente interessante: a busca pela racionalidade como critério de estabelecer conceitos.

O termo razão, cuja origem etimológica latina - ratio - desvela um sentido de relação entre grandezas, frequentemente associada a cálculo, que é uma relação entre

82 FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio, op. cit, p. 32-33. 83 ibidem, p. 32.

84 ibidem, p. 352. 85 ibidem

números, e de onde derivam raciocínio e racional, aos poucos se estabeleceu como padrão de solução de problemas de toda natureza. Assim é que passa a determinar a relação correta entre números (a razão matemática), entre pensamentos (a lógica), bem como a correta opção entre alternativas de conduta: daí a prudentia , categoria da qual se apropria o direito, ao perquirir a origem do ordenamento ou de um certo código de condutas. Não deve passar despercebido que para esse substantivo são encontráveis vários sentidos, todos relacionados entre si, mas avultando dois especialmente significativos: o de “discernimento (das coisas boas, más ou indiferentes)” e de “conhecimentos práticos”. 86

Pois bem. Se é preciso, ou conveniente, definir a justiça, ou seu objeto, deve-se fazê-lo racionalmente. Considerando que o seu conteúdo racionalmente mostra-se inapreensível para o comum dos homens, resta investir na captura de sua forma. Com isso há um novo retorno ao significado formal da justiça: dar a cada um o que é seu conforme uma igualdade proporcional (tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais). Tal igualdade e a situação de equilíbrio que dela deve resultar materializam a idéia de solução racional, atendendo assim àquela exigência cultural de que a razão, na sua vertente

prudentia, é o critério que há de presidir as escolhas dos homens em suas relações com outros, bem como os julgamentos a que estes têm de se submeter por conta de seus atos.

Isso quer dizer que o justo se associa ao racional e o injusto ao irracional. É desejável ser racional e a maneira de sê-lo depende, na distribuição dos bens materiais e imateriais entre os indivíduos, de se conseguir fazer isso com igualdade. Dessa forma, na categoria igualdade reside o padrão racional dessa distribuição.

86 FARIA, Ernesto (org.). Dicionário escolar latino-português. Rio de Janeiro: Departamento Nacional de Educação, Ministério da Educação e Cultura, 4 ed., p. 816.

CAPÍTULO V

VINGANÇA E IGUALDADE

Enfim, às 9 horas do dia 22, na presença do advogado Nilton Silva, o Juiz Pahim interrogou Mahmoud no Fórum de Bebedouro. O acusado disse nada ter a alegar contra as testemunhas que o promotor arrolara para o processo, mas frisou que não tinha confiança nos seus depoimentos. Para daí a cinco dias ficou marcada a audiência para ouvir essas testemunhas. Às 9 horas da manhã, com tudo já pronto e os depoentes qualificados, o magistrado iniciou a tomada dos depoimentos daqueles que tinham presenciado os crimes da “esquina do pecado”. Longos depoimentos. Na parte da manhã só houve tempo para inquirir o comerciante José Geraldo Caputo e o funcionário público Reynaldo Pinto de Almeida. A audiência foi reaberta à uma hora da tarde, quando foram ouvidos outros dois, disso também resultando prolixas declarações: o farmacêutico João Batista Paganelli e Arnaldo Aloízio Taube, comerciante também. Prossegue a audiência no dia seguinte e o juiz, madrugador, dessa vez inicia a coleta dos depoimentos às oito da manhã, interrompendo-a para almoço e de novo reabrindo os trabalhos à uma da tarde. Nesse dia ele ouviu o motorista Milton Luchesi, o açougueiro José Olívio Frederico, o “Olivinho”, o pedreiro Donozor Severino da Silva e o funcionário público Norival Antônio Japur, o Turco Mau. Todas as testemunhas andavam na casa dos dezenove aos

vinte e cinco anos, exceção feita a João Paganelli, que tinha trinta e oito. Sem excluir nenhum, o advogado do réu contraditou todos, afirmando sempre a mesma coisa: a testemunha sofria “a influência perniciosa do trabalho apaixonado que os membros da família Ismael fazem nesta comarca, na Capital do Estado e até mesmo na da República, no sentido de criar um ambiente hostil e prejudicial aos interesses da defesa”.

Enquanto isso se passava em Bebedouro, o Brasil inteiro se agitava por conta das eleições que mandariam Jânio Quadros e João Goulart para Brasília, como presidente da república e vice. O Brasil só votaria de novo para presidente, em eleições diretas, 29 anos depois.

Quem passa pela avenida principal do cemitério de Bebedouro pode observar do lado esquerdo, a pouca distância da capela, gravada na lápide da sepultura de Samir e Riad, a seguinte inscrição: Senhor, só Vós sois juiz, só Vós podeis julgar os homens. Cumpram-se, pois, na Terra os Vossos santos e indiscutíveis desígnios. Essa bela e

admirável declaração de fé na justiça divina se faz acompanhar de providência para garantir também a justiça terrena. Em 10 de outubro João Ismael, o pai das vítimas, pede – e é atendido - para ser aceito como assistente da acusação, fazendo-se representar pelo mesmo Pedro Eduardo de Godoy Pereira, que defendera Bahzed, e pelo jovem advogado Antônio Carlos Silva. Após cinco dias, diante do réu, de seu defensor, do promotor e do assistente de acusação, o juiz inicia a inquirição das testemunhas de defesa residentes na comarca, que são o funcionário público Mário Rímoli e o comerciante Caled Samur. Este último ressalta ser muçulmano, como o acusado. Ele foi contraditado pelo promotor, sob o argumento de que havia suspeição no seu depoimento em virtude da amizade íntima que mantinha com o réu.

Todas as contraditas foram deixadas pelo juiz como assunto para considerar por ocasião do julgamento.

Ainda no ano de 1960 Mahmoud foi transferido para a cadeia de Monte Azul Paulista porque a de Barretos se mostrou insegura, conclusão a que as autoridades chegaram por conta de uma série de fugas ali ocorridas. Tais fugas foram noticiadas pela

Folha da Manhã de 10 de novembro e a maneira como ocorreram é prosaica: os fugitivos

simplesmente passaram por entre as grades do xadrez, circunstância que, além de noticiada no jornal, consta de ofício do delegado de Bebedouro ao juiz. A defesa de Mahmoud protestou contra a remoção. Argumentou “que o diâmetro de sua [do réu] cabeça é maior que a maior abertura das grades” do presídio de Barretos. Na verdade, o que parece ter motivado o protesto foi a informação errônea chegada ao defensor de que a transferência se dera para a cadeia de Bebedouro, cidade onde o acusado tinha medo de estar. Certamente não teria porque temer por sua vida na de Monte Azul: conforme anotou o delegado naquele ofício endereçado ao juiz Pahim, suas condições eram excelentes, pois “trata-se de edificação recente [...] e sua guarda é composta permanentemente de três soldados, além do carcereiro”.

As outras testemunhas arroladas pelo réu foram ouvidas nas cidades em que residiam: o comerciante libanês Mahmed Assad Nassabai em Pitangueiras, o irmão de Mahmoud, Kassem, e seu conterrâneo Mamed Calil, em São Paulo. Salvo Kassem, as testemunhas foram contraditadas pela acusação.

Já ia rolando o ano de 1961, o mesmo em que foi inaugurada a Fonte Luminosa numa das praças centrais de Bebedouro. Em abril a União Soviética mandaria o major Yuri Gagarin numa nave espacial para orbitar o planeta. “A Terra é azul”, disse ele, ao voltar. Em agosto, para surpresa geral, Jânio renuncia à presidência, afirmando que “forças terríveis” se levantavam contra ele. Em setembro, terminada a inquirição das testemunhas de acusação e de defesa, e apresentadas as alegações finais da acusação, o advogado Nilton Silva, por telegrama, comunica ao juiz Pahim que renunciava ao mandato para defender Mahmoud. O magistrado então lhe nomeia como defensor dativo o advogado Godofredo José Marques Mauro, mais tarde juiz de direito e desembargador, filho de José Mauro Neto, médico havia muito radicado em Bebedouro, vindo da vizinha Pitangueiras. Godofredo ofereceu alegações finais em favor do réu, postulando sua absolvição sumária, por legítima defesa. Mahmoud, entretanto, nesse ínterim constituiu novo defensor, Ronaldo Otaviano Diniz Junqueira, o mesmo que o representara como assistente de acusação contra Bahzed, com escritório em Araraquara, o qual apresentou outras alegações finais, “reconhecendo o brilho e a eficiência do quanto alegou o nobre e ilustre profissional” [está falando de Godofredo], mas pleiteando, ao invés da absolvição sumária, a pronúncia do réu por homicídio simples, batendo firme no afastamento das qualificadoras da vingança e da surpresa.

Recebendo os autos para decisão, o juiz valeu-se do que lhe permitia o art. 407 do Código de Processo Penal e determinou que primeiro se ouvissem várias testemunhas a que fizeram referência as que já tinham sido ouvidas, alongando assim a colheita de provas orais. Além disso, quis que se fizesse levantamento completo do local dos crimes. No ofício que mandou ao delegado de polícia, foi minucioso e exigente: no prazo de vinte dias lhe deveria ser mandado um laudo “abrangendo o prédio do Bar Rio Branco, interna e externamente, sua calçada fronteiriça até a esquina, sua posição em relação ao Cine Rio Branco, Bar Predileto, Casa A Vanguarda, Banco Mercantil, Bar de Waldemar Ribeiro, Posto Toller, Bar Branca de Neve, Bar de Rubens Pastore e esquina da Praça Mons. Aristides, ao lado da Igreja Matriz, na Rua São João, onde existem bancos.”

Salvo o posto Toller e o bar Branca de Neve, todos os outros locais faziam mais ou menos parte da trepidante esquina do pecado. O posto, acoplado a uma agência de

venda de implementos agrícolas, pertenceu à família Toller por longo período. Mais tarde, um quarteirão e meio abaixo, na mesma rua Oscar Werneck, tornou-se concessionária de veículos Chevrolet, que foi vendida, na década de oitenta, ao empresário Plínio Valério Tuzzolo, chegado de fora, aparentando gostar de política e de carnaval, e ao cabo de uns

poucos anos indo embora de Bebedouro, tão repentinamente quanto chegara. O bar Branca de Neve é dos estabelecimentos que mais persistem na cidade, no mesmo lugar e com o mesmo nome. Notabiliza-se mais como sorveteria que como bar e, enquanto o centro foi o único ponto de encontro e de lazer, era parada constante dos alunos que saíam das escolas, estimulados a se refrescar pelo clima quase sempre quente daquele quadrante do interior paulista.

As tais testemunhas referidas acabaram, por fim, ouvidas em audiência, nos dias 6, 7, 8 e 9 de novembro de 1961, que o juiz agora marcara para o período da tarde. Foram assim inquiridos os bancários Antônio Carlos Gomes e Júlio Francisco de Toledo, o funcionário do D.E.R. Neuse Baptista, o comerciante William Paganelli, sobrinho de João Paganelli, e João Perri, dono do bar Rio Branco e, com 33 anos, o mais velho do grupo. O comerciário Jayme Ferreira, que, com 18 anos, tivera inspeção médica na Junta do Serviço Militar e não pudera ser ouvido nesses dias, prestou depoimento no dia 13 de novembro, de manhã. Menos este e João Perri, os outros foram contraditados, por alegada proximidade com as vítimas. Por último, o motorista Necy Biscola foi ouvido em São Paulo, no dia 20 de novembro.

O processo entra em 1962. Na Fazenda Cruz de Lima a Companhia Mineira de Conservas instala a primeira fábrica de suco concentrado de laranja. 87 Em abril desse ano outro já é o promotor público de Bebedouro: José Eduardo Ferreira Pimont. Finalmente, em 4 de junho, em plena Copa do Mundo, que o Brasil ganharia de novo, graças ao talento de Garrincha mais dez jogadores, a pronúncia do réu: dois homicídios, em concurso material, duplamente qualificados, pela vingança e surpresa. Da sentença – ou decisão – de pronúncia o juiz queria intimar o réu no próprio Fórum, tendo oficiado ao delegado para que o apresentasse. Também o delegado mudara: era agora o bacharel Francisco de Assis Moura, o temido Chicão: alto, rosto liso e queimado de sol, meio calvo,

óculos escuros, porte marcial. Não fosse delegado de polícia, seria inevitavelmente confundido com um. Contavam – e não consta que ele desmentisse – que fazia os presos lavarem a calçada da cadeia carregando água em latinhas de ervilha.

O acusado recorreu da pronúncia, sem sucesso. Nesse meio tempo foi acometido de apendicite aguda, atestada pelo cirurgião Alcides Arroyo, de Monte Azul, membro do American College of Surgeons, como constava de seu receituário, sendo

autorizada sua remoção para o hospital onde foi operado. Poucos dias depois já retornava

à cadeia dessa cidade, onde continuava preso.

O promotor Pimont recebeu os autos para libelo, que produziu em duas séries, uma para cada homicídio. Quanto à qualificadora da vingança, articulou-a objetivamente, num só item: “O R. cometeu o crime por motivo de vingança”. Cuidou ainda o promotor de fazer juntar aos autos uma certidão do processo em que Mahmoud fora condenado por disparo de arma de fogo, feito no dia seguinte à morte de Ale por Bahzed, próximo à casa de um dos irmãos Ismael, além de outra, transcrevendo depoimentos tomados no processo contra Bahzed. As certidões foram passadas pelo oficial-maior Antônio Luppi, aquele mesmo que em 1956 fora eleito para a diretoria da Cooperativa dos Citricultores.

Em 20 de janeiro de 1963, o jornal Gazeta de Bebedouro publicava o edital de

convocação dos jurados para servirem no dia 21 de fevereiro, data assinalada para o julgamento do réu. A lista, com os vinte e um nomes que a lei exige, principiava com Oswaldo Gamboni, Thomaz Ceneviva Netto, Sinésio Soares Junqueira Franco e Alberto Tenan, dois comerciantes e dois agricultores. Na mesma Gazeta, o convite para a missa da

“saudosa Ludovina Lopes de Oliveira, a Dona Neguinha”, os proclamas de José Fachine Sobrinho e Maria Bergantini, uma convocação do Bebedouro Clube para o “Carnaval do Povo”, um balancete da Associação Atlética Internacional, além da publicidade do dentista Guido Janini, do otorrino Nélson da Silva Carvalho e da Farmácia Antunes, entre outras.

Para o plenário, João Ismael, pai das vítimas e assistente de acusação, passou nova procuração, agora ao advogado Paulo Cretella Sobrinho, radicado em Catanduva. Esse causídico, de conhecida família de advogados em São Paulo, teria ido para Catanduva, a 380 quilômetros da Capital, justamente, segundo dizem, para se afastar de onde vivera um amor frustrado. Sem dizer quem era, empregou-se como professor de psicologia numa escola local, até que sua existência ali foi descoberta por um juiz recém- chegado à cidade e coincidentemente seu colega de faculdade. Conta-se que esse magistrado, sabedor do drama do amigo e decidido a lhe dar apoio, reuniu no Fórum os funcionários e a comunidade jurídica e, tendo chamado para ali o tal professor de psicologia, o apresentou como um dos maiores oradores que conhecia, tratando de imediatamente nomeá-lo para a defesa de certo réu pobre, sem deixar espaço para recusa. Sem alternativa, o advogado subitamente revelado ao mundo assumiu a missão, fez uma sustentação primorosa e alçou vôo na advocacia do júri. 88