• Nenhum resultado encontrado

Após a contrariedade, estando os prontos os autos, será o processo incluído em pauta para julgamento. Este fará parte de uma sessão do tribunal do júri, entendida como sessão o período em que são realizados os julgamentos. Segundo normas de organização judiciária, no Estado de São Paulo, nas comarcas antigamente classificadas em primeira e segunda entrâncias, as sessões ocorrem nos meses de março, junho, setembro e dezembro; nas da antiga terceira entrância, nos meses pares, e na Capital do Estado permanentemente, todos os dias úteis, desde que haja processos em pauta.

Como jurados servirão brasileiros maiores de vinte e um anos de conhecida idoneidade. Para cada sessão devem ser sorteados vinte e um jurados, dentre uma lista organizada anualmente pelo juiz presidente. A organização dessa lista anual é feita com base em relações de nomes fornecidas por instituições de classe, sindicatos e até mesmo pelo cartório eleitoral. O sorteio dos vinte e um costuma ser feito, no Estado de São Paulo, no prazo de trinta dias antes do primeiro julgamento, com base no Decreto n. 1575, de 1908. O ato deve ser solene: em local com as portas abertas, um menor de dezoito anos retirará de uma urna as cédulas com os nomes; feito isso, estas serão recolhidas a outra urna, cuja chave ficará em poder do juiz, tudo enfim sendo tomado por termo, em livro

para isso destinado.

Por fim, os nomes dos vinte e um sorteados serão objeto de um edital de convocação, que será afixado na porta do edifício onde funciona o tribunal do júri e publicado na imprensa, sempre que possível. Qualquer nome poderá ser impugnado como suspeito, desde que a impugnação se faça fundamentadamente. Também será afixada a relação dos processos que serão levados a julgamento na sessão periódica. O serviço do júri é obrigatório e o jurado que o recusar, alegando motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, sujeita-se à perda dos direitos políticos. Mas estabelece presunção de idoneidade moral, garante prisão provisória especial e preferência, em igualdade de condições, nas concorrências públicas. 144

No dia e hora assinalados para o julgamento, o escrivão fará a chamada dos vinte e um jurados e o juiz presidente dará por iniciados os trabalhos se houver o comparecimento de pelo menos quinze deles. O juiz presidente anunciará o processo que será submetido a julgamento e mandará o porteiro apregoar as partes e as testemunhas. Estas serão instaladas em locais de onde não possam ouvir os debates e as respostas umas das outras, devendo ficar separadas as de acusação e as de defesa. Ao réu, se presente, o juiz indagará o nome, a idade e se tem advogado.

Em seguida advertirá os jurados de seus impedimentos e incompatibilidades (parentesco com o juiz, o promotor, o advogado, o réu ou a vítima), bem como do dever de incomunicabilidade. Far-se-á então o sorteio dos sete jurados para compor o conselho de sentença, podendo a defesa e a acusação recusar imotivadamente até três deles. Uma vez formado o conselho, o juiz presidente os exortará, com palavras sacrais: em nome da lei,

concito-vos a examinar com imparcialidade esta causa e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça, ao que cada jurado, nominalmente chamado, deverá responder: assim o prometo.

O juiz presidente, em seguida, interrogará o réu, certo que os jurados, na qualidade de juízes, também lhe poderão fazer perguntas. Esse direito estendeu-se à acusação e à defesa com a nova redação que a Lei n. 10.792/03 deu ao art. 188 do Código de Processo Penal. Ele deverá ser indagado, entre outras coisas, sobre suas oportunidades sociais, vida pregressa, dados familiares, além da acusação propriamente dita, as provas já

144 Damásio de Jesus lembra ser inaplicável esse benefício “aos concursos públicos endereçados ao ingresso de pessoal no serviço público”. Assim, o fato de um candidato ter sido jurado não enseja a aplicação da vantagem legal (Parecer n. 742/81, no Processo n. 12.775/81, do Ministério do Planejamento, DOU 3.8.81, p. 14513). Código de Processo Penal anotado. São Paulo: Saraiva, 1983, p. 268.

produzidas, seu conhecimento sobre vítimas e testemunhas, se tem algo a dizer contra elas e, enfim, todos os fatos e pormenores que auxiliem na elucidação do crime.

Após o interrogatório, o juiz fará um breve relato do processo, sem manifestar sua opinião, e perguntará às partes se desejam leitura de peças dos autos, o que, em caso afirmativo, será feito pelo escrivão. A seguir serão inquiridas as testemunhas arroladas para plenário, primeiro as de acusação, depois as de defesa. Pela ordem farão as inquirições o juiz presidente, o promotor, o assistente (no caso das testemunhas de acusação), o defensor e os jurados que o desejarem; sendo de defesa as testemunhas, o advogado as inquirirá antes dos acusadores, certo que as indagações das partes serão feitas diretamente, sem intermediação do juiz.

Depois disso, acusação e defesa disporão de duas horas cada uma para produzir oralmente suas alegações finais, ficando esse tempo acrescido de uma hora se houver mais de um réu sendo julgado. O assistente de acusação dividirá o tempo com o promotor segundo combinarem. Os jurados poderão a qualquer momento pedir que o acusador e o defensor indiquem as folhas dos autos referentes às peças por eles mencionadas. Após os debates, a acusação replicará, se quiser, por até meia hora, caso em que a defesa poderá treplicar por igual prazo.

O promotor sustentou o libelo, pedindo a condenação de Mahmoud por dois homicídios duplamente qualificados, no que foi secundado pelo assistente de acusação. A defesa do réu pleiteou a absolvição por legítima defesa putativa, alegando que o réu imaginara estar sendo agredido ou na iminência de sê-lo quando atirou nos irmãos Ismael. Alternativamente propôs que o júri reconhecesse que agiu sob o domínio de violenta emoção logo em seguida a uma injusta provocação das vítimas. Por último, postulou o afastamento das duas qualificadoras.

Findos os debates, o juiz presidente indagará aos jurados se estão habilitados a votar e, sendo afirmativa a resposta, lerá o questionário formulado, elaborado com base no libelo, na contrariedade e nas teses do réu e de sua defesa em plenário, explicando a significação de cada quesito. Feito isso, consultará as partes sobre terem requerimentos ou

reclamações, que, desatendidos, deverão constar de ata. Em seguida anunciará que se irá proceder ao julgamento, fazendo retirar o réu e os circunstantes do local, ou simplesmente conduzindo os jurados, o acusador e o defensor para a sala secreta, onde houver. Lá, indagará os jurados quesito por quesito, devendo estes respondê-los com um sim ou um

não, dispondo de uma cédula para cada opção. Havendo contradição entre as respostas a um quesito e outro, o juiz presidente explicará isso aos jurados e colherá de novo os votos. As decisões serão tomadas por maioria de votos. Conforme o resultado da votação de determinado quesito, o juiz considerará prejudicados os demais e encerrará o julgamento, devendo de tudo ser lavrado o respectivo termo.

O questionário, que o juiz presidente formulou antes de iniciar o julgamento na sala secreta e que será apresentado aos jurados, é peça que exige parcimônia e precisão, pois os jurados, além de leigos em direito, deverão ser capazes de responder cada indagação com um sim ou um não, o que somente será possível através de perguntas claras e unívocas. Para isso é conveniente e muitas vezes necessário que algumas questões sejam desdobradas, a fim de que os jurados efetivamente respondam uma por vez.

Objetivo que não pode ser jamais esquecido é o de possibilitar aos jurados compreender claramente o que lhes está sendo indagado e decidir com firmeza, razão porque devem os quesitos ser “propostos em frases simples e claras, destacando-se bem os fatos e as suas circunstâncias, [...], sem dar lugar a equívocos ou anfibologia”, no dizer de

ESPÍNOLA FILHO 145, ao comentar dispositivos dos antigos códigos de processo dos

Estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e do Distrito Federal. 146

Havendo qualificadoras articuladas no libelo – como o motivo torpe para o crime de homicídio – serão objeto de indagação após a afirmação pelo júri dos quesitos referentes à autoria e materialidade do fato e do nexo causal entre a conduta do réu e o resultado (no caso de o crime ter se consumado) e ainda depois de negados os quesitos da defesa referentes a excludentes de ilicitude e de culpabilidade.

Sendo o réu acusado, por exemplo, de ter cometido o delito por vingança e achando o acusador tratar-se, no caso, de um motivo torpe, o quesito deverá ser formulado de molde a possibilitar aos jurados a apreciação quer daquilo em que terá consistido essa qualificadora. Com efeito, MARQUES PORTO recomenda a descrição fática da

145 ESPÍNOLA FILHO, Eduardo. op. cit.

146 Até a entrada em vigor do atual Código de Processo Penal, em 01 de janeiro de 1942, o direito processual penal era regido por códigos das unidades federativas.

qualificadora, mas admite uma indagação genérica se não for “possível sua enunciação em proposição simples, assim por ter sido complexa e cumulada de circunstâncias a conduta adjetivada”, pressupondo que a descrição “deve ter sido feita pela inicial penal, denúncia ou queixa, bem como tratada pela decisão de pronúncia.” 147.

Nada obstante, MARREY, FRANCO e STOCCO, advogando a necessidade da descrição, lecionam que “os quesitos sobre as qualificadoras devem descrever o conteúdo fático que enseja essa qualificação. Não basta afirmar que o réu praticou o crime agindo por meio cruel ou insidioso ou atuou de emboscada ou mediante dissimulação, se, em seguida, não se explicita no que consistiu esse meio cruel ou insidioso ou não se relata de que modo ocorreu a emboscada ou qual foi o modo dissimulador por ele empregado.” 148. De fato, a indagação lacônica pode não ser esclarecedora ao jurado da extensão do que lhe está sendo perguntado. Decidiu-se que “se o quesito é formulado de tal forma que possa gerar perplexidade aos jurados, e envolvendo ao mesmo tempo indagação de natureza puramente jurídica, nulo é o respectivo julgamento” (TJMG – Rel. Grover Jacob – RT 414/362 – CPP e sua interpretação [...]..., p. 978). E, no sentido de que a sua formulação deve ter o objetivo de evitar a complexidade, que “desdobramento de quesito complexo, formulado isolada e alternativamente, não importa em ampliação ou modificação da pronúncia que reconhece a qualificadora do meio insidioso ou cruel” (STF – Rel. Célio Borja – DJU 24.4.92, p. 5376 – CPP e sua interpretação [...], p. 980).

No tocante à necessidade de detalhamento do fato, diga-se o mesmo quando a alegação do réu for de ter cometido um homicídio privilegiado por motivo de relevante valor moral ou social, devendo ser especificada a descrição daquilo em que consistiram. O mesmo procedimento haverá de ser adotado quando a tese defensiva for a de inexigibilidade de outra conduta. 149.

Estando o motivo – que pode ser a vingança – vinculado a uma situação de legítima defesa (como a da honra, aceitável segundo certa jurisprudência), a excludente será objeto de um desdobramento de quesitos cada qual referente a um elemento da justificativa, não se perdendo de vista que a negativa da moderação ensejará a votação dos quesitos relativos ao excesso, certo que a afirmação do primeiro deles prejudicará a votação do segundo.

No caso de entenderem os jurados que o fato imputado ao réu é penalmente

147 Op. cit., p. 178-9. 148 Op. cit., p. 624-5. 149 Ibidem, p. 547 e 620.

atípico, negarão o primeiro ou o segundo quesitos – referentes à autoria, materialidade e nexo causal. Essa negativa, a rigor, não corresponderá à realidade fática se o acusado foi o autor material dos golpes que provocaram as lesões responsáveis pela morte da vítima. Mais adequado seria que, para acolher a hipótese de atipicidade, a despeito da certeza quanto à autoria do fato, 150 fosse possível fazer a indagação sobre existir crime no fato ou

objeto de acusação, como ocorria com o julgamento pelo júri de sentença, previsto no Código de Processo Criminal de 1832. 151

Por conta da necessidade de descrever no questionário, tão detalhadamente quanto possível, a conduta incriminada, é que se aventa aqui a hipótese de se dever desdobrar o quesito referente à qualificadora do motivo torpe quando este não for a paga

ou promessa de recompensa (art. 121, § 2º, I, do Código Penal), já que todos os demais motivos possivelmente torpes – dentre eles a vingança – não estão legalmente definidos.

É certo que a doutrina tem fulminado o desdobramento de quesito relativo a qualificadora, argumentando que isso pode ser prejudicial ao réu. 152 Mas como, de outra forma, poderá o jurado responder, primeiro, se o acusado agiu por vingança consistente no fato descrito na pergunta e, segundo, se vislumbra torpeza nesse proceder? É que se afigura perfeitamente possível que ele queira afirmar que o réu agiu da forma descrita, mas que isso não representa um agir torpe. Nessa hipótese, a formulação da pergunta em quesito único poderia gerar perplexidade e prejudicar a resposta.

Parece realmente aplicável à votação da qualificadora a regra que, disposta no art. 484, II, do Código de Processo Penal, se relaciona mais diretamente com o quesito referente ao fato principal, mas cujo enunciado deve valer igualmente para todas as circunstâncias deste. Como também há de valer o magistério de BORGES DA ROSA, citado por ESPÍNOLA FILHO 153, no sentido de que

Se os elementos de que se compuser o quesito, tomados isoladamente, puderem dar lugar a respostas diferentes que conduzam a conseqüências jurídicas

150 Hipótese possível, por exemplo, ante a evidência de uma conduta absolutamente involuntária do acusado, ou de completa ausência de imputação objetiva em seu proceder.

151 Conforme lembra ESPÍNOLA FILHO, havia na época um procedimento em que um primeiro conselho de jurados – chamado júri de acusação - decidia se havia matéria para acusação e um segundo, o júri de

sentença, julgava o réu.

152 O desdobramento de uma qualificadora para a elaboração de dois quesitos significa “indevida ampliação acusatória, sendo, a respeito, decidido que ‘a articulação dupla da mesma qualificadora motiva manifesto prejuízo à defesa, representando nulidade de ordem pública que não poderia ser sanada pelo conformismo da parte prejudicada, ao ensejo do julgamento””, conforme lembra MARQUES PORTO, op. cit., fazendo referência a julgado do TJSP – j. 20.10.1975.

diversas, é sinal de que o mesmo quesito está mal proposto, e o remédio é dividi- lo em tantos quesitos quantos forem aqueles elementos.

Caso ainda a merecer menção é a discutida possibilidade de convivência entre homicídio privilegiado e qualificado. Inclinam-se doutrina e jurisprudência pela admissibilidade dessa figura híbrida, desde que a qualificadora seja de caráter meramente objetivo. Se for subjetiva – relacionada, por exemplo, à motivação do agente -, será logicamente incompatível com a figura do privilégio, cujas raízes são sempre subjetivas. Como os jurados votam sempre as teses defensivas em primeiro lugar, a afirmação do homicídio privilegiado prejudicará a votação do quesito da qualificadora de índole subjetiva eventualmente articulada.

Terminada, enfim, a votação e delineado o resultado do julgamento, o juiz lavrará sentença em atendimento à decisão do júri. A sentença, que será absolutória, condenatória, desclassificatória ou extintiva de punibilidade, será lida em plenário e as partes, presentes, aí serão dela intimadas.

A sentença proferida num julgamento pelo tribunal do júri está, como outras, sujeita ao duplo grau de jurisdição. Dela caberá recurso de apelação, nos termos do art. 593, III, do Código de Processo Penal. O reconhecimento de nulidade posterior à pronúncia, a modificação da sentença do juiz presidente para adequá-la aos termos da lei ou à vontade dos jurados, ou ainda para alterar a pena imposta, ou a determinação para sujeitar o réu a novo julgamento, se este foi manifestamente contrário às provas dos autos, tudo como previsto nos parágrafos 1º, 2º e 3º do mesmo artigo, em nada ofendem o preceito constitucional da soberania dos veredictos. É que o eventual provimento da apelação jamais poderá proferir decisão diversa daquela adotada pelos jurados, justamente pela necessidade de se respeitar a tal soberania. Nem mesmo para excluir ou incluir alguma qualificadora. O máximo que o juízo ad quem poderá fazer é mandar o réu a novo júri, cuja decisão já não poderá ser objeto de apelação por contrariedade às provas, segundo flui da parte final do citado parágrafo terceiro.

A propósito desse tema se coloca o problema da revisão criminal. Cuida-se de recurso, ou mais propriamente ação autônoma, disponível somente para o réu, destinada a desconstituir condenação transitada em julgado quando surgirem novas provas ou a decisão impugnada se mostrar em desacordo com a evidência dos autos, vale dizer, sem nenhum amparo nos elementos de prova neles produzidos.

É praticamente unânime que a procedência de uma ação revisional, se a condenação provém do tribunal do júri, pode acarretar a absolvição. Alega-se em abono dessa tese que a soberania dos veredictos, prevista na Constituição, é garantia do réu e não pode se contrapor a determinada solução que excepcionalmente lhe seja mais favorável. Isto é, não pode operar contra o réu. A esse argumento, que poderia em tese servir também para o caso de provimento de um recurso de apelação, se acrescenta outro, que justifica, agora sim, sua aplicabilidade apenas à hipótese de revisão. É MARQUES PORTO quem o traz, nos termos seguintes:

A soberania dos veredictos tem seu sentido – impossibilidade de outro órgão jurisdicional modificar a decisão dos jurados, para absolver o réu condenado, ou condenar o réu absolvido pelo Tribunal do Júri – e seus efeitos restritos ao processo enquanto relação jurídico-processual não decidida. Assim, transitando em julgado a sentença do Juiz Presidente, é cabível a revisão do processo findo (art. 621), e o que foi decidido na esfera revisional “não fere a soberania do Júri”. 154

Esses os passos que um processo versando sobre a prática de um crime de homicídio cometido por vingança deverá percorrer até encontrar uma solução definitiva.

Os jurados paulistanos 155 rejeitaram a legítima defesa por cinco votos a dois e a violenta emoção por quatro a três. A votação da qualificadora do motivo torpe foi curiosa: no crime contra Samir, o júri a reconheceu por quatro a três e no homicídio de Riad negou-a pelo mesmo placar. A surpresa foi afastada nos dois casos. Esse curioso resultado estabelecia que Mahmoud atirara em Samir, na esquina, por vingança e que em seguida entrou no bar Rio Branco, onde matou Riad já não mais por vingança. A pena para os dois delitos totalizava dezoito anos de reclusão, dos quais o réu já cumprira quase quatro, considerada a data em que foi preso.

Houve apelações, da acusação e da defesa. A segunda câmara criminal do Tribunal de Justiça, por maioria de votos, deu provimento à primeira, em acórdão

154 MARQUES PORTO, Hermínio Alberto. op. cit., p. 38-9. O trecho entre aspas mereceu nota de rodapé do mencionado autor citando aula magna de Athos Moraes de Castro Vellozo.

relatado pelo desembargador Humberto da Nova, mandando o réu a novo julgamento, entendendo que o júri havia afrontado a prova dos autos ao repelir as qualificadoras.

Outros dois anos se passaram. Neles acentua-se a tensão entre o governador carioca Carlos Lacerda e a administração federal, do marechal Castelo Branco, cuja política econômico-financeira é criticada por aquele. Em 1966, a seleção brasileira decepciona os que esperavam o tri-campeonato e é eliminada por Portugal, do fenomenal Eusébio, na Copa da Inglaterra. O governo do Estado de São Paulo extingue o ramal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro que ligava Bebedouro a Jaboticabal. Na guerra dos seis dias, Israel tomou dos países árabes a faixa de Gaza, que levaria décadas para devolver.

No dia 26 de julho de 1967, depois de outros incontáveis adiamentos, Mahmoud se vê de novo diante de um tribunal do júri. Bem antes disso, em outubro de 1964, morreu João Ismael, diante do que sua viúva, Messehia Alem Ismael, manifestando o propósito de continuar na assistência da acusação, fez juntar procuração, desta feita passada aos advogados Américo Marco Antônio e Euvaldo Chaib. Na defesa do réu está agora Waldir Troncoso Peres e na acusação, o mesmo Hermínio Marques Porto, assistido por Antônio de Almeida Toledo, para quem Marco Antônio substabelecera os poderes conferidos pela viúva Ismael.

O acanhado quatro a três com que o júri de 1964 reconhecera a qualificadora da vingança – e somente para um dos crimes – na verdade prenunciava uma tendência de ver as atitudes de Mahmoud, preso havia agora quase sete anos, com certa benevolência. Os jurados, votando o quesito da violenta emoção, que a defesa sustentou, como tese alternativa à legítima defesa putativa, disse sim nas duas séries. De novo por placares