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2. O TRABALHO COLABORATIVO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E DE

2.3. Relevância didática na aprendizagem da Geografia

Conhecemos e compreendemos o espaço não somente pela perceção que, seguramente, temos do mesmo, mas através das evidências analíticas. Os conhecimentos geográficos provêm, portanto, de diversas investigações o que não poderia deixar de ocorrer tratando-se de uma disciplina de caráter científico. A Geografia e a História responsabilizam-se por estudar a evolução dos grupos humanos, no espaço e no tempo, assumindo assim um papel marcante para as mudanças que ocorrem na sociedade atual. Logo, a utilização adequada destas disciplinas permite aos públicos escolares interpretar a informação e transformá-la em conhecimento. Neste sentido, devem ter como finalidade a promoção do pensamento crítico e procedimentos de trabalho que atuem na formulação de hipóteses explicativas (Prats, 2001), em comunhão com uma aprendizagem que não se deseja excessivamente académica.

Será conveniente repensar a aprendizagem da Geografia, procurando associá- la ao sentido crítico e aos métodos de análise social rigorosos. Mérenne-Schoumaker (1999) salienta que um dos processos para concretizar esta intenção é proporcionar a análise dos elementos da investigação geográfica, traduzindo-se em métodos de ensino e de aprendizagem que passem pela apropriação de um conhecimento base do espaço terrestre e da vida dos grupos humanos. Numa lógica de união ao: (1) desenvolvimento do sentido de observação, imaginação, tolerância e espaço cívico; (2) o saber situar os lugares e os factos não somente num mapa, mas ainda nos respetivos meios e a diferentes escalas, ou seja, determinar a dimensão espacial de qualquer problema; (3) compreenderá e explicará as regras de funcionamento dos diferentes territórios e das sociedades humanas, as suas dinâmicas e mudanças; e (4) preparando para a ação, não a ação excecional, mas a ação quotidiana. Este sentido prático, com evidente valorização da dimensão cívica, inscreve-se numa linha de atuação geográfica anglo- saxónica.

Face ao que foi exposto, sugere-se que é possível levar os públicos escolares a compreender a Geografia, não como um conjunto fechado de conhecimentos de pouca utilidade para a compreensão do seu meio (Souto González, 1998), mas proporcionando ambientes diversificados de aprendizagem. Um caminho a percorrer passa por integrar os saberes geográficos no âmbito pluridisciplinar das Ciências Sociais e Humanas, colaborando para o estudo dos fenómenos sociais no espaço, fundamentais às sociedades contemporâneas para legitimar um conjunto de tomadas de decisão a nível político, social e cultural (Prats, 2011). Contudo, mais do que servir de suporte às ações dos grupos humanos, os objetivos da Geografia têm um profundo sentido educativo e formativo, relacionados com a compreensão do espaço geográfico, a preparação para a cidadania, o desenvolvimento de competências, além de um sentido de identidade (Cachinho, 2004). A Geografia permite induzir e desenvolver o espírito crítico e um método rigoroso, fundamental em tantos outros domínios, pois o espaço, sendo o elemento estruturante do raciocínio geográfico, situa as questões, as preocupações, as incógnitas e as noções dos indivíduos na dimensão espacial.

A noção de que se vive, atualmente, em plena globalização circunscrita nas sociedades de informação navegável, de acesso livre por todos e de todos, não será, seguramente, desconhecida. Paralelamente a esta circulação de ideias e conceitos, as questões de identidade assumem particularidades culturais, étnicas e religiosas. Neste sentido, constata-se que não seria viável um ensino que não considerasse a Geografia, enquanto disciplina, pois um dos seus contributos é a facilidade que proporciona em compreender esta lógica de múltiplas identidades, através da qual derivam as memórias, as tradições, as crenças, os sentimentos de pertença e solidariedades várias. Pouco importa se as comunidades são reais ou imaginadas, não há memória sem imaginação e imaginação sem memória (Catroga, 2009). Apesar de se saber que, por diversas ocasiões, o seu cunho mais político do que científico, esteve ao serviço dos valores das elites e até na legitimação do Estado-Nação (Cardona, 2008), os conhecimentos geográficos, e também os históricos, são benefícios indiscutíveis pelo contributo que oferecem à formação de uma cidadania ativa, consciente e de qualidade. Segundo a Direção-Geral da Educação (2013), a cidadania traduz-se em atitudes, formas de ação e reação de estar em sociedade, tendo como referência os direitos humanos, particularmente, os valores da igualdade, da democracia e da justiça social. Neste contexto, evidencia-se o contributo da disciplina, no sentido em que planeia para uma cidadania, desejavelmente, responsável e consciente, constatada

através das suas intenções retratadas no Programa de Geografia A para o ensino secundário: (1) prepara para a vida quotidiana, fornecendo informações sobre o mundo objetivando a tomada de decisões apropriadas; (2) articula saberes diferentes, concorrendo para a afirmação de um saber integrado e coerente; e (3) fornece e facilita a compreensão da crescente interdependência dos problemas que afetam os territórios.

O Departamento do Ensino Secundário (2001) refere que a Geografia, enquanto Ciência dos grupos humanos no espaço, abrange diversas manifestações da vida das sociedades humanas, sensíveis à interação com a natureza, permitindo participar nas discussões relativas à organização do espaço e desenvolver atitudes de solidariedade territorial, numa perspetiva de sustentabilidade. A aprendizagem da Geografia reveste-se, portanto, de um extraordinário e reconhecido valor, na medida em que os conhecimentos geográficos ampliam os horizontes do espírito, libertam do localismo e projetam até ao mundo exterior (Plans, 1969). A literacia geográfica pode significar que existe a probabilidade do espaço geográfico ser lido, medido e, consequentemente, compreendido. Deste modo, materializa-se num instrumento concreto do conhecimento para que os públicos escolares conheçam a sua realidade local, a realidade regional, a realidade nacional e a realidade internacional (que está cada vez mais próxima com o atual processo de globalização). Neste sentido, aprender o raciocínio geográfico, é aprender em diferentes escalas enquanto são confrontadas análises em níveis espaciais adequados ao tratamento da questão (Mérenne- Schoumaker, 1999), logo são preferidas as correlações de fenómenos e situações numa dialética científica, em detrimento das abordagens unidisciplinares.

Em termos gerais, no âmbito da Educação Geográfica na perspetiva da cidadania Lambert e Balderstone (2002), assumem que o conhecimento geográfico tem o potencial para desenvolver nos públicos escolares o entendimento do seu Lugar no mundo, auxiliando na procura da sua identidade. O que sugere uma Educação Geográfica que tome em linha curricula direcionados no porvir, sustentados na promoção do pensamento crítico, o que possibilita a reflexão das ações e respetivas consequências. O saber pensar o espaço (Cachinho, 2004) torna-se fundamental numa Educação baseada na visão de um futuro melhor através de um mundo mais equitativo. A aprendizagem da Geografia será, por isso, uma aliada nesta demanda, preparando os públicos escolares para os desafios que o futuro lhes reserva na aldeia global em que estão inseridos (Lambert & Balderstone, 2002), levando-os a agirem de uma forma consciente, esclarecida, reflexiva e partilhada.

Posto isto, a promoção da cidadania corporiza a espinha dorsal de uma sociedade responsável e interveniente (Reis et al., 2004). É uma temática que, desejavelmente, deverá ocupar e preocupar cada vez mais a Educação Geográfica, pela valorização da dimensão cidadã do território que lhe confere, bem como a responsabilidade evidente circunscrita na formação de cidadãos menos apáticos, mais participativos e, sobretudo, mais competentes para se pronunciarem de uma forma responsável sobre os territórios e os processos de desenvolvimento local. Hoje, um número crescente de cidadãos participa nos debates relativos à organização do espaço (Lacoste, 1997). Além dos evidentes benefícios que uma participação coletiva possibilita, é de recordar que se trata de uma prática relativamente recente. As decisões relativas à instalação de grandes equipamentos, ao traçado dos grandes eixos de circulação ou aos planos de urbanismo, por exemplo, não decorriam senão das discussões na esfera política, ou em grupos técnicos da especialidade. Em suma, partindo do princípio que existe uma relação intrínseca entre a Ciência Geográfica e a sua aprendizagem, e que toda a disciplina tem por finalidade tornar o mundo inteligível (Mérenne-Schoumaker, 1999) a Geografia atinge essa finalidade quer pela formação intelectual, quer pela formação pessoal que proporciona sendo, por isso, a sua presença no currículo nacional imprescindível.

3. A EXPERIENCIA E A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO