• Nenhum resultado encontrado

RESGATE DA CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO A dinâmica de desenvolvimento de uma região ou um povo

Questão 3: em que medida um Banco de Desenvolvimento vem incorporando os diversos conceitos de

2 DO DESENVOLVIMENTO PARA A GESTÃO PÚBLICA DO DESENVOLVIMENTO

2.1 RESGATE DA CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO A dinâmica de desenvolvimento de uma região ou um povo

permeou a própria história da humanidade, demonstrando-se períodos onde civilizações alcançaram elevado nível de progresso dentro de certo parâmetro. Os elementos determinantes para o desenvolvimento apresentam-se como objeto de análise em estudos ou mesmo fruto de curiosidade dos indivíduos. Contudo, as consequências de um modelo de desenvolvimento também se necessitam observar em decorrência de efeitos colaterais danosos, colocando em risco o próprio modelo e a sociedade.

Neste tema, no senso comum, ao deparar com o relato de desenvolvimento de um determinado lugar, associa-se com o progresso e a prosperidade uma conotação positiva e virtuosa. Porém, pela própria natureza intangível do tema, no íntimo de cada pessoa, a imagem construída em um processo de reflexão sobre a dinâmica de desenvolvimento pode ser completamente diferente. Em alguns, desenvolvimento remete a indústrias com a capacidade produtiva plena em operação, grandes avenidas com muitos veículos e prédios elevados; para outros, pode significar qualidade de vida da sociedade, liberdade, segurança social e equilíbrio do homem com a natureza.

Ao retirar o tema do senso comum, resulta-se no estudo do desenvolvimento inserido na Ciência, mas o tema não reside em uma única área, sendo estudado pelas Ciências Sociais, Sociais Aplicadas, Exatas, Biológicas, Naturais e Engenharias. No contexto das Ciências Sociais Aplicadas, as primeiras

contribuições ao estudo do desenvolvimento decorrem dos clássicos das Ciências Econômicas, às vezes como antagônicos e outras como complementares.

Em breves noções das ideias dos clássicos das Ciências Econômicas, Adam Smith (1723-1790) apresenta que os indivíduos agem de forma individualista e egoísta, buscando o proveito próprio na classe a que pertencem, porém existe uma “mão invisível” que deriva uma harmonia social do capitalismo em seu funcionamento sistemático. Ele considerava que havia quatro estágios distintos de desenvolvimento: a caça, o pastoreio, a agricultura e o comércio. Em cada estágio, as necessidades são distintas: a caça, a mais rudimentar e primitiva, e o pastoreio, o primeiro estágio onde a propriedade privada se situa (os gados), ampliando consideravelmente na agricultura (as terras). Sendo a propriedade o centro do capitalismo, o papel dos governos torna-se proteger e garantir a propriedade privada, ou seja, defender os possuidores de propriedades dos outros, sendo um dos objetivos humanos a vontade de acumular riquezas (HUNT, 1985).

Outro autor clássico, David Ricardo (1772-1823) identificava a prosperidade como a acumulação de capital, pois os capitalistas recebem lucros, aumentam o capital, assim como a procura por mão-de-obra e os salários sobem do nível de subsistência. Desta forma, enquanto existe o lucro, o ciclo se repete indefinidamente. Contudo, a economia apresenta dificuldades por causa da produtividade decrescente da agricultura, que fazia com que a renda da terra diminuísse os lucros, não diretamente, pois representa os aumentos do custo do trabalho, provocado pelo aumento do custo dos cereais. Assim, o aumento da margem de cultivo resultaria em um declínio do nível geral de preços e em uma diminuição da taxa geral de lucro, significando uma diminuição da taxa de acumulação do capital, com isso ocorre um atraso no crescimento econômico e diminuição do bem-estar social geral (HUNT, 1985).

Nos clássicos das Ciências Econômicas destacados, ao se tratar de desenvolvimento, remetem-se ao capitalismo e ao econômico, seja como forma de gerenciar uma prosperidade social, ou como forma de exploração da classe operária. Essa relação entre desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico não se encontra somente nos clássicos, sendo

presente no ambiente contemporâneo em muitos grupos e indivíduos. Talvez o principal problema não resulte em associar o crescimento econômico com desenvolvimento, mas relacioná-la como sinônimo e como a única dimensão do desenvolvimento, derivando em um modelo tradicional de desenvolvimento.

Adicionalmente, para certo grupo de pesquisadores, o desenvolvimento apresenta-se basicamente pelo processo de inovação, sendo fortemente influenciado pelas dinâmicas tecnológicas. Na economia, reconhece-se Schumpeter como um autor importante desta vertente e deriva-se também deste autor a abordagem neo-schumpeteriana. Neste contexto, a dinâmica do desenvolvimento não se apresenta linear, mas em forma de ondas influenciadas basicamente pelo processo de inovação incremental e radical (SCHUMPETER, 1989).

Neste aspecto, evidenciam-se brevemente alguns detalhes desse “modelo” de desenvolvimento, pois não se apresenta como o escopo da presente pesquisa. Assim, entende-se por desenvolvimento apenas as mudanças da vida econômica que surjam de dentro, não impostas por fora, por sua própria iniciativa, sendo na verdade uma mudança de dados e da adaptação contínua da economia. Portanto, todo o processo concreto de desenvolvimento encontra-se sobre o desenvolvimento precedente e todo processo de desenvolvimento cria os pré-requisitos para o seguinte. Desta forma, o produtor inicia a mudança econômica e os consumidores são direcionados a querer coisas novas ou diferentes das habituais. Produzir outras coisas significa combinar matérias e forças diferentemente, englobando-se introdução de um novo bem, um novo método, um novo mercado aberto, novas fontes de matérias-primas e semimanufaturados, e por fim, estabelecimento de nova organização de qualquer indústria ou monopólio. Em resposta ao processo de desenvolvimento, um “boom” termina e a depressão começa após a passagem de tempo que transcorre antes que os produtos dos novos empreendimentos possam aparecer no mercado e um novo “boom” se sucede à depressão, quando o processo de reabsorção das inovações estiver terminado, o desenvolvimento começa novamente de um novo e não simplesmente da continuação do antigo. Então, ondas alternadas de períodos de prosperidade e depressão têm permeado a vida econômica desde o início da era capitalista e as combinações

novas não são distribuídas uniformemente através do tempo, mas aparecem descontinuamente e em grupos (SCHUMPETER, 1989).

Desta forma, reconhece-se à importância da inovação no processo de desenvolvimento, porém critica-se colocá-lo como elemento central da dinâmica de desenvolvimento. Este fato, devido ao processo inovativo e tecnológico, não necessariamente evidencia um processo de equidade e justiça social, elementos que podem ser consorciados com igual relevância em um processo de desenvolvimento. Assim sendo, o desenvolvimento tecnológico e inovativo não se apresenta necessariamente como sinônimo de desenvolvimento social, porém não se despreza sua importância, mas, como relatado anteriormente não se encontra no escopo da presente pesquisa. Também existem diversos estudos sobre desenvolvimento, especialmente relacionados com a América Latina e com os estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). O pensamento da CEPAL se apresenta como um método essencialmente histórico e indutivo, sendo uma referência abstrato-teórica própria da teoria estruturalista do subdesenvolvimento periférico latino-americano (BIELSCHOWSKY, 1998).

Todavia, mesmo considerando as contribuições da CEPAL para os estudos relacionados com o desenvolvimento do continente latino-americano, com um pensamento crítico e independente, não fazem parte do escopo da presente pesquisa. Adicionalmente, destaca-se que existem outras diversas concepções de desenvolvimento e não se espera extinguir todas as interpretações possíveis no estudo, mas apenas destacar as mais significativas para a proposta em análise.

2.2 O DESENVOLVIMENTO EM UMA CONCEPÇÃO