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8. Reembolso antecipado e incumprimento do contrato de crédito

8.3. Incumprimento do contrato pelo consumidor Consequências

8.3.3. Resolução do Contrato

Em alternativa à perda do benefício do prazo, pode o credor optar por resolver o contrato no caso de não cumprimento pontual de qualquer prestação de capital.

Deve entender-se que o credor poderá optar pela via que lhe for mais favorável.180 Nestes termos, ou invoca a perda do benefício do prazo ou exerce o direito de resolução do contrato de crédito, desde que, cumulativamente, ocorram duas condições: ocorra a falta de pagamento de pelo menos duas prestações consecutivas, correspondentes a mais de 10% do montante total do crédito; e o credor tenha concedido ao consumidor, sem sucesso, um prazo mínimo suplementar de 15 dias para que este possa efectuar o pagamento em atraso, acrescido de uma indemnização eventualmente devida, advertindo-o dos efeitos da perda do benefício do prazo ou da resolução do contrato.

O financiador, a partir do momento que não tolera mais o atraso do consumidor, deverá enviar uma carta a este, concedendo um prazo final mínimo de 15 dias para pôr termo à mora. Se, findo o prazo estipulado, o consumidor não efectuar o pagamento, converte-se a situação de mora em incumprimento definitivo.

Isto significa que, para além do prazo em que o financiador tolerou o atraso do cumprimento das prestações, é dada ao consumidor uma nova oportunidade para efectuar o pagamento.181 Terminado o prazo sem que o consumidor tenha consumado o cumprimento das prestações, e tendo o credor optado pela resolução do contrato, poderá ainda, exigir o pagamento de uma eventual sanção contratual ou de uma indemnização, nos termos gerais de direito.

8.3.4. Inovações em face do revogado DL n.º 359/91, de 21 de Setembro

Outra das inovações preconizadas por este diploma foi precisamente a introdução de um artigo próprio referente ao “não cumprimento do contrato de crédito pelo consumidor”.182

Não obstante o direito aos juros moratórios devidos pelo não cumprimento atempado do consumidor, como vimos, poderá ainda, o credor, invocar a perda do benefício do prazo ou a resolução do contrato. No entanto, actualmente, o credor só poderá optar por um destes dois últimos mecanismos, em caso de incumprimento do contrato de crédito pelo consumidor, se, cumulativamente, ocorrer: a falta de pagamento

180 Importante referir que este direito de escolha do credor pela opção que lhe seja mais favorável apenas acontece até à

comunicação ao consumidor, seja judicial ou extrajudicial. A partir de tal momento a opção tomada torna-se irrevogável.

181 Falamos da figura civilista designada de interpelação cominatória ou admonitória. 182 Art. 20.º do DL n.º 133/2009, de 2 de Junho.

de duas prestações sucessivas que exceda 10% do montante total do crédito; ter o credor, sem sucesso, concedido ao consumidor um prazo mínimo de 15 dias para proceder ao pagamento das prestações em atraso, acrescidas da eventual indemnização devida, com a expressa advertência dos efeitos da perda do benefício do prazo ou da resolução do contrato.183 Entendemos que não existe a necessidade de qualquer outra declaração ao consumidor subsequente a esta interpelação.

Todavia, se o credor optar pela resolução do contrato, nos termos acima descritos, poderá ainda exigir ao consumidor, o pagamento de uma eventual sanção contratual ou indemnização nos termos gerais do direito.184

8.3.5.Anteprojecto do Código do Consumidor

O âmbito de aplicação alcançado pelo Anteprojecto do Código do Consumidor, conduz-se ao contrato de crédito que tenha por objecto o pagamento do preço do bem ou serviço ou o reembolso da quantia mutuada ou realmente utilizada em várias prestações.185

Para que o financiador possa recorrer a uma das duas soluções previstas, terá de respeitar, cumulativamente, dois factores.186

O não cumprimento deverá representar, pelo menos, duas prestações sucessivas, e, ainda, deverá traduzir um valor correspondente a 5% ou 10% sobre o montante total das prestações, consoante a duração do contrato seja, respectivamente inferior ou superior a 3 anos.187

O financiador terá de conceder ao consumidor para o cumprimento das prestações e, eventualmente, de uma indemnização, um prazo suplementar mínimo de 30 dias. Para além disso, tem de advertir expressamente o consumidor das consequências findo o

183 Art. 20.º, n.º 1, alíneas a) e b), do DL n.º 133/2009, de 2 de Junho. 184 Art. 20.º, n.º 2, do DL n.º 133/2009, de 2 de Junho.

185 Art. 297.º n.º 1, 1ª parte, do Anteprojecto.

186 Cfr. LEITÃO, Luís Manuel Teles Menezes, O Crédito ao Consumo: o seu Regime Actual e Regime Actual e Regime

Proposto pelo Anteprojecto do Código do Consumidor, in “SJ”, n.º 36, Justiça e Sociedade, Jul-Set, Almedina, Coimbra, 2006, pp. 9 ss.

prazo sem que tenha havido o cumprimento: perda do benefício do prazo ou resolução do contrato.188

Se, ainda assim, o consumidor não cumprir as obrigações que sobre si recaem, independentemente da escolha do financiador relativamente a qualquer um dos mecanismos, fica sujeito ao pagamento de um juro de mora agravado de 2%.189

Uma última nota relativa à perda do benefício do prazo em concreto, optando o financiador pela aplicação do art. 781.º do CC, o consumidor tem direito a que seja subtraído ao montante total da dívida o valor correspondente aos juros e aos demais custos e encargos dependentes do decurso do tempo, proporcionais ao período de vigência do contrato.190 Ressalva, o legislador, porém, a existência de cláusula em sentido diverso, de onde conste que o financiador poderá exigir a título de juros e de outros custos e encargos um montante correspondente a um período que não exceda um determinado prazo de duração do contrato.191

188 Art. 297.º n.º 1, alínea b), do Anteprojecto. 189

Art. 297.º n.º 5, do Anteprojecto.

190 Art. 296.º n.º 2, por remissão expressa do art. 297.º n.º 3, ambos do Anteprojecto. 191 Art. 296.º n.º 5, por remissão expressa do art. 297.º n.º 3, ambos do Anteprojecto.

CAPÍTULO III

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