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Responsabilidade social empresarial ou investimento social privado

C) O terceiro instrumento foi um formulário de pesquisa: encaminhou-se por e-mail um formulário de pesquisa com perguntas abertas e fechadas à

3. RESENHA DA LITERATURA

3.3. As empresas neste novo mundo

3.3.2. Responsabilidade social empresarial ou investimento social privado

Neste contexto de definição de um novo papel para as empresas surge, entre as décadas de 50 e 70, um debate mais consistente acerca das idéias sobre a responsabilidade social empresarial. Num processo de construção

sistemática do conceito, segundo Tenório (2006), temos a princípio uma proposta de categorização que trabalha o conceito de responsabilidade pública. Segundo ele, esta proposta surge do entendimento de que é função das empresas a intervenção na vida pública, mas isto traz um novo debate acerca da delimitação entre o espaço de atuação pública ou privada das empresas.

Do aprofundamento desta discussão, chega-se ao conceito de responsabilidade social. Passa-se então a trabalhar com a perspectiva de que cabe também às empresas atender às demandas sociais, para inclusive poder garantir a continuidade do bom andamento de seus negócios no contexto de tal sociedade. Daí então abre-se o debate para uma série de contribuições que enriquecem o conceito, tais como a teoria dos stakeholders18 e a noção sistêmica de interação entre empresas e os mais variados agentes, o que as leva à já mencionada multiplicidade de objetivos. Também remete, à noção de desenvolvimento sustentável19, que ao envolver as dimensões econômica, ambiental e empresarial, articula o crescimento econômico às questões sociais e ambientais.

Assim, a partir de uma noção original de filantropia, chega-se à construção de um novo modelo de atuação hoje denominado de “responsabilidade social corporativa” ou “responsabilidade social empresarial” (RSE) que, segundo Tenório (2006), assume três possibilidades distintas de interpretação. Numa interpretação mais simplista pode significar o simples cumprimento das imposições legais para garantir o crescimento econômico. Uma segunda interpretação aponta para a participação da empresa em atividades comunitárias, o que pode remeter tanto para uma cidadania empresarial quanto para um comprometimento da empresa com a comunidade em busca de seu crescimento em termos de qualidade de vida. Enfim, uma última abordagem que aponta para uma série de compromissos das empresas com todos os interlocutores de sua cadeia produtiva desde seus clientes, funcionários e fornecedores, até a comunidade e seu entorno, o meio ambiente

18 O stakeholder, ou a parte interessada, pode ser definido, segundo a NBR 16001, como “qualquer

pessoa ou grupo que tenha interesse em uma organização ou possa ser afetado por suas ações” (ABNT, 2007).

19 Segundo a WWF, a definição mais aceita de desenvolvimento sustentável é a que o considera como

sendo “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro” (WWF, 2007).

e a sociedade. Esta última é a definição adotada pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social.

Segundo Weingrill (2003), o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, inspirado na instituição norte-americana Business and Social Responsibility, vem desde 1998 trabalhando no sentido de disseminar a chamada prática da responsabilidade social empresarial, ajudando as empresas a compreender e incorporar critérios de responsabilidade social de forma progressiva e a implementar políticas e práticas com critérios éticos. Segundo ainda o Instituto Ethos (ETHOS, 2007), para facilitar o trabalho e o entendimento de um conceito tão amplo, é necessário defini-lo com base em valores, público a atingir, o meio ambiente, as várias interfaces incluídas ai, fornecedores, clientes, comunidades e governos.

Esta preocupação do Ethos demonstra claramente, a disseminação dos preceitos de responsabilidade social discutidos nacional e internacionalmente. Note-se que a dimensão do debate pode ser claramente percebida a partir do reconhecimento do envolvimento da ONU neste processo. De fato, desde 2000 foi lançado pela Organização das Nações Unidas o Pacto Global, que visa a uma aliança entre o setor privado e algumas agências da ONU para a construção de uma prática de responsabilidade social corporativa que atue no sentido de criar uma economia global mais sustentável e inclusiva. Dentre as agências das Nações Unidas que fazem parte do Pacto Global, listam-se o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a OIT – Organização Internacional do Trabalho e a UNIDO – Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento Industrial. Detalhe importante é o engajamento de quase 30 empresas brasileiras que atualmente são signatárias do Pacto no Brasil (PACTO GLOBAL, 2007).

Neste panorama de grande crescimento do debate acerca do tema, vale ressaltar o pioneirismo brasileiro no processo de discussão para a construção de uma norma de responsabilidade social nacional e internacional. Assim, no espaço internacional, segundo Ursini (2005), desde o primeiro momento de

instalação do Grupo de Trabalho sobre Responsabilidade Social da ISO20, implantado desde 15 de setembro de 2004, que se responsabilizou pela construção de uma Norma Internacional de Responsabilidade Social – ISO 26000, o Brasil assumiu a presidência do grupo, sendo secretariado pela Suécia. No panorama nacional o país cria, em final de 2004 (URSINI, 2005: 10- 11), a “ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social, sistema de gestão e requisitos”, que estabelece requisitos mínimos para a construção de um sistema de gestão da responsabilidade social que permita a formulação e a implementação de uma política e de objetivos que levem em conta as exigências legais, os compromissos éticos e as preocupações com a promoção da cidadania, com o desenvolvimento sustentável e que sejam implementados de forma transparente 21.

Em uma outra linha de atuação surge o Grupo de Institutos Fundações e Empresas – GIFE, e sua proposta de delimitação do que significa responsabilidade social e investimento social privado. Criado em maio de 1995, o Grupo tem por objetivo:

contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável do Brasil, por meio do fortalecimento político-institucional e do apoio à atuação estratégica de institutos e fundações de origem empresarial e de outras entidades privadas que realizam investimento social voluntário e sistemático, voltado para o interesse público (GIFE, 2007a).

Neste sentido, o Grupo, que baseia seu trabalho no fortalecimento político-institucional, na capacitação e no apoio à atuação estratégica de seus associados, atua basicamente na gestão de relações institucionais, unindo os associados em rede, na articulação, mobilização e capacitação e na gestão de informação e conhecimento. Para sua atuação, o GIFE delimita, de forma clara, uma diferença entre responsabilidade social e investimento social privado. Segundo o sítio do Grupo, existe uma significativa diferença igualmente entre sua atuação e a do Instituto Ethos. Para eles, o foco de trabalho do Instituto

20 A ISO - International Organization for Standardization, ou Organização Internacional para

Padronização, em português, é uma entidade responsável pela padronização/normalização de 158 países. Fundanda em 23 de fevereiro de 1947, em Genebra, Suíça, a ISO aprova normas internacionais em todos os campos técnicos, exceto na electricidade e eletrônica, cuja responsabilidade é da International Electrotechnical Commission (IEC).

Ethos é a Responsabilidade Social Empresarial, que significa “uma forma ética de conduzir os negócios de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento do país”. Isto de forma integrada permeando a relação da empresa com os diferentes atores com os quais se relaciona. Já o Grupo de Institutos Fundações e Empresas, também segundo seu próprio material, tem por objeto maior o investimento social privado que significa “uma especificação da responsabilidade social, que se dá quando a empresa decide profissionalizar ou institucionalizar sua ação social com a comunidade, ou seja, quando ela decide repassar recursos privados para fins públicos”. Assim, ao praticar o investimento social privado, a empresa transfere para a área social seus conhecimentos e experiência em gestão, planejamento, cumprimento de metas, avaliação de resultados com o intuito de promover e colaborar com a transformação social.

Para o GIFE, as duas ações precisam atuar de forma integrada, o que em nenhum momento desmerece qualquer uma das duas visões. Está se falando, portanto, que, de um lado, a empresa assume a responsabilidade sobre os seus e sobre as relações estabelecidas a partir de sua atividade produtiva e, de outro, ela participa efetivamente do universo social, enquanto agente transformador ou promotor de qualidade de vida.

Qualquer que seja a definição ou postura adotada, o que fica claro com todo este debate, é a real necessidade para o mundo empresarial de se repensar e se redefinir a partir das mudanças sócio-econômicas ocorridas nas últimas décadas. É neste processo que se desenha a entrada em cena de um novo ator social, que antes detinha um outro olhar sobre a realidade de agora em diante alterado. De fato, segundo Goffman (1985), quando um ator se apresenta diante dos demais, seu desempenho tenderá obrigatoriamente a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade mais que seus anseios e prerrogativas individuais e particulares. Assim, a construção ao longo dos anos de um novo quadro social, cria a necessidade de novas representações e, portanto, de uma nova atuação social traduzida aqui sob os conceitos de responsabilidade empresarial e investimento social privado.