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Um mundo cada vez menor: aspectos da globalização

C) O terceiro instrumento foi um formulário de pesquisa: encaminhou-se por e-mail um formulário de pesquisa com perguntas abertas e fechadas à

3. RESENHA DA LITERATURA

3.2. As transformações no mundo do trabalho e a globalização: novo século, novo mundo e nova realidade

3.2.4. Um mundo cada vez menor: aspectos da globalização

Com a anterior definição dos processos de uma inevitável exclusão e da busca por uma necessária inclusão, com a revisão das recentes transformações ocorridas no mundo do trabalho e seus impactos na vida cotidiana, podemos pontuar uma especificidade da atualidade: os homens têm vivido um momento único na história do planeta, o globo diminuiu, as distâncias estão cada vez menores, as fronteiras caíram, o mundo se globalizou. Desde a década de noventa e marcando a virada para o século XXI, o planeta tem vivenciado uma série de transformações que marcam profundamente a realidade atual.

As mudanças na forma de organização da produção, provocaram uma flexibilização do mundo do trabalho que afeta não somente o universo industrial, mas a própria vida cotidiana das pessoas. Encerrou-se uma era marcada pela rigidez e controle fordistas, para ter início um mundo que se

enxugou e diversificou. Segundo Harvey 15 (1993), as mudanças perpassam os processos de produção e atingem da mesma forma o universo tecnológico, o mundo do trabalho, a organização espaço-temporal e a organização política do Estado Nacional, entre outras instâncias da vida cotidiana.

Quanto ao universo tecnológico, é possível que se esteja caminhando para o que Adam Schaff (1993) chama de sociedade da informática. Uma sociedade constituída a partir de uma nova revolução técnico-industrial, fundada na tríade: microeletrônica, microbiologia e energia nuclear. Uma nova revolução que traz em si a capacidade crescente de suplantar as habilidades intelectuais dos homens substituindo-os aos poucos pelas máquinas no mundo do trabalho.

É fundamental que se entenda como a atual e inevitável revolução tecnológica, tem um claro efeito sobre o emprego e a economia global, é apenas o primeiro passo. Deve ficar claro que este movimento de rápido avanço tecnológico bem como a sociedade da informação e do conhecimento dele oriunda, estão polarizando cada vez mais a população mundial em dois grupos distintos e potencialmente antagônicos: de um lado, um grupo altamente qualificado e bem informado, com grande intimidade com os instrumentos, mecanismos e movimentos gerados por esta revolução tecnológica; de outro, um crescente número de homens mantidos totalmente à margem deste mundo do conhecimento da informação e da alta tecnologia. Homens estes que serão constantemente expulsos deste mundo cada vez mais especializado e elitizado: são os chamados excluídos do mundo da informação e da tecnologia (RIFKIN, 1995).

Quanto ao mundo do trabalho, ao mesmo tempo que temos a dita “Sociedade da Informática” (SCHAFF, 1993) ou a atual “Revolução Tecnológica” (RIFKIN, 1995) que o transformam, temos também as várias mudanças geradas a partir das mudanças advindas das sucessivas inovações realizadas na organização da produção. Entre o taylorismo e a organização flexível, surgiram espaços para que os processos de terceirização e de

15 Esta discussão é apresentada no quadro comparativo entre as estruturas fordista e da acumulação

terciarização se manifestassem e com eles a fomentação de uma sociedade de serviços.

De fato, com um crescente enxugamento fabril e um deslocamento cada vez maior do trabalho assalariado para o setor serviços, verifica-se uma enorme mudança no cotidiano da “classe-que-vive-do-trabalho” (ANTUNES, 1997, p.13-56). Tal mudança exige do trabalhador, ao mesmo tempo, uma adequação às novas exigências de conhecimento e informação, e a estas novas demandas de empregados em um setor historicamente não tão fortalecido quanto o setor industrial (ver ANTUNES, 1997; BRAGA, 1996). Ao mesmo tempo, cria-se uma subclasse de trabalhadores que, entre a saída da indústria e o ingresso nos serviços, acaba expulso para o trabalho informal, precário ou para o subemprego; além dos desempregados, ai também estão os chamados excluídos do mundo do trabalho.

Quanto à organização espaço-temporal, vimos nas últimas décadas, também em decorrência das transformações tecnológicas e produtivas, acontecer uma série de mudanças. A noção de espaço se redefine, o local e o global se interpõem e se chocam. Segundo Ianni (1997), ao lado do enraizamento característico do local, bem como da identidade pontual por ele gerada, os homens agora são obrigados a conviver com o diferente, o estranho, o dinâmico e o heterogêneo, característicos do global.

Com a quebra das fronteiras e a diminuição das distâncias, os lugares acabam interagindo, bem como as pessoas, e neste processo acabam se globalizando e, assim, seguem construindo um espaço global (SANTOS, 1997). Ao mesmo tempo em que se internacionaliza, também se localiza (HARVEY, 1993), ao mesmo tempo em que se abre para o outro, se fecha sobre si mesmo. E assim, heterogeneidade global e homogeneidade local coexistem criando uma nova definição de espacialidade, um espaço global.

Da mesma forma, um mundo menor, mais ágil e mais rápido, também subentende uma nova temporalidade Uma temporalidade que agora envolve o planeta em segundos e une de norte a sul os diferentes. O tempo do particular também é invadido pelo tempo do universal. Este “tempo mundo” que, segundo Santos (1997, p.191-193), só se realiza em sua concretude enquanto relações sociais se vê totalmente transformado por esta espacialidade globalizada. Em

um espaço onde as diferenças entre local e global constroem relações, outros tempos também são definidos e impostos. Mas aqueles que não se inserem e não participam destas novas relações espaços-temporais, ficam a margem e são os chamados excluídos da contemporaneidade.

Quanto à organização política do Estado Nacional, destacam-se duas importantes transformações: em um primeiro movimento, tem-se verificado nos últimos anos, com a criação de uma sociedade global, uma profunda mudança nas sociedades nacionais. No embate entre o local e o global, as fronteiras nacionais têm caído e blocos regionais vêm sendo criados. Aos poucos assistimos à formação do que Ianni (1997, p.115) denomina “sistemas econômicos regionais”, que agrupam as várias economias nacionais. Ao fazê- lo, estes sistemas redesenham a atuação política e econômica anteriormente exercida de forma pontual e nacional, para um quadro de ação conjunta e regional. “O globalismo tanto incomoda o nacionalismo como estimula o regionalismo”. Surge então a “Aldeia Global” (IANNI, 1997, p.93-112): um sistema inter-relacional de trocas não mais exclusivamente econômicas mas também trocas de idéias, de padrões, de valores, de signos e símbolos que povoam o universo cultural. É o mundialismo chegando às diferentes nações (ORTIZ, 1994) 16.

Ao mesmo tempo, em um outro movimento, a quebra da rigidez fordista já verificada anteriormente, abre espaço para importantes transformações políticas: é o advento do neoliberalismo. Segundo Teixeira (1996), com a difusão da noção de flexibilidade e enxugamento advindas da crise do fordismo, são abalados os conceitos associados ao Estado do Bem-Estar Social ou Estado Providência. Ainda segundo ele, é neste contexto que os neoliberais resgatam a tese clássica da supremacia do mercado. Esvaziamento do Estado, quebra de fronteiras, regionalismo, situa-se ai um novo contexto político no qual, aqueles que não se adequam a estas transformações parecem ser esquecidos e são excluídos do mundo sócio político.

É a globalização que, segundo Giddens (1991, p.69), se traduz pela “intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades

16 Renato Ortiz (1994: 21-33), faz a diferença entre global, quando se aplica a processos econômicos e

tecnológicos e, mundial, quando se refere à cultura, mostrando que embora não haja determinismo econômico, a transformações provocadas por este universo atingem o ambiente cultural.

distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorridos a muitas milhas de distância e vice-versa”. Assim, temos um mundo onde as identidades tanto nacionais quanto locais ou até individuais, precisam se reconstruir sobre novas bases, um mundo no qual a uniformidade convive com a diversidade, no qual uma igualdade cada vez maior deve coexistir com um maior número de diferenças, no qual a homogeneidade dos lugares dialoga com a heterogeneidade planetária, onde uma cultura global se constrói a partir de culturas locais pontuais que com ela convivem. Ianni (1997, p.217) apresenta algumas destas questões quando define o globalismo como uma configuração histórico-social abrangente, convivendo com as mais diversas formas sociais de fenômenos e dilemas da vida cotidiana, restaurando as preocupações acerca das identidades, das diversidades, da integração e da fragmentação.

Constroem-se, assim, novos espaços de convívio social e, por outro lado e dialeticamente, novos espaços de exclusão. Numa sociedade que ainda não aprendeu a conviver com as exclusões geradas de suas entranhas, surgem outros ambientes excludentes, oriundos de um universo no qual ela ainda nem sequer digeriu sua inserção. Se há décadas busca-se entender os embates entre os homens, os seus conflitos e seu ambiente interno ou nacional de exclusão, agora é criada a obrigatoriedade de entendê-los num contexto ainda maior, num contexto planetário e universal, num contexto de globalismo.