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Depois da prece, tomamos posição de trabalho e rumamos para uma pequena cidade mineira, onde fraca claridade iluminava as ruas. A serenidade do ambiente era um convite à meditação, entretanto, já estávamos com o esquema pronto para um operoso trabalho, junto com alguém que poderia nos fornecer recursos fluídicos para realizarmos algumas tarefas em benefício de irmãos enfermos.

Queremos esclarecer que os irmãos encarnados escolhidos e considerados aptos ao trabalho de desdobramento, ou viagem astral, serão identificados por números. Assim, no caso ora apresentado, trabalhamos com o companheiro que passaremos a chamar de Vinte e Nove.

Adentramos em um casarão, onde algumas pessoas se reuniam na sala em franca conversação acerca de comezinhos assuntos do lar. Avançamos para o quarto do Vinte e Nove, que lá não estava. Voltamos à sala e tivemos notícias corretas pelo guia da casa, de que Vinte e Nove não estava bem naquela noite; tinha tido vários aborrecimentos durante o dia e nada dera certo no seu programa preestabelecido.

Enquanto Fernando saía à sua procura, Abílio começou a preparar o ambiente; lançando as mãos em várias direções na sala. Notavam-se fachos de fluidos desprendendo-se dos seus dedos. Pudemos perceber duas entidades de mau humor andando inquietas pela sala, proferindo palavrões. Ainda mais, acompanhava esses dois Espíritos uma espécie de fumaça fétida que empestava a atmosfera por onde eles passavam, de tal maneira que era percebido até mesmo pelas mulheres entretidas na conversação, que atribuíam tal odor à lenha que ardia na lareira.

Abílio conversou ao pé do ouvido de Kahena e essa tomou posição, envolvendo o companheiro de certo magnetismo, fazendo com que ele amoldasse seu perispírito em uma forma assustadora diante dos dois personagens das sombras. Tão logo viram nosso companheiro transfigurado, aqueles Espíritos correram espavoridos, fugindo pela porta dos fundos da casa. Abílio voltou ao seu estado normal, agradeceu a Kahena e passou para o quarto de Vinte e Nove, onde a operação de limpeza seria mais difícil; a atmosfera estava pesada, carregada de fluidos deletérios que o vento não conseguia transportar para fora da residência. Um janelão entreaberto dava a entender que o próprio ocupante daquele ambiente não estava suportando o que ali se respirava, juntamente com o ar.

Abílio meditou por alguns instantes e suas mãos começaram a se iluminar, atraindo para si as nuvens negras do ambiente, que se avolumaram em seus braços. Recolhidas todas as emanações, qual massa putrefata, aproximou-se da janela e entregou aquele fardo indesejável a um Espírito ajudante que Kahena havia chamado. Depois dessa operação, um brando vento passou a entrar pela janela, soprando em todas

as direções e deixando um bem-estar indizível por toda a casa, o que logo foi notado pelas senhoras que conversavam.

As duas entidades malfazejas tinham vindo em busca de Vinte e Nove, o que já era costume. Durante o sono do mesmo, elas se apoderavam do moço com toda a sorte de brincadeiras extravagantes e ele, ainda mesmo sendo advertido por vários meios, continuava ligado àquelas almas interiorizadas, por fios tenuíssimos de alguns sentimentos, estabelecendo a sintonia entre obsessores e obsediado.

Depois de deixarmos o ambiente familiar em plena harmonia espiritual, fomos à procura de Fernando, que estava trabalhando para levar o Vinte e Nove de volta ao lar.

Nosso companheiro encarnado estava com um grupo de dezesseis jovens gozadores da vida, como eles se referiam a si mesmos. Fernando, junto de Vinte e Nove, procurava protegê-lo com seus recursos, enquanto lhe insuflava ideias renovadoras, criando em seu mundo interior uma guerra de consciência que o levava quase ao desespero. De um lado, os desejos puxavam-no para as coisas da Terra; de outro, a influência de Fernando levava-o a meditar nas consequências dos seus atos, ao mesmo tempo em que impulsionava seus pensamentos para as coisas do espírito, cuja filosofia Vinte e Nove já conhecia.

Havia mais ou menos uma centena de entidades inferiores bebendo e cantando, gritando e fazendo gestos desagradáveis, juntamente com os rapazes, em uma troca incessante de palavrões. Era de se notar o quanto eles se serviam, daqueles que eram médiuns, ajudados por uma sintonia perfeita, provocada pelo álcool.

Fernando mostrou-se radiante com a nossa chegada e foi logo dizendo: — Graças a Deus vocês chegaram. O moço se envolveu em demasia e o ambiente, como vocês podem sentir, é dos piores esta noite. Estava ansioso pela chegada de vocês.

É bom lembrar que os Espíritos ali reunidos na mesma faixa dos encarnados não percebiam a presença do nosso grupo. Em razão do seu baixo padrão vibratório eles, às vezes, enxergavam menos que alguns dos bebedores dessa reunião. Eram almas muito ligadas à faixa terrena e ainda cegos estimulando cegos, caindo ambos nos despenhadeiros das sombras.

Seguindo as instruções do nosso orientador, entrelaçamos as mãos em torno da turba e, quando Miramez fechou o círculo, avolumaram-se em sua mente adestrada, correntes de fluidos de várias espécies, diferenciadas por tonalidades que podíamos observar.

Miramez projetou esses fluidos no ambiente e imediatamente as gargalhadas começaram a diminuir, a inspiração das sombras desapareceu, acontecendo o mesmo com o interesse pela bebida. Todos os integrantes daquele grupo, encarnados e desencarnados, caíram em sono profundo, formando estranho quadro.

— Daria um bom retrato, se pudéssemos fazê-lo, para mostrar aos homens e expô-lo nos botequins, começou Celes, arrematando com ligeiro sorriso, mas, isso só mesmo para o futuro.

— Todavia, não é um futuro muito distante, pois os primeiros passos já foram dados, completou Fernando, com entusiasmo.

— Não tens visto em jornais e revistas, particularmente os espiritualistas, as notícias referentes à máquina de fotografar a aura, inventada pelo casal Kirlian? A natureza não dá saltos, todos nós o sabemos, porém, nunca para no seu programa evolutivo. Nesse fechamento de ciclo histórico da humanidade, quando outro mais importante irá ter início, muitas novidades irão surgir em favor de todos nós. A própria mediunidade vai sofrer algumas modificações. Na comunicação entre os homens e nós, desencarnados, as dificuldades irão desaparecendo, com a diminuição da ignorância. A facilidade, como temos ouvido dos nossos maiores, depende de um único aspecto, que sintetiza todos os outros: evolução.

Voltamos nossa atenção para o ambiente, onde todos jaziam adormecidos, exceto Vinte e Nove. Desperto, meditava sobre o que ocorria, monologando: "Como é agradável este silêncio! Desde hoje cedo apoderou-se de mim aquela terrível melancolia que não me permitia suportar conversa com ninguém, ao mesmo tempo em que sentia uma força irresistível arrastar-me para a rua. Uma ideia fixou-se em minha mente: beber, beber muito, até ficar inconsciente. E termino a noite sozinho, entre embriagados adormecidos. O que tê-los-ia levado a dormir, todos a um só tempo?”

Atuando em seu socorro, Fernando passou as mãos, de onde saíam fluidos luminosos, por toda a extensão da coluna vertebral de Vinte e Nove, iniciando na base do crânio e terminando no cóccix, onde suas mãos se demoraram alguns segundos. Em seguida, aplicou passes verticais no plexo solar, onde fluidos pesados rodopiavam sem direção. Terminou aplicando o sopro nos dois pulmões, que pareciam dois foles cheios de fumaça e onde alguns parasitas psíquicos já perturbavam o sistema de assimilação do oxigênio pela corrente sanguínea.

Terminada a operação, Vinte e Nove levantou-se espreguiçando-se e abandonou o triste ambiente, dirigindo-se para casa e antegozando o prazer do sono reparador em sua confortável cama.

Seguimo-lo em sua caminhada até o lar. Intimamente mudado, em relação ao seu estado anterior, ia pensando: "Quando chegar a casa, depois de um banho e de um copo de leite, quero fazer a leitura costumeira. Hoje eu estou com a sede dos ensinamentos espirituais".

Chegando ao lar, entrou com rapidez e trancou a porta, suspirando aliviado. Em poucos instantes estava tomando um banho frio. Nessa hora, Miramez projetou fluidos sutis na estrutura íntima da água, que, transformada em poderoso medicamento para o corpo e o espírito, purificava seus centros de forca, aliviando sua mente ainda tisnada pelo clima de tristeza e pelo enfado diante da vida. Vinte e Nove começou a cantarolar baixinho, já manifestando certa alegria.

Era alta madrugada e as duas mulheres que conversavam junto à lareira quando chegamos, ressonavam agora em quarto contíguo.

A um gesto de Miramez, nos aproximamos, sem perturbar o ambiente de descanso. Nosso instrutor apontou para os dois corpos que jaziam nas camas, passando as mãos sobre suas cabeças, repetindo o gesto diversas vezes. Começamos, então, a ver um facho de luz bruxuleante sair da raiz do nariz das duas senhoras e se estender para a sala onde elas tinham estado conversando. E logo, lá estavam elas, novamente conversando sobre assuntos do lar, coisas sem maior importância, porém, para elas,

terapia conveniente.

Miramez nos explicou, com sua costumeira simplicidade: — Concentrai a visão na estrutura do cordão fluídico.

Novamente ele percorreu as mãos sobre aquele fio luminoso e pudemos então, ao invés de um único fio, perceber milhões deles, de estrutura quase invisível mesmo à visão adestrada.

— Esses fios que ora observamos, prosseguiu Miramez, se dividem ou se ajustam como um só, de acordo com as necessidades e com a força magnética de cada ser. O cordão de prata, como é chamado pelos estudiosos espiritualistas não é igual em todas as criaturas, no que diz respeito à sua engenhosa composição e elasticidade; ele pode ter um limite mínimo, do leito até as dependências da casa ou do corpo até as altas esferas da Terra. Tudo depende da evolução das criaturas. Observai essas duas mulheres: o mundo delas é somente o lar; nada mais lhes interessa e todos os seus sonhos estão ligados às coisas de casa. Durante o sono portanto, elas vivem o que desejam. Querer tirá-las desse estado é, por enquanto violentar os seus direitos.

E fazendo com que voltássemos as nossas vistas espirituais para os corpos que repousavam nos leitos, nos mostrou com facilidade alguns centros de força dos mesmos. Com o dedo fosforescente, para melhor enxergarmos, apontou para o crânio de Alice, uma das senhoras, prosseguindo:

— Vede, meus companheiros, o centro de força coronário da nossa irmã. Ele tem a forma de uma flor, com suas quase mil pétalas, no dizer dos ocultistas, e é mais ou menos isso mesmo. No entanto, analisai este, como está: quase todas as suas pétalas estão inertes, por faltar circulação de força vital em todos os departamentos do corpo astral, ou perispírito, faltando, outrossim, atividade espiritual na dona deste fardo bendito.

Notamos, na verdade, que no topo da cabeça de Alice giravam lentamente algumas hastes, como um velho ventilador cujo motor já não trabalhasse com eficiência.

— É isso mesmo — termina o nosso instrutor —, essas duas senhoras ainda não despertaram para a realidade da vida, e como nunca mudam de assunto, deixam de assimilar o prâna que dá vida a tudo, principalmente a vida dos corpos que se sucedem ao corpo físico, em quantidade suficiente. Elas não têm atividades espirituais, vivendo egoisticamente, sem pensar no próximo e, por vezes, esquecendo-se do próprio Deus.

Voltamos ao quarto de Vinte e Nove, onde Fernando e Celes já estavam preparando o candidato para a saída do corpo físico. Reunimo-nos todos naquele ambiente de descanso. Kahena sorria com as mãos cheias de algumas substâncias colhidas na natureza por sua equipe, composta de muitos Espíritos obedientes, que movimentavam segundo suas diretrizes. Vinte e Nove, depois de uma rápida leitura onde se esquecera do mundo terreno e pensava em Deus e na vida espiritual, sentiu-se sonolento, recolhendo-se já quase dormindo.

Fernando aproximou-se do candidato e com ele conversou mentalmente. Ao emitir seus pensamentos coordenados com o mundo mental de Vinte e Nove, nós observamos duas luzes se acendendo na cabeça do candidato à iniciação daquela noite: eram as glândulas hipófise e epífise. Elas funcionavam cada vez mais, como se fossem duas antenas receptoras que colhiam as vibrações emitidas por Fernando. Vinte e Nove

percebia, mesmo quase dormindo e se esforçava para ficar com os ouvidos atentos, sem contudo saber ao certo por onde estava ouvindo tão belos conceitos acerca das verdades espirituais.

Enquanto Celes e Kahena trabalhavam para que o nosso amigo Galeno falasse com o Vinte e Nove Espírito, Abílio fazia sua ronda, necessária em todo o ambiente, dispersando algumas entidades indesejadas, de forma que o trabalho corresse normalmente.

Miramez tocou os dedos de leve em meu ombro e falou com a brandura que lhe é peculiar:

— Lancellin! Deves saber que o corpo humano é um universo em miniatura. Somente no corpo deste moço que ora escolhemos para adestrar neste tipo de trabalho e com ele aprendermos, vibram, trabalham e se aprimoram quase setenta trilhões de células, como se cada uma delas fosse um motor vivo. E, ainda mais, elas são obedientes ao comando da alma, desde que essa alma aprenda a comandá-las. Nesse universo humano existem segredos que somente dentro de milênios os homens poderão descobrir. Esse microcosmo orgânico tem sua cota de evolução na escala do progresso a que estamos submetidos. Se porventura o Espírito não aceitar o chamado quando escolhido para mais alto despertar, o próprio corpo se revolta contra ele, expulsando-o e, aí, desarticula-se a grande sociedade celular, rumando para outras formas. O cinetismo em todo reino é lei irremovível. Dele dependem a luz e a própria felicidade.

Queria que o nosso companheiro Miramez continuasse com as elucidações, mas o horário nos reclamava a atenção. Passamos a escutar a conversa de Fernando com Vinte o Nove, neste tom de camaradagem:

— Meu filho, que Deus te abençoe sempre. Estamos aqui hoje para te Propiciar um sono diferente, por certas qualidades que já conquistaste no labor diário. Nós te afirmamos que somos emissários da paz e que viemos convidar-te em nome de Jesus, o Cristo de Deus, Aquele a quem tanto admiras, para sair conosco em um passeio espiritual, de maneira diferente da que o sono propicia; sair do teu corpo conscientemente, vendo e tocando o teu corpo sabendo que estas em espírito junto a nós. Não precisas temer, pois não há perigo algum, visto que junto a nós se encontram benfeitores de alta estirpe, conhecedores de toda ciência que nos garantem os trabalhos. Se sentires, por acaso, algum fenômeno desconhecido, não percas a coragem; é que, às vezes, precisamos tocar em alguns pontos dos teus corpos físico e espiritual, de maneira a despertar a tua consciência para o estado em que te encontras.

SAÍDA DO CORPO

Vinte e Nove, no estado intermediário da vigília para o sono, ouvia tudo com certa emoção. Despertou, entretanto, abruptamente, e se lembrou das palavras de Fernando. De quem as teria ouvido? No seu íntimo, sentia que conhecia aquele tom de voz, porém, não se lembrava de quem e sentiu temor. Como costumava fazer nos momentos de aflição ou de dúvida, apanhou o Evangelho que conservava sempre à mão, abrindo-o com ansiedade. Leu, então, em Atos dos Apóstolos, o capítulo 16, versículo 10:

Assim que teve a visão, imediatamente procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o Evangelho.

"Deus meu", pensou Vinte e Nove, "será que estou ouvindo algum chamado para anunciar o Evangelho? Não, não pode ser. São muitas as minhas imperfeições. Apenas gosto, com sinceridade, de ler os ensinamentos do Mestre e de esforçar-me para praticá-los".

Deixou o livro cair para o lado, já quase dormindo. Fernando procurava acalmá-lo, aplicando-lhe passes.

— Deite-se de bruços, ordenou-lhe mentalmente Fernando.

Sua ordem transformou-se em pensamento vivo no cérebro de Vinte e Nove, repetindo-se várias vezes, como se fosse uma gravação.

Ele obedeceu e ficou na posição ordenada. Fernando, então, passou a transmitir-lhe fluidos através do passe, na região da medula oblonga.

Miramez aproximou-se de nós e, apontando para determinados pontos, esclareceu:

— Observemos atentos as emanações que saem da coluna do nosso irmão. Vejamos os dedos de Fernando: trabalham como ímãs, cuja força de atração gerada pelo pensamento. Correntes de energia pesada, que os pensamentos inferiores de Vinte e Nove acumularam durante o dia, bem como os provenientes do ambiente que frequentou nesta noite, além das vibrações de outras pessoas que, afinizadas com o seu modo de ser, acharam guarida em sua coluna, perturbam-lhe as emoções. Se permanecerem ali, enfraquecerão suas células e empobrecerão o próprio sangue manifestando-se, então, enfermidades que a medicina terrena conseguirá registrar por seus sintomas, sem, contudo, definir-lhes as causas.

Essa massa gelatinosa, comumente chamada de tutano, é, por assim dizer uma região grandiosa na função do desprendimento do corpo astral; entretanto, nós não poderemos definir ou determinar o ponto exato onde se prende o perispírito e por onde ele sai do corpo físico, durante o sono do corpo ou em viagens astrais conscientes. É de se notar, remata com leve sorriso, o quanto vale o pensamento reto e o quanto nos ajuda

em nossa autodisciplina, o exercício divino da caridade.

Fernando afastou-se do aprendiz e, com habilidade, ajudado por Kahena, limpou com facilidade as mãos que pareciam, sob nossas vistas, enlameadas e com odor francamente desagradável.

Miramez aproximou-se da cama, onde já dormia Vinte e Nove e passou suas mãos sobre o epigastro do companheiro, parecendo deslocar algo que a nossa audição registrava.

Com as mãos e a mente trabalhando síncronas, Miramez desligou Vinte e Nove do corpo físico e este começou a flutuar acima do soma com certa dificuldade. Em certos momentos, parecia querer voltar, mas Miramez o impedia, fazendo com que se afastasse mais. Podíamos ver uma espécie de cabo fosforescente que, ligado à parte posterior do crânio de Vinte e Nove Espírito, ia até a raiz do nariz do seu corpo físico, que se achava, no momento, deitado de costas.

Apesar da complexidade do trabalho, Miramez ainda encontrou tempo para nos esclarecer algumas dúvidas. Depois de aplicar passes magnéticos na cabeça perispiritual do aprendiz, comentou prestativo:

— Fixemos a atenção no centro da vida deste nosso irmão; as mesmas dificuldades que tendes para observar essa luz dentro da cabeça do nosso companheiro, nós outros, que dirigimos os trabalhos, a temos. Eis aí um segredo divino, vedado, por enquanto, a todos nós. É uma fração da mente do Criador incorporada à mente humana, que merece o nosso maior respeito e admiração.

Realmente, nossa visão apresentava um limite, com relação àquele foco luz. Cada um de nós o percebia como tendo uma tonalidade. Para mim, era de uma azul jamais observado dentro da escala em que predomina essa cor.

Vinte e Nove, algo trêmulo, começou a andar como criança no amplo quarto onde estávamos. Abriu os olhos, embora continuasse inconsciente à nossa presença.

A uma ordem de Miramez, expressa por meio do olhar, Celes concentrou-se em perfeita sintonia com Kahena e logo pudemos perceber determinada massa esbranquiçada. Envolvido por essa substância, nosso companheiro carioca foi se tornando visível a Vinte e Nove, abraçado fraternalmente por Celes, antes de se assustar.

Por intermédio de Celes, nosso querido Galeno falou-lhe com mansidão: — Querido filho, estejas em paz. Que não se perturbe o teu coração ao conversar conosco neste plano em que nos encontramos. Todos os dias tal fato acontece contigo. A diferença é que hoje é uma noite especial, na qual nos dedicamos a ti, para que busquemos juntos as coisas do Espírito imortal, para que procuremos Nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, abracemos com entusiasmo os ensinamentos do Mestre. Estás fora do corpo físico — disse mostrando a Vinte e Nove o fardo material deitado no leito.

Este, quando viu seu corpo, instintivamente quis voltar, mas foi impedido mais uma vez e logo se acalmou.

Continuou Galeno, incorporado em Celes:

— Não estamos violentando teus direitos; isso é apenas um convite para que