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Os movimentos sociais urbanos de supervivência representam a consolidação de uma ampliação significativa da perspectiva do significado da luta urbana, que historicamente teve como principal mote a reivindicação por moradia, por questões e dados de demanda inquestionavelmente expressivos. No caso dos movimentos sociais urbanos de supervivência não há a contestação da propriedade, mas sim uma ação de insurgência de uso através da apropriação temporária do espaço. Representam uma subversão da ordem emanada de projetos que oprimem o livre uso dos espaços urbanos e, via de regra, utilizam- se da criatividade relacionada ao uso para a ativação dos espaços públicos.

Isso está ligado a um movimento no mundo chamado urbanismo tático, que é muito oposto a antiga visão do urbanismo como planejamento. Não é a ciência do urbanismo, é o inverso do espírito tecnocrático que moveu boa parte do urbanismo moderno com a ideia de um planejamento com bases econômicas. É muito mais baseado na noção de que você cria equipamentos de uso, é ligado ao uso imediato e em pequena escala por que depende da ação das pessoas

(...)

Esses grupos que tem atuado muito em São Paulo muito por um certo esgotamento da relação tradicional da política. As pessoas estão percebendo que não podem esperar mais que os políticos façam coisas que são demandadas. É preciso que a sociedade ela mesma faça essa pressão (WISNIK, 2015).

É possível observar que a consciência e a vontade de que espaços públicos sejam apropriados mais regularmente é muito recente, e é uma ação que reverte um estigma, simbolicamente falando, de uma cidade de movimento unilateral em favor do transporte privado individual. O minhocão, por exemplo, tem limitação de horário de utilização para carros desde a gestão da prefeita Luiza Erundina (1989 e 1993), mas até pouco mais de uma década representava mais um descanso para os moradores dos edifícios adjacentes ao Elevado do que uma real possibilidade de ocupação e uso públicos.

O Festival Baixo Centro utilizou-se principalmente da estrutura do minhocão enquanto suporte físico e simbólico, através da liberdade da condição espontânea e, sobretudo efêmera de atuação dos movimentos sociais urbanos de supervivência. Atuaram tal qual hackers urbanos, que decifraram os códigos de como são feitas, organizadas, gerenciadas e viabilizadas as manifestações urbanas, tendo todo esse processo divulgado de forma transparente para incentivar sua reprodução em outras partes da cidade. Acredita- se que essa estratégia represente, sobretudo, um posicionamento político, de acordo com as discussões de Gohn (2011) de produção e difusão de saberes em espaços não

institucionalizados, constituintes de um processo social de construção de cidadania e conhecimento de direitos cidadãos.

A cartilha de ocupação dos espaços públicos, por exemplo, inaugurou um manual de conscientização e posicionamento em relação à execução das manifestações urbanas; às possíveis abordagens que a polícia poderia ter, e quais dessas abordagens são de fato autorizadas por lei, ou seja, quais são os limites para a atuação dos cidadãos e quais são os limites de atuação da polícia, o que representaria uma ocupação urbana e quais seriam os seus direitos. No caso do Festival Baixo Centro, o movimento utilizou-se do privilégio da ação artística para manifestar sua questão e posições políticas muito claras. Sua fachada estética garantiu certa imunidade frente ao poder público, apesar de ter representado um distanciamento também muito significativo com a população residente da região central da cidade, dos cortiços e dos edifícios ocupados pelos movimentos sociais articulados.

Ainda assim, sua potência enquanto manifestação de insurgência de uso da propriedade pública e seu processo de construção coletiva de apropriações urbanas revelaram-se muito significativos. Pessoas que circulavam cotidianamente pelo centro da cidade de São Paulo e se depararam com as intervenções do Festival, tomaram conhecimento da existência de novas formas de viver o espaço urbano. O processo de construção coletiva do Baixo Centro permitiu mostrar às pessoas que tinham a potência de reunir seu próprio círculo de amizades e ocupar a rua sem pedir autorização e se expressar de forma mais livre. O convite realizado pelo evento: “estão tod@s convidad@s a intervir – com a voz, o corpo, as ideias”, acrescido do compartilhamento das tecnologias sociais desenvolvidas pela organização do Festival Baixo Centro foi uma forma de se construir junto um evento que contemplasse ações da maior parcela possível dos participantes.

Logo após a segunda edição, foi possível observar a ação de outros coletivos e outros grupos que se articulavam para ocupar as ruas, cada um à sua forma e com a sua bandeira de reivindicação. O próprio Basurama realizou outras ações dos balanços no Viaduto do Chá durante a Virada Cultural em 2014 e, em uma outra ocasião, autônoma em 2015, quando os balanços ficaram instalados por um mês, ambas contratadas pela municipalidade durante a gestão Haddad (2013-2016). Observou-se o surgimento de iniciativas autônomas diversas, que se localizavam principalmente ao longo do Elevado Presidente João Goulart e em suas adjacências. Alguns exemplos são: o Buraco da minhoca, uma festa realizada no túnel sob a Praça Roosevelt; o evento Piscinão do Minhocão, que propôs a instalação de piscinas sobre o Elevado; a atuação do grupo cênico

Esparrama Pela Janela, que se utiliza de uma janela de um edifício adjacente ao Elevado como palco e sua própria estrutura como plateia; a realização do Mercado de Pulgas; iniciativas da própria gestão municipal mais próximas ou por sobre o Elevado como o aumento do número de vias regulamentadas como Ruas de Lazer aos finais de semana, o Projeto Centro Aberto, a Virada Gastronômica e a Virada Cultural; e a pauta muito expressiva sobre as hipóteses de futuro para o Elevado, a ação do coletivo Parque Minhocão, as discussões públicas e os diversos concursos de arquitetura voltados a esta temática (Figs. 57, 58, 59 e 60).

Figura 57. Ocupação artística O Buraco da Minhoca.

Figura 58. Apresentação teatral Esparrama pela Janela.

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2016.

Figura 59. Mercado de Pulgas.

Figura 60. Virada Gastronômica.

Fonte: catracalivre.com.br/, 2015.

Esse desencadeamento de ações levou o coletivo da organização a crer que não fazia mais sentido construir outro Festival. A ideia era que o Baixo Centro enquanto movimento e Festival começasse, ganhasse força e se diluísse na sociedade, se tornando orgânico e acabasse enquanto grupo. Isso ocorreu também pela rede de colaboração criada entre os ativistas urbanos da cidade, que tiveram na experiência do Festival Baixo Centro a oportunidade de se reconhecerem enquanto grupo e estabelecerem e disseminarem relações mais fortes de pertencimento e envolvimento com a cidade.

Estas iniciativas contribuíram para um acúmulo significativo de articulações urbanas e de ideologias que estavam emergindo e articulando-se em redes mais amplas. Tanto é assim que, em 2013, logo após a segunda edição do Festival Baixo Centro, principalmente pela ascensão pública das reivindicações do Movimento Passe Livre, as Jornadas de junho representaram um marco na história das lutas urbanas brasileiras (Fig. 61). Fizeram emergir não apenas a questão da mobilidade via transporte público e suas conexões com o espaço público no debate da atuação urbana, mas sim uma série de agendas mal resolvidas, decorrentes da frustração de um projeto de reforma urbana construído coletivamente ao longo de quatro décadas de militância e que não foi realizado como esperava-se com o exercício das gestões nacionais entre os anos de 2003 e 2010.

Figura 61. Manifestação de junho de 213 no Largo da Batata.

Fonte: folha.uol.com.br/, 2013

A recorrente crise de representação política e a tomada das ruas como expressão de revolta evidenciaram neste momento uma multiplicidade inédita de agentes e reinvindicações dissonantes: bandeiras diversas exigiam em comum a reforma do modelo de política estruturado em hierarquias verticais e centralizadas, com predomínio de formas horizontais de decisão, apartidárias ou antipartidárias e sem personificação de lideranças. As Jornadas anunciaram, entre tantos outros lugares, o Largo da Batata como palco de lutas urbanas. Não por acaso, sua espacialidade e morfologia urbana propiciam uma aglomeração significativa de pessoas. Esse empoderamento em escala nacional de ocupar livremente as ruas pela reivindicação de uma vida urbana mais justa e melhor distribuída muito provavelmente influenciou no mesmo ano, em novembro de 2013 o início das ocupações regulares do Largo da Batata.

Para o coletivo A Batata Precisa de Você, assim como observado no Festival Baixo Centro, a maior conquista de sua atuação foi poder oficializar simbolicamente o Largo da Batata como espaço público de livre ocupação, que abriga cada vez mais iniciativas autônomas de diversas origens e com as mais plurais reinvindicações. O objetivo era exatamente ativar a praça e fazer com que as pessoas reconhecessem que elas podem usar e promover atividades culturais independentes de autorização ou qualquer tipo de

burocracia. É interessante que as pessoas percebam que a cidade e os espaços públicos são delas, e não um “espaço privado do poder público” (TELLES, 2017)18.

Atividades que surgiram incialmente das reuniões organizadas pelo coletivo começaram a se tornar mais permanentes na agenda cultural da praça como o projeto do Forró dos Amigos, por exemplo, que começou como um evento pontual e depois se fixou como um evento mensal. O Largo ainda apresenta outra especificidade que potencializa mais as atividades realizadas ali: suas dimensões com permeabilidade visual muito ampla propicia que ocorram atividades simultâneas que não interferem umas nas outras.

O coletivo de jardinagem, por exemplo, que se reúne para realizar os trabalhos de manutenção dos canteiros laterais do Largo toda quarta-feira, no mesmo dia da semana e horário que acontece O Largo da Batalha, uma batalha de rap organizada por MCs da periferia embaixo dos pergolados, que também divide espaço com os diversos comércios e bares abertos e cheios, muito próximo de onde as pessoas em situação de rua se acomodam durante à noite.

São trinta anos de deserto do ponto de vista do fazer cidade, mas são cinco anos de muita esperança do lado do uso. O que nós percebemos que é esse uso ativista talvez vai forçar outros projetos, ele não se esgota nele mesmo. A melhor maneira de pensar o urbanismo tático é que ele não vai ser urbanismo tático para sempre. É um urbanismo tático que vai forçar o poder público a entender que é preciso projeto. Que espaço público é uma coisa complexa e que as pessoas querem o espaço público.

(...)

Agora está claramente colocada a pauta de que a população reconhece o espaço público como o lugar legitimo do seu direito de ser cidadão. Agora como a prefeitura e o governo do estado vão reagir a isso? Eles precisam ter respostas (WISNIK, 2017).

Em 2015, foi organizado o Batatalab, um concurso de mobiliário urbano promovido pelo Instituto A Cidade Precisa de Você em parceria com o IPIU - Instituto de Pesquisa e Inovação em Urbanismo, contando com o apoio da Prefeitura de São Paulo. O concurso teve como objetivo afirmar o Largo da Batata como um laboratório de testes que potencialmente pudessem atingir demais espaços públicos da cidade e criar novos mecanismos e políticas públicas para que a iniciativa se multiplicasse. Primeiramente, foram mapeados usos e fluxos na praça, a presença de vegetação, analisados os mobiliários já desenvolvidos pelo movimento e incorporado um levantamento do espaço realizado pela Prefeitura de São Paulo (Fig. 62).

18 Nota de palestra da professora Vera da Silva Telles realizada no Fórum Direito à Cidade – Desafios

para uma Agenda Metropolitana em 04 de abril de 2017 na Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP.

Figura 62. Parte do levantamento de dados realizado pelo coletivo.

Fonte: largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/, 2015.

O concurso reunia três categorias de acordo com as demandas apontadas pelos frequentadores do local: conforto, lúdico e sombra. A categoria conforto foi desenvolvida pelas Batatas Construtoras, que já haviam construído boa parte do mobiliário temporário no Largo da Batata, e inaugurada em outubro de 2015 (Fig. 63).

Figura 63. Equipamento Conforto, das Batatas Construtoras.

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017.

Houve ainda uma chamada pública para as outras duas categorias, selecionadas por um júri de representantes da sociedade civil, poder público, especialistas na área, terceiro setor e setor privado. O grupo Erê Lab ganhou na categoria lúdico com um parquinho infantil instalado em um canteiro gramado de 960 metros próximo ao Mercado de Pinheiros e grupo Quasares ganhou na categoria sombra com o projeto Trançado. Ambos projetos foram inaugurados em dezembro de 2015, construídos e implementados unindo iniciativa da sociedade civil, privada e pública para um concurso que considerou o processo do lugar.

Essas iniciativas influenciaram ainda mais a característica do Largo enquanto espaço de estar e permanência, não apenas de passagem. A intensa presença popular durante o carnaval de rua, que já se repetiu por três anos, a instalação de palcos oficinais da Virada Cultural pelas gestões municipais e a expressão da ocupação do Largo durante as manifestações mais progressistas referentes ao golpe político de 2016 (Fig. 64) também reforçam a construção imaterial e simbólica deste espaço enquanto suporte das lutas urbanas contemporâneas.

Figura 64. Manifestações contra o golpe de 2016.

Fonte: Paulo Pinto (fotospublicas.com/manifestacao-contra-o-impeachment-de-dilma/), 2016.

No entanto, ao mesmo tempo que os movimentos sociais urbanos de supervivência agregam valor de uso ao espaço público e qualificam sua experiência urbana, o sistema econômico vigente utiliza-se da mesma qualificação para agregar valor de troca a estes mesmos espaços (LEFEBVRE, 2008), subordinando-os a seu favor e promoção. Um exemplo a ser citado se deu em relação à ocupação do carnaval de rua no Largo da Batata, quando foi possível observar algumas iniciativas privadas tomarem posse dessa qualificação do lugar para sua autopromoção, inclusive cercando o espaço e restringindo seu livre acesso (Fig. 65).

Figura 65. Roda gigante da Skol instalada no Largo da Batata durante o carnaval.

Fonte: Bárbara Sacchitiello (meioemensagem.com.br/home/marketing/2017/02/23/como-e-ser-a- cerveja-do-carnaval-de-sao-paulo.html), 2017.

Acredita-se que a intervenção do Movimento A Batata Precisa de Você tenha contribuído para a expressão um pouco mais evidente da potência social por dois motivos: primeiramente pela questão morfológica e de espacialidade que o Largo apresenta. Apesar de ter tido seus contornos, proporções e materialidade inúmeras vezes reconfigurados, morfologicamente manteve-se enquanto praça em seu sentido simbólico e, portanto, de lugar marcado no território pela permanência. O minhocão, por sua vez, um objeto, elevado e distanciado do acesso imediato da cota da rua, aberto apenas em determinados períodos do dia através de acessos em pontos específicos, construído sob a premissa funcional rodoviarista, por não possuir a escala humana como princípio de desenho e articulação urbana, dificulta a expressão do acolhimento (AGUIAR, 2012) e da amabilidade urbana (SANSÃO, 2013).

Em segundo lugar, a condição de periodicidade intensa e escala que caracterizou toda a ação do coletivo, reduzida, têm os benefícios de uma relação mais próxima e do maior envolvimento entre as pessoas inseridas no processo. As oficinas de marcenaria no Largo, segundo relatos, sempre foram os eventos que mais atraíam as pessoas por terem dinâmicas muito propícias para isso. Pessoas com habilidade, conhecimento ou simples interesse passavam e se interessavam em ajudar no processo. Observa-se na prática que o movimento proporciona uma educação informal, onde o

coletivo é responsável por promover estes eventos e as pessoas contribuem com a habilidade ou conhecimento que têm para passar e capacitar outras pessoas.

O cuidado de uma coisa comum do espaço público borra a perspectiva do público e do privado, evidenciando que as pessoas têm disposição para investir tempo, energia e afeto em algo coletivo, que não é só delas, que traz benefício para todos. Pôde-se observar que as atividades de jardinagem também têm um potencial muito grande de envolver as pessoas desconhecidas, que se utilizam do Largo para apenas para passagem, por exemplo. Acredita-se que, por ser uma atividade que muitas pessoas exercem em suas próprias casas e tem conhecimento, a possibilidade de contribuir com um trabalho coletivo em um espaço público desperta o interesse ao diálogo.

A experiência do Largo da Batata, dentre outras questões, ressalta os aspectos positivos de se oferecer à cidade um amplo espaço aberto e público, que apresenta reais possibilidades de ocupação. Em um bairro onde boa parte dos espaços não edificados, ainda que de propriedade pública, são cercados, ressalta a força da urbanidade dos espaços públicos associados à potência social, ou seja, a de acolhimento da cidade, sua morfologia e das pessoas. Da mesma forma como ocorre nos bairros periféricos e nos conjuntos habitacionais promovidos pelo Estado, onde espaços públicos ou abertos poderiam abrigar atividades de lazer e cultura, no entanto, pelo contrário, observam-se muitas vezes espaços que acumulam lixo e entulho ou apropriações privadas.

Por fim, observa-se que a sequência de obras inacabadas, indefinições e impasses dos investimentos e obras públicas do projeto de Reconversão Urbana do Largo da Batata se demonstrou avessa ao discurso de qualificação, apresentando-se na realidade como prejudicial à microeconomia e catalizadora do esvaziamento dos espaços públicos na região. Em contrapartida, é possível supor que mesmo o limbo de indefinições e impasses de investimentos desse conjunto de obras públicas que perduraram por tantos anos, pode ter sido um dos motivos pelos quais o interesse privado se afastou da área, investindo nas demais regiões ao longo da Operação Urbana Faria Lima. Ou seja, a ineficiência da gestão política e econômica, neste caso, pode ter garantido alguma possibilidade de permanência de moradores e atividades comerciais tradicionais do bairro, mitigando efeitos do avanço da especulação e do processo de gentrificação.

Na região norte do Largo nota-se uma forte resistência de bares e comércios populares, lojas de atacado e artigos nordestinos e de candomblé (Fig. 66). A sobrevivência do varejo popular, da habitação, de atrativos de cultura e lazer financeiramente acessíveis e principalmente da arquitetura contenedora dessas dinâmicas se faz em obstinada oposição ao acelerado avanço imobiliário e suas fortes imposições de gentrificação.

Figura 66. Região norte do Largo da Batata em vista aérea e na escala do pedestre.

Fonte: fotografia.folha.uol.com.br/.

Na escala do pedestre, a região norte é majoritariamente conformada por leitos carroçáveis mais estreitos, vias de caráter local, calçadas mais generosas e arborizadas, edificações de baixo gabarito, sobrados ou prédios, que abrigam o pequeno comércio ou residências e recorrentemente sem garagens (Fig. 67). Ou seja, atributos que além de qualificar, priorizam o caminhar a pé, a utilização do transporte público e a relação mais estreita com a rua e a vida urbana.

Figura 67. Região norte do Largo da Batata na escala do pedestre.

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Na região sul do Largo, observam-se diversas transformações morfológicas dinâmicas como novos empreendimentos imobiliários e mudanças no padrão dos comércios, restaurantes e bares. Houve de fato um processo de gentrificação, porém menos expressivo do que o esperado pelo impacto da operação urbana, devido às inúmeras iniciativas de reação e insurgência (Fig. 68). Na escala do pedestre, é possível observar que o parcelamento original do solo segue alterando de forma drástica, alcançando constantemente alturas inéditas no bairro e reafirmando a lógica da vigília, do controle de acesso, da segurança assimilada ao ideal de privatização, das barreiras físicas ou invisíveis e do transporte privado individual, que invade as calçadas e segue por não respeitar o espaço do pedestre na cidade. Ilustram perfeitamente a obsessão contemporânea em demarcar fronteiras e de recortar para si um lugar seguro e distante da livre circulação, solucionando os problemas urbanos no sentido evitá-los (Fig. 69).

Figura 68. Região sul do Largo da Batata em vista aérea.

Fonte: Daniel Ducci (archdaily.com.br), 2017.

Figura 69. Região sul do Largo da Batata na escala do pedestre.

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