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3. EXPERIMENTAÇÕES DA SUPERVIVÊNCIA

3.2. Unidade caso II: A Batata Precisa De Você

Figura 28. Divulgação do movimento.

Fonte: largodabatata.com.br, 2014.

A região de Pinheiros e o cenário das últimas décadas

A região de Pinheiros possui uma dimensão histórica muito distinta do centro da cidade de São Paulo, porém, não menos complexa. A antiga Estrada de Pinheiros, hoje Rua da Consolação, era um dos principais acessos da importante produção agrícola localizada no interior do estado no século XIX ao centro da cidade e ao Porto de Santos (Fig. 29). As Ruas Butantã e Pinheiros formavam o antigo caminho de Sorocaba, que chegavam a Itapetininga e a Presidente Prudente, cidades com destaque produtivo da época no interior do Estado (LANGENBUCH, 1971). A região também acercava-se de um importante estreitamento das margens do rio, que permitia a sua transposição, além de possuir uma distância curta, porém segura de sua várzea, impedindo possíveis percalços que as cheias acarretariam nas dinâmicas locais (REALE, 1982) (Fig. 30).

Figura 29. Ferrovias do Estado de São Paulo, com destaque para a Estrada de Ferro Sorocabana.

Fonte: IGC Regiões Administrativas Metropolitanas (igc.sp.gov.br), 2014.

Figura 30. Sara Brasil de 1930 do bairro de Pinheiros e destaque para a região do Largo da Batata.

Dessa forma, polarizava e articulava movimentações de diferentes escalas, de pequenos produtores e consumidores locais a grandes produtores do interior do Estado, propiciando uma presença numerosa e diversificada. Na qualidade de núcleo espontâneo de crescimento, principalmente direcionado a atividades cotidianas de passagem e comércio, é importante ressaltar que apresentava uma morfologia orgânica resultante da confluência de vias principais de circulação, mas sem delimitação categórica. Esse grande ponto de encontro e de troca distribuído a céu aberto foi consolidando práticas sociais de atividade intensa e com vida própria (REALE, 1982).

No final do século XIX foi iniciado um processo ininterrupto de crescimento urbano da cidade de São Paulo, estruturado e desenvolvido basicamente em decorrência da produção e comércio cafeicultor. No início do século XX o avanço dinâmico do interesse e especulação imobiliária por propriedades fundiárias concêntricas ao centro da cidade seguiu a polarização das centralidades econômicas em um percurso evidente em direção ao quadrante sudoeste da cidade (VILLAÇA, 2012). Neste contexto, a região do bairro de Pinheiros indicava ser o principal eixo de expansão que partia do espigão central da Avenida Paulista para a criação de novos bairros.

Figura 31. Cooperativa Agrícola de Cotia.

Em 1909, as linhas dos bondes elétricos que passavam pelo cemitério do Araçá alcançaram o Largo. Logo após, a fundação do Mercado Caipira (1910) e da Cooperativa de Cotia (1928), momento em que o Largo ganhou a alcunha de Largo da Batata (Fig. 31), contribuíram para que o significativo aumento da dinâmica local provocasse o interesse pelas construções das vias públicas previstas para a região no Plano de Avenidas.

Apesar de avizinhar-se de bairros nobres, muito em função da atuação da Companhia City na cidade, a região de Pinheiros e especialmente o Largo da Batata permaneceu até a década de 1960 tendo como principal atividade o comércio ligado ao cotidiano rural. Essa característica, segundo a PMSP (2001, p.2) ainda se manteve na região, posteriormente como importante centro de comércio popular entreposto de atacado e varejo. Ainda nesta década, a lei municipal promulgada pelo prefeito Faria Lima aprovou a urbanização junto às marginais dos Rios Tietê e Pinheiros (com obras de canalização iniciadas pela Companhia Light de energia elétrica desde 1927), com o objetivo de adensar a região15. A Figura 32 mostra a sobreposição dos traçados original e atual do rio Pinheiros revelam a espacialidade que os meandros ocupavam anteriormente e a forma como o sistema viário e as edificações ocuparam a área de várzea do rio.

Figura 32. Sobreposição dos traçados (original e atual) do Rio Pinheiros.

Fonte: Eduardo Dutenkefer, GEOUSP – Espaço e Tempo, 2015.

15 Ver SEABRA, Odette C. de Lima. Os meandros dos rios nos meandros do Poder. Tietê e Pinheiros:

valorização dos rios e das várzeas na cidade de Paulo. Tese de doutoramento. São Paulo: FFLCH/USP, 1986. Disponível em: < https://goo.gl/39Fqvz>. Acesso em: 18 out. 2017.

As ocupações posteriores, tanto na antiga área de várzea quanto na área mais consolidada do bairro, foram caracterizadas por novas tipologias construtivas, bem como novos usos: o parcelamento original de pequenas casas ou vilas, aos poucos deu lugar a edifícios residenciais de baixo gabarito e o zoneamento da área, classificado como misto em 1959, aumentou significativamente a diversidade de usos da região (REALE, 1982). Diante da nova ocupação da área e da dinâmica econômica em constante crescimento, houve um empenho da gestão pública, no início da década de 1960, em promover obras de infraestrutura urbana como calçamento de ruas, canalização de córregos, alargamento do Largo da Batata e a ampliação do número de linhas de ônibus que passavam ou tinham sua parada no Largo. Em 1968, foi construída a nova Avenida Faria Lima, resultante do alargamento da Rua Iguatemi, que ocasionou a demolição do antigo Mercado dos Caipiras e a construção do novo Mercado de Pinheiros (1971).

Figura 33. Antigo Terminal de ônibus de Pinheiros, no Largo da Batata.

Fonte: Matuiti Mayezo (folha.uol.com.br/cotidiano), 1991.

Devido ao grande fluxo de ônibus municipais e intermunicipais instalados na região, entre as décadas de 1960 e 1970, o bairro reforçou seu simbolismo histórico de ponto nodal de mobilidade na cidade, como importante local de chegada, partida ou baldeações. Em 1974, um terminal exclusivo de ônibus (Fig. 33) foi instalado no Largo da

Batata, consolidando definitivamente a elevada concentração de pessoas e a presença popular (GAZETA DE PINHEIROS, 1973).

Se o Largo da Batata desenvolveu-se historicamente enquanto centralidade de comércio rural, no final do século XX foi o vertiginoso adensamento que favoreceu o aumento significativo das atividades de comércio varejista, de serviços e dos vendedores ambulantes, instalados principalmente às margens do Largo e nas proximidades do terminal de ônibus (Fig. 34). A imagem predominante da área, aos poucos consolidou-se com as seguintes características:

Cinco botecos, três boates que cobram menos de R$ 5 por show de strip- tease, três docerias, uma loja de R$ 1, lojas de roupas populares e uma drogaria. E, nas calçadas, camelôs. O principal quarteirão do Largo da Batata, na Avenida Brigadeiro Faria Lima entre as Ruas Martim Carrasco e Sumidouro, é marcado pelo comércio popular. À noite, os bares têm música ao vivo onde prevalece o forró, o funk, o pagode e o sertanejo (PMSP, 2010).

Figura 34. Região do Largo da Batata.

Fonte: LOURENÇÃO, 2008, p.142.

Segundo Villaça (2012), o processo de valorização ou desvalorização de cada parcela do território urbano acontece em virtude de um jogo de poder exercido ou

consentido pelo Estado, via de regra em benefício do interesse privado. Nesse sentido, Harvey (1992) afirma que houve uma mudança do administrativo urbano para um gênero de empreendedorismo urbano, que se apoia na relação público-privado onde governo e administração são respectivamente “facilitador e coordenador” (p.166-167). Um processo fortemente caracterizado por sua tendência à privatização e mercantilização de ativos públicos através da manipulação de crises e redistribuição via Estado.

O que hoje é chamado de controle de crescimento e regulação da especulação de livre mercado, na realidade constitui a administração do crescimento após às decisões do próprio mercado (GOTTIDIENER, 1996). Dessa forma, a pressão pela rentabilidade do solo urbano estimula um processo de reestruturação de novas bases espaciais de produção, por meio de uma mobilização frenética do espaço em autodestruição, renovação ou substituição das estruturas preexistentes (HARVEY, 1992).

Investindo-se dinheiro público para a construção de infraestrutura ou equipamentos públicos, faz com que a área que sofre a intervenção seja valorizada e que investimentos imobiliários ou a especulação se valham dessa valorização para aumentar seu próprio lucro. Assim, os consumidores finais capazes de se manterem nos locais onde moram ou de adquirir um imóvel na região pagam pela infraestrutura criada mediante a tributação e também pelo aumento do preço dos imóveis.

O Largo da Batata em Pinheiros é exemplo desta situação como área pouco funcional e produtiva do ponto de vista imobiliário, e portanto, mais apta a novos ciclos de especulação. Assim, em 1995 a região entrou em um ciclo ininterrupto de ações públicas e privadas no sentido de valorização imobiliária e expulsão da então presente classe trabalhadora de baixos salários, iniciada pela Operação Urbana Faria Lima e que perdura até os dias atuais.

Operação Urbana Faria Lima e a Reconversão do Largo da Batata

Retomando sua definição, a Operação Urbana é uma Parceria Público-Privada (PPP) que permite que empreendedores obtenham flexibilização dos direitos de construir estabelecidos pela legislação urbana. Através da captação de contrapartidas urbanísticas e financeiras a serem investidas dentro do próprio perímetro da operação, é um instrumento que se viabiliza apenas em áreas nas quais já há interesse de investimento a partir do setor imobiliário, ou seja, recepcionam a ideia de produção do espaço urbano ampliada à lógica financeira, garantindo controle privado sobre a destinação dos fundos públicos. Dessa forma,

concentram a ação pública na esfera da cidade formal já valorizada, aprofundando ainda mais a fratura social urbana (DEÁK e SHIFFER, 2007; NOBRE, 2009; BIDERMAN e SANDRONI, 2005).

Promulgada pelo então prefeito Paulo Maluf, a Lei nº 11.732/1995 referente à Operação Urbana Faria Lima (OUFL), seguia diretrizes estabelecidas pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, que pressupunham o significativo aumento do adensamento para otimizar a nova capacidade de infraestrutura viária que seria criada nos bairros. Neste sentido, eram enfatizados o remembramento de lotes, a ampliação da oferta de habitações multifamiliares, de áreas de estacionamento e a abertura de espaços públicos (SEMPLA, 2000). Tinha como objetivos:

realizar melhoramentos viários, obras, equipamentos e áreas públicas; melhorar a qualidade de vida, a paisagem urbana e a infraestrutura; incentivar o melhor aproveitamento dos imóveis e estimular o adensamento” (PMSP, 1995).

Figura 35. Perímetro da OUFL com destaque para a região do Largo da Batata.

A justificativa técnica da OUFL era o descarregamento da saturação da rede viária da região sudoeste da cidade16, a partir da criação de uma via paralela à Marginal Pinheiros (SEMPLA, 2000). A via paralela era a Avenida Faria Lima, que seria prolongada (trecho destacado à direita na Fig. 35) conectando de um lado às Avenidas Bandeirantes e Hélio Pellegrino, na Vila Olímpia e, de outro, com a Avenida Pedroso de Morais.

Não por acaso, o novo traçado intencionava conectar e ampliar a capacidade de adensamento dos principais eixos empresariais da cidade: a própria Avenida Brigadeiro Faria Lima e a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Sob essa perspectiva, a malha urbana original traçada entre os dois eixos representava uma área de potencial valorização do ponto de vista imobiliário, uma vez que era ocupada prioritariamente por residências e comércio de baixo e médio adensamento (CARLOS, 2007). A ampliação da avenida constituiu-se, assim, um corredor sudoeste-centro facilitando o acesso viário e permitindo maior adensamento nas áreas de intervenção. Segundo Biderman e Sandroni (2005), grande parte dos recursos estimados para a realização da OUFL foi destinado exatamente às desapropriações da malha urbana original, uma vez que a região já era foco de grande dinamismo imobiliário e apresentava um dos valores por metro quadrado mais elevados da cidade.

A OUFL previa como tarefa da gestão pública a realização de obras divididas em três categorias: as obras de maior interferência como a de reestruturação do sistema viário e da instalação de toda infraestrutura correspondente; as obras de grandes infraestruturas públicas de mobilidade urbana, como o metrô (gestão estadual) e o terminal intermodal de Pinheiros (gestão municipal); e o projeto de Reconversão Urbana do Largo da Batata, incluído em 2001 na forma de um Concurso Público Nacional. Por parte da iniciativa privada, previu-se a construção de edifícios para fins residenciais e mistos nas áreas diretamente e indiretamente beneficiadas pela operação: ao longo do eixo do prolongamento da Avenida Faria Lima e nas áreas adjacentes, respectivamente.

Observa-se, dessa forma, a criação de um círculo virtuoso em que o grande interesse do setor construtivo em investir em áreas já providas de infraestrutura urbana e, portanto, de valorização mais dinâmica, gera, teoricamente, os recursos para que a gestão pública possa viabilizar a implantação dessas grandes obras. Teoricamente porque diversos autores (BIDERMAN; SANDRONI, 2005; FIX, 2007; FERREIRA, 2003; CARLOS, 2007; MARICATO; FERREIRA, 2002) demonstram em dados e valores em suas pesquisas que os

16 Para o processo de expansão do centro histórico da cidade de São Paulo em um percurso

evidentemente direcionado ao quadrante sudoeste, em atendimento à polarização das centralidades econômicas, ver Villaça (2012).

investimentos realizados no perímetro das Operações Urbanas são de ordem de grandeza muito superiores aos valores ressarcidos pelas contrapartidas do setor privado.

No caso da OUFL, por exemplo, as contrapartidas do setor imobiliário, fossem elas econômicas ou urbanísticas, necessariamente decorriam das grandes obras públicas previstas já em curso, como as obras do metrô, ou já bem adiantadas, no caso da Avenida Faria Lima e suas infraestruturas correspondentes. Ou seja, houve um desembolso prévio da gestão pública muito expressivo em função das desapropriações e das obras viárias antes de qualquer tipo de investimento de recursos via fundos privados (BIDERMAN; SANDRONI, 2005).

Em relação ao aspecto urbano da OUFL, Sales (2005) afirma que existe uma série de pendências, distorções e equívocos. Primeiramente, não foi elaborado um plano urbano que estabelecesse diretrizes urbanísticas e normas construtivas pré-fixadas que se integrassem a uma proposta de desenho urbano. Assim, o tratamento homogêneo dos projetos urbanos ou de edifícios desconsidera aspectos específicos de contexto, forma e história do local em que seriam implantados. Antigas residências unifamiliares foram de forma abrupta substituídas por edifícios de apartamento ou comerciais de alto padrão, resultando em uma paisagem repleta de edifícios-torre, prescindindo qualquer vínculo urbano que não se restringisse ao lote.

Evidenciou-se também em determinadas áreas a concentração de especialização funcional, direcionando as dinâmicas de transformação urbanas, neste caso, à produção de verdadeiros enclaves comerciais (SALES, 2005). A individualização das análises dos projetos não permitiu uma visão de conjunto das intervenções da Operação, tornando-as fragmentadas e impossibilitando a previsão e controle dos efeitos cumulativos de sobrecarga da infraestrutura, por exemplo, e do impacto sobre o sistema de circulação e sobre as formas de uso e ocupação do solo.

A Operação Urbana Faria Lima provocou ainda uma significativa concentração fundiária, principalmente decorrente da lógica de remembramento dos lotes pequenos (até quinhentos metros quadrados), característicos no perímetro. Os 115 projetos aprovados entre 1995 e 2003 levantados por Biderman e Sandroni (2005), demandaram a utilização de 657 lotes, ou seja, uma média de 5,7 lotes por projeto aprovado. Por fim, os índices de valorização dos imóveis também indicaram grandes transformações: um acréscimo de cerca de 15% no preço por metro quadrado da área no período de 1995 e 2005, levando em consideração que a região já apresentava um dos valores mais elevados da cidade (BIDERMAN e SANDRONI, 2005).

Em relação aos espaços públicos, observou-se que a Operação Urbana Faria Lima possibilitou a concentração de especialização funcional e a construção de edifícios sem qualquer vínculo com a cidade, características que contribuem negativamente para a ativação da vida urbana. Além disso,com a exceção das obras de Reconversão Urbana do Largo da Batata, ainda que tenha sido um processo cheio de ressalvas e questionamentos, as vantagens adicionais de criação de mais espaços de circulação e de uso público previstas na própria lei foram absolutamente esquecidas.

Como coloca Villaça (2012), alguns termos frequentemente utilizados já vêm carregados de significado ideológico. O termo ‘reconversão’ implica em características muito negativas que devem ser reconvertidas a novas e melhores condições. A região do Largo da Batata, assim qualificada pelo poder municipal, como um local passível de um projeto de reconversão, foi caracterizada ainda como uma área que sofreu “um processo de degradação natural” (VILLAÇA, 2012, p.229). Retomando a afirmação de Singer (2002), é preciso procurar pelo papel que as classes desempenham na urbanização das cidades, para que esse processo não seja tomado dessa forma, como autônomo (p.27).

Santos (1994) e Villaça (2012) apontam ainda que o processo de valorização ou desvalorização de cada parcela do território urbano acontece em virtude de um jogo de poder exercido ou consentido pelo Estado em benefício do interesse privado, onde a criação de novas centralidades espraiam a malha urbana para áreas menos valorizadas e mais aptas a novos ciclos de especulação imobiliária. Sob este prisma, é evidente que o processo de desenvolvimento urbano da região do Largo da Batata representa, na realidade, um reflexo da ausência do próprio poder público, que durante a segunda metade do século XX se ateve em investir infraestrutura e manutenção em outras regiões da cidade.

O poder municipal referiu-se ao Largo da Batata como área de

(...) baixa qualidade ambiental, caracterizada pela sua inadequação e obsolescência das construções, caótica utilização e degradação dos espaços públicos (...) que manifesta crescente situação de precariedade física e deterioração ambiental, de certa forma agravada pelo prolongamento da Avenida Faria Lima, que desfez a última configuração espacial original sem propor uma nova ordenação à altura do problema: improvisando (...) uma situação que expande a área de conflito e degeneração urbana.

Passível de intensa refuncionalização (...) para induzir processos de transformação urbana através da criação de sistemas de espaços públicos qualificados, elementos arquitetônicos de referência urbana, criação de circulação, acessibilidade, estar, lazer, cultura, especialmente em função do fluxo de pedestres (PMSP, 2001, p.6).

Observa-se, dessa forma, que a Reconversão representa um processo de refuncionalização que mantém a essência da função existente no lugar: enquanto centralidade, de fluxo e permanência de pessoas e de referência comercial. Ou seja, que se propõe a transformar, na realidade, quem ocupa a área, criando ligações mais estreitas com a classe predominante do eixo da Avenida Faria Lima. A iniciativa de reconversão, portanto, descola-se da dimensão histórica do lugar, “não parte de Pinheiros, nem para Pinheiros (...) é em favor do eixo e fluxo que se quer fortalecer, em uma prática social que reflete um conteúdo conservador, segregador e parcial” (LOURENÇÃO, 2008, p.167-168).

O edital do Concurso Público Nacional de Reconversão Urbana do Largo da Batata (2001)17 foi iniciativa da Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (SEMPLA), da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (EMURB, atual SP Urbanismo) e da Administração Regional de Pinheiros, sob a organização do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP) (Fig. 36). As principais premissas do edital eram considerar a implantação de duas estações da linha 4 – amarela do metrô, uma na região do Largo da Batata (Faria Lima) e outra junto à estação existente da CPTM (Pinheiros) e a desativação do terminal de ônibus localizado no Largo da Batata (e sua inclusão junto às estações da CPTM e metrô Pinheiros).

17 Reconversão urbana para a PMSP é entendida como “um determinado conjunto de intervenções e

atuações no espaço urbano que, referenciadas nas características fundamentais desse espaço, visam a compatibilizá-las, associando as exigências técnicas de equipamento (ou modernização) do território com os imperativos de melhoria da condição ambiental e de valorização das práticas sociais” (PMSP, 2001, p. 1).

Figura 36. Edital de Convocação para o Concurso de Reconversão Urbana do Largo da Batata.

Fonte: piniweb.pini.com.br, 2001.

O projeto ganhador foi de autoria do escritório do arquiteto Tito Lívio Frascino e equipe. Foi possível observar que o plano urbano do projeto vencedor ateve-se em intervir na área específica do antigo terminal de ônibus do Largo da Batata (destacado acima à direita) e no novo Terminal Intermodal de Pinheiros (destacado abaixo, à esquerda), fixando gabaritos e os parcelamentos originais do solo no interior do bairro (Fig.37). A descrição e análise do projeto se dará principalmente sob a perspectiva dos espaços públicos, assunto de interesse da pesquisa.

Figura 37. Plano Urbano da Reconversão Urbana do Largo da Batata.

Fonte: modificado pela autora a partir de vitruvius.com.br/, 2017.

Com o objetivo de prever a conservação de pequenas ruas com relevância histórica para a região e mantendo uma previsão de sobrevivência do pequeno comércio local, característica marcante do bairro, foram indicadas vias exclusivas de pedestres em ruas adjacentes ao Largo que apresentam grande demanda de intensa atividade comercial, com propostas de forte demarcação através de arborização e iluminação pública (identificadas pela cor bege na Fig. 38). O aumento dos potenciais construtivos, a princípio, foi transferido para áreas em que o impacto sobre a paisagem se diluísse, ou seja, na extensão da Avenida Faria Lima já verticalizada.

Figura 38. Vias exclusivas de pedestres, Feira Livre, Calçada da Cidadania e Esplanada.

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