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CAPÍTULO 2 SOBRE A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PARA EDUCAÇÃO

2.1 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA HISTÓRIA DO

2.1.2 Revisitando os cursos técnicos entre 1945 e 1964

O período compreendido entre os anos 1945 e 1964, aponta particularmente como um período importante para a história do ensino industrial no Brasil, pois trouxe vários embates quanto aos seus fins a nível nacional e passou por modificações importantes em sua estrutura.

De forma progressiva, os cursos profissionais em nível de primeiro ciclo mantidos pelas escolas industriais foram sendo desativados e substituídos, e as escolas transformaram-se em escolas técnicas e agrotécnicas, ofertando cursos técnicos, industriais ou agrícolas, em especial, as escolas federais.

De acordo com Nascimento (2007, p. 237), “os cursos técnicos industriais nasceram sob a égide de um grande e vigoroso surto industrial do Brasil”. O autor ainda aponta que:

Foi o início de um grande e vigoroso surto industrial e de conhecimento tecnológico. Assim, uma rápida e concisa análise sobre o panorama social e cultural brasileiro mostra que o país estava maduro para vivenciar e acolher a “Revolução Tecnológica”, que já se processava então em alguns países denominados desenvolvidos.

Desta forma, impulsionado pela acelerada expansão industrial do país, que propiciava um mercado de trabalho favorável, a indústria passava a disputar os poucos técnicos que se formavam, oferecendo estágios bem remunerados e altos salários, muitas vezes superiores aos de engenheiros recém-formados.

Com o apelo desta nova demanda, as escolas técnicas, especialmente as federais, esforçavam-se para oferecer um ensino técnico de maior eficiência e qualidade, sem poupar esforços na melhoria de suas instalações, na aquisição de equipamentos modernos e na montagem de laboratórios e oficinas.

Cabe destacar que as próprias indústrias também colaboraram muito na montagem dos laboratórios, uma vez que eram de alto custo e atendiam aos seus interesses específicos de mão-de-obra especializada para atuar em seus quadros técnicos, principalmente no SENAI.

Na Escola Técnica Federal, o auxílio para equipar os espaços ocorreu por meio da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), criada em 03 de janeiro de 1946, que conforme Amorim (2004, p. 183) tratava- se de:

[...] um programa de cooperação firmado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, com o objetivo de formar professores para atuar no Ensino Industrial, numa conjuntura em que o Brasil vinha experimentando um processo de expansão industrial, que se esboçava desde a década de 1930, aliada à crescente preocupação dos Estados Unidos com a América Latina, já observada durante a Segunda Grande Guerra, e ampliada com a irrupção da Guerra Fria. O autor ainda destaca que “em termos práticos, a CBAI iniciou suas atividades em 1947, com uma reunião de diretores de estabelecimentos de ensino industrial”, tendo seu prazo de vigência encerrado em junho de 1948 e por meio de um novo acordo, renovado sucessivamente ao longo de todo o período de funcionamento da CBAI, até 1963. (AMORIM, 2004, p. 196)

O prestígio crescente desses cursos fez com que o Ministério da Educação investisse, expandisse e ampliasse suas escolas técnicas, reaparelhando-as ou reequipando-as, inclusive por meio de empréstimos externos com Usaid5 e Bird6. Para Nascimento (2007, p. 239), esses acordos _______________

5 MEC- Usaid, resultado do acordo conhecido como acordo MEC-Usaid, que teve como

resultaram uma série de grandes e importantes mudanças que marcaram para sempre o sistema de ensino técnico no Brasil. Neste sentido:

Estruturalmente a consequência imediata foi a reforma de ensino em que os cursos primário (cinco anos) e ginasial (quatro anos) aglutinaram-se e passaram a constituir o ensino de primeiro grau (compreendendo um período de oito anos), enquanto que o “curso científico” se transformou em “segundo grau” (com duração de três) e o curso universitário foi intitulado de “terceiro grau”

Para os cursos técnicos um dos grandes elementos de discussão do período viria com o que Machado (1982, p.49) aponta como equivalência dos cursos técnicos em relação aos cursos secundários. Este tema mereceu especial atenção do Ministério da Educação e recebeu uma ação efetiva, sem ter, entretanto, sua questão resolvida na totalidade.

Destacamos que as alterações promovidas pelo Ministério da Educação impactaram diretamente a estrutura da oferta dos cursos técnicos no Brasil, uma vez que, segundo Machado (1982, p. 49), “esta questão se prende à própria estrutura elitista do sistema educacional brasileiro”, evidenciando que esta era uma questão tão profunda que não permitia aos alunos, uma vez no curso profissional, continuar na série correspondente do curso secundário. “Apenas havia a possibilidade de ingressar na primeira série do ginásio sem que se pudesse aproveitar os estudos realizados no ciclo profissional”. (MACHADO,1982, p.49)

Em 1959 uma nova organização escolar e administrativa foi criada para o ensino industrial, dando-lhe maior autonomia, descentralização administrativa e ampliação do conteúdo de cultura geral, mudanças essas decorrentes das necessidades impostas pelas necessidades do desenvolvimento econômico premente e desta forma, julga-se necessária a participação direta de empresários na direção das escolas. (MACHADO,1982, p.51):

Esta opção encontra sua justificativa na conjuntura econômica da época, que passava por uma profunda transformação, implicando em uma integração

Ministério da Educação (MEC) com a da United States Agency for International

Development(Usaid).

6 Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, que junto com a associação

maior à estrutura econômica mundial, por meio das empresas multinacionais em nosso país. De acordo com Machado (1982, p.51):

Para orientar e controlar a política econômica governamental, foi lançado o Plano de Metas, que ao todo incluía trinta metas, uma das quais era o programa de formação de pessoal técnico, a fim de atender às novas necessidades surgidas com a expansão industrial.

De acordo com o exposto até o momento, podemos evidenciar a importância de vincular a história do ensino industrial brasileiro aos contextos políticos, econômicos, sociais e culturais dos momentos históricos, para que seja possível compreendê-la em sua totalidade e em suas múltiplas dimensões, como parte de um todo mais complexo, principalmente quando nos referimos ao papel da escola.

Para uma melhor organização cronológica dos fatos mais relevantes para a história da educação profissional no período correspondente entre os anos 1945 a 1964 e com aporte teórico em Machado (1982) e Ramos (2004) organizamos o Quadro 3:

Quadro 3 - Contexto Histórico da Educação Profissional de 1946 a 1961

Ano Contexto Histórico da Educação Profissional

1946

CBAI

- Decreto-Lei nº 8.590, de 8 de janeiro: autorizava as escolas industriais a atenderem encomendas das repartições públicas e particulares. (BRASIL, 1946).

- Decreto-lei nº 8.598, de 8 de janeiro: trata sobre doação de bolsas de estudos aos alunos das escolas industriais. (BRASIL, 1946).

- 3 de janeiro: acordo entre Brasil e EUA visando intercâmbio de informações sobre métodos e orientação educacional para o ensino industrial e treinamento de professores, para supervisão e orientação.

- Constituição da República, promulgada em 18 de setembro: trata que as bases da educação nacional devem ser definidas pelo Governo Federal, dispondo também sobre a obrigatoriedade de que as empresas ministrem cursos de aprendizagem aos trabalhadores menores. (BRASIL,1946)

- Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), de 03 de janeiro de 1946.

1947 Portaria 205, de 3 de abril: criada a Comissão de Estudos da Diretrizes e Bases da Educação, elaborando o anteprojeto da lei orgânica da educação nacional.

1950 Lei 1.076, de 31 de março. Surgem as primeiras iniciativas de tornarem os cursos profissionais equivalentes ao curso secundário, sendo facultada apenas aos concluintes do 1º ciclo profissional que pretendessem ingressar no ciclo colegial secundário. (BRASIL, 1950).

1953 Lei 1.821, regulamentada pelo Decreto 34.330, de 21 de outubro, estende a equivalência ao 2º ciclo, permitindo aos egressos dos cursos técnicos o acesso a qualquer curso superior, com a ressalva de que deveriam ser aprovados em exames de complementação, ou seja, em matérias dos cursos que não faziam

parte de seus cursos de origem. (BRASIL, 1953).

1959 Lei 3.552, de 16 de fevereiro, trata da reforma do ensino industrial. (BRASIL, 1959).

1961 Lei 4.024, de 20 de dezembro- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que mantém o caráter fundamentalmente propedêutico do Ensino Médio, visando ingresso no curso superior. Não houve mudança profunda na organização do ensino técnico, principalmente para consolidar propostas sugeridas por leis anteriores. (BRASIL, 1961).

Fonte: Elaboração da autora a partir de Machado (1982) e Ramos (2004)

A partir de 1964, de acordo com Machado (1982, p.51), a educação brasileira e o ensino técnico passam a se reorganizar com a finalidade de atender às novas necessidades criadas pela transformação na base econômica, visando dinamizar a economia na direção do avanço na produção da acumulação capitalista, agora ainda mais integrada ao mercado mundial.