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Transformações nas relações de trabalho entre 1930 e 1945

CAPÍTULO 2 SOBRE A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PARA EDUCAÇÃO

2.1 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA HISTÓRIA DO

2.1.1 Transformações nas relações de trabalho entre 1930 e 1945

Com a promulgação da Constituição de 1937, determina-se a competência federal para “fixar as bases e os quadros da educação nacional”, apresentando em seu bojo os indicativos de uma organização sistematizada de ensino industrial e um artigo que definia claramente o papel do Estado, das empresas e dos sindicatos na formação das “classes menos favorecidas”. (BRASIL, 1937)

Segundo nos aponta Manfredi (2002, p. 190), o Art. 129 trata sobre:

O ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas, é em matéria de educação o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativas dos Estados, dos municípios ou associações particulares e profissionais. É dever das

indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado, sobre as escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo poder público

Esta foi a primeira vez que no Brasil o Estado possibilitou abertura às empresas industriais para que formassem sistematicamente em escolas os seus aprendizes, permitindo que a experiência alemã de ensino industrial, fosse assimilada.

No entanto, para que o ensino industrial ocorresse no país, seria necessário que houvesse uma padronização consoante com as novas responsabilidades definidas pela Constituição, sendo então organizada uma comissão de educadores, para elaborar diretrizes para o ensino de ofícios industriais em todo o país, envolvendo escolas públicas e particulares. Como resultado dessas discussões, a comissão concluiu o anteprojeto denominado de Lei Orgânica do Ensino Industrial, submetido à apreciação do presidente e assinado em 30 de janeiro de 1942, como Decreto-Lei 4.073 (BRASIL, 1942).

Este decreto estabelece como objetivo a preparação profissional dos trabalhadores da indústria, dos transportes, das comunicações e da pesca, agora em nível de segundo grau, paralelo ao ensino secundário. De acordo com Machado (1982, p.35), o decreto aponta em seu Art. 18, alínea III, que:

O ensino industrial começou a se vincular ao conjunto da organização escolar do País, pois permitia-se o ingresso dos egressos dos cursos técnicos em nossas escolas superiores diretamente relacionadas à sua formação profissional, O ensino industrial seria ministrado em dois ciclos. No primeiro, incluía-se o industrial básico, o de maestria, o artesanal e a aprendizagem. No segundo, o técnico e o pedagógico. Além destes, considerados como ordinários a Lei previa a organização dos cursos extraordinários e avulsos. Estabeleceram-se quatro tipos de escolas: as técnicas, as industriais, as artesanais e de aprendizagem.

A Lei Orgânica do Ensino Industrial (BRASIL, 1942) trouxe como principal inovação o deslocamento de todo o ensino profissional para o nível médio. Desta forma, o ensino primário, equivalente ao primeiro ao quinto ano do ensino fundamental atualmente, passou a ter conteúdo exclusivamente geral. É importante evidenciar que o Brasil passava por uma reestruturação

setorial de sua economia, dentro de um projeto industrializante, em parte vinculado à expansão do capital internacional.

Ficou evidente também a existência de duas estratégias para a formação da força de trabalho no país, sendo uma sob a condução do sistema federal de ensino sob o controle direto do Ministério da Educação, e outra dos cursos de Aprendizagem, sob o controle das classes empresariais, por intermédio do Senai (1942) e Senac (1943). (MACHADO,1982, p.35)

A lógica dualista e de distinção de classes deste decreto perdurou por 16 anos, resistindo às lutas de grupos de educadores do MEC, que defendiam uma escola unificada, que não institucionalizasse a separação entre o trabalho manual e o intelectual.

Para uma melhor visualização dos fatos mais importantes para a história da educação profissional compreendida no período entre 1930 e 1945, organizou-se o Quadro 2.

Quadro 2 - Contexto Histórico da Educação Profissional de 1930 a 1942

Ano Contexto Histórico da Educação Profissional

1930 Criação do Ministério de Educação e Saúde Pública, promovendo a possibilidade de uma política centralizada e unificada para o ensino técnico.

1931 Decreto nº 19.560 de 5 de janeiro que cria a Inspetoria do Ensino Profissional Técnico para dirigir, orientar e fiscalizar os serviços relacionados ao ensino profissional. (BRASIL,1931)

1932 Manifesto dos Pioneiros, que combatia o dualismo entre o ensino cultural e profissional, julgando necessária a adaptação das escolas aos interesses e às exigências regionais.

1934 - Promulgada a Constituição do País.

- Decreto nº 24.558 de 3 de julho, transformando a Inspetoria do Ensino Profissional Técnico em Superintendência do Ensino Profissional. (BRASIL,1931) 1937 - Lei 378, de 13 de janeiro: Reestruturação do Ministério da Educação e Saúde

Pública, extinguindo a Superintendência do Ensino Profissional, substituindo-a pela Divisão do Ensino Industrial, sendo subordinado ao Departamento Nacional de Educação. (BRASIL,1937).

- Nova Constituição substitui a de 1934 sob a inspiração do Estado Novo, fixando “bases e quadros da educação nacional”, estabelecendo em seu artigo 129 que o ensino profissional é destinado às “classes menos favorecidas”. Pela primeira vez uma constituição brasileira institui a cooperação entre a indústria e o Estado para a atuação no ensino industrial. (BRASIL,1937)

1940 Decreto nº 6.029, de 26 de julho aprova regulamento para instalação e funcionamento dos cursos profissionais como unidades autônomas, nos próprios estabelecimentos industriais, ou nas proximidades destes, podendo ser mantidos em comum por vários estabelecimentos. (BRASIL, 6.029).

1942 - Decreto-Lei nº 4.048, de 22 de janeiro cria o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), tendo como objetivos: a realização de aprendizagem metódica em escolas, assistência às empresas na aprendizagem realizada no local de trabalho, colaboração na preparação e treinamento de supervisores da indústria e promoção de cursos, seminários e palestras de interesse específico

das indústrias. (BRASIL,1942).

- Decreto-Lei nº 4.073, de 30 de janeiro: Lei Orgânica do Ensino Industrial, que unifica a organização do mesmo em todo o território nacional, estabelecendo como objetivo deste ensino, a preparação profissional dos trabalhadores da indústria, transportes, comunicações e pesca, agora em nível de segundo grau. (BRASIL,1942).

- Decreto nº 4.127, de 25 de fevereiro estabelece as bases de organização da rede federal de estabelecimentos de ensino industrial. (BRASIL,1942)

- Reforma Capanema que contribuiu para a consolidação da estrutura elitista do ensino brasileiro estabelecendo a existência de dois tipos de Ensino Médio, sendo um seletivo, enciclopédico, rígido, uniforme e intelectualista, destinado a capacitar os estudantes para o Ensino Superior e outro, um ensino profissional, que consolidaria a formação às “classes menos favorecidas”. (BRASIL, 1942)

Fonte: Elaboração da autora a partir de Machado (1982) e Ramos (2014).

Frente aos dados apresentados no até o presente momento por meio deste resgate histórico, podemos evidenciar que o período compreendido entre os anos 1930 e 1945 foi marcado pelo crescimento acentuado do ensino técnico industrial no Brasil.