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3 A CULTURA HISTORIOGRÁFICA NA REVISTA DE HISTÓRIA E A DIFUSÃO

3.1 REVISTA EM REVISTA: organização e estruturação temática

O trabalho que empreendemos em torno da organização e da estruturação temática da

RH, pode, perfeitamente, ser definido como uma tarefa árdua, pois tal opção analítica

conduziu-nos ao intrincado terreno da metodologia. Assim, uma vez que estabelecemos esse propósito, tornou-se inevitável o questionamento acerca dos procedimentos mais apropriados para observarmos os temas e os conteúdos impressos nas revistas analisadas. Inevitavelmente, a extensão e o volume desse material – que impossibilitou um exame qualitativo de todos os trabalhos publicados em suas páginas – nos obrigou a pensar uma melhor maneira de abordar o conjunto dos temas estampados durante a primeira década de circulação da RH. Com o intuito de orientar essa abordagem, elaboramos uma série de fichas com a classificação temática das diversas publicações que se abrigaram nesse periódico. Tal estratégia metodológica possibilitou a construção de um banco de dados, que permite observar os temas dentro de suas respectivas áreas do conhecimento.

Nessa perspectiva, não é difícil perceber o deslocamento de olhar que operamos em relação ao segundo capítulo desse trabalho. Assim, se, no momento anterior, resolvemos destacar os elementos “pré-textuais” presentes na revista, nesse momento, optamos por analisar o conjunto dos textos publicados. Tal opção, por sua vez, fez com que olhássemos as colaborações impressas nesse suporte como um produto, que determina e é, simultaneamente, determinado pelo processo de produção no qual se encontra imerso. Tendo como escopo viabilizar essa articulação entre processo de produção e produto do conhecimento, catalogamos e ordenamos em eixos temáticos os trabalhos assinados pelos mais diversos colaboradores. Partindo dessa orientação metodológica, pudemos delinear não apenas a produção historiográfica, mas também as demais produções científicas e literárias difundidas pela RH. Quanto a isso, não restam dúvidas de que essa avaliação, centrada na organização temática do suporte, auxiliou bastante nossa análise em torno dos processos de apropriação e difusão da historiografia dos Annales. Isso, porque os dados provenientes dessa observação permitiram-nos situar, de uma forma mais concreta, o lugar que a historiografia francesa – particularmente a produzida pelos Annales – ocupou no interior dos temas e conteúdos veiculados pela RH.

Feitas essas considerações, podemos dizer, preliminarmente, que mais da metade dos trabalhos apresentados na revista – precisamente 74,85% deles – expressam abordagens e temas característicos do conhecimento histórico e historiográfico. Sem dúvida, esse expressivo número de publicações com temas peculiares ao saber histórico, pode ser compreendido melhor, quando atentamos para o fato de que a RH trata-se de uma revista especializada no campo do conhecimento histórico. Toda essa preponderância da historiografia não deixou, no entanto, de ser acompanhada por outros campos do conhecimento e produções literárias, que foram representados por um conjunto de temas e abordagens característicos. Nesse contexto, porém, as colaborações que se circunscrevem ao âmbito da historiografia, foram seguidas, apenas de longe, por trabalhos situados em áreas como: Língua e Literatura (6,13%), Filosofia (4,91%), Biografia (3,89%), Geografia (1,63%), Teologia (1,63%), Sociologia (1,23%), Música (1,23%), Pedagogia (0,82%), Arte (0,82%), Antropologia/ Etnologia (0,82%) e Economia (0,41%). A esses dados, devem-se acrescentar, ainda, os textos com características de Editoriais, que representam 1,63% das publicações e não podem ser classificados em nenhum dos campos descritos abaixo (Tabela 8).

TABELA 8

REVISTA DE HISTÓRIA (1950-1960)

DISTRIBUIÇÃO, POR ÁREA DO CONHECIMENTO, DA PRODUÇÃO

Temas, classificados por gêneros ou área de conhecimento Freqüência % História 366 74,85 Língua e Literatura 30 6,13 Filosofia 24 4,91 Biografia 19 3,89 Editoriais 8 1,63 Geografia 8 1,63 Teologia 8 1,63 Sociologia 6 1,23 Música 6 1,23 Pedagogia 4 0,82 Arte 4 0,82 Antropologia/ Etnologia 4 0,82 Economia 2 0,41 Total 489 100

Como as colaborações circunscritas no domínio da historiografia serão tratadas de forma mais detalhada alhures, nossa avaliação dos dados dispostos levará em consideração, inicialmente, os trabalhos que se aproximam da área de Língua e Literatura, responsável por aglutinar a segunda maior quantidade de temas e abordagens. Seguindo essa orientação, pudemos constatar que grande parte dessas publicações são críticas literárias, sendo a sua minoria composta por análises filológicas, lingüísticas e críticas textuais. Assim, sob a forma de crítica literária, foram discutidas as obras de grandes escritores, tais como Machado de Assis, Paulo Eiró, Maupassant e Ganivet80. Por sua vez, as questões lingüísticas e textuais não deixaram de ser consideradas, pois apareceram nos trabalhos de José L. Júnior, Antenor Nascentes e Aluízio de F. Coimbra, que escreveram, respectivamente, sobre temas como a cronologia da obra de Anábase ou o aportuguesamento de nomes gregos81.

Todavia, não podemos deixar de ressaltar a existência de outras publicações que, pelo seu estilo ou procedimento, não se deixaram classificar facilmente. Esses são os casos, por exemplo, das discussões elaboradas por F. de Figueiredo e José A. Castello que, em seus respectivos estudos sobre a épica portuguesa e o realismo-naturalismo no Brasil, expuseram suas idéias por meio de abordagens que os aproximavam, simultaneamente, da crítica literária e da história da literatura82. Da mesma forma, as colaborações em torno da vida e da obra de William Wordsworth e Antônio Álvares de Azevedo – apresentadas pelos professores de literatura Hygino Aliandro e Manuel C. Leite – exibiram formatos com características simultâneas de crítica literária e biografia83. Por fim, não podemos nos esquecer de comentar, ainda, alguns dos trabalhos de crítica literária ou textual, responsáveis por tratarem de temas que interessavam também ao conhecimento historiográfico. Inserem-se nessa perspectiva, as

80

Tais discussões foram apresentadas por diferentes colaboradores, nos seguintes números da revista: CASTELLO, José Aderaldo. Ideário crítico de Machado de Assis (Breve contribuição para o estudo de sua obra). In: Revista de História, ano III, vol. V, n° 11. São Paulo, 1952, p. 93-128; LEITE, Manuel Cerqueira. As “primícias poéticas” de Paulo Eiró. In: Revista de História, ano IX, vol. XVII, n° 36. São Paulo, 1958, p. 405- 416; FIGUEIREDO, Fidelino de. Maupassant e Ganivet. In: Revista de História, ano I, vol. I, n° 4. São Paulo, 1950, p. 569-570.

81 Para consultar as referidas publicações, ver: LAZZARINI JÚNIOR, José. Aportuguesamento de alguns nomes gregos no Dicionário Etimológico de Antenor Nascentes. In: Revista de História, ano V, vol. VIII, n° 17. São Paulo, 1954, p. 211-218; NASCENTES, Antenor. Aportuguesamento de alguns nomes próprios gregos. In:

Revista de História, ano VI, vol. XI, n° 23. São Paulo, 1955, p. 177-184; COIMBRA, Aluízio de Faria. Sobre a

cronologia da Anábase de Ciro e a idade de Xenofonte. In: Revista de História, ano I, vol. I, n° 2. São Paulo, 1950, p. 141-150.

82

FIGUEIREDO, Fidelino de. Ainda a Épica Portuguesa (Nótulas de auto-crítica). In: Revista de História, ano II, vol. II, n° 5. São Paulo, 1951, p. 53-68; CASTELLO, José Aderaldo. Aspectos do realismo-naturalismo no Brasil. In: Revista de História, ano IV, vol. VI. São Paulo, 1953, p. 437-456.

83 ALIANDRO, Hygino. William Wordsworth. In: Revista de História, ano III, vol. V, n° 11. São Paulo, 1952, p. 63-74; LEITE, Manuel Cerqueira. O estudante Manuel Antônio Álvares de Azevedo. In: Revista de História, ano III, vol. V, n° 12. São Paulo, 1952.

colaborações de Edith P. Pinto, Júlio G. Morejón, Antônio P. de Carvalho e Aída Costa, que se preocuparam em discutir assuntos como as obras literárias de autores antigos ou as características da poesia lírica no mundo antigo ou medieval84. Todos eles, por mais que sejam escritos do ponto de vista da crítica literária, não deixaram de interessar ao historiador, pois, para compreender os seus respectivos objetos de estudo, os autores não dispensaram a perspectiva historiográfica.

No que se refere aos temas discutidos na área de Filosofia, pudemos constatar, através da análise dos dados, que a grande maioria das publicações situou-se no âmbito da história das idéias e da filosofia. Nesse contexto, os assuntos que trataram tanto de Augusto Comte quanto da filosofia positivista receberam destaque, como bem pode ser comprovado quando examinamos os trabalhos escritos por João C. Costa, Linneu de C. Schützer e Ivan Lins85. No entanto, dentro desses mesmos campos de estudos, publicaram-se, também, outras discussões com temas e conteúdos diversos. Nessa perspectiva, é possível constatarmos que os demais estudos de história da filosofia centraram as suas reflexões em torno de um autor, de um conjunto de obras filosóficas, ou mesmo em torno de um determinado segmento da vida ou obra de algum grande filósofo86. Da mesma maneira, do ponto de vistas da história das idéias, merece destaque, ainda, o esboço da história das idéias no Brasil, elaborada por João C. Costa, professor de Filosofia da FFCL-USP87. Longe de se encerrarem nesses debates, os colaboradores situados no campo do conhecimento filosófico não deixaram de ampliar suas abordagens e seus horizontes temáticos. Tal ampliação pode ser constatada, quando examinamos as reflexões apresentadas por autores como Leopoldo Zea e Antônio P. de

84

PINTO, Edith Pimentel. Ovídio e a época de Augusto. In: Revista de História, ano I, vol. I, n° 4. São Paulo, 1950, p. 453-484; MOREJÓN, Júlio Garcia. A mais primitiva lírica occitânica. In: Revista de História, ano VI, vol. XI, n° 24. São Paulo, 1955, p. 267-306; CARVALHO, Antônio Pinto de. Aspectos da moral homérica e hesiódica (Calocagathía – Arete – hybris). In: Revista de História, ano VII, vol. XII, n° 25. São Paulo, 1956, p. 49-58; COSTA, Aída. A poesia lírica em Roma. In: Revista de História, ano VII, vol. XIII, n° 27. São Paulo, 1956, p. 49-72.

85 COSTA, João Cruz. Augusto Comte e as origens do positivismo. In: Revista de História, ano I e II, vol. I e II, n° 3, 4 e 5. São Paulo, 1950 e 1951, p. 363-382, p. 527-546, p. 81-104; _____. O positivismo na República (Notas sobre a história do positivismo no Brasil). In: Revista de História, ano IV, vol. VII, n° 15 e 16. São Paulo, 1953, p. 97-132, p. 289-316; SCHÜTZER, Linneu de Camargo. As origens históricas do Positivismo e sua vocação pedagógica. In: Revista de História, ano IX, vol. XVI, n° 34. São Paulo, 1958, p. 275-286; LINS, Ivan. Augusto Comte e a socialização do Direito. In: Revista de História, ano IX, vol. XVII, n° 36. São Paulo, 1958, p. 379-392.

86

Inserem-se nesses formatos as seguintes colaborações apresentadas na revista: TEIXEIRA, Lívio. Nicolau de Cusa. Estudos dos quadros históricos em que se desenvolveu seu pensamento e análise dos livros I e II do “De Docta Ignorantia”. In: Revista de História, ano II, vol. II e III, n° 5, 6 e 7. São Paulo, 1951, p. 17-42, p. 283-305, p. 71-84; SCHÜTZER, Linneu de Camargo. A descoberta da morte e o mundo homérico. In: Revista de História, ano VII, vol. XII, n° 26. São Paulo, 1956; MATOS, Carlos Lopes de. Um capítulo da história do tomismo: a teoria do conhecimento de Tomás de Aquino e sua fonte imediata. In: Revista de História, ano IX e X, vol. XVII e XVIII, n° 35, 36, 37, 38. São Paulo, 1958 e 1959, p. 25-46, p. 313-340, p. 45-56, p. 275-306.

87 COSTA, João Cruz. Esboço de uma História das Idéias no Brasil na primeira metade do século XX. In:

Carvalho, que se propuseram a discutir assuntos relacionados à filosofia contemporânea e à filosofia da educação88.

Voltando as atenções para os trabalhos com características biográficas, gostaríamos de confessar as dificuldades que encontramos em relação as suas respectivas classificações e análises. Tais complicações manifestaram-se, sobretudo, por conta da necessidade de estabelecermos um critério, capaz de justificar a existência da biografia enquanto opção para a classificação temática de algumas publicações. Imersos nessa problemática, a pergunta que se impôs, durante a elaboração desses dados, foi a seguinte: a biografia é um campo autônomo, ou, ao contrário, deve ser considerado apenas um gênero histórico ou literário? Sem nos preocuparmos em esgotar ou resolver essa polêmica, optamos por catalogar em um item à parte as colaborações com caráter biográfico, pois entendemos que essa classificação permite visualizar melhor os eixos temáticos responsáveis por compor o periódico. Com isso, queremos dizer que tal opção metodológica não deve ser entendida como produto de escolhas teóricas ou epistemológicas, mas sim enquanto uma espécie de estratégia que visa estabelecer, de uma forma mais nítida, os contornos temáticos expostos pela RH.

Partindo dessa orientação, pudemos verificar que grande parte dos biografados são figuras ilustres, merecedores de destaque pelo papel exercido em acontecimentos históricos ou pelas atividades desenvolvidas em campos como a política, a literatura, as ciências ou as artes. Alicerçados nesse ponto de vista, os colaboradores imprimiram o perfil biográfico de indivíduos vultosos, tais como o escritor Euclides da Cunha, o político paulista Alfredo Ellis, o jornalista José Carlos Rodrigues, o filósofo Miguel Lemos e personagens históricos como Aleijadinho ou Cristovão Colombo89. De uma forma geral e mais sucinta, podemos dizer que tanto esses, quanto os demais trabalhos com características biográficas, apresentaram temas e abordagens bastante próximos da história e da crítica literária ou bibliográfica. Tal constatação, a bem da verdade, apenas demonstra o quanto são entrelaçados os limites que circunscrevem o gênero biográfico desses demais gêneros ou campos do conhecimento.

88 ZEA, Leopoldo. A Filosofia contemporânea no México. In: Revista de História, ano V, vol. IX, n° 20. São Paulo, 1954, p. 257-264; CARVALHO, Antônio Pinto de. O Estoicismo e a Educação. In: Revista de História, ano X, vol. XIX, n° 39. São Paulo, 1959, p. 143-160. Ainda no campo da filosofia da educação, não podemos deixar de citar o já mencionado trabalho de: CARVALHO, Laerte Ramos de. Op. Cit., nota 48, p. 449-454. 89 AZEVEDO, Fernando de. O homem Euclides da Cunha. In: Revista de História, ano III, vol. IV, n° 9. São Paulo, 1952, p. 3-30; AUSTREGÉSILO, Myriam Ellis. O Senador Alfredo Ellis. In: Revista de História, ano I, vol. I, n° 3. São Paulo, 1950, p. 275-296; GAULD, Charles Anderson. José Carlos Rodrigues. O patriarca da imprensa carioca. In: Revista de História, ano IV, vol. VII, n° 16. São Paulo, 1953, p. 427-438; ARDAO, Arturo. No centenário de Miguel Lemos. In: Revista de História, ano VII, vol. XII, n° 25. São Paulo, 1956, p. 231-236; VASCONCELOS, Sílvio de. Sobre o Aleijadinho. In: Revista de História, ano VIII, vol. XIV, n° 29. São Paulo, 1957, p. 37-46; NAIA, Alexandre Gaspar da. O “Problema Colombiano” resolvido. In: Revista de História, ano V, vol. VIII, n° 18. São Paulo, 1954, p. 353-384.

Quando o sujeito biografado tratava-se de um escritor de destaque ou mesmo representava um grande personagem histórico, esse entrelaçamento tornava-se muito mais nítido. Do ponto de vista ilustrativo, podemos citar as colaborações expressas pelo historiador Manuel N. Dias e pelo professor de literatura Luís A. Sanchez. Enquanto o primeiro não descuidou da noção de contexto histórico, ao abordar a vida do Infante D. Henrique, o segundo não deixou de analisar criticamente os escritos de José Martí, no momento em que se propôs a discutir a sua trajetória biográfica90.

Em relação às contribuições situadas no campo da Geografia, os dados levantados permitem-nos afirmar que a ampla maioria dos temas abordados aproximaram-se bastante das preocupações concernentes à geografia humana. Merecem destaques as publicações do geógrafo Roger Dion e do historiador Philippe Wolff, colaboradores franceses responsáveis por aproximar a geografia da história em suas abordagens91. Essa abertura oferecida a ambos pode ser compreendida, quando atentamos para o fato de que a geografia uspiana, assim como a história, também recebeu uma grande quantidade de mestres franceses, contratados para fundar e desenvolver o conhecimento geográfico em nível universitário92. Apoiando-se nos dados apresentados por Fernanda P. Massi (2001, p. 486), é possível observarmos que os colaboradores franceses em questão chegaram, inclusive, a lecionar na FFCL-USP, tendo o

90 DIAS, Manuel Nunes. O Infante D. Henrique e sua época. In: Revista de História, ano XI, vol. XX, n° 41. São Paulo, 1960, p. 5-22; SANCHEZ, Luís Amador. No centenário de José Martí. Função histórica do poeta. In:

Revista de História, ano V, vol. VIII, n° 17. São Paulo, 1954, p. 199-210.

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DION, Roger. Influência da Geografia Física sobre a evolução histórica da Europa (as invasões bárbaras vistas pelo geógrafo). In: Revista de História, ano I, vol. I, n° 2. São Paulo, 1950, p. 127-140; ____. Sobrevivência da Antiguidade na Geografia Humana da França. In: Revista de História, ano II, vol. II, n° 5. São Paulo, 1951, p. 5- 16; WOLFF, Philippe. O crescimento de uma cidade francesa: Tolosa. In: Revista de História, ano X, vol. XVIII, n° 37. São Paulo, 1959, p. 57-72.

92 Dentre os mestres franceses que integraram essa missão cultural, responsável por ajudar a fundar o curso de Geografia da FFCL-USP, encontram-se, ainda, geógrafos como Pierre Deffontaines (1934-1935), Pierre Monbeig (1935-1945), Pierre Gourou (1948), Louis Papy (1950-1951) e Francis Ruellan (1952-1953). Entre 1934, ano de fundação da Faculdade, e a primeira década de circulação da RH, situada entre 1950 e 1960, todos eles ocuparam cátedras de destaque, sobretudo na área de geografia humana. Como veremos mais detalhadamente, muitos desses geógrafos franceses contribuíram para a consolidação da geografia paulista, na medida em que formaram discípulos e elaboraram trabalhos relevantes acerca dos aspectos geográficos de São Paulo e o Brasil. Para uma observação mais aprofundada dessas e de outras questões relativas a esse assunto, sugerimos ver esse conjunto de referências arroladas, que serão consideradas mais atentamente no capítulo subseqüente: AZEVEDO, Aroldo de. A Geografia em São Paulo. In: O Estado de São Paulo. Ensaios paulistas: contribuição de “O Estado de São Paulo” às comemorações do IV centenário da cidade. São Paulo: Anhambi, 1958, p. 65-80; VALVERDE, Orlando. A cooperação francesa na geografia brasileira. In: CARDOSO, Luiz Cláudio & MARTINIÈRE, Guy (Coord.). Brasil-França: Vinte anos de Cooperação (Ciência e Tecnologia). Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1989, p. 93-99; AZEVEDO, Aroldo de. A Geografia em São Paulo e sua evolução. In: Boletim Paulista de Geografia, n° 16. São Paulo, 1954, p. 45-65; AZEVEDO, Aroldo de & SILVEIRA, João Dias da. O ensino da Geografia na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. In:

Boletim Paulista de Geografia, n° 3. São Paulo, 1949, p. 76-83; MORAES, Antonio Carlos Robert.

Departamento de Geografia: linhas de pesquisa. In: Estudos Avançados, vol. 8, n° 22, 1994, p. 359-364. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103- 401419940003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 9 fev.2010.

geógrafo atuado em 1947 e o historiador, em 1952. Para além desse aspecto, é importante ressaltarmos as demais publicações que abordaram assuntos relevantes para a geografia. Esses outros trabalhos – elaborados por autores como Vitorino de M. Godinho, José R. de Araújo Filho e Gianina Valério – versaram sobre temas diversos, tais como o Mediterrâneo saariano, a população de São Paulo e a emigração italiana para o Brasil93.

Diferentemente da geografia, os debates que giram em torno da Teologia não foram produzidos por nenhum colaborador francês, mas sim por um professor norte-americano e outro alemão. Enquanto o primeiro, dentre eles, centrou suas atenções na interpretação cristã da história, o segundo mostrou-se mais preocupado em discutir questões lingüísticas e teológicas a partir de nomes como Inácio de Loiola e Martinho Lutero94. De maneira semelhante a outras publicações, o trabalho de ambos não deixam de relacionar-se com outros saberes como, por exemplo, a história ou mesmo a crítica textual ou filológica. Avançando para a análise dos temas discutidos no interior da Sociologia, não foi difícil constatar que parte importante dos colaboradores pertencia aos quadros formados pela sociologia paulista. Inserem-se nesse contexto, portanto, tanto os sociólogos mais consolidados na época, como é o caso de Fernando de Azevedo, quanto os mais promissores, tais como Florestan Fernandes, Maria I. Pereira de Queiroz, Octávio Ianni e Fernando H. Cardoso. Observando as reflexões elaboradas por cada um deles, tornou-se possível verificar que, praticamente, todas as suas publicações elegeram a cidade ou o Estado de São Paulo como objeto de estudo. Toda essa propensão em aplicar os conhecimentos sociológicos à realidade paulista, talvez, seja amenizada, pelo menos em parte, no trabalho acerca da sociologia na América Latina e no Brasil, publicado por Fernando de Azevedo95.

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GODINHO, Vitorino de Magalhães. O “Mediterrâneo” saariano e as caravanas do ouro. In: Revista de

História, ano VI e VII, vol. XI e XII, n° 23, 24, 25. São Paulo, 1955 e 1956, p. 74-134, p. 307-354, p. 59-108;

ARAÚJO FILHO, José Ribeiro de. Alguns aspectos da população de São Paulo. In: Revista de História, ano VII, vol. XII, n° 25. São Paulo, 1956, p. 3-26; VALÉRIO, Gianina. A emigração italiana para o Brasil (Notas e observações). In: Revista de História, ano X, vol. XIX, n° 40. São Paulo, 1959, p. 385-430.

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PIPER, Otto A. A interpretação cristã da História. In: Revista de História, ano V, VI, VII, VIII, vol. IX, X, XI, XII, XV, n° 19, 20, 21-22, 23, 25, 26, 31. São Paulo, p. 17-32, p. 265-282, p. 23-36, p. 23-46, p. 27-48, p. 313- 340, p. 13-60; RHEINFELDER, Hans. Inácio de Loiola e Martinho Lutero na Alemanha de hoje. In: Revista de

História, ano X, vol. XVIII, n° 38. São Paulo, 1959, p. 257-274.

95

AZEVEDO, Fernando de. Sociologia na América Latina e, particularmente, no Brasil. In: Revista de História,