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2 HISTÓRIA DA REVISTA DE HISTÓRIA: processo de produção e emergência de um

2.3 SOBRE O PERFIL DOS COLABORADORES

Uma vez que já elaboramos algumas reflexões em torno da história e materialidade da

RH, devemos voltar nossas atenções para aquilo que convencionamos chamar perfil dos colaboradores. Como bem demonstrou o contato com a documentação, o conjunto das

revistas, elevado à categoria de fonte para essa pesquisa, fornece informações bastante interessantes, que permitem entender melhor não apenas a materialidade e organização interna desse suporte, mas também a organização do discurso historiográfico impresso em suas páginas. Nesse sentido, certamente, torna-se válida e justificável a observação em torno do perfil intelectual e institucional dos colaboradores que publicaram na RH entre os anos de 1950 e 1960. Acreditamos que traçar o perfil desses colaboradores representa uma etapa importante nesse trabalho, pois os dados extraídos de um exame dessa natureza revelam uma série de articulações significativas, capazes de ajudar a compreender a dinâmica interna do periódico e os processos de apropriação e difusão da historiografia do Annales no mesmo.

Dessa forma, por meio de procedimentos que privilegiaram a utilização de uma metodologia quantitativa, buscamos selecionar, agrupar e classificar muitas das informações relativas aos colaboradores. De acordo com essa orientação, elaboramos uma série de interrogações que nos auxiliaram a organizar o material coletado, ao mesmo tempo em que direcionaram a análise em torno do suporte em questão. Diante de tudo isso, talvez a melhor maneira de iniciar a análise em torno desses aspectos, seja atentando para o número de colaboradores que contribuíram para a publicação dos 834 trabalhos impressos durante a primeira década de circulação da RH (Apêndice A). Assim, de acordo com os nossos levantamentos, para a composição de todas essas publicações, colaboraram 233 diferentes autores, que publicaram artigos, notas, resenhas e noticiários sobre temas e conteúdos diversos. A tabela 1, que procura estabelecer o número de trabalhos publicados por autores, demonstra que pouco mais da metade dos colaboradores (54,5%) imprimiram somente um trabalho durante o período a respeito do qual analisamos a produção historiográfica abrigada nas páginas da RH. Dessa forma, todos os outros autores, que juntos compõem expressivos 45,5% do total de colaboradores, publicaram mais de um texto em meio às diversas seções da revista. Disso, podemos chegar à conclusão – aparentemente bastante óbvia – de que os autores responsáveis por publicar dois ou mais textos não foram tão poucos assim. Todavia, a observação mais acurada dos dados permite-nos verificar que, durante um determinado momento, o número de trabalhos publicados aumenta na mesma proporção que o de colaboradores diminui. Sendo assim, como podemos observar (Tabela 1), já a partir do quinto

número consecutivo, é possível percebermos o quanto diminuiu a freqüência dos autores, que passaram a constituir um grupo ainda mais escasso no momento em que um único colaborador começou a publicar oito ou mais trabalhos.

TABELA 1

REVISTA DE HISTÓRIA (1950-1960)

NÚMERO DE PUBLICAÇÃO POR AUTORES

Número de trabalhos publicados Número de autores %

1 127 54,5 2 37 15,87 3 17 7,3 4 14 6,0 5 7 3,0 6 4 1,72 7 8 3,44 8 4 1,72 9 1 0,43 10 1 0,43 11 2 0,86 12 2 0,86 14 1 0,43 15 1 0,43 20 1 0,43 30 1 0,43 34 1 0,43 35 1 0,43 38 1 0,43 62 1 0,43 68 1 0,43 Total 233 100

Fonte: Revista de História

Por sua vez, atentamos para o fato de que tal grupo torna-se ainda mais seleto, quando nos apercebemos que somente uma parcela mínima de autores – precisamente 0,43% de cada um deles – conseguiu publicar quatorze ou mais trabalhos ao longo da primeira década de circulação da RH (Tabela 1). Assim, como bem podemos observar (Tabela 2), apenas esses nove colaboradores tiveram oportunidade de estampar e difundir suas idéias com tanta

freqüência: Eurípedes S. de Paula, João C. Costa, Thomaz O. Marcondes de Souza, Odilon N.

de Matos, a Comissão de Redação e a Diretoria da própria revista, Pedro M. Campos, Álvaro da V. Coimbra, Myriam E. Austregésilo e Maria R. da Cunha Rodrigues. Juntos, eles

publicaram o equivalente a 37,89% do total de trabalhos impressos na revista. Tais números elevam-se e impressionam ainda mais, quando atentamos para o fato de que mais da metade de todos os 834 trabalhos publicados foram assinados pela totalidade dos autores dispostos na tabela 2 (62,47%). Diante desse quadro, talvez seja pertinente expormos o seguinte questionamento: por que motivo, justamente esses e não outros colaboradores inscreveram seus nomes com toda essa freqüência na RH, entre os anos de 1950 e 1960?

Sem dúvida alguma, uma pergunta dessa natureza coloca-nos diante de um conjunto de questões complexas e intrincadas, que se relacionam tanto com as condições de produção do suporte quanto com o discurso historiográfico impresso nas suas seções. De acordo com o nosso ponto de vista, esses aspectos que dizem respeito ao âmbito da produção de um determinado bem cultural, tornam-se mais legíveis, quando atentamos para o lugar institucional desse seleto grupo de colaboradores (Tabela 2). Dessa maneira, o exame dos dados permite-nos verificar que sete dos nove autores destacados acima possuíam algum tipo de vínculo com a FFCL-USP. Se estendermos essa abordagem analítica ao conjunto dos autores distribuídos (Tabela 2), veremos que mais da metade desses colaboradores – precisamente 52,63% deles – mantinham relações com essa mesma Faculdade de Filosofia. Tal articulação – capaz de demonstrar os laços estreitos existentes entre essa instituição e a

RH – pode ser ainda constatada quando examinamos a distribuição geral das diversas

instituições, que somente tornaram-se possíveis de ser observadas porque, geralmente, ao final de cada colaboração, imprimia-se o nome do autor e, logo abaixo, o seu lugar institucional. Nessa perspectiva, como podemos observar na tabela 3, os dados referentes à relação autor/ lugar institucional manifestam essa tendência exposta acima, pois, sozinha, a

USP representou 32,84% do total das instituições que tiveram seus nomes associados aos dos

autores (Tabela 3).

TABELA 2

REVISTA DE HISTÓRIA (1950-1960)

DISTRIBUIÇÃO DOS COLABORADORES COM CINCO OU MAIS TRABALHOS PUBLICADOS

Colaboradores e Instituição Freqüência de trabalhos

%

Medieval da FFCL-USP

João Cruz Costa – Prof. de Filosofia da FFCL-USP 62 7,43 Thomaz Oscar Marcondes de Souza – Sócio efetivo e emérito do IHGSP;

Sócio efetivo da SEH; Membro da Société des Américanistes de Paris

38 4,55

Odilon Nogueira de Matos – Licenciado em Geografia e História pela FFCL- USP; Secretário da FFCL-USP; Membro da SEH; Prof. de História Social e

Econômica do Brasil da PUC-SP e da Escola de Sociologia e Política

35 4,19

Comissão de Redação e Diretoria 34 4,07

Pedro Moacyr Campos – Livre-docente e Assistente de História da Civilização Antiga e Medieval na FFCL-USP

30 3,6

Álvaro da Veiga Coimbra – Membro da SNB (Sociedade Numismática Brasileira)

20 2,4

Myriam Ellis Austregésilo – Licenciada em Letras Neo-Latinas e Assistente de História da Civilização Brasileira na FFCL-USP

15 1,8

Maria Regina da Cunha Rodrigues – Licenciada em Geografia e História pela FFCL-USP; Prof(a). de História do Brasil da Fac. de Filosofia, Ciências e

Letras de Santos

14 1,68

José Van Den Besselar – Prof. da PUC-SP; Membro da SNB; Prof. da Fac. de Filosofia, Ciências e Letras de Assis

12 1,44

Vivaldo Wenceslau Flor Daglione – S/I (Sem informação) 12 1,44

Edgard de Cerqueira Falcão – S/I 11 1,32

Émile-G. Léonard – Prof. de História da Civilização Moderna e Contemporânea na FFCL-USP; Diretor de estudos na Escola Prática de

Altos-Estudos – Ciências Religiosas (Paris)

11 1,32

Dr. Giuseppe Caraci – Prof. da Universidade de Roma 10 1,2 Manuel Nunes Dias – Assistente de História da Civilização Moderna e

Contemporânea na FFCL-USP

9 1,08

Alfredo Ellis Júnior – Prof. de História da Civilização Brasileira na FFCL- USP

8 0,96

Vitorino Magalhães Godinho – Membro do Centre National de la Recherche Scientifique (Paris)

8 0,96

Alexandre Gaspar da Naia – S/I 8 0,96

Emília Nogueira – Licenciada em Geografia e História pela FFCL-USP 8 0,96 Otto A. Piper – Prof. de Literatura e Exegese do Novo Testamento no

Seminário Teológico da Universidade de Princeton (E.U.A)

7 0,84

Antônio Paulino de Almeida – Membro do IHGSP e da SEH 7 0,84 Fidelino de Figueiredo – Prof. de Literatura Portuguêsa da FFCL-USP 7 0,84 Eduardo d’Oliveira França – Prof. de História da Civilização Moderna e

Contemporânea da FFCL-USP

7 0,84

Rosendo Sampaio Garcia – Assistente de História da Civilização Americana na FFCL-USP

7 0,84

José Roberto do Amaral Lapa – Prof. de História da Civilização Brasileira da Fac. de Filosofia de Marília; Membro do IHGSP

7 0,84

Nícia Vilela Luz – Licenciada em Geografia e História pela FFCL-USP 7 0,84 Maria Tereza Schörer – Licenciada em Geografia e História e Auxiliar de

ensino de História da Civilização Brasileira na FFCL-USP

6 0,72

Fernand Braudel – Prof. do Collége de France; Diretor de estudos na École des Hautes Estudes (Paris); Membro do Instituto de França

6 0,72

Guilherme Deveza – S/I 6 0,72

Roberto Levillier – Membro da Academia Nacional de História da República Argentina

6 0,72

Jorge Peixoto – S/I 5 0,6

Jürn Jacob Philippson – Assistente de Etnografia e Língua Tupí-Guarani na FFCL-USP

5 0,6

Lívio Teixeira – Prof. de História da Filosofia na FFCL-USP 5 0,6

Conde Emanuel de Bennigsen – S/I 5 0,6

Paulo Pereira de Castro – Licenciado em Geografia e História pela FFCL- USP

5 0,6

Lucien Febvre – Prof. do Collège de France; Membro do Instituto de França 5 0,6 Aldo Janotti – Licenciado em Geografia e História pela FFCL-USP 5 0,6 Fonte: Revista de História.

Essas articulações privilegiadas podem ser entendidas melhor quando lembramos que o diretor da revista, Eurípedes S. de Paula, manteve vínculos estreitos e duráveis com a

Faculdade de Filosofia e com a Universidade de São Paulo. Nessas condições, Eurípedes S.

de Paula – que sozinho publicou o equivalente a 8,15% do total de colaborações (Tabela 2) – teve a oportunidade de construir uma rede de sociabilidades que o colocou em contato direto com professores catedráticos, assistentes, auxiliares de ensino e licenciados da Universidade. O filósofo João C. Costa, por exemplo, que se destaca por ter publicado a segunda maior quantidade de trabalhos (7,43%), formou-se, junto com Eurípedes S. de Paula, na primeira

turma da Faculdade de Filosofia70. Já colaboradores como Odilon N. de Matos71, Pedro M. Campos, Myriam E. Austregésilo e Maria R. da Cunha Rodrigues, que futuramente tornar-se- ia a senhora Simões de Paula, conheceram o diretor da RH não enquanto colega de turma, mas sim como assistente e, posteriormente, como professor catedrático da cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval. Além disso, podemos perceber – através do contato com a documentação – que esse entrecruzamento entre a revista e a instituição, embora tenha se manifestado desde o momento da fundação do suporte, adquiriu contornos ainda mais explícitos durante o ano de 1958, momento em que a RH passou a ser apresentada enquanto órgão oficial do Departamento de História da FFCL-USP72.

Sem dúvida, toda essa ligação intrínseca da revista com a Faculdade de Filosofia, que pode bem ser constatada por meio da apresentação de alguns dados, ajuda-nos a entender a posição de destaque ocupada por muitos dos colaboradores responsáveis pela publicação de cinco ou mais trabalhos. Todavia, as relações tecidas com essa instituição, apesar de se mostrarem bastante significativas na leitura do perfil dos colaboradores, não devem ser consideradas como o único fator capaz de explicar a existência desse seleto grupo de autores. Como vimos anteriormente, Eurípedes S. de Paula esteve longe de se limitar, ao longo de sua trajetória intelectual, às redes de sociabilidade possíveis de serem construídas pelos espaços institucionais abertos tanto pela Faculdade de Filosofia quanto pela Universidade de São

Paulo. Diferente disso, ele buscou sempre ampliar o diálogo e, como conseqüência, inseriu-se

em um conjunto de Academias, Associações, Sociedades e Institutos científicos que funcionavam não apenas no Brasil, mas também em outros países. Nesse sentido, a

70 Nessa mesma turma de 1937, formaram-se Astrogildo Rodrigues de Mello, Rosendo Sampaio Garcia e Lívio Teixeira (FREITAS, 1993, p. 177). Todos eles, mais tarde, também colaboraram ativamente com a RH, seja ocupando postos na comissão de redação (Apêndice C), seja enviando trabalhos para publicação. Tal constatação ajuda-nos a perceber o quanto essa publicação é produto dessa geração que se formou na FFCL-USP. Sem dúvida, essa instituição, bem como o ambiente intelectual paulista como um todo, propiciou o desenvolvimento de uma rede de sociabilidades que tornou possível a emergência dessa revista.

71 Tal colaborador também não deixa de revelar a existência dessa rede de sociabilidades quando afirma que conviveu com Eurípedes S. Paula “durante quarenta e um anos, ou seja, desde 1936, quando cheguei a São Paulo a fim de pleitear ingresso na novel Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo” (MATOS, 1979, p. 2). Em outra oportunidade, ele acaba, novamente, comprovando a existência de tais redes ao destacar que viu a RH nascer e tomar corpo em princípios de 1950, quando trabalhava como secretário da FFCL-USP com Eurípedes S. de Paula que, na época, ocupava interinamente a diretoria dessa mesma Faculdade (MATOS, 1979, p. 46-47). 72

COMISSÃO DE REDAÇÃO. A Revista de História como órgão oficial do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. In: Revista de História, ano IX, vol. XVII, n° 35. São Paulo: Seção Gráfica da FFCL-USP, 1958, p. 288. Essa resolução, aprovada por unanimidade pelo DH (Departamento de História) em questão, não alterou a direção e a orientação da revista, que continuou “a cargo do Prof. Eurípedes Simões de Paula”. Essa situação provocou, no mínimo, um caso curioso, pois, como podemos perceber, é o DH que se associa à revista. Nessas condições, Eurípedes S. de Paula permanece como proprietário desse periódico, que somente passa a ficar sob as responsabilidades do DH após a morte do seu fundador e diretor. É apenas nesse momento que a família de Eurípedes S. de Paula decide doar todos os direitos da RH ao DH-FFCL-USP (MATOS, 1979, p. 49-50).

distribuição das instituições expostas (Tabela 3) permite-nos perceber a multiplicidade de lugares institucionais que se fizeram representar por meio das publicações dos mais diversos colaboradores.

Longe de ser produto de um mero acaso, as articulações responsáveis por essa disposição variada de lugares institucionais é fruto de um conjunto de operações e práticas intrincadas. Estas últimas, por sua vez, não se resumem apenas aos entrecruzamentos que Eurípedes S. de Paula construiu com muitas dessas instituições, mas também guardam relação direta com as experiências, as escolhas e os vínculos afetivos que o diretor da RH manteve com parte considerável dos colaboradores. No entanto, antes de adentrarmos, propriamente, nesse aspecto, convém destacarmos novamente o espaço que algumas outras instituições ocuparam durante os dez primeiros anos de circulação da RH. Assim, tanto o exame da tabela 2, capaz de revelar os colaboradores com maior freqüência de trabalhos publicados, quanto o exame da tabela 3, que dispõe o lugar institucional ocupado pelos autores, evidenciam a posição destacada de instituições como o IHGSP e a SEH73.

Em ambas as instituições – que ocuparam, respectivamente, o segundo (2,95%) e o quinto lugar (2,58%) dentre o total dos lugares institucionais distribuídos abaixo (Tabela 3) –, Eurípedes S. de Paula figurava enquanto um dos membros ou sócios. De acordo com o nosso

73 As articulações que a RH manteve com essa Sociedade Científica foram bastante estreitas, como bem podemos constatar consultando a seção de Noticiário, que publicou desde o estatuto dessa associação, até informações acerca de sua reorganização, das suas atividades e das eleições para a sua diretoria. Na década de 1960, tais vínculos entre o suporte e a entidade tornaram-se mais visíveis, pois a RH passou a ser apresentada, simultaneamente, como órgão oficial tanto do DH-FFCL-USP quanto da SEH. Além disso, pudemos observar, através da análise dos noticiários referentes a essa associação, que grande parte dos seus sócios fundadores colaborou com a RH. Dessa forma, dos 53 sócios apontados como fundadores dessa Sociedade Científica, 43 colaboraram com o periódico, seja integrando a sua comissão de redação, seja enviando-lhe trabalhos. Da mesma maneira, os nomes indicados para ocuparem a presidência, a secretaria, a tesouraria e a comissão consultiva da

SEH, também estão entre os colaboradores dessa revista. Em se tratando do lugar institucional ocupado pelos

sócios dessa associação, pudemos comprovar que a maioria deles manteve algum tipo de vinculo com a FFCL-

USP, sendo que uma parte menor dentre eles associou-se a outras instituições culturais, tais como o IHGSP ou o Museu Paulista. Afora isso, não podemos deixar de mencionar que, entre os sócios dessa Sociedade,

encontravam-se professores franceses como Jean Gagé, Charles Morazé e Émile G.-Leonard. De acordo com Rojas (2003, p. 106), Braudel também foi eleito membro dessa associação em 1945. Quanto a isso, é realmente provável que esse historiador francês tenha integrado a SEH; o que parece ser bastante improvável, no entanto, é que essa sua eleição tenha ocorrido em 1945, haja vista que essa Sociedade Científica funcionou apenas durante o ano de 1942, sendo reorganizada somente no ano de 1950. De toda maneira, todas essas informações apresentadas acabam por se tornar validadas, pois revelam-nos o quanto são complexas e intrincadas as questões que dizem respeito à distribuição dos lugares institucionais entre os colaboradores da RH. Para consultar as referências que alimentaram esses comentários, ver: COMISSÃO DE REDAÇÃO. Estatutos da Sociedade de Estudos Históricos. In: Revista de História, ano II, vol. II, n° 5. São Paulo, 1951, p. 228-231; MATOS, Odilon Nogueira de. Sociedade de Estudos Históricos. Sua primeira diretoria. In: Revista de História, ano II, vol. II, n° 6. São Paulo, 1951, p. 467-468; COMISSÃO DE REDAÇÃO. Sociedade de Estudos Históricos. Eleição da diretoria para o ano de 1952. In: Revista de História, ano III, vol. V, n° 11. São Paulo: José de Magalhães Ltda., 1952, p. 251; _____. Sociedade de Estudos Históricos. Eleição da Diretoria para 1953. In: Revista de História, ano IV, vol. VI, n° 14. São Paulo: José de Magalhães Ltda., 1953, p. 514; _____. Sociedade de Estudos Históricos (eleição da nova diretoria para 1954). In: Revista de História, ano V, vol. VIII, n° 18. São Paulo: Seção Gráfica da FFCL-USP, 1954, p. 510.

ponto de vista, tais vínculos mantidos pelo diretor da RH, talvez, possam ajudar-nos a explicar não apenas os dados apontados acima, mas também o elevado número de trabalhos publicados por colaboradores ligados a essas instituições, como é o caso de Thomaz O. M. de Souza (4,55% do total de colaborações) e Odilon N. de Matos (4,19% do total de colaborações) (Tabela 2). Todavia, como já dissemos há pouco, todas essas redes de sociabilidade relacionadas aos lugares institucionais ocupados por Eurípedes S. de Paula não são suficientes para explicar os dados relativos ao número de publicações e aos lugares institucionais dos colaboradores distribuídos nas tabelas 1 e 2. Dessa forma, acreditamos que os aspectos concernentes ao âmbito da produção historiográfica da RH relacionaram-se tanto às escolhas do diretor e da comissão de redação, quanto ao tipo e à importância da publicação.

Com isso, queremos dizer que a seleção dos colaboradores e trabalhos impressos norteava-se não apenas por critérios pautados na meritocracia, mas também pelos vínculos responsáveis por ligarem muitos dos autores à direção e à comissão de redação da revista. É evidente que o trabalho de grande parte desses colaboradores não era desprovido de valor ou importância. Aliás, o caráter valorativo e a relevância de muitas das publicações podem ser medidas, quando observamos que alguns autores imprimiram estudos de maior fôlego, como teses ou outras matérias fruto de propósitos diversos. Tais trabalhos, impressos por partes ao longo de vários exemplares, ajudam-nos, também, a entender os motivos que levaram parte dos colaboradores a publicarem uma quantidade de trabalhos consideráveis. Desse modo, podemos constatar que doze autores, dos trinta e oito listados na tabela 2, publicaram trabalhos extensos ao longo de vários exemplares. Esses são os casos, por exemplo, de colaboradores como: Eurípedes S. de Paula, João C. Costa, Pedro M. Campos, Álvaro da V.

Coimbra, Myriam Ellis, José Van Den Besselar, Émile-G. Leonard, Vitorino de M. Godinho, Otto A. Piper, Antônio P. de Almeida, Nícia V. Luz e Lívio Teixeira. Como podemos observar

(Tabela 2), todos estes ocuparam lugar de destaque entre os autores que conseguiram publicar cinco ou mais trabalhos entre os anos de 1950 e 1960.

TABELA 3

REVISTA DE HISTÓRIA (1950-1960)

DISTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES POR AUTORES DURANTE A PRIMEIRA DÉCADA DE CIRCULAÇÃO DA REVISTA DE HISTÓRIA

Instituição Freqüência %

USP – Universidade de São Paulo

FFCL-USP – Fac. de Filosofia Ciências e Letras

86 32,84

e Administrativas

IHGSP – Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo 8 2,95 PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 7 2,58 Collège de France (França) 7 2,58 SEH – Sociedade de Estudos Históricos de São Paulo 5 1,84 Universidade do Recife (PE) 4 1,48 Universidade de Coimbra (Portugal) 4 1,48 École des Hautes-Études (França) 4 1,48