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4 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2.3 O BJETIVO E SPECÍFICO 3: I DENTIFICAR PERFIS DE EMPREGADOS A PARTIR DAS

4.2.3.2 Rodada dos clusters a partir da centralidade do trabalho e ANOVA todas as

Com os mesmos clusters da primeira rodada [Importância do trabalho], realizou-se a ANOVA com todas as variáveis envolvidas neste estudo: a Importância, os quatro tipos motivacionais de segunda ordem do RVP, os tipos de atributos descritivos e os tipos de atributos valorativos. Para visualização dos resultados, foi elaborada um resumo das combinações entre os quatro grupos, conforme Tabela 15.

Tabela 15. ANOVA – Importância e tipos de atributos valorativos e descritivos + RVP

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Amostra

N=1.315 N=1.151 N=183 N=2.649

Centralidade absoluta – importância do trabalho 6,35 4,65 2,43 5,34

TV1-Rotina, pressão e desgaste 1,90 1,79 1,54 1,82

TV2-Responsabilidade e segurança material 3,60 3,49 3,25 3,52

TV3-Autorrealização e autodesenvolvimento 3,69 3,64 3,54 3,65

TV4-Condições de trabalho 3,73 3,72 3,72 3,73

TV5- Autoestima, reconhecimento e equidade 3,54 3,52 3,46 3,53

TD1-Rotina e desgaste 2,53 2,58 2,61 2,56 TD2-Segurança material 3,31 3,16 2,91 3,22 TD3-Condições de trabalho 2,80 2,58 2,21 2,66 TD4-Autorrealização 2,90 2,58 1,93 2,69 TD5-Responsabilidade 3,60 3,44 3,10 3,50 RV Autotranscendência 4,32 4,11 3,85 4,19 RV Autopromoção 3,44 3,20 2,81 3,29 RV Abertura à mudança 3,69 3,54 3,20 3,59 RV Conservação 3,99 3,79 3,59 3,59

4.2.3.2.1 Análise do cluster 1

Observa-se que o cluster 1 mantém seus escores acima da média da amostra, enquanto os demais sempre abaixo ou, em um dos casos, igual à média. Sendo assim, pode-se afirmar que uma característica evidente do cluster 1 é que seus integrantes tendem a perceber os aspectos positivos do trabalho e de realização de seus valores pessoais dentro do banco. Ao mesmo tempo, essas pessoas parecem acomodar o aspecto negativo do trabalho [Rotina, pressão e desgaste], pois atribuíram a maior média para esse tipo valorativo, ao tempo em que atribuíram a menor média para o tipo descritivo, ou seja, elas percebem com uma certa aceitação ou “realismo” que o trabalho deve envolver desgaste, rotinas e pressões, mas, na prática, elas percebem tal aspecto menos do que os demais integrantes da amostra, ou seja, com mais positividade. As pessoas deste cluster superam as médias gerais do banco, provavelmente respondendo de modo mais otimista às políticas implementadas. Para elas, as condições de trabalho e a autorrealização são valores do trabalho almejados. Porém, o que elas mais constatam na realidade concreta é que o banco demanda responsabilidade e proporciona segurança material e recompensa. Considerando a hipótese sugerida no item anterior, que se baseia na possibilidade de a percepção de realização de valores pessoais ser afetada pela centralidade absoluta do trabalho, pode-se também presumir que o agrupamento seja formado por pessoas com perfil de maior comprometimento com o banco, tanto sob o aspecto do significado do trabalho, quanto de RVP. Conforme já discutido no Referencial Teórico, quanto maior a centralidade, maior o envolvimento do indivíduo com o trabalho, conforme pesquisa de Mannhein, em 1986. No caso do RVP, em pesquisa de 2014, verificou- se relação positiva entre a percepção de realização de valores de qualquer tipo de segunda ordem com o comprometimento afetivo e normativo. É de se ressaltar que o aspecto normativo se destaca nesse cluster, porque o escore médio atribuído a aspectos de tradição, conformidade e segurança relacionados ao RV Conservação [ ̅=3,99] é a que apresenta maior diferença com relação à média da amostra, ou seja, 0,40 de diferença, enquanto os outros escores possuem diferença de no máximo 0,20 com relação à média da amostra, com exceção da Importância do trabalho, que, para este cluster foi de 1,01 superior à média global. São funcionários que transitam bem dentro do banco, percebendo realizar todos os tipos de valores [todos os escores acima da média da escala], podendo estar entre os que conseguem perceber e internalizar o que a alta direção do banco deseja: o trabalho como um propósito. Em um trabalho divulgado em 1978, conforme mencionado no Referencial Teórico deste estudo, os pesquisadores Mannheim e Cohen construíram e aplicaram uma escala, cujos resultados

evidenciaram que a centralidade é dependente do significado atribuído ao conteúdo do trabalho: quanto maior o propósito ou o sentido desse conteúdo, mais central é o trabalho na vida do indivíduo

4.2.3.2.2 Análise do cluster 2

O cluster 2 apresenta centralidade absoluta do trabalho tanto abaixo da média global, quanto abaixo do escore médio do cluster 1. A importância do trabalho para esse grupo é médio-baixa. Com as demais médias menores, o cluster 2 apresenta uma tendência a perceber os aspectos negativos do trabalho concreto com maior ênfase, tendo seu desempenho diário implicado pela rotina, desgaste ou pressão por resultados em sua percepção. Seus integrantes almejam boas condições de trabalho, autorrealização e autodesenvolvimento enquanto valores do trabalho, ou seja, aspectos mais importantes do trabalho, pois eles apresentam as maiores médias nos atributos valorativos nesses dois aspectos. Porém, no trabalho concreto, o cluster 2, assim como ocorre com o cluster 1, percebe que o banco demanda responsabilidade e proporciona segurança material e recompensa. As pessoas que integram o cluster 2 percebem realizar acima da média do banco somente seus valores associados a RV Conservação, ou seja, são pessoas que encontram no ambiente organizacional um espaço para realizar seus valores de tradição, conformidade e segurança, não percebendo realizar com muita ênfase os demais valores dentro do banco. Uma hipótese para o cluster 2 é que a percepção da realidade os leve a ter uma atitude ligada à concepção instrumental do trabalho, por isso ele reserva sua necessidade de significado para outras esferas, especialmente a família, que é a esfera de maior importância relativa no banco. Conforme pesquisa de Fried, realizada em 1966, conforme apresentado no Referencial Teórico deste estudo, o significado do trabalho pode variar desde a concepção instrumental até o desejo de realização pessoal. Sendo assim, o cluster 2, ao ver seu ideal almejado [TV Autorrealização e TV Condições de trabalho] frustrados pode deslocar sua atitude para o significado instrumental.

4.2.3.2.3 Análise do cluster 3

O terceiro cluster é formado por 183 funcionários, para verificar se eles poderiam representar alguma tendência comportamental dentro da organização ou mesmo levantar hipóteses que ensejassem uma pesquisa de possível movimento de contracultura. Para as pessoas desse grupo, o trabalho tem baixa importância absoluta. Ao realizar uma análise descritiva da amostra, observou-se que esses funcionários priorizam, nesta ordem: (1) família;

(2) religião; (3) lazer; (4) trabalho e (5) comunidade, diferindo dos clusters 1 e 2 em quanto à importância relativa do trabalho, que, para aqueles dois grupos, se ordena em família, posicionada em primeiro lugar, seguida do trabalho. Assim como os demais funcionários, este grupo valoriza como aspectos mais importantes do trabalho as condições de trabalho e a autorrealização e autodesenvolvimento. Ao mesmo tempo, eles mostram ter menor tolerância, se comparados aos demais, com relação ao desgaste, rotina e pressão, apresentando a média mais baixa entre os três clusters. O escore mais baixo e discrepante refere-se à percepção concreta de Autorrealização, indicando que esses funcionários não percebem o trabalho real como algo que lhes proporcione oportunidade de expressão da criatividade, do sentimento de produtividade, das habilidades interpessoais, de crescimento pessoal e do prazer pela realização das tarefas dentro do banco. Para eles, o trabalho implica responsabilidade, necessidade de cumprir aquilo que é previsto, sentimento de estar ocupado e ter que assumir responsabilidades de enfrentar os problemas de trabalho. Em seguida, eles percebem o trabalho como instrumental, meio de vida sem propósito maior, pois suas prioridades estão fora do banco e, por isso, não percebem realizar nenhum de seus valores pessoais dentro do banco, quando comparados seus escores com os médios dos demais funcionários. O cluster 3 tem: (a) 121 homens e 60 mulheres; (b) mais de 50% possui idade até 35 anos; (c) quase 60% trabalha na região Sudeste; (d) quase 50% possui pós-graduação e 99% curso superior; (e) 60% tem menos de 10 anos de banco; (f) 82% trabalha no nível organizacional operacional; (g) 22% possui cargo gerencial. Dadas essas características, não se identificou tendência a movimento de contracultura, sugerindo mais um outlier dentro da amostra.

Diante das características descritas, propôs-se uma tipologia de perfis a partir desses três clusters, sumarizada no Quadro 20.

Considerando a análise realizada para os três clusters, buscou-se identificar os padrões a partir dos construtos do significado do trabalho e da percepção de realização de valores pessoais no ambiente organizacional. Os três grupos se distinguem quanto ao nível de importância absoluta da centralidade do trabalho e à ênfase em atributos do significado do trabalho e percepção de RVP. Considerando que os testes t Student pareados e a ANOVA mostraram que RVP, atributos valorativos, atributos descritivos e importância do trabalho possuem diferenças estatisticamente significativas, todos eles foram considerados na análise, muito embora os tipos que se referem a autorrealização tenham variado pouco de um cluster para outro. O resultado da análise pode ser visto no Quadro 20.

Quadro 20. Tipologias de perfis de empregados – Importância

Tipo N Características

Engajados 1.315

Funcionários que veem o trabalho com alto nível de importância absoluta e como a segunda esfera mais importante da vida. Almejam condições de trabalho, autorrealização e autodesenvolvimento como valores do trabalho. Percebem o trabalho concreto como fonte de sustento, independência e segurança, que demanda responsabilidade, comprometimento e ser produtivo. Apesar da diferença entre os atributos esperados e constatados, esses funcionários parecem ver o trabalho de um modo otimista e positivo, pois seus escores estão acima de todas as médias globais do banco, incluindo o aspecto da rotina, pressão e desgaste, os quais passam a ter conotação positiva para esses funcionários. Além disso, formam o único grupo que percebe realizar todos os tipos de valores pessoais dentro do banco. Tendem a ser mais engajados e comprometidos. Embora haja pouca diferença entre as várias faixas etárias que compõem este grupo, predomina idade superior a 45 anos; pós-graduados e espalhados pelo Brasil.

Palavras-chave: foco; fé; otimismo; resiliência; orgulho de pertencer à empresa; psicologia positiva.

Frase: “Se não houver vento, reme. ”

Responsáveis 1.151

Funcionários que veem o trabalho com importância moderada, abaixo da média global da amostra e como segunda esfera mais importante da vida. Assim como o grupo Engajados, este grupo almeja condições de trabalho, autorrealização e autodesenvolvimento. Na diferença entre o que o trabalho deve ser e a realidade percebida, os funcionários deste grupo dão mais ênfase aos aspectos negativos do trabalho do que o grupo dos Engajados e talvez, por isso, sejam mais críticos com relação ao trabalho factual. Pelo fato de só perceberem realizar seus valores associados ao tipo motivacional Conservação, tendem a ser pessoas que valorizam segurança, tradição e conformidade, por isso se submetem às regras e normas enquanto realização. Porém, na diferença entre o que o trabalho deve ser e a realidade percebida, os funcionários deste grupo dão mais ênfase aos aspectos negativos do trabalho do que o grupo dos Engajados e talvez, por isso, sejam mais Responsáveis com relação ao trabalho factual.

Palavras-chave: conformismo; crítica; responsabilidade; obediência às normas.

Críticos 183

Funcionários que veem o trabalho com importância muito baixa, sendo a penúltima esfera de vida mais importante, precedida por família, igreja e lazer. Podem ser intolerantes à rotina, desgaste e pressão, pois possuem a maior diferença entre o almejado e a realidade neste quesito. Todos os escores médios do grupo apresentam-se abaixo da média global da amostra e abaixo dos escores médios dos outros dois clusters, com diferenças grandes em alguns casos. Estimam condições de trabalho, autorrealização e autodesenvolvimento, acompanhando a tendência dos outros dois grupos. Porém, apresentam maior diferença entre os atributos valorativos e atributos descritivos, considerando que apresentaram a menor média descritiva de autorrealização [ ̅=1,93 versus ̅grupo=2,69]. Não percebem realizar valores pessoais no ambiente organizacional acima da média global, ficando defasados nesse aspecto.

Palavras-chave: descontentamento; crítica; família; vida social. Frase: “Há vida fora do banco”

Fonte: autora

4.2.3.3 Segunda rodada: clusters com todos os construtos do significado do trabalho