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4 DIÁRIOS DE VIAGEM: AS NARRATIVAS DOS ENCONTROS DO

4.1 CONHECENDO UM POUCO SOBRE A GRÉCIA QUE QUEREMOS

4.2.7 Rompendo costumes?

O sétimo encontro do GEPS, ocorrido no dia 17 de julho, surgiu a partir do debate sobre atividade física e as possíveis opções existentes. Com isso, resolvemos fazer um encontro diferente daqueles a que estávamos habituados. Deste encontro, participaram 13 sujeitos.

Também estava previsto nas análises do estudo anterior, de Silva (2014), para um GEPS. Isto, porque foi identificada a orientação de “caminhar” que, na maioria das vezes, era a única opção oferecida pelos profissionais de saúde aos pacientes. Além disso, os sujeitos com diabetes também a reconheciam como única possibilidade de atividade física para o controle da doença.

Estes fatores fizeram-me viajar no experimento de Stephenson (1967) com macacos, para apresentar como ocorria o comportamento mecanizado. Em síntese, ele colocou um macaco numa jaula com algum objeto (uma banana, por exemplo) e, ao macaco, chamou de demonstrador. Caso o demonstrador tocasse o objeto, ele seria punido pelo sistema, com um jato de ar. Depois de algumas tentativas, o demonstrador não tocava mais o objeto. Então, um outro macaco era colocado junto ao demonstrador. Quando o novo macaco tentava tocar o objeto, o demonstrador impedia e o agredia, talvez, temendo que os dois fossem punidos. No entanto, o demonstrador era retirado da jaula e colocado um outro macaco junto ao segundo que, mesmo não tendo sido punido, impedia o novo de tocar o objeto. E, assim, foi numa sequência de 5 macacos. Em síntese, o experimento provoca reflexões sobre como se constrói um padrão, visto que os novos macacos, mesmo sem ter clareza dos motivos, continuavam replicando uma ação anterior.

O mesmo ocorre com a ideia da caminhada enquanto única opção de atividade física, orientada aos sujeitos enquanto estratégia para controle da doença. Profissionais e usuários replicaram o ato sem refletir sobre suas condutas. Todavia, é preciso romper com os costumes e desconstruir o padrão, para possibilitar novas opções aos sujeitos: que tal dançar, nadar ou fazer musculação? Esta foi a intenção de um encontro diferente.

Contudo, aqui, cabe relatar como esta atividade foi previamente organizada. Afinal, seria um dia diferente, um dia de atividade física! Sou enfermeiro e, em minha formação, este tipo de assunto também é limitado. Deste modo, eu precisava de apoio para realizar a ação. Entramos em contato com o coordenador do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do município que, imediatamente, aceitou e apoiou a proposta.

O município possui um espaço chamado “Centro de Treinamento (CT)”, com uma ampla área e uma academia moderna, disponíveis para várias ações, desde que acompanhadas por um profissional de educação física, e lá seria o local para nossa atividade.

Após a decisão de realizar este dia de atividades, contatamos a enfermeira da unidade que se disponibilizou e contribuiu com os trâmites junto ao município, solicitando o acesso ao Centro de Treinamento e um transporte para fazer o traslado entre UBS e CT. Também, solicitamos apoio ao educador físico do NASF, o qual se prontificou a participar e organizar a demanda do grupo. A enfermeira nos ajudou a formalizar a solicitação de um transporte junto à equipe de saúde da família, também com rápida resposta e liberação.

Em seguida, fizemos uma reunião em conjunto com pesquisadores, enfermeira e educador físico do NASF. Afinal, necessitávamos de discutir a ideia de que não bastava apenas ser uma atividade física, mas tornar o encontro um espaço, com diversas opções de atividade física, de modo que pudessem ser escolhidas pelos próprios participantes.

Com tudo organizado, enviamos as cartas convite aos participantes, com a data e o horário estabelecidos para o nosso encontro, já que o CT não estava disponível todos os dias, fato que já nos faz refletir sobre as limitações da vida em sociedade.

Como os encontros foram pactuados para ocorrer na Unidade Básica de Saúde, o local inicial do encontro permaneceu lá, até a chegada de todos para, então, sairmos em direção ao centro de treinamento, localizado a, aproximadamente, 2km da Unidade de Saúde, no mesmo território, sob cobertura da equipe, ou seja, este equipamento social faz parte do território, campo de estudo. Os agentes comunitários de saúde também participaram de todo o momento, desde o transporte de ida até o retorno, bem como das atividades realizadas no CT.

Ao chegarmos ao CT, o Educador Físico do NASF já estava nos aguardando. Como alguns dos participantes não conheciam o local, ele tratou de apresentar tudo para todos. Ao se depararem com a academia, percebemos que aqueles que não conheciam o local ficaram surpresos, pois não imaginavam que o ambiente possuía aquela organização. O CT do município possui amplo espaço, com equipamentos modernos. Todavia, de fato, é pouco utilizado, e boa parte da população o desconhece.

Dentre os participantes, tínhamos aqueles que nunca haviam visitado uma academia; os que já a conheciam, mas que não tinham utilizado nenhum equipamento e, ainda, aqueles que praticavam a musculação como exercício físico rotineiro, há algum tempo.

Após o acolhimento, agora por parte do educador físico, foi explicada a organização do ambiente e as possíveis atividades a serem realizadas: diversos equipamentos da academia; dança; aeróbica (caminhada); alongamentos; dentre outros.

Assim, optou-se por deixar os participantes à vontade sobre o que eles gostariam de fazer, sob a supervisão do educador físico. E, a escolha foi por praticarem os exercícios nos equipamentos da academia. Talvez, devido ao fato de o ambiente tecnológico lhes ter impressionado, ou porque as demais opções pudessem ser acessadas por eles em outros momentos.

O mais interessante de toda a atividade foi o companheirismo inerente ao grupo. Alguns participantes tinham limitações físicas, então realizavam o exercício com pouca intensidade, apenas para conhecê-los, e outros participantes, mais empoderados com o uso da academia, davam o apoio necessário aos colegas, sempre os incentivando. O fato de realizar os exercícios, de se equilibrar numa esteira, de pedalar utilizar alteres tornou o ambiente um espaço de estímulo para todos.

Portanto, encerramos as atividades no CT, retornamos à Unidade Básica de Saúde, pactuamos o próximo encontro e nos despedimos. Todos estavam empolgados e, talvez, ressignificando a prática da atividade física em um dia especial, tenhamos podido influenciar o rompimento de costumes.