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Síntese das Críticas e Proposições de Melhoria da Literatura

2.3 MODELOS DE PORTFÓLIO DE COMPRAS

2.3.2 Síntese das Críticas e Proposições de Melhoria da Literatura

Algumas críticas são citadas na literatura quando se trata de modelos de portfólio de compras. Estas críticas podem ser minimizadas por meio de melhorias na operacionalização dos modelos. Na sequência serão apontadas as principais críticas e as sugestões para resolução das mesmas.

A primeira crítica é em relação a estrutura do modelo, que não pode ser generalizada para todos os tipos de organização, necessitando ser adaptado a cada realidade (DUBOIS; PEDERSEN, 2002). Este problema pode ser solucionado desenvolvendo modelos que sejam fiéis as características específicas do contexto estudado (DRAKE; LEE; HUSSAIN, 2013; NUDURUPATI et al., 2015).

Outro ponto sensível é a escolha das dimensões e critérios. O uso de critérios apropriados é de fundamental importância para uma classificação assertiva (GELDERMAN; VAN WEELE, 2003; NELLORE; SÖDERQUIST, 2000). Apesar da ampla aceitação dos modelos de portfólio pelos profissionais de compras (GELDERMAN; MAC DONALD, 2008), ainda falta fundamentação teórica que justifique os critérios e dimensões que compõem os modelos (LUZZINI et al., 2012). Este problema pode ser solucionado a partir de uma análise aprofundada do contexto, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto da escuta de especialistas da área, para identificar a sua complexidade e, assim, propor critérios adequados (HEIKKILÄ et al., 2016; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; NUDURUPATI et al., 2015).

Dubois e Pedersen (2002) fizeram uma crítica ao modelo original, ao propor a análise da interdependência não considerado na obra de Kraljic (1983). A classificação não deve se basear somente nas características do item e do mercado de fornecimento, individualmente, mas na interdependência da rede de

relacionamento (DUBOIS; PEDERSEN, 2002). A crítica de Dubois e Pedersen (2002), podem ser resolvidas utilizando critérios que captem a interdependência entre os atores (HEIKKILÄ et al., 2016).

A operacionalização do modelo também é um ponto criticado. As organizações que aplicam modelos de portfólio, tendem a utilizar diferentes métodos para se alcançar a classificação (GELDERMAN; VAN WEELE, 2003). Em sua maioria, são abordagens qualitativas, em geral, discussões entre os membros, até se chegar ao consenso (GELDERMAN; VAN WEELE, 2003). A falta de rigor analítico na etapa de classificação dos itens nos quadrantes, bem como, na ausência de robustez nas recomendações práticas, é também apontada como uma fragilidade nos estudos (COX, 2015; LUZZINI et al., 2012).

Os modelos de portfólio de compras são, em essência, modelos multicritério, que consideram, em sua análise, critérios qualitativos e quantitativos (MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; REZAEI; FALLAH LAJIMI, 2018; REZAEI; ORTT, 2013). A aplicação de metodologias, sejam estas quantitativas ou qualitativas, requer a utilização de procedimentos sistemáticos que garantam o rigor analítico das técnicas empregadas (EISENHARDT, 1991). Embora não haja um protocolo universal descrito na literatura, alguns pressupostos são recomendados, para garantir o rigor dos procedimentos metodológicos quando se trata de modelos multicritérios:

 Em relação aos critérios é indicado que: (i) os critérios devem ser indicadores significativos de desempenho; (ii) a definição do atributo deve ser concisa e clara; (iii) o conjunto de critérios deve abordar todos os aspectos críticos de um problema; e (iv) o conjunto de critérios deve ser definido de tal forma que a mesma dimensão não seja medida por vários critérios diferentes e independentes entre si (KEENEY, 1982; KEENEY; RAIFFA, 1976).

 O uso da lógica fuzzy é viável para lidar com a incerteza e imprecisão no julgamento de critérios intangíveis (BAHADORI et al., 2017; KAHRAMAN; CEBECI; ULUKAN, 2003).

 Em relação as preferências de modelagem, é indicado a utilização do

se usa o procedimento de pesos, sem explicitar o critério com “melhor” e o “pior” avaliação, obtém-se uma noção geral de importância, que está sujeita a grande variação de argumentos entre os decisores (WATSON; BUEDE, 1987).

 Uma etapa de análise de sensibilidade deve ser incluída para demonstrar a

robustez e estabilidade dos resultados obtidos, diante de mudanças nas estruturas de preferência do decisor (ZARBINI-SYDANI; KARBASI; ATEF- YEKTA, 2011);

O Quadro 7 resume os pontos tratados nesta seção, indicando as principais críticas feitas aos modelos de portfólio de compras, bem como, proposições visando à resolução das mesmas, baseadas na literatura.

Quadro 7 - Modelos de Portfólio: Críticas e Proposições CRÍTICAS AUTOR/ANO PROPOSIÇÕES AUTOR/ANO Generalização do modelo para realidades diferentes Dubois e Pedersen (2002)

O modelo deve refletir características específicas do

contexto

Drake, Lee e Hussain (2013); Nudurupati et al. (2015) Ausência de rigor analítico escolha dos critérios e na classificação dos itens Cox (2015); Gelderman e Van Weele (2003); Luzzini et al. (2012); Nellore e Söderquist (2000) Estudo aprofundado do contexto, utilizando

critérios que captem sua complexidade Heikkilä et al. (2016); Montgomery, Ogden e Boehmke (2018); Nudurupati et al. (2015) Ausência de análise de interdependência Dubois e Pedersen (2002) Utilização de critérios que captem a interdependência entre os atores Dubois e Pedersen (2002); Heikkilä et al. (2016) Subjetividade na operacionalização do modelo e classificação dos itens Gelderman e Van Weele (2003); Luzzini et al. (2012); Olsen e Ellram (1997) Utilização de protocolo metodológico que garanta o rigor analítico Bahadori et al. (2017); Edwards e Barron (1994); keeney, 1982; Keeney e Raiffa (1976); Montgomery, Ogden e Boehmke (2018) Ausência de etapa de validação dos resultados Luzzini et al. (2012) Utilização de etapas de validação dos modelos propostos Luzzini et al. (2012); Zarbini-Sydani, Karbasi e Atef-Yekta (2011) Fonte: Elaboração própria, 2019

As críticas apontadas na literatura de modelos de portfólio se dão em torno de dois pontos centrais: (1) generalização dos modelos e critérios, não respeitando as especificidades dos diferentes contextos de aplicação; (2) operacionalização dos modelos, sem rigor analítico na ponderação dos critérios, alternativas e classificação

dos itens. Mesmo quando utilizam métodos quantitativos, não realizam etapas de validação dos resultados. De fato, estes aspectos tornam os modelos frágeis e seus resultados inconsistentes, podendo gerar uma classificação errônea dos itens, o que irá prejudicar as etapas posteriores da gestão de compras.

Em face das fragilidades dos modelos de portfólio de compras e das proposições de melhoria apontadas na literatura, resumidas no Quadro 7, este estudo pretende contribuir com o estado da arte ao propor o desenvolvimento de um modelo de portfólio de compras para o contexto hospitalar, em que serão explorados os seguintes aspectos:

a) O modelo proposto é baseado na realidade do contexto hospitalar. Os critérios

que compõem o modelo são intrínsecos a esta realidade e estabelecidos a partir do levantamento na literatura específica (seção 2.1.3 - Quadro 2) e validados por profissionais da área hospitalar (seção 5.2.1), primando o rigor analítico desta etapa.

b) As dimensões (eixos) da matriz de classificação dos itens, emergem a partir da

análise dos critérios do modelo (seção 5.3.1), refletindo as características do processo de compras hospitalares.

c) A análise da interdependência entre o setor de compras e os demais atores

que compõe a cadeia de suprimentos hospitalares será captada pelos critérios: preferência médica, conhecimento, monopólio de patentes, assistência do fornecedor, apontados no Quadro 2 (seção 2.1.3).

d) O desenvolvimento do modelo é constituído por etapas qualitativas e

quantitativas, conforme explicado na seção 4, tornando o modelo mais robusto.

e) Os resultados da classificação serão validados por profissionais que

participarão da etapa de classificação dos itens. Além disso, a confiabilidade e robustez do modelo serão atestadas por uma etapa de análise de sensibilidade.