• Nenhum resultado encontrado

Síntese da Fundamentação Teórica

No documento Sentido de vida da pessoa com dor crónica (páginas 108-115)

Capítulo III Sentido de Vida, Fatores Associados e Intervenção

3.4 Síntese da Fundamentação Teórica

A fundamentação teórica assenta no reconhecimento de dor crónica e sofrimento humano enquanto problema para as ciências da saúde e desafio para a teologia e para a filosofia. Da análise e desenvolvimento da perspetiva conjugada destes três paradigmas, delineou-se uma filosofia do cuidado ao sofredor de dor crónica (Kraus et al., in press), que evidencia o sentido de vida como a variável capaz de promover a autoeficácia, o autocontrolo, o bem-estar global com o estabelecimento de relações interpessoais gratificantes e a integração do sofrimento (Figura 3).

Sendo a descoberta de sentido na vida (autotranscendência) uma experiência subjetiva da dimensão espiritual, alcançável à medida da vontade, propõe-se, no âmbito dos cuidados de enfermagem dirigidos à pessoa com dor crónica reumática, o desenvolvimento e a implementação da CoCIP.

Para o controlo da dor crónica e integração do sofrimento: a logoterapia propõe uma das três vias66 para a consecução de sentido; a filosofia contemporânea pela via da fenomenologia antropológica da práxis subjetiva do profissional ipseidado propõe a relação terapêutica (com o olhar clínico e a linguagem da vida) como “lugar de refúgio da qualidade da experiência afetiva de si” que, pela virtude do “copatos”, o capacita a se “autoafetar pelo pathos do outro” (Cardoso, 2010, p. 12); e a teologia ocidental, que vê o sofrimento não apenas como uma experiência que se vive, mas propõe” acima de tudo, um lugar teológico, através do qual cresce e amadurece a fé do povo de Deus (…) e se estrutura a “esperança firme do ponto de chegada” (Lourenço, 2006, p. 66).

Cientes destas posições mas também da evidência científica demonstrada pela utilização dos diversos recursos logoterapêuticos, optou-se por adaptar estes recursos à presente investigação.

Sentido de Vida, Fatores Associados e Intervenção

Neste sentido, e como contributo reflexivo para a clarificação da emergente estrutura conceptual da CoCIP, apresenta-se uma “Filosofia do Cuidado à Pessoa com Dor Crónica” que não apenas reconhece a facticidade psicofísica do sofredor de dor crónica, mas procura ser um vetor facilitador/orientador para a descoberta de sentido que dignifique a vida (Figura 4).

Figura 3

Dolor, sufrimiento y sentido de vida: desafío para la ciencia, la teología y la filosofía (Kraus et al., in press)

Figura 4

Uma filosofia de cuidado ao sofredor de dor crónica CIÊNCIAS DA SAÚDE FILOSOFIA OCIDENTAL TEOLOGIA CRISTÃ FENOMENOLOGIA DA VIDA:

 Olhar terapêutico vê o sofrimento na subjetividade transcendente do outro;

 Linguagem da vida impõe:

- Imanência  Relação terapêutica - Amor  Vida;

 Descoberta  Sentido em cada contexto.

PROBLEMÁTICA

VIVÊNCIA DA DOR CRÓNICA/SOFRIMENTO INEVITÁVEL

LOGOS – Fonte de Sentido de Vida

SENTIDO – Cosmovisão para além da facticidade psicofísica (tempo e ser) CONFIANÇA – Identidade/valores/atitude/compromisso

ESPERANÇA – Pela confiança confirmada no quotidiano

LOGOS  SENTIDO  CONFIANÇA  ESPERANÇA UMA FILOSOFIA DO CUIDADO AO SOFREDOR DE DOR CRÓNICA

FILOSOFIA

“Cuidado ao sofredor de dor crónica”

 Assenta na estrutura dialógica Logoterapêutica

 Clarifica a estrutura conceptual da CoCIP Competência Profissional para o Cuidado Incondicional Proactivo

Descoberta de Sentido e Integração do Sofrimento Inevitável

Sentido de Vida, Fatores Associados e Intervenção

110

Conclui-se, com base no enquadramento teórico, que a CoCIP se apresenta como uma estratégia complementar às medidas não farmacológicas de alívio e controlo da dor, especificamente vocacionada para apoiar o sofredor de dor crónica a descobrir um sentido que dignifique a sua existência e a integrar o sofrimento inevitável.

Os resultados dos estudos preliminares corroboram a “variação terapêutica positiva” do sentido de vida, enquanto vivência afetiva, cognitiva e espiritual, implicada na prevenção do sofrimento, ansiedade, depressão e da atividade da doença, assim como, na promoção do sentido no sofrimento e da perceção de autoeficácia no controlo da dor crónica.

Desenho da Investigação

De acordo com os objetivos propostos e o referencial teórico, apresenta-se na Figura 5 o desenho da investigação para em continuidade estudar a problemática no apuramento da aplicabilidade da CoCIP às intervenções de enfermagem.

O desenho da investigação expõe o modelo para as relações entre o construto multidimensional de sentido de vida e as variáveis associadas à experiência de sofrimento inevitável da pessoa com dor crónica reumática.

Para responder aos objetivos, houve necessidade de dispor dos instrumentos mais ajustados. Para o efeito, elegeu-se o The Meaning in Suffering Test (MIST) e o The Self- Transcendence Scale (STS), que foram traduzidos e validados de forma a garantirem a sua adequação às características psicométricas da amostra. Outros instrumentos já validados para uma população portuguesa, porém, com características diferentes, tiveram de ser validados para a amostra em estudo, o que se verificou com o Teste dos objetivos de vida (EOVP), a Escala de autoeficácia da dor crónica (CPSSP) e a Escala de ansiedade e depressão hospitalar (HADSP).

Assim, na PARTE DOIS do trabalho, apresentam-se os três estudos empíricos implementados: o ESTUDO 1, metodológico, vem descrito no Capítulo IV e refere-se à consecução dos Objetivos 1 e 2; o ESTUDO 2, transversal e correlacional, está descrito no Capítulo V e responde aos Objetivos 3, 4, 5 e 6; o ESTUDO 3, descritivo e compreenssivo, apresentado no Capítulo VI e concretiza o Objetivo 7. Por fim, as aferências resultantes da análise global dos três estudos permitem a concretização do Objetivo 8 da investigação, apresentada no Capítulo VII.

Sentido de Vida

Disfunções emocionais Sofrimento Índice atual da doença Sentido no sofrimento Autoeficácia no controlo da dor Gestão da dor Funcionalidade Índice de sofrimento Gestão da dor Funcionalidade Estratégias de coping Autotranscendência Objetivos de vida Caraterísticas subjetivas Sentido/Esperança no sofrimento Figura 5 Desenho da Investigação

No documento Sentido de vida da pessoa com dor crónica (páginas 108-115)