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CAPÍTULO 1: O novo contexto do trabalho

1.3. Saída da informalidade

O desemprego constitui um desafio diante do qual o Brasil não se encontra só, pelo contrário, diversos países estão lutando contra a epidemia do "crescimento sem emprego" (jobless growth), caracterizado pelo crescimento econômico mesmo com a redução drástica da oferta de emprego, como tem ocorrido com os Estados Unidos, onde as oportunidades de atividades remunerada não suprem a demanda de trabalhadores de forma satisfatória.

O processo de crescimento sem emprego resulta de uma combinação de variáveis complexas, qual seja: a introdução agressiva do processo técnico com o objetivo de reduzir o trabalho nas indústrias, a renúncia da política de bons salários em busca de lucros financeiros, tendo como efeito colateral a redução do ritmo de crescimento da demanda efetiva, e o deslocamento da produção local, provedora de empregos, para plataformas de exportação de países periféricos cuja competitividade é espúria por estar galgada em baixos salários, longas jornadas de trabalho e ausência de proteção social. Sachs explica que:

Há quem acredite que a epidemia de crescimento sem emprego só pode ser combatida por taxas de crescimento econômico excessivamente elevadas que não são contabilizadas na conjuntura internacional atual. Elas teriam que ser de 5% ao ano ou mais, enquanto nada for feito para modificar a intensidade em empregos dos paradigmas atuais de crescimento. Em outras palavras, o desemprego, o subemprego e a exclusão social afiguram-se co mo u m mal necessário a ser minorado por vigorosas políticas assistenciais. (Sachs, 2004, p.1)

O autor acredita ser possível desenhar estratégias de desenvolvimento que garantam a todos a inclusão social por meio do trabalho decente. O Brasil possui grandes diferenças sociais, o que gera necessidade de políticas sociais compensatórias, além dos serviços sociais de base, como educação, saúde, saneamento e moradia, para atingir inclusao social. Sachs (2004) afirma que o emprego e o auto-emprego decentes são, de fato, a melhor maneira de suprir as necessidades sociais, por duas razões:

1) A inserção do cidadão no sistema produtivo proporciona uma solução definitiva, superando as medidas assistenciais que necessitam de financiamento público constante.

2) O ato de executar um trabalhado decente promove a auto-estima, dando a oportunidade de auto-realização e avanço na escala social.

Embora o trabalho com qualidade se apresente como a melhor forma de inclusão social, surge a questão da saída gradual dos microempreendimentos da informalidade. Além das diversas razões pelas quais a informalidade deve acabar, existe a razão ética, já que o mercado informal impõe aos trabalhadores baixos salários, longas jornadas e condições precárias de trabalho. É inaceitável que milhares de microempreendimentos informais sobrevivam mediante uma competitividade espúria.

Segundo Sachs (2003), para que o processo de saída da informalidade se desenrole, é necessário um conjunto de medidas que devem ser elaboradas e implementadas pelos poderes públicos. São elas que podem preencher as sete condições que o autor considera necessárias para que a informalidade deixe de existir:

1. Desenvolver, aprimorar e expandir ferramentas que possuam o objetivo de agilizar a abertura de novas empresas, como, por exemplo, o Sistema Fácil. Tambem é importante criar um resgistro dos trabalhadores autônomos.

2. Aperfeiçoar a Lei n° 9.317, referente ao Simples tributário, oferecendo um tratamento diferenciado para as MPEs e MEIs, e expandir este benefício para outros encargos, criando o Simples estadual e o municipal.

3. Atrair e incorporar ao sistema previdenciário o grande contigente de excluídos por meio da criação de um Simples previdenciário, direcionado aos trabalhadores autônomos.

4. Facilitar e fomentar o acesso das MPEs e dos MEIs ao crédito e ao microcrédito, por meio de organizações especializadas, que utilizem as aglomerações de empresas para a redução de custos e de riscos nas transações através de grupos solidarios.

5. Criar novas organizações creditícias, como as cooperativas de créditos, as organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) e os bancos de arranjos produtivos (BAP), visto a falta de habilidade do sistema financeiro tradicional em oferecer o produto do microcrédito produtivo orientado.

6. Facilitar o acesso aos mercados, dando preferência para as MPEs e as MEIs, criando sinergias, promovendo exportações e incentivando os arranjos produtivos e sua comercializaçao no exterior.

7. Criar centros tecnológicos para a difusão do conhecimento e da tecnologia, facilitando o acesso das MPEs às novas tecnologiais disponíveis no mercado, estimulando a criação e inovação.

As atividades ressaltadas pelo autor promovem a inclusão dos microempreendimentos no sistema formal de comercialização. No entanto, estas medidas são realizadas através das politicas públicas, que se caracterizam por atividades complexas desde sua elaboração até a sua implementação, e que partem do modelo de desenvolvimento que cada município almeja. Torna-se, portanto, essencial que nos aprofundemos nas questões municipais, buscando compreender sua dinâmica e seus processos de desenvolvimento e implementação de políticas públicas

Para isso, no próximo capítulo, abordaremos o processo de desenvolvimento endógeno, discorrendo sobre os fatores de acumulação e o processo de implementação das políticas públicas nos municípios.

Síntese – Capítulo 1

Neste capítulo, abordamos o processo de desemprego atual, causado pelo próprio crescimento econômico, que utiliza conceitos como downsizing para aperfeiçoar a gestão financeira corporativa. Isso ocasiona um deslocamento “inverso e simétrico” do processo administrativo, que o torna mais caro que o próprio produto. Segundo Dowbor (2010), o desemprego evoluiu e, para mensurá-lo, devemos incluir nele o emprego por desalento, o trabalho temporário e outras formas de vinculação.

Verificamos que o desemprego gera pobreza econômica, impactando nas liberdades de troca, parte essencial das liberdades básicas, previstas pelos direitos humanos, além de causar males psicológicos, como a perda da motivação e da autoconfiança, o aumento de doenças e de morbidez, que podem impactar até as taxas de mortalidade. Vimos, portanto, que o desemprego intensifica a exclusão social e a entrada no mercado informal.

De acordo com a OIT, o número de empregos tem aumentado após a última crise econômica, mas a média de trabalhadores desempregados, em idade ativa, continua a subir, revelando a ineficiência dos mercados em gerar novos postos de trabalho para suprir a demanda em relação ao crescimento da população. Mesmo os países da LAC, que apresentaram boas taxas de crescimento econômico em níveis de pré-crise, não garantem um emprego de qualidade, já que muitos trabalhadores não possuem uma renda significativa.

Vimos que o processo de precarização do trabalho afasta a massa crescente de trabalhadores dos seus direitos legais, deixando-os a mercê de postos de trabalho com baixa remuneração e por vezes insalubres. Esta transformação dá origem a “nova pobreza” (Singer, 1996), que se inicia com pessoas que pertenciam à classe média, mas que perderam seus empregos e não conseguiram se reciclar, sendo obrigados a trabalhar no mercado informal, que, segundo a ETCO (2012), representa atualmente cerca de 16% do PIB nacional.

A economia informal escapa dos critérios estatísticos, já que não inclui uma parcela importante dos trabalhadores informais. Os estudos comparativos internacionais também se mostram inviáveis devido às múltiplas interpretações sobre o assunto. Para superar esses entraves, Sachs (2003) abandona a dicotomia do trabalho formal e informal, caracterizando quatro modelos diferentes de produção – a economia doméstica, a proto e pré-capitalista, a capitalista e a economia solidária. Discorre sobre as relações desses quatro diferentes modelos com a economia formal e a informal, mencionando uma série de atividades que os municípios podem realizar para promover a inclusão produtiva: o acesso ao crédito, a desburocratização e o aperfeiçoamento de leis.