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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP DENNYS SALOMÃO HID

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Academic year: 2018

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PUC-SP

DENNYS SALOMÃO HID

PESQUISA EXPLORATÓRIA SOBRE A INCLUSÃO PRODUTIVA:

ANÁLISE DO PRÊMIO SEBRAE PREFEITO EMPREENDEDOR NOS

MUNICÍPIOS DE SÃO PAULO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

DENNYS SALOMÃO HID

PESQUISA EXPLORATÓRIA SOBRE A INCLUSÃO PRODUTIVA:

ANÁLISE DO PRÊMIO SEBRAE PREFEITO EMPREENDEDOR NOS

MUNICÍPIOS DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Administração, sob a orientação do Prof. Dr. Ladislau Dowbor.

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

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FOLHA DE APROVAÇÃO

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________ Prof. Dr. Ladislau Dowbor

(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Orientador

______________________________________ Prof. Dr. Arnaldo J. F. Mazzei Nogueira (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

______________________________________ Prof. Dr. Francisco César P. da Fonseca

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Agradecimentos

À minha família, em especial a minha mãe, pelo incentivo, apoio e carinho, sem os quais este trabalho teria sido impossível.

Ao meu orientador, professor Doutor Ladislau Dowbor, que possui uma história de vida e um conhecimento acadêmico ímpar, por todos os momentos, formais ou informais, em sua companhia. Eles foram sempre de grande aprendizado.

Aos professores Doutores, Arnaldo Nogueira, Arnoldo Hoyos, Francisco Serralvo, João Belmiro, Luciano Junqueira, Onésimo Cardoso, Maria Cristina e Neusa Bastos, pelos conhecimentos transmitidos.

A professora Esther Schapochnik, pela leitura atenta e por me ajudar a aclarar as ideias.

Aos meus colegas do mestrado, que sempre me auxiliaram e me motivaram ao longo do curso: Aiman Moura, Cesar Nascimento, Julyana Moreira, Larissa Rodrigues, Luisa Estafania, Marcio Cardoso, Rosimar Pereira, Ruthelle Carvalho, e Paulo Granela.

A Rita Sorrentino, que, além de funcionaria exemplar do Curso de Administração, mostrou-se uma amiga de grande valor.

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HID, Dennys Salomão. Pesquisa exploratória sobre a inclusão produtiva: análise do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor nos municípios de São Paulo. São Paulo, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Economia e Administração, Pontifícia Universidade Católica.

RESUMO

Esta pesquisa investigou o combate à pobreza por meio das políticas públicas de inclusão produtiva, modelo de ação que direciona os investimentos públicos para a geração de emprego e renda, contribuindo para a heterogeneidade e a diminuição da diferença social. Explora os projetos de inclusão implementados, nos últimos seis anos, nos municípios do Estado de São Paulo inscritos no Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor, que realizou a sua 7ª edição em 2012 e é organizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é estimular o desenvolvimento de micro e pequenos negócios. Como objeto de estudo, foi utilizado o Guia Paulista, uma publicação do SEBRAE, que

detalha os projetos implementados pelos prefeitos participantes da premiação. Reúne as principais ações de inclusão produtiva, que foram avaliadas pelos jurados e convidados, constituindo um excelente material para uma análise categorial. Os relatos desses projetos possibilitaram realizar um levantamento de dados. Desse inventário foi possível isolar os diversos elementos enfocados e classificá-los por suas principais características. O reagrupamento desses dados em dez categorias pré-definidas –

incentivo fiscal, crédito e microcrédito, cooperativismo, acesso ao mercado, formalização, incubadoras, desburocratização, aglomerados, educação e capacitação, e outros projetos – permitiu a visualização do número de projetos por categoria e o desenvolvimento das próprias categorias ao longo dos últimos seis anos. Ficou evidente que os prefeitos inscritos buscam anular o estado estacionário de sua localidade por meio do fomento e acúmulo de recursos humanos e econômicos, utilizando estratégias de desenvolvimento endógeno e local. Cada município adota um tipo de estratégia, seja ela radical ou por pequenos passos. Foi possível observar que as políticas públicas de inclusão envolvem os atores locais – poder público, poder privado e grupos sociais – e estão sendo criadas a partir dos problemas regionais, o que evita o mimetismo nos projetos implementados. Percebeu-se que, embora os municípios tenham características distintas, possuem problemas semelhantes, como o alto volume de trabalhadores no mercado informal, a lentidão burocrática e a falta de mão de obra capacitada. Também ficou claro que, quanto mais comum for o problema, maior é a chance de adaptar e replicar em outras localidades o projeto que procura solucioná-lo ou minimizá-lo.

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HID, Dennys Salomão. Exploratory research about productive inclusion: analisys of the SEBRAE, Mayor Enterprising in the cities of São Paulo award. São Paulo, 2012. Dissertation (Masters of business administration) – Pontifica Catholic University of economics and business.

ABSTRACT

This research investigated the fight against poverty trought public policy of productive inclusio, model of action that directs public investments for micro entrepeneurs, contributing to the heterogeneity and the reduction of the social difference. Explore the projects of implemented inclusion, in the last six years, in the cities of São Paulo enrolled in the SEBRAE Mayor entrepeneur award, wich held its 7th edition in 2012 and is organized by the brazilian servisse of support for micro and small enterprises (SEBRAE), a non-profit organization whose goal is to encourage the development of micro and small businesses. As na object of study, it was used the Paulista Guide, a

publication of SEBRAE, that details the projects implemented by the mayors participants of the award. Brings together the main productive actions of initiatives inclusion, wich were evaluated by the judges and guests, providing and excellent material for a categorical analysis. The reports of these projects allowed to survey data. Trought these inventary was possible to isolate the various elemento focused and sort them by their main characteristics. The reunification of these data in tem pre-defined categories – tax incentives, credit and microfinance, cooperatives, market access, formalization, incubators, debureaucrastization, clusters, education and training, and other projects – allowed the visualization of the number of projects by category and development of the categories themselves over the past six years. Became evidente that the mayors enrolled seek cancel the steady state of your location trough the development and accumulation of human and economic resources, using endogenous development strategies and local. Each municipality adopts a kind of strategy, either radical or by small steps. It was possible to observe that the inclusion public policies envolve local actors – public power, ptivate power and social groups – and are being created from regional problems, avoiding the mimetism in implemented projects. It was realized that while municipalities have different characteristics, they have similar problems, as the high volume os workers in the informal market, the bureaucratic slowness and the absence of skilled labor. It was also clear that, the more commom is the problem, higher is the chance to adapt and replicate the project in the other locations seeks fix it or minimize it.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil APL – Arranjo Produtivo Local

BAP – Bancos de Arranjos Produtivos

BID – Banco internacional de Desenvolvimento

BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES – Banco Nacional De Desenvolvimento Econômico e Social CEAG – Centro de Assistência Gerencial

CEBRAE – Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena Empresa CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social ETCO – Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial

FIPEME – Financiamento à Pequena e Média Empresa FUNTEC – Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEG – Instituto de Desenvolvimento e Estudo do Governo

IDEIES – Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo IES – Índice de Economia Subterrânea

ILO –International Labour Office

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social LAC –Latin America and Caribbean

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior MEC – Ministério da Educação

MEI – Micro Empreendedor Individual MPE – Micro e Pequeno Empreendedor OIT – Organização Internacional do Trabalho

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PAM – Programa de Acesso aos Mercados PIB – Produto Interno Bruto

PIS – Programa de Integração Social

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PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR – Serviço Social de Aprendizagem Rural

SENAT - Serviço Social de Aprendizagem do Transporte SESC – Serviço Social do Comércio

SESCOOP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SESI – Serviço Social da Indústria

SEST – Serviço Social do Transporte

SMEPOL –Small and Medium-sized Enterprises Policy

SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUTAC – Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades UNRIC –United Nations Regional Information Center

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – A economia real: os modos de produção ... 32

Figura 2 – O efeito H ... 43

Figura 3 – Estratégias para o aumento da produtividade e competitividade. ... 45

Figura 4 – Dispersão populacional entre as edições ... 74

Figura 5 – Dispersão da área física por km². ... 75

Figura 6 – Dispersão do trabalho formal ... 76

Figura 7 – Dispersão das Empresas Registradas ... 77

Figura 8 – Número de projetos por eixo de classificação... 78

Figura 9 – Número de projetos de incentivo a formalização por edição. ... 80

Figura 10 – Número de projetos de incentivo de incubadoras por edição... 81

Figura 11 – Número de projetos de desburocratização por edição... 82

Figura 12 – Número de projetos de aglomerados por edição. ... 83

Figura 13 – Número de projetos de educação e capacitação por edição. ... 84

Figura 14 – Número dos outros projetos no subeixo de classificação... 85

Figura 15 – Composição das Receitas do Sistema SEBRAE – 2012 ... 119

LISTA DE QUADROS Tabela 1 – Exemplo do processo de categorização dos dados constantes no Guia Paulista... 21

Tabela 2 – Exemplo dos dados adicionais a pesquisa categorial... 22

Tabela 3 – Número e porcentagem de escritórios por região ... 56

Tabela 4 – Número de municípios inscritos por edição e ano. ... 63

Tabela 5 – Finalistas do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor. ... 71

Tabela 6 – Características municipais destacadas pelo SEBRAE. ... 72

Tabela 7 – Dispersão populacional dos primeiros colocados. ... 74

Tabela 8 – Dispersão territorial dos primeiros colocados ... 75

Tabela 9 – Dispersão territorial dos primeiros colocados ... 76

Tabela 10 – Dispersão de empresas registradas dos primeiros colocados... 77

Tabela 11 – Frequência dos outros projetos por edições. ... 85

Tabela 12 – Processo de categorização dos Guia Paulista 5ª, 6ª e 7ª edições. ... 100

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Sumário

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1: O novo contexto do trabalho... 24

1.1. Pobreza, desemprego e informalidade ... 26

1.2. As complexidades da economia real ... 29

1.3. Saída da informalidade... 33

Síntese – Capítulo 1 ... 36

CAPÍTULO 2: Processo do desenvolvimento endógeno. ... 38

2.1. Fatores de acumulação ... 41

2.2. Estratégias de desenvolvimento local ... 43

2.3. Estado e as políticas públicas... 46

2.3.1. Implementação das políticas públicas ... 48

2.3.2. Limites e desafios das políticas públicas ... 50

2.4. Iniciativas locais na América Latina ... 51

2.4.1. O laboratório brasileiro ... 51

Síntese – Capítulo 2 ... 53

CAPÍTULO 3: O papel do SEBRAE no Brasil ... 55

3.1. Como se constituiu... 56

3.3. Principais prêmios... 58

3.3.1. Prêmio Top 100 de Artesanato ... 59

3.3.2. Prêmio Mulher de Negócios ... 59

3.3.3. Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas ... 60

3.3.4. Prêmio Técnico Empreendedor ... 61

3.3.5. Prêmio SEBRAE de Jornalismo ... 61

3.3.6. Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor ... 62

Síntese – Capítulo 3 ... 68

CAPÍTULO 4: Análise dos projetos de inclusão produtiva nos municípios de São Paulo ... 70

4.1. Análise do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor ... 71

4.2. Análise inicial das três edições estudadas da premiação ... 73

4.3. Análise categorial das três edições estudadas da premiação ... 78

4.4. Análise interpretativa das três edições estudadas da premiação ... 87

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 90

REFERÊNCIAS ... 93

APÊNDICE – Processo de categorização dos dados constantes no Guia Paulista... 99

ANEXOS... 118

ANEXO 1 – Composição das Receitas do Sistema SEBRAE -2012 ... 118

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INTRODUÇÃO

“Há quem entenda que pequenos empreendedores e produtores não passam de resquício do passado que tenderão a desaparecer, absorvidos pela economia moderna da grande indústria e da agricultura mecanizada. Mas esta é uma visão desmentida pela historia recente...” (Sachs, 2003, p. 20).

Entramos no século XXI com um déficit na oferta de empregos não só no Brasil, mas no mundo, que registra mais de 200 milhões de desempregados em 2010 (ILO, 2011). O desemprego cresceu devido à alta concorrência interna e externa e ao desenvolvimento tecnológico, que substitui a mão-de-obra. As instituições, para se manterem competitivas, buscam a redução dos custos, contratando mão-de-obra barata, porém pouco qualificada. Essa busca constitui o principal fator de precarização do trabalho.

Atualmente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) está comprometido com a ideia de que o setor privado pode e deve contribuir para a diminuição da pobreza. Entretanto, se parte da população tende a aceitá-la, outra parte acredita que esta responsabilidade é do Governo.

A pobreza aqui mencionada transcende ao baixo nível de renda e abrange também a privação dos direitos humanos, restringindo as oportunidades sociais, políticas e econômica. Segundo Amartya Sen (2010), a liberdade e a oportunidade de realizar trocas e transações de compra e venda são, de fato, necessárias para se alcançar as condições básicas essenciais para o desenvolvimento da cidadania.

Assim, o foco principal desta pesquisa é o estudo sobre a diminuição da pobreza por meio das políticas públicas que propiciam o processo de inclusão produtiva.

Para a CEPAL1 (2010), as políticas de inclusão produtiva são aquelas que

direcionam os investimentos públicos para os micro e pequenos empreendedores, contribuindo para a heterogeneidade e para diminuição da diferença social:

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En este sentido, la política de apoyo a estas empresas es clave para mejorar la productividad del conjunto de la economía, construir una estructura productiva más articulada, reducir las diferencias de desempeño entre empresas y sectores e incorporar uma creciente cantidad de mano de obra al mercado de trabajo formal con salarios dignos. (CEPA L, 2010. p.125).

De forma simplificada, podemos dizer que as ações voltadas para a inclusão produtiva são os incentivos à geração de trabalho formal e renda digna. Nos últimos doze anos, os projetos de inclusão implementados nos municípios do Brasil foram reconhecidos e catalogados pelo SEBRAE.

Esta pesquisa investiga as informações presentes no Guia Paulista, referentes ao

Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor, que realizou a sua 7ª edição em 2012 e é organizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é estimular o desenvolvimento de micro e pequenos negócios.

O Guia Paulista, uma publicação do SEBRAE, detalha os projetos realizados

pelos prefeitos dos municípios do Estado de São Paulo participantes do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor. Constitui, portanto, um excelente material para uma análise categorial. Reúne as principais ações de inclusão produtiva, que foram avaliadas pelos jurados/convidados (empresários, políticos e acadêmicos especialistas na área de desenvolvimento local). Permite identificar as principais práticas de inclusão produtiva que, segundo o SEBRAE, são as mais indicadas para serem implementadas nos municípios, a fim de fomentar os atores locais (poder público, poder privado e grupos sociais), acumulando recursos na região e proporcionando o desenvolvimento endógeno e local.

Assim, a pesquisa se restringe às práticas descritas no Guia Paulista, o que

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JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

O interesse sobre o desenvolvimento local surgiu durante os estudos sobre organizações e sociedade e amadureceu nas aulas de Economia Social, de Inovação e de Teoria das Organizações. Foi possível perceber, por meio de diversas leituras, a importância do processo de inclusão produtiva para a geração de trabalho e renda.

A pesquisa, embora limitada em alguns aspectos, procurou proporcionar uma melhor compreensão das políticas públicas destinadas à fomentação das micro e pequenas empresas, revelando as principais ações realizadas para o estímulo da microeconomia dos municípios paulistas.

Nesta pesquisa, o tipo de desenvolvimento focado é aquele que busca amenizar a carência econômica e a destituição social, principais fatores de privação dos direitos humanos. A pobreza econômica tira a liberdade de compra e venda de produtos e serviços e deixa o indivíduo sem acesso à água, à saúde, ao saneamento, à nutrição e a moradia (Sen, 2010).

Barquero (2002) explica que, para anular os efeitos do estado estacionário de uma determinada localidade e da sua população, é necessário ativar os fatores que propiciam a acumulação de capital, de conhecimento e de criação e propagação de inovações no sistema produtivo. Segundo o autor, o mau funcionamento dos atores econômicos é a principal barreira ao desenvolvimento autossustentável.

Geralmente acreditamos que as formas de organizações que nos envolvem pertencem a uma esfera superior e que as ações do Estado trarão as soluções para todos os problemas econômicos, sociais e ambientais (Dowbor, 2010).

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instituições que favoreçam a atividade econômica, articulando as decisões organizacionais e institucionais de forma positiva, mesmo que seja m contra as prescrições teóricas dos modelos econômicos atuais.

Dowbor (2010) considera a cidade como um espaço para a acumulação e afirma que todos os municípios podem e devem ser geridos de forma racional, criando novas estratégias de ação que os tornem um lugar propício para os investimentos públicos e privados. A proposta do autor é o deslocamento das ações de desenvolvimento, tornando-o regional ou local. Isso aproximaria as decisões do espaço onde o cidadão pode participar e interagir, enfrentando o desemprego e a falta de renda.

Nessa perspectiva de ação, as localidades recebem os benefícios do investimento, público e privado. Os benefícios podem variar de uma acumulação de recursos econômicos até a organização dos atores locais. Essas ações amenizam os males do esgotamento de recursos, o desemprego, o desflorestamento, a poluição e outros problemas nas áreas comuns. Entretanto, para que isso ocorra, deve-se criar uma regulamentação local, e o Estado precisa ser forte para implementar políticas alternativas de desenvolvimento. Deve-se salientar que Estado forte não quer dizer burocrático ou enrijecido, mas aquele que apoia a democracia inclusiva de forma a organizar as comunidades (Barquero, 2002).

As políticas alternativas de desenvolvimento criadas especificamente para uma localidade (para seu contexto histórico, social, cultural e econômico) deve m unir o crescimento econômico com os impactos sociais e ambientais para obterem melhores resultados, eliminando também a visão de que o cuidado com o meio ambiente é um custo adicional.

Essas novas políticas devem privilegiar a geração de emprego e o auto emprego com remuneração e condições adequadas, promovendo a inclusão produtiva de excluídos e de semi-incluídos, que sofrem em subempregos ou atuam na informalidade.

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déficit, que em 2011 foi acima de 36 milhões (ANFIP2, 2011). Fora as questões éticas que o envolvem, como salários insuficientes e condições de trabalho precárias, o setor informal só sobrevive por meio de uma competitividade espúria.

Diante desse cenário, onde o desenvolvimento só será alcançado por meio de uma nova regulamentação que vise às necessidades econômicas, sociais e ambientais, torna-se relevante analisar as principais práticas de inclusão produtiva proporcionadas pelos municípios. Essas práticas contribuem para a formação de novos empregos, a distribuição de renda equilibrada e a liberdade de troca, desenvolvendo a população de sua localidade.

OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa é examinar o desenvolvimento das políticas públicas de inclusão produtiva mais relevantes, segundo o Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor em suas 5ª, 6ª e 7ª edições.

Os objetivos específicos são:

Apresentar o contexto atual do mercado de trabalho e a importância do processo de inclusão.

Estudar o processo de desenvolvimento endógeno a partir da implementação de políticas públicas.

Examinar as atividades do SEBRAE como ferramenta de inclusão.

Analisar os municípios finalistas das três últimas edições do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedores.

A pesquisa estudou a inclusão produtiva a partir dos projetos públicos direcionados ao fomento do micro, pequeno e médio empreendedor. Teve como objeto

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de estudo o Guia Paulista, que mapeia as políticas de inclusão produtiva destacados

pelo Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor.

O processo de inclusão produtiva ganha destaque por meio de instituições internacionais, como a PNUD e a CEPAL, que mostram a importância do mercado convencional no combate a pobreza. Esta ideia foi absorvida pelo governo brasileiro, que, pelo decreto n° 7.492, instituiu o Plano Brasil Sem Miséria, em junho de 2011, com o objetivo de elevar a renda familiar per capita, ampliar o acesso da população carente aos serviços públicos e proporcionar a inclusão produtiva às pessoas em extrema pobreza.

REFERENCIAL TEÓRICO

A pesquisa iniciou-se com a seleção do material bibliográfico que aborda os fundamentos teóricos da inclusão produtiva, do desenvolvimento local e das políticas públicas, analisando sua importância, funcionalidade e aplicabilidade.

Ignacy Sachs (2003, 2004) e Ladislau Dowbor (2008a, 2008b, 2010) estão presentes ao longo de todo o trabalho, pois suas obras abordam os principais fundamentos teóricos deste estudo.

O primeiro capítulo baseia-se na obra de Amartya Sen (2010) que apresenta os principais males que assombram a sociedade contemporânea, como a pobreza extrema, a fome coletiva, a subnutrição, a carência de oportunidades, a opressão social e a insegurança econômica. O autor recupera a dimensão ética e política dos problemas econômicos em geral, apresentando a ideia de que o desenvolvimento é necessário para aumentar a abrangência das liberdades básicas. Para fundamentar a teoria, foram utilizados os dados disponibilizados pelos relatórios da Word Resources Institute (WRI,

2007) e da International Labour Office (ILO, 2011).

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endógeno, fator-chave para proporcionar o desenvolvimento local. A obra traz um aprofundamento sobre as articulações do processo de desenvolvimento local com a sociedade civil e com a esfera política. Destaca a importância das políticas econômicas, que colaboram com a fomentação dos atores locais e regionais, influenciando de forma positiva o processo de crescimento econômico local. Luiz da Silva propicia um aprofundamento da relação entre as políticas públicas e o processo de desenvolvimento. Mostra a relação do Governo com as políticas públicas, desde o processo de formulação até a sua implementação, abordando suas limitações e desafios. As pesquisas de Eugenio Lahera (2004), Pablo Costamagna (2000) e Jair do Amaral Filho (2000) exemplificam as experiências de políticas públicas desenvolvidas na América Latina.

O terceiro capítulo explora o conteúdo disponibilizado pelo SEBRAE, as principais premiações foram pesquisadas através do site e das três ultimas publicações do Guia Paulista.

No quarto capítulo, foi realizada a análise categorial, baseada nas metodologias descritas nas obras de Roland Bardin (2011), Laurence Barthes (2009) e Raymond Quivy e Van Campenhoudt (1998).

METODOLOGIA DE PESQUISA

O quarto capítulo trata exclusivamente da análise de conteúdo, mais especificamente da análise categorial (Quivy e Campenhoudt, 1998), que consistiu em calcular e comparar a frequência dos projetos de inclusão produtiva que foram previamente agrupados em categorias por suas principais características:

Melhor do que qualquer outro método de trabalho, a análise de conteúdo permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, que nem sempre são facilmente conciliáveis (Quivy & Campenhoudt. 1998, p.227).

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A análise categorial está focada nos Guia Paulista 2007-2008; 2009-2010 e

2011-2012, que apresentam os resultados da 5ª, 6ª e 7ª edições do Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor3, abordando os 45 municípios finalistas4 e identificando o total de 171 projetos.

Segundo Bardin (2011), o processo de categorização é realizado pela

classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação”, seguido

por um reagrupamento por critérios previamente definidos. Esse agrupamento é efetuado pelas características comuns entre os elementos, que assim adquiri um título genérico para a sua classificação em categorias.

O procedimento metodológico de categorização é um processo do tipo estruturalista que comporta duas etapas. A primeira é o inventário, quando se isola os elementos, e a segunda é a classificação, quando se reagrupa os elementos. Ambas impõem uma organização.

Segundo Barthes (2009), é necessário repartir as unidades em um pequeno número de classes formais que as determine sem recorrer a substância do seu conteúdo. A tabela1 mostra o processo de categorização dos projetos descritos no Guia Paulista,

que posteriormente foram reagrupados em eixos pré-estabelecido:

Tabela 1 – Exemplo do processo de categorização dos dados constantes no Guia Paulista.

Município Projeto Eixo

Jandira

Cooperativa de reciclagem, exemplo de trabalho social, que extrai do lixo recursos financeiros necessários às famílias de baixa renda, gerando melhorias amb ientais na cidade.

Emp rego Verde

Indaiatuba

As oficinas Tesoura Mirim e Bases & Brilhos, tem como objetivo preparar moças maiores de 16 anos para exercer funções de auxiliares de cabeleireiro, manicure e pedicure.

Capacitação

Capão Bonito

Cidade da Costura, Uma Vocação Sustentável, qualificou cerca de 200 famílias que estão prestando serviços para as confecções locais, a fim de evitar o êxodo rural.

Capacitação

Fonte: Guia Paulista 5ª, 6ª e 7ª edição.

3 Esta pesquisa limitou-se a análise dos projetos de inclusão produtiva dos últimos seis anos, os

exemplares do Guia Paulista consultados foram cedidas pelo SEBRA E.

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A análise do conteúdo torna-se uma aplicação sistemática de decisões pré-definidas, que consiste na operação de codificação (Bardin, 2011). Portanto, o procedimento descrito não será detalhado no corpo deste trabalho5. A elaboração da pesquisa restringiu-se à apresentação e interpretação dos dados já classificados e agrupados em eixos pré-determinados.

Os dados do processo de categorização foram comparados com outros dados disponíveis no próprio material pesquisado, com o propósito de explanar e mapear as possíveis pistas sobre os principais projetos de inclusão produtiva nos municípios de São Paulo. A tabela 2 é um exemplo dos dados adicionais que foram utilizados na pesquisa:

Tabela 2 – Exemplo dos dados adicionais a pesquisa categorial

Cidade Ano da

premiação População Área

Empresas registradas

Empregos formais

Jandira 2007-2008 203.527 18 km² 2.595 11.930 Indaiatuba 2009-2010 295.506 311 Km² 9.277 55.191 Capão Bonito 2011-2012 46.129 1.641 Km² 1.576 6.557

Fonte: Guia Paulista 5ª, 6ª e 7ª edição.

O processo de categorização possibilitou desvendar o conteúdo implícito em todo o material. Os eixos com o tema mais citados são os que possuem maior valor, importância ou aplicabilidade em seu contexto, de acordo com os avaliadores do prêmio oferecido pelo SEBRAE.

ESTRUTURA DO TRABALHO

A dissertação, além de bibliografia e dos anexos, está dividida em quatro capítulos. O primeiro mostra a importância da inclusão produtiva, por meio dos temas: pobreza, desemprego e os seus principais derivados, como o emprego precário, o mercado informal e a concorrência espúria.

5 O processo de categorização, realizado para desenvolver este trabalho, foi incluso como apêndice desta

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O segundo capítulo aborda o processo de desenvolvimento endógeno e os principais fatores de acumulação de recursos. Discorre sobre as políticas e as estratégias de desenvolvimento local e o processo de criação e implementação das políticas públicas.

O terceiro capítulo traz uma breve caracterização do SEBRAE, dando ênfase ao objeto deste estudo, o Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor, com suas regras e o comitê de avaliação.

O quarto capítulo apresenta a análise categorial das três últimas edições do Guia

Paulista, material que descreve e mapeia o Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor,

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CAPÍTULO 1: O novo contexto do trabalho

Atualmente diversas pesquisas abordam a temática do trabalho e do desemprego, buscando mapear, compreender e até prever os possíveis caminhos da atividade remunerada. Há pesquisas que defendem a evolução do trabalho convencional para um trabalho mais intelectual, ou a sua transformação em um “agradável ócio ativo”. Acredita-se que o trabalho se torne em rede ou em um processo de inteligência compartilhada, na sua diminuição e até no seu fim.

Em contrapartida, as Nações Unidas afirmam que o desemprego atual é ocasionando pelo próprio processo de crescimento econômico. Sobre o assunto, Dowbor (2010, p.3) explica:

Podemos acrescentar o conceito de downsizing, que em geral constitui uma teoria delicada que explica porque estamos na rua, a reengenharia que cumpre funções semelhantes, mostrando que estamos desempregados por uma boa razão científica de management, ou ainda o conceito de lean and mean, literalmente enxuta e malvada, que resume a visão atual da empresa eficiente, e gera boa parte da angústia que o ser humano por acaso empregado hoje sente.

Para o autor, as novas tecnologias proporcionam uma otimização na realização das tarefas, gerando uma escala de produção maior, com menos esforço. Esta solução, entretanto, se tornou um problema, pois a ausência de mudanças institucionais, correspondentes à substituição do homem pela máquina, acaba por utilizar os benefícios tecnológicos para uma minoria, gerando a exclusão da maioria.

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Dowbor considera que as perspectivas sobre o problema do desemprego foram reduzidas à simplificações radicais. Entre elas, sobressaem duas. A primeira é a ideia de que o processo que vivemos é uma simples transição, em que o emprego não é perdido de fato, mas apenas transformado, enquanto a segunda refere-se à crença de que a tecnologia vai suprimir o emprego e excluir os trabalhadores.

Em relação a primeira simplificação sobre o desemprego, torna-se necessário compreender que vivemos um processo de transição constante, partindo de um cenário (A) a outro (B), sendo que alguns movimentos acarretaram “tragédias” planetárias, causando corridas irracionais atrás de matérias-primas, a migração em massa dos europeus para a América, a expulsão das população dos campos, a banalização do trabalho infantil, o abuso de autoridade por parte dos empregadores e a utilização da força em respostas às greves que se espalharam. Reed (1994) e Nogueira (2007) apresentam, em suas pesquisas, este longo processo de transição, que levou quase um século para tornar a atividade remunerada mais humanizada.

A segunda grande percepção do problema espalha a crença da morte do emprego, propagando a ideia de uma eminente catástrofe e ressaltando os inúmeros esforços que falharam ao tentar transformar o modelo de trabalho. Porém, esta percepção é falha por não considerar que a realidade é dinâmica e complexa e que, apesar da redução da oferta de emprego, parte dele é substituída, sofrendo apenas um deslocamento, dependendo do setor, da região e do nível de formação do indivíduo, entre outras variáveis.

Dowbor (2010) afirma que o conceito de desemprego evolui e que devemos acrescentar outras medidas para mensurá-lo, incluindo o desemprego por desalento, o trabalho temporário, outras formas de vinculação e até mesmo a perda do interesse e motivação devido aos baixos níveis de remuneração.

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1.1. Pobreza, desemprego e informalidade

Para compreendermos a importância social da atividade remunerada denominada trabalho, precisamos abordar os principais efeitos de sua inexistência ou da escassez de sua oferta na economia global atual. Assim, para falarmos sobre inclusão, é preciso primeiramente mapear a exclusão produtiva, apresentando o cenário global deste processo de desvalorização e descapitalização da população.

Atualmente a “base da pirâmide social” é formada por mais de 4 bilhões de

pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, linha que é medida pela renda per capita do cidadão. A renda diária dos menos favorecidos da cidade de Gana é de $1,89, da China são de $2,11 e a do Brasil, divulgada em 2011 pela até então Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, é igual ou inferior à 70 reais por mês, uma média de 2,30 reais por dia (WRI6, 2007).

A pobreza econômica impacta diretamente na liberdade de troca e de realização de novas transações, parte essencial das liberdades básicas, previstas pelos direitos humanos. Sen (2010) apresenta os efeitos colaterais da pobreza:

Às vezes a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a pobreza econômica, que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome, de obter uma nutrição satisfatória ou de remédios para doenças tratáveis, a oportunidade de vestir-se ou morar de modo apropriado, de ter acesso a água tratada ou saneamento básico. (SEN, 2010, p.17)

Para o autor, o conceito de pobreza deve ser interpretado como a privação das capacidades básicas. Ele deixa de lado a tradicional interpretação simplificada baseada no baixo nível de renda, já que a perda de renda ocasionada pelo desemprego pode ser compensada, até um determinado ponto, por auxílios de renda, como o seguro desemprego e outros benefícios, se tornaram comuns em diversos países, incluindo o Brasil.

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O desemprego acarreta graves efeitos na vida do cidadão, trazendo outras privações além da financeira. O desemprego, segundo o autor, pode causar um dano psicológico, a perda da motivação, de habilidades e da autoconfiança, o aumento de doenças e morbidez, impactando até nas taxas de mortalidade. O desemprego gera perturbação nas relações familiares e na vida social, acentuando as tensões raciais e as assimetrias entre os sexos e intensificando a exclusão social e o mercado informal (Sen, 2010).

Portes et al. (1989, p.29) apresentam as diversas causas que levaram ao desenvolvimento da economia informal, Entre elas, estão as revoluções tecnológicas, as crises econômicas e o desemprego em massa: “millions of people have beem subjected

to harsh living condition that have made them accept whatever ways out of their misery

they could find”.

Durante as crises financeiras, milhares de pessoas perdem os seus empregos, ficando às margens das organizações e, para subsistir, optam por entrar na economia informal. Quando as crises terminam, muitas destas pessoas já não se adéquam mais ao mercado formal, persistindo na informalidade.

As Nações Unidas afirmam que o impacto causado pela crise de 2008 deverá persistir. Apesar de uma recuperação nos mercados de trabalho no mundo inteiro, os enormes custos humanos da recessão continuam a se fazer sentir (UNRIC7, 2011).

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o número de empregos tem aumentado após a crise de 2008 em diversos países, porém a média de trabalhadores desempregados em idade ativa continua a subir, o que demonstra a ineficiência dos mercados em gerar novos postos de trabalho para suprir a demanda em relação ao crescimento da população. Uma análise da vertente emprego-população feita pela OIT mostra esta defasagem, “the estimated employment-to-population ratio in

2010 is little changed versus 2007” (ILO8, 2011. p.12).

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A recuperação da economia global em 2010, após dois anos de instabilidades financeiras, é de certa forma ilusória, já que os números do desemprego mundial permaneceram elevados. O número de desempregados chegou a 205 milhões em 2010, valor idêntico ao do ano de 2009 e 27,6 milhões acima do de 2007 (ILO, 2011).

Em contrapartida, a América Latina e Caribe (LAC) apresentaram boas taxas de crescimento: Argentina, Brasil, Colômbia e México possuem taxas com intervalos entre 4,5 a 7,5 por cento. Este crescimento econômico a níveis pré-crise está baseado na agroeconomia, além dos programas sociais em curso antes do início da crise, o que auxiliou na redução do impacto nos grupos vulneráveis. Mas, mesmo os bons resultados alcançados na América Latina não garantem um emprego de qualidade, já que muitos trabalhadores não possuem uma renda significativa (ILO, 2011). Em pleno fomento do processo de globalização, Paul Singer já comentava que:

Os novos postos de trabalho, que estão surgindo em função das transformações das tecnologias e da divisão internacional do trabalho, em sua maioria não oferecem ao seu eventual ocupante as compensações usuais que as leis e contratos coletivos vinham garantindo. (SINGER, 1996, p.8)

O autor mostra que “a ocupação por conta própria” é uma das formas desse processo de precarização do trabalho, pois as grandes empresas, que antes mantinham

grandes departamentos “secundários”, como informática, contabilidade e outros,

atualmente desmancham tais departamentos e contratam os mesmos serviços de uma terceira organização, muitas desenvolvidas pelos próprios ex-funcionários. Assim, o antigo empregador ganha novas liberdades, deixando de ter diversas responsabilidades, como imposto, décimo terceiro e férias, enquanto os ex-funcionários perdem a sua estabilidade e segurança garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), já que o antigo empregador e atual contratante, pode contratar ou não os seus serviços.

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A precarização da atividade remunerada promove a restrição de uma massa crescente de trabalhadores ao gozo de seus direitos legais, deixa os jovens desempregados a mercê de postos de trabalhos com baixa remuneração e até mesmo insalubres, o que agrava ainda mais a situação. Para Singer (1996), este processo de transformação dos postos de trabalho em relação aos trabalhadores cria uma nova situação, que ele denomina de “a nova pobreza“:

A “nova pobreza” difere da antiga fundamentalmente por sua origem. Trata -se de pessoas que pertenciam à ampla clas-se média, que -se criara em função das conquistas dos anos dourados, e que perderam seus empregos para robôs ou para trabalhadores de países periféricos. E que não foram capazes de se reciclar p rofissionalmente e de se deslocar para as cidades em que os novos postos de trabalho estavam surgindo. (SINGER, 1996. p.11)

1.2. As complexidades da economia real

A dicotomia entre trabalho formal e informal não representa a complexidade da economia real, nem oferece os recursos para medi-la de forma adequada. Em 1997, o IBGE estimou que a participação do mercado informal era de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. No final de 2011, o Índice de Economia Subterrânea (IES), que mede o conjunto de atividades de bens e serviços que não são reportados ao governo, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), informa que a participação do mercado informal atingiu a marca de 16,8% do PIB nacional, estimando um valor total de R$695,7 bilhões (ETCO, 2012).

Sachs (2003) afirma que a economia informal escapa aos critérios estatísticos, considerando que as diversas pesquisas não incluem uma parcela importante de trabalhadores, como vendedores ambulantes, sacoleiras, revendedores, vigilantes e outros trabalhadores. Ressalta também que os diferentes organismos públicos possuem definições distintas sobre o que é o mercado informal:

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Os estudos comparativos entre países são inviáveis devido às múltiplas interpretações existentes: muitos países não distinguem as pequenas empresas das microempresas, sem mencionar as subclassificações, como a França, onde o “artesão” é classificado como profissão, enquanto no Brasil é considerado microempreendedor.

Alguns países caracterizam os micro e pequenos empreendedores (MPE) pelo número de empregados, outras nações os caracterizam pelo patrimônio investido. Há países que possuem múltiplas divisões, como o Brasil, onde a microempresa, pela lei 9.841/99, é caracterizada pela pessoa jurídica com receita bruta anual de R$244 mil, sem possuir sócios no exterior ou outra pessoa jurídica com mais de 10% do capital. Já no SIMPLES Nacional, um regimento tributário diferenciado, previsto pela lei 9.317/96, a microempresa deve ter uma receita bruta anual inferior ou igual a R$120 mil e as empresas de pequeno porte devem ter uma receita entre R$ 120 mil e R$1,2 milhão. Também há o Micro Empreendedor Individual (MEI), através da Lei Complementar n°128, de 19/12/2008, que se caracteriza pelo faturamento máximo de até R$ 60 mil por ano, por não ter participação em outra empresa como sócio e não possuir um emprego formal.

Para superar esta multiplicidade de critérios e compreender melhor o funcionamento da economia real, Sachs (2003) deixa de lado a dicotomia entre o trabalho formal e informal e distingue quatro modelos diferentes de produção que convivem e se relacionam, ou seja, a economia doméstica, a proto e pré-capitalista, o modelo capitalista e a economia solidária.

A economia doméstica fica exclusivamente fora do mercado e, apesar da grande dificuldade em medir a sua extensão, é possível medir o tempo de trabalho que as famílias nela investem, a começar pelas donas-de-casa. Sachs (2003) ressalta a falta de pesquisas empíricas realizadas no Brasil e afirma que, nos países do Norte, estima-se que 50% do tempo de trabalho esteja voltado à economia doméstica. Ele acredita que este valor deva ser maior no Brasil, visto os numerosos minifúndios que produzem unicamente para a subsistência. Segundo a PNAD9, mais de 7 milhões de pessoas se dedicavam ao trabalho doméstico, os trabalhadores não remunerados eram em torno dos

9

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4,2 milhões, os trabalhadores de produção para o próprio consumo chegaram a 3,8 milhões, enquanto na construção para o próprio uso ficou em torno de 920 mil trabalhadores (IBGE, 2010).

Deve-se incluir ainda, no segmento da economia que se estabelece fora do mercado convencional, a prática do escambo, presente em várias pesquisas sobre a economia rural do Nordeste, e os serviços públicos gratuitos, distintos da produção mercantil das empresas estatais. A autoconstrução de moradias, constitui um exemplo de investimento não-monetário, o que também acontece com a agricultura familiar. São práticas e valores que não são estimados no PIB (Sachs, 2003).

O segundo modelo de produção mencionado é o proto e pré-capitalista, mas a sua denominação mais popularizada, segundo o autor, é “economia informal”, a qual “se caracteriza por relações de produção que não podem ser assimiladas à economia capitalista de mercado” (Sachs, 2003, p.74). A atividade deste segmento não se

organiza em forma de empresa e fica em uma linha tênue entre a economia doméstica e a economia voltada para o mercado. Caracteriza-se também pelo baixo nível da escala de produção, da tecnicidade e da qualidade. O autor apresenta as duas vertentes da economia proto e pré-capitalista: a primeira representada pela economia popular e a segunda são os bens e serviços voltados ao mercado capitalista.

A economia capitalista de mercado envolve os setores das micro e pequenas empresas e os das médias e grandes empresas, todas elas formais, além das estatais. Dowbor (2010) diz que este sistema, apesar de comum, não distribui adequadamente a renda, e Sachs (2003) explica que este é o segmento mais dinâmico, mas também é o que oferece menos emprego.

Por fim, o segmento econômico que emerge entre os demais é o da economia solidária, que não segue os princípios da economia capitalista tradicional, mas cria uma mistura de “socialismo utópico embutido na economia capitalista” (Sachs, 2003, p.75).

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econômico, contribuindo na busca por um “capitalismo reformado”, que seja mais

responsável em termos sociais e ambientais.

É necessário ressaltar que, no quadro elaborado por Sachs (2003), a agricultura familiar participa dos quatro modos de produção aqui descritos, como é apresentado na figura 01:

Figura 1 – A economia real: os modos de produção10

Fonte: Adaptação Sachs (2003, p.75)

A análise das diferentes articulações e dos diversos fluxos de produção deve partir desta imagem da economia real: como exemplo, temos as revendedoras de cosméticos e as sacoleiras, que propiciam uma articulação entre as empresas capitalistas e os agentes da economia popular. Esta articulação se estabelece através de uma rede informal de distribuição:

Os grandes produtores de cigarros têm exportado seus produtos de maneira perfeitamente legal para os países limítrofes, sabendo que eles reingressariam no Brasil por contrabando, para serem vendidos pela metade do preço. (Sachs, 2003, p.76)

Boa parte do comércio informal oferece produtos contrabandeados ou falsificados. Além disso, gera subempregos em países subdesenvolvidos, como ocorre com os países asiáticos, que se tornaram os principais fabricantes de produtos baratos, já que possuem um baixo custo com a mão de obra. A feira do Paraguai, em Brasília, e a

10 Nota: a Figura 01 tem u m caráter meramente conceitual. Não leva em consideração o tamanho dos

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Rua 25 de Março, em São Paulo, são exemplos da presença do contrabando no consumo cotidiano.

O caso inverso, ou seja, a venda de produtos da economia informal (como o artesanato) e de produtos da agricultura familiar (como os produtos orgânicos) para as grandes redes de distribuição é mais rara. O tema merece estudos mais aprofundados, que discorram sobre a relação da economia proto e pré-capitalista com o mercado capitalista convencional, dando ênfase aos trabalhadores por conta própria e às microempresas informais.

1.3. Saída da informalidade

O desemprego constitui um desafio diante do qual o Brasil não se encontra só, pelo contrário, diversos países estão lutando contra a epidemia do "crescimento sem emprego" (jobless growth), caracterizado pelo crescimento econômico mesmo com a

redução drástica da oferta de emprego, como tem ocorrido com os Estados Unidos, onde as oportunidades de atividades remunerada não suprem a demanda de trabalhadores de forma satisfatória.

O processo de crescimento sem emprego resulta de uma combinação de variáveis complexas, qual seja: a introdução agressiva do processo técnico com o objetivo de reduzir o trabalho nas indústrias, a renúncia da política de bons salários em busca de lucros financeiros, tendo como efeito colateral a redução do ritmo de crescimento da demanda efetiva, e o deslocamento da produção local, provedora de empregos, para plataformas de exportação de países periféricos cuja competitividade é espúria por estar galgada em baixos salários, longas jornadas de trabalho e ausência de proteção social. Sachs explica que:

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O autor acredita ser possível desenhar estratégias de desenvolvimento que garantam a todos a inclusão social por meio do trabalho decente. O Brasil possui grandes diferenças sociais, o que gera necessidade de políticas sociais compensatórias, além dos serviços sociais de base, como educação, saúde, saneamento e moradia, para atingir inclusao social. Sachs (2004) afirma que o emprego e o auto-emprego decentes são, de fato, a melhor maneira de suprir as necessidades sociais, por duas razões:

1) A inserção do cidadão no sistema produtivo proporciona uma solução definitiva, superando as medidas assistenciais que necessitam de financiamento público constante.

2) O ato de executar um trabalhado decente promove a auto-estima, dando a oportunidade de auto-realização e avanço na escala social.

Embora o trabalho com qualidade se apresente como a melhor forma de inclusão social, surge a questão da saída gradual dos microempreendimentos da informalidade. Além das diversas razões pelas quais a informalidade deve acabar, existe a razão ética, já que o mercado informal impõe aos trabalhadores baixos salários, longas jornadas e condições precárias de trabalho. É inaceitável que milhares de microempreendimentos informais sobrevivam mediante uma competitividade espúria.

Segundo Sachs (2003), para que o processo de saída da informalidade se desenrole, é necessário um conjunto de medidas que devem ser elaboradas e implementadas pelos poderes públicos. São elas que podem preencher as sete condições que o autor considera necessárias para que a informalidade deixe de existir:

1. Desenvolver, aprimorar e expandir ferramentas que possuam o objetivo de agilizar a abertura de novas empresas, como, por exemplo, o Sistema Fácil. Tambem é importante criar um resgistro dos trabalhadores autônomos.

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3. Atrair e incorporar ao sistema previdenciário o grande contigente de excluídos por meio da criação de um Simples previdenciário, direcionado aos trabalhadores autônomos.

4. Facilitar e fomentar o acesso das MPEs e dos MEIs ao crédito e ao microcrédito, por meio de organizações especializadas, que utilizem as aglomerações de empresas para a redução de custos e de riscos nas transações através de grupos solidarios.

5. Criar novas organizações creditícias, como as cooperativas de créditos, as organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) e os bancos de arranjos produtivos (BAP), visto a falta de habilidade do sistema financeiro tradicional em oferecer o produto do microcrédito produtivo orientado.

6. Facilitar o acesso aos mercados, dando preferência para as MPEs e as MEIs, criando sinergias, promovendo exportações e incentivando os arranjos produtivos e sua comercializaçao no exterior.

7. Criar centros tecnológicos para a difusão do conhecimento e da tecnologia, facilitando o acesso das MPEs às novas tecnologiais disponíveis no mercado, estimulando a criação e inovação.

As atividades ressaltadas pelo autor promovem a inclusão dos microempreendimentos no sistema formal de comercialização. No entanto, estas medidas são realizadas através das politicas públicas, que se caracterizam por atividades complexas desde sua elaboração até a sua implementação, e que partem do modelo de desenvolvimento que cada município almeja. Torna-se, portanto, essencial que nos aprofundemos nas questões municipais, buscando compreender sua dinâmica e seus processos de desenvolvimento e implementação de políticas públicas

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Síntese – Capítulo 1

Neste capítulo, abordamos o processo de desemprego atual, causado pelo próprio crescimento econômico, que utiliza conceitos como downsizing para aperfeiçoar

a gestão financeira corporativa. Isso ocasiona um deslocamento “inverso e simétrico” do

processo administrativo, que o torna mais caro que o próprio produto. Segundo Dowbor (2010), o desemprego evoluiu e, para mensurá-lo, devemos incluir nele o emprego por desalento, o trabalho temporário e outras formas de vinculação.

Verificamos que o desemprego gera pobreza econômica, impactando nas liberdades de troca, parte essencial das liberdades básicas, previstas pelos direitos humanos, além de causar males psicológicos, como a perda da motivação e da autoconfiança, o aumento de doenças e de morbidez, que podem impactar até as taxas de mortalidade. Vimos, portanto, que o desemprego intensifica a exclusão social e a entrada no mercado informal.

De acordo com a OIT, o número de empregos tem aumentado após a última crise econômica, mas a média de trabalhadores desempregados, em idade ativa, continua a subir, revelando a ineficiência dos mercados em gerar novos postos de trabalho para suprir a demanda em relação ao crescimento da população. Mesmo os países da LAC, que apresentaram boas taxas de crescimento econômico em níveis de pré-crise, não garantem um emprego de qualidade, já que muitos trabalhadores não possuem uma renda significativa.

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CAPÍTULO 2: Processo do desenvolvimento endógeno.

“O processo de globalização traduz-se por um aumento da concorrência nos mercados, o que implica a continuidade dos ajustes do sistema produtivo de países, regiões e cidades mergulhadas na globalização. Dado que as empresas não competem de forma isolada, fazendo-o juntamente co m o entorno produtivo e institucional de que fazem parte, esse processo estimula a formação de u ma nova organização do sistema de cidades e regiões, de acordo com a nova divisão internacional.” (Barquero, 2002. P.13)

A globalização, com seus diversos aspectos e suas controvérsias, influi no aumento da concorrência, gerando novas necessidades e novas demandas de serviços para que as empresas locais se ajustem às exigências do mercado internacional.

Para Barquero (2002), as transformações econômicas, organizacionais, políticas e institucionais contribuem para uma nova dinâmica entre a economia e a sociedade. O desenvolvimento econômico passa a considerar as opiniões de todos os atores envolvidos – poder público, poder privado e grupos sociais – para identificar as possibilidades de desenvolvimento local com características endógenas.

O autor considera o desenvolvimento endógeno como um modelo de desenvolvimento econômico eficaz. Segundo este conceito, as localidades deixam de depender do auxílio externo e passam a criar soluções internas para as dificuldades regionais. Assim, a sociedade local influencia o planejamento estratégico, que utiliza e prioriza o potencial local, trazendo progresso aos empreendimentos e ao mercado regional, por meio do fomento e do acúmulo de recursos econômicos.

Para anular o estado inerte de algumas localidades, é necessário impulsionar os fatores que propiciam a acumulação de capital. Barquero (2002) considera que o processo de acumulação ocorre através da difusão das inovações e do conhecimento, da organização flexível da produção, do desenvolvimento urbano do território e da flexibilidade e complexidade institucional.

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produtivo. Essas ações proporcionam novas estratégias, tecnologias e conhecimentos para as empresas manterem ou melhorarem os resultados de suas atividades.

Schumpeter (1934) afirma que as inovações resumem-se à produção de novos bens, ao desenvolvimento de novos métodos de produção, à criação de novos modelos de organização e à abertura de novos mercados. Porém, a teoria do desenvolvimento endógeno aprecia tanto as inovações radicais, descritas por Schumpeter, quanto às inovações incrementais, caracterizadas como as pequenas inovações na engenharia e produção dos produtos, nos métodos e nas organizações que permitem às empresas e ao sistema produtivo alcançarem seus objetivos, oferecendo uma resposta mais eficaz aos desafios imposto pela alta concorrência nos mercados.

Sobre a organização flexível da produção, o autor mostra que a organização dos sistemas produtivos é um fator essencial para a acumulação de capital, tanto que este processo teve destaque na Alemanha e nas “economias de desenvolvimento tardio”, realizadas na Itália e Espanha durante as últimas décadas. Barquero (2002) ressalta que o sistema produtivo de uma determinada localidade não precisa ser formado por grandes ou pequenas empresas, o mais importante é a organização entre o sistema produtivo local e as organizações do entorno, ou seja, as relações entre as empresas, os provedores e os clientes é que propiciarão a produtividade e a competitividade das economias locais.

A dinâmica econômica que vem se desenvolvendo nas últimas décadas pode ser caracterizada pela criação de redes explícitas entre as empresas, como por exemplo, os sistemas produtivos locais que criam acordos e alianças estratégicas entre as organizações. Estas alianças são realizadas em projetos específicos, podendo envolver produtos e processos que fortaleçam a competitividade dessas empresas, expandindo os seus resultados, ampliando a renda da economia local e propiciando uma posição mais vantajosa diante da alta competitividade externa.

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uma organização, onde os atores internos interagem trocando bens, serviços e conhecimentos.

Dowbor (2008a) compara as cidades com as empresas tradicionais. Ambas visam à acumulação dos recursos através de um conjunto de técnicas, que garantam que esses recursos sejam plenamente utilizados, formando uma estrutura coerente com as atividades dos diversos atores e promovendo uma gestão racional da localidade. Assim, podemos dizer que as cidades se criam e desenvolvem novos espaços de produção, por suas potencialidades e capacidade de gerar externalidades. Portanto, elas respondem estrategicamente às ameaças da globalização e do crescimento da concorrência externa a partir de iniciativas locais, que estimulam o crescimento e o desenvolvimento regional.

Sobre a flexibilidade e complexidade institucional, Barqueiro (2002) considera que elas são promovidas pelos atores econômicos e sociais que possuem a sua própria forma, cultura e mecanismos de organização. Cada cidade estimula o surgimento de arranjos específicos de organizações que favorecem ou não as atividades econômicas locais. Os atores econômicos tomam suas decisões neste meio organizacional, mesmo que às vezes não sigam um modelo teórico especifico. O desenvolvimento econômico local resulta em um fortalecimento dos territórios que passam a contar com um sistema institucional evoluído e complexo. Esta nova postura institucional se sustenta na relevância estratégica dos processos de desenvolvimento e em seu fortalecimento, pois permite reduzir os custos de transação e produção. Também dá maior confiança entre os atores econômicos, estimula a capacidade das organizações, cria redes de cooperação entre as instituições e incentiva os mecanismos de aprendizado e troca de informações.

Dowbor (2008a) considera as prefeituras como uma unidade gestora da cidade e de todo o seu contorno rural, apresentado como um “espaço de processos

coerentemente articulados e integrados”. Abramovay e Sachs (1995) afirmam que o

peso demográfico do meio rural não é necessariamente uma desvantagem (handicap) a

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A cidade representa o local onde o desenvolvimento, ou a falta dele, se manifesta e é neste plano que se deve criar soluções para os conflitos, negociando compromissos e construindo, na medida do possível, sinergias (Sachs, 2003).

Segundo Dowbor (2008a), as cidades devem ser consideradas como um bloco básico de construção, o deslocamento das iniciativas de desenvolvimento para o nível local, aproximando as decisões dos cidadãos comuns, oferece-lhes a oportunidade de participar e de expor suas vontades e opiniões.

2.1. Fatores de acumulação

“Desde o início dos anos 80, ocorreu uma profunda alteração na política econômica, mo mento em que os atores locais e regionais passaram a empreender ações objetivando influências os processos de crescimento das economias locais. Surgiu, assim, a política de desenvolvimento local, co mo resposta das comunidades aos desafios colocados pelo fechamento de empresas, pela desindustrialização e pelo aumento do desemprego” (Barquero, 2002. p. 25).

Barquero (2002) comenta que as regiões precisaram reestruturar seus sistemas produtivos, com o objetivo de enfrentar a forte concorrência e as constantes transformações do mercado. A política de desenvolvimento econômico local surge como uma solução satisfatória diante da passividade das administrações centrais.

As principais características da política de desenvolvimento local estão relacionadas à fomentação dos fatores determinantes do processo de acumulação de capital. Um dos principais eixos da política de desenvolvimento local é a difusão das inovações e do conhecimento, como foi observado por diversos autores e instituições (Barquero, 2002). Como exemplo, temos a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que incentiva, realiza e publica diversas pesquisas sobre as políticas de desenvolvimento por meio do projeto “Desenvolvimento Local e

Descentralização na América Latina”.

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propósito de realizar pesquisas de desenvolvimento de novos produtos e que oferece assistência técnica às empresas locais e apoio à formação dos trabalhadores. Amaral Filho (2000) apresenta os avanços econômicos do Ceará nas últimas décadas do século XX, que alcançam uma taxa acumulada de variação do seu produto interno bruto acima dos produtos regional e nacional em uma época hostil, com instabilidade econômica e com altas taxas de juros e de inflação.

Em relação à política de desenvolvimento da Europa ao longo das últimas décadas, a política realizada na América Latina mostra fortes diferenças. Especialmente nas políticas de desenvolvimento local, que envolvem outros modelos de estratégias de desenvolvimento, além de novos mecanismos de funcionamento e de gestão das próprias políticas. A política regional tradicional baseia-se em um modelo de crescimento concentrado, favorecendo a distribuição de trabalho e renda por todo o território mediante os incentivos e investimentos na infraestrutura. Mas, segundo Barquero (2002), esta política tradicional possui um total de zero em sua soma, já que uma região obtém recursos a custa das demais. Por esta razão, o autor defende a política de desenvolvimento que supera os desequilíbrios por meio do fomento territorial, tornando-se um jogo de soma positiva, capaz de tirar proveito do potencial interno para gerar o desenvolvimento local.

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Figura 2 – O efeito H

Fonte: Barquero (2002)

Para tornar possível organizar e institucionalizar a elaboração e a implementação das estratégias territoriais, Sachs (2003. p. 146) sugere que o processo se inicie pela comunicação entre as representações dos grupos existentes no local, transcendendo à

mera listagem de reivindicações a serem atendidas por instâncias governamentais de nível superior, estaduais ou federais”. As soluções só serão duradouras caso se

identifique as potencialidades regionais, tornando-as fatores determinantes e participantes do processo de desenvolvimento e ultrapassando a cultura do

“clientelismo”.

2.2. Estratégias de desenvolvimento local

A transformação que vem ocorrendo ao longo das últimas décadas é fruto da mudança da política de desenvolvimento regional. As políticas denominadas de “cima

para baixo”, desenvolvidas exclusivamente pela administração central do Estado, vêm

perdendo força. A abordagem denominada “debaixo para cima” ganha importância e espaço dentro das políticas desenvolvidas e administradas pelos governos locais e regionais brasileiros, assegurando o desenvolvimento econômico.

Para exemplificar as políticas que vem de “cima para baixo”, Bede (2008. p.38)

Imagem

Tabela 1  –  Exemplo do processo de categorização dos dados constantes no Guia Paulista.
Tabela 2  –  Exemplo dos dados adicionais a pesquisa categorial
Figura 2 – O efeito H
Figura 3  –  Estratégias para o aumento da produtividade e competitividade.
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Referências

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