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Desde o advento do governo provisório de Getúlio Vargas, o projeto do controle cultural e político e sua implantação, estava sendo gestado nos bastidores com o fim de adaptar o homem a essa nova ordem, já constava nos textos de leis/decretos anteriores ao Estado Novo, como o decreto n. 20.073, de 25 de maio de 1931, que criou o Departamento Oficial de Publicidade para dar mais visibilidade e amplitude aos negócios políticos. O decreto que regulamenta a Imprensa Nacional, também data de dezembro de 1931. Em 1934, Getúlio cria o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (Coleção de Leis da República dos Estados Unidos do Brasil, p.307), sendo substituído pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (o famoso DIP),6 em l939, tendo se transformado no mais importante instrumento de controle e difusão gestado pela ditadura varguista. Modelo nazista comandado por Lourival Fontes, além de doutrinar, tinha o papel de controlar as manifestações do pensamento do país. (SIQUEIRA, 2012).

Alegando conservar para a posteridade a voz dos grandes cidadãos da pátria, os cantos regionais, as interpretações das obras de nossos compositores e todo tipo de manifestação com fins patrióticos, o DIP tinha uma discoteca, que tinha como fim, registrar em discos fonográficos essas manifestações culturais e as gravadoras de discos também eram obrigadas a fornecer uma cópia à discoteca do DIP, de todas suas gravações.

6 O DIP era subordinado diretamente ao Presidente da República e tinha como objetivo, divulgar a imagem do Estado Novo. Era na imprensa onde exercia seu principal poder e eficiência. Enquanto de um lado exercia a censura, do outro fazia forte propaganda do regime, policiando os serviços concernentes à imprensa, radiodifusão, diversões públicas, propaganda, publicidade e turismo. Havia censores em cada redação de jornal e todos não podiam ir para gráfica sem o “visto” do fiscal do governo. E a contragosto todos serviam à ditadura. Nada podia ser veiculado sem o visto e autorização do DIP. Tudo tinha uma censura prévia: filmes, discos e apresentações de grupos, cordões, ranchos e estandartes carnavalescos.

Todas as formas de expressões culturais e artísticas, como o cinema, a música, o teatro, estavam subordinado ao poder público, que mantinha esse controle com o intuito de moldar essas manifestações a seu projeto de cultura nacional, quer censurando, quer trazendo para si, os agentes culturais que tivessem um projeto que se alinhasse as suas ideias políticas. Notamos que os meios de comunicação foram utilizados, através de leis como porta-voz da propaganda oficial, nesse projeto de nacionalização da cultura.

O rádio também serviu de importante instrumento para transmissão da ideologia do Estado. Já destacamos antes que a radiodifusão foi implantada no Brasil com um viés voltado para fins educacionais e culturais e que em 1930, aderiu ao modelo comercial nos moldes dos Estados Unidos. Em 1936 havia 12 emissoras no Rio de Janeiro, 8 em São Paulo e somando-as ao resto do Brasil, havia 36 emissoras. Naquele ano, entraria no ar, a emissora com os recursos técnicos e artísticos dos mais modernos do Brasil, sendo o grande divisor para a mudança e um salto de qualidade na radiodifusão do país, chegando a ser uma das mais potentes emissoras do mundo. Era a Rádio Nacional. Logo, o poder de penetração das ondas do rádio foi percebido pelos feitores do poder como algo que promoveria, facilitaria a integração nacional. Sendo assim, a expansão do acesso e recepção do rádio, ampliaria o poder do Estado e a influência do rádio, principalmente entre as camadas mais pobres, o povo comum. Getúlio Vargas foi o primeiro governo da América Latina a usar o poder de penetração do rádio, como meio de difusão e propaganda institucional, no modelo nazi-fascismo.

Definido o papel do rádio no projeto do governo do Estado Novo, a real efetivação se dá através de Decreto-Lei de 1940, quando o governo cria as Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. A Rádio Nacional, a maior emissora do país e o Jornal A Noite, do mesmo grupo, e de maior circulação no Rio de Janeiro foram transferidos para o controle do Governo. Os novos dirigentes, um coronel e um promotor receberam todos os poderes para implantar nova estrutura na Rádio Nacional. Novos diretores, maestros foram contratados e novos valores da canção foram selecionados buscando a eficiência, aliados à isenção do protecionismo.

Os planos eram ambiciosos e não foram poupados custos com o intuito de aliar prestígio e influência na publicidade. Foi criada a Orquestra Brasileira sob a regência de Radamés Gnatalli, para que a música brasileira tivesse o mesmo tratamento que a música estrangeira. Uma orquestra federal, nacionalizada, que incluía no seu naipe de instrumentos tradicionais, o cavaquinho e o violão, assim como sambistas negros na

cozinha rítmica de percussão. Propositalmente isso daria o molho brasileiro e uma ideia de integração do negro, da mestiçagem. (SIQUEIRA, 2012).

Dentro desse projeto da nova Rádio Nacional, o radialista Almirante desempenhou o papel essencial para a consolidação da audiência da emissora, produzindo e apresentando alguns dos mais importantes programas do rádio brasileiro. O folclore e a música popular eram os temas principais como uma forma de afirmação da identidade nacional. Entre os mais famosos, citamos: A Canção Antiga (1941), A história do Rio pela música, Tribunal de Melodias (1942) e O Campeonato de Calouros (1944). Almirante imprimiu uma característica verde-amarela, aliada a um profundo conhecimento da história musical do país. Seus programas foram sucesso absoluto de audiência. Entre os produtores da Rádio Nacional, era o que recebia o maior número de correspondência. Não é sabido que Almirante fosse ou não aliado ou simpatizante do Governo Getúlio, mas não se pode negar que seu trabalho foi de fundamental importância para a ideia de nacionalidade, através da propagação da cultura popular no rádio. Ele, assim como outros, visualizavam no projeto varguista, uma forma de promover a nacionalização da cultura que eles ambicionavam como cidadãos, mesmo que esse projeto servisse a fins políticos.