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Capítulo II – A Concorrência

3. Apreciação e interpretação da legislação de defesa da concorrência

3.5. A proibição prevista no art 101º do TFUE (art 9º da LdC)

3.5.5. Sanções legais

3.5.5.1. Nulidade dos acordos restritivos da concorrência

Os acordos que sejam considerados restritivos por via do nº1 do artigo 101º do TFUE/art. 9º da LdC e por conseguinte proibidos, são consequentemente sancionados com a nulidade, quando praticados. Esta nulidade encontra-se prevista quer no nº2 do art.101º como no nº2 do art.9º. Ou seja, com exceção dos casos em que tais acordos são considerados justificados, nos termos do nº3 do art. 101º do TFUE e do art. 10º da LdC, são nulos os acordos entre empresas proibidos pela Lei de Defesa da Concorrência.

Prevê-se aqui, desde logo, uma consequência de natureza civil, que terá de ser analisada consoante a prática em causa afete o comércio entre os EM, ou tenha efeitos meramente a nível nacional. Nos primeiros casos, a noção de nulidade tem de ser construída

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Além das sanções ora analisadas e respetivas disposições legais, importa ainda ter em linha de conta o art. 29º da LdC, que refere o mecanismo de conclusão da instrução e os vários desfechos possíveis.

Para o efeito, dispõe o seguinte o art. 29º da LdC:

―1 - A instrução deve ser concluída, sempre que possível, no prazo máximo de 12 meses a contar da notificação da nota de ilicitude.

2 - Sempre que se verificar não ser possível o cumprimento do prazo referido no número anterior, o conselho da Autoridade da Concorrência dá conhecimento ao visado pelo processo dessa circunstância e do período necessário para a conclusão da instrução.

3 - Concluída a instrução, a Autoridade da Concorrência adota, com base no relatório do serviço instrutor, uma decisão final, na qual pode:

a) Declarar a existência de uma prática restritiva da concorrência e, sendo caso disso, considerá-la justificada, nos termos e condições previstos no artigo 10.º;

b) Proferir condenação em procedimento de transação, nos termos do artigo 27.º;

c) Ordenar o arquivamento do processo mediante imposição de condições, nos termos do artigo anterior; d) Ordenar o arquivamento do processo sem condições.

4 - As decisões referidas na primeira parte da alínea a) do n.º 3 podem ser acompanhadas de admoestação ou da aplicação das coimas e demais sanções previstas nos artigos 68.º, 71.º e 72.º e, sendo caso disso, da imposição de medidas de conduta ou de carácter estrutural que sejam indispensáveis à cessação da prática restritiva da concorrência ou dos seus efeitos.

5 - As medidas de carácter estrutural a que se refere o número anterior só podem ser impostas quando não existir qualquer medida de conduta igualmente eficaz ou, existindo, a mesma for mais onerosa para o visado pelo processo do que as medidas de carácter estrutural‖.

tendo em linha de conta o direito da UE, à luz das suas finalidades e sempre com base na jurisprudência do Tribunal de Justiça. Já a nível nacional, no que respeita ao ordenamento jurídico português, na falta de definição de um regime próprio de nulidade, há que ter em consideração o regime geral previsto na lei civil, isto é, os arts. 286º e 289º do Código Civil.

De notar que uma prática restritiva da concorrência não conduz irremediavelmente à nulidade de todo o negócio jurídico. Apesar de tanto a legislação nacional, como a legislação da UE referirem-se expressamente à nulidade do acordo, a verdade é que é pacífico entre a jurisprudência da UE que esta nulidade restringe-se às cláusulas restritivas da concorrência e

não propriamente ao negócio jurídico como um todo170. Como o Tribunal de Justiça afirmou no

acórdão LTM/MBU ―a nulidade em causa só se aplica aos elementos do acordo atingidos pela

proibição ou a todo o acordo se estes elementos se revelarem inseparáveis do próprio acordo. Consequentemente, todas as restantes disposições contratuais não afetadas pela proibição, não

dependendo da aplicação do Tratado, escapam ao direito comunitário‖ 171. No que concerne ao

direito nacional assume aqui especial relevo o art. 292º do Código Civil, com a epígrafe ―redução‖, que estipula que ―a nulidade ou anulação parcial não determina a invalidade de todo o negócio, salvo quando se mostre que este não teria sido concluído sem a parte viciada‖. Ou seja, há que observar o acordo em que a cláusula viciada se insere e apreciar se este teria sido concluído se a cláusula não existisse: em caso afirmativo há lugar à redução do negócio, em caso negativo o negócio é completamente nulo.

3.5.5.2. Coimas 172

Numa ótica de direito da UE, de acordo com o nº 2, alínea a), do art. 23º do Regulamento (CE) nº1/2003, a Comissão pode, mediante decisão, aplicar coimas às empresas e associações de empresas sempre que, deliberadamente ou por negligência, cometam uma

infração ao disposto no artigo 101º do TFUE173.

170

Cfr. a título exemplificativo o Acórdão do TJ de 30.06.1966, Societé Technique Minière (L.T.M.) contra

Maschinenbau Ulm GmbH (M.B.U.), proc. 56/65; Acórdão do TJ de 12.12.1995, processos apensos C-319/93, C-40/94 e C-

224/94, C.J. 1995 I-04471; Acórdão do TJ de 11.09.2008, CEPSA Estaciones de Servicio SA contra LV Tobar e Hijos SL, proc.

C-279/06, C.J., 2008 I – 06681.

171

Acórdão supra melhor citado, p. 388.

172

De realçar que ―caso a gravidade da infração e a culpa do infrator o justifiquem, a Autoridade da Concorrência

pode determinar a aplicação, em simultâneo com a coima‖, de sanções acessórias, previstas no art. 71º da LdC.

173

Cumpre aqui consultar a Comunicação da Comissão – ―Orientações para o cálculo das coimas aplicadas por força

O mesmo sucede a nível nacional, com o art. 68º, nº1, alíneas a) e b), da Lei nº19/2012 a estabelecer que a violação do disposto nos arts. 9º da LdC e 101º do TFUE

constitui uma contraordenação punível com coima174.

A aplicação de uma coima pretende gerar um efeito de dissuasão, quer em relação à concreta empresa que praticou a infração, quer em relação às restantes empresas presentes no mercado.

As infrações ao art. 101º do TFUE e ao art. 9º da LdC têm, assim, natureza administrativa.

3.6. A proibição do abuso de posição dominante175