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34 BBC (2012) 35 Idem.

3.4. enquadramento Geoeconómico 1 caraterização Geral

3.4.3. Sector industrial

No que respeita ao sector industrial, o país apresenta, de uma forma geral, uma ra- zoável produção industrial, que regista uma procura significativa pelos mercados dos paí- ses em desenvolvimento ou em vias de desenvolvimento, o que potencia a consolidação das relações de âmbito bi e multilateral. Contudo, a longevidade e mesmo obsolescência de significativa parte das unidades de produção, bem como o emergir da concorrên- cia por parte dos próprios países em desenvolvimento, introduz um fator adicional de preocupação quanto à vulnerabilidade do sector. Como agravante, a integração da Fede- ração Russa na Organização Mundial de Comércio, impedindo também a atribuição de subsídios à indústria, terá reflexos diretos na diminuição da competitividade que ainda patenteia em alguns subsectores.

Ainda assim são de relevar algumas particularidades, sendo de apontar no plano da alta tecnologia, a intenção de a Federação Russa (também) pretender que o sector se transforme na principal alavanca do crescimento económico, possuindo neste âmbito im- portantes mais-valias herdadas da era soviética, em que destaca, entre outras, a qualidade e quantidade dos quadros de investigação, um sistema nacional laboratorial e de centros de investigação, ou empresas produtoras e competitivas globalmente em determinados nichos de mercado.

Dos nove subsectores considerados pela OCDE como representativos da inova- ção tecnológica88, a Federação é considerada como competitiva, ou potencialmente

competitiva, no plano global em cinco deles – software, nanotecnologia, tecnologia nu-

88 Aeroespacial, computação, eletrónica e telecomunicações, farmacêutica, instrumentação científica, maqui- naria eletrónica, indústria química, maquinaria não-eléctrica e armamento. Anders Aslund, Serguei Guriev e Andrew Kuchins (2010).

clear, indústria aeroespacial e indústria de armamento. No entanto haverá que introdu- zir nesta realidade a erosão provocada pelo abandono a que a generalidade dos sectores tecnológicos foi votada após o final da URSS, duramente afetados e que ainda não recuperaram89, sendo no entanto de destacar a indústria de software como a única que

emergiu desde esse marco histórico e se constitui como um caso de sucesso inegável90.

De relevar igualmente a prioridade que tem sido atribuída à área da nanotecnologia, que enferma no entanto do facto de apresentar debilidades no plano da inovação e co- mercialização, muito embora apresente claras potencialidades no plano da investigação de âmbito teórico.

Um dos maiores entraves à efetivação do potencial que a Federação apresenta no domínio da alta tecnologia, reside, uma vez mais, nas muitas barreiras que se colocam à cooperação e investimento externo, especialmente representadas pelos elevados níveis de corrupção e burocracia existentes, que desincentivam e afastam muitas das iniciativas passíveis de concretização neste âmbito. Por outro lado, a adoção do modelo de reorga- nização da generalidade das indústrias de alta tecnologia em grandes conglomerados, os chamados “campeões nacionais”, especialmente visíveis na indústria de defesa, nuclear e aeroespacial, acompanhada por substancial injeção de capital por parte do Estado, parece não ter tido os resultados esperados. Com efeito, não obstante a maior massa crítica lhes permitir maior investimento no desenvolvimento de novos produtos e tornarem-se assim internacionalmente mais competitivas, recorrendo por vezes a parcerias externas, o facto é que, com exceção da indústria de software, lhes faltará ainda dar o salto qualitativo que lhes permita uma entrada plena no mercado mundial daqueles sectores e nele competir em termos de qualidade. Como agravante, o impulso que se pensava que este sector in- dustrial pudesse vir a dar à economia nacional revelou-se até à presente data igualmente insuficiente, sendo modesto o atual desempenho.

Quanto à indústria nuclear de carácter civil, herdeira natural do programa nuclear militar da era soviética, a Federação compete à escala global, sendo o maior exportador e construtor de centrais91, possuindo a maior capacidade de enriquecimento de urânio,

o que realiza com eficiente tecnologia de centrifugação e os menores custos em termos globais, o principal fator de competitividade no mercado92. Adicionalmente, encontra-

-se numa posição privilegiada na construção de nova geração de reatores, de bastante maior eficiência e passíveis de utilizar o tório como combustível, mais abundante na natureza do que o urânio, e que poderá vir de forma pioneira a exportar para a China.

89 A título meramente informativo, saliente-se a redução do número de efetivos que integravam o sector da investigação e desenvolvimento, o qual passou de 1.940.000 em 1990, para 793.000 em 2008. Anders Aslund, Serguei Guriev e Andrew Kuchins (2010).

90 Ainda que, por exemplo, seja inferior à congénere indiana, uma potência global em clara ascensão neste domínio.

91 Das 68 centrais nucleares atualmente em construção, 28 são da Rosatom, 9 na Federação e 19 no exterior. Ver Carbonnel (2013).

92 A empresa TENEX é responsável pela satisfação de 1/3 das necessidades de combustível nuclear da Eu- ropa. European Commission (2012).

Saliente-se que também no sector do nuclear se começam a fazer sentir críticas quanto à atual postura da Federação, sendo acusada de os seus projetos no exterior se centra- rem mais no plano político do que plano económico, já que o template utilizado – Build,

Own and Operate93 - cria elevadíssimas dependências passíveis de serem utilizadas como

arma geopolítica.

Quanto à estrutura da indústria nuclear russa, refira-se que foi igualmente com Putin que se precedeu à sua verticalização e integração dos ramos civil e militar, atualmente reunidos num grande conglomerado sob a dependência da Rosatom.

Na indústria aeroespacial a grande mais-valia da Federação Russa reside na capa- cidade que possui na área dos lançadores, potenciada pela saída de serviço do shuttle norte-americano e em que o sistema russo Proton se constitui já como o único com capacidade de colocação de cargas pesadas no espaço. Pelo contrário, na área das comunicações por satélite, o sistema Glonass para além de apresentar maiores custos de utilização, revela menor qualidade que os congéneres ocidentais e não se mostra, por enquanto, internacionalmente competitivo. Quanto à indústria aeronáutica civil, encontrando-se igualmente a recuperar do significativo abandono a que foi sujeita94,

será bastante improvável poder vir a concorrer com os gigantes mundiais do sector, a Boeing e a Airbus, não obstante a Sukhoi ter vindo a recuperar e a tentar penetrar no mercado mundial da aviação regional95, sendo no entanto certamente difícil quebrar

as barreiras existentes e penetrar nesse mercado marcadamente monopolista. Como agravante, o atraso neste sector é substancial, especialmente nos sistemas de avionics, limitação apenas passível de ultrapassar através do incremento de parcerias com o exterior. Já no que respeita à indústria de componentes aeronáuticos a Rússia revela algum potencial, tendo já parcerias com empresas ocidentais96. Relativamente à indús-

tria de defesa, tendo acompanhado a degradação que se fez sentir noutros sectores, encontra-se atualmente numa fase de recuperação97, depois de passar por um processo

de reestruturação e privatização, em que cerca de 60% das empresas pertencem ao sector privado, sendo os restantes 40% totalmente estatais. Contudo, e ainda que a Federação lidere alguns nichos de excelência, a gestão nem sempre eficiente, a relativa pequena dimensão das empresas do sector, os constrangimentos financeiros e tecno- lógicos, ou a elevada idade da generalidade da sua força laboral que apresentam em muito poderão ditar a continuação da secundarização em relação a gigantes interna- cionais do sector.

93 A Federação também se responsabiliza pela recepção do lixo nuclear tóxico, uma contrapartida que ne- nhum outro ator oferece.

94 Saliente-se que parte significativa da produção da Antonov se encontra na Ucrânia. 95 Em cooperação com a Finmeccanica italiana e a SNECMA francesa.

96 Nomeadamente com as norte-americanas Pratt and Whitney e Boeing (que possui um gabinete de desenho em Moscovo) e a europeia EADS.