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2.2 R ELIGIÃO E POLÍTICA EM AÇÕES LOCAIS

2.2.2 Segmento católico

A organização dos jovens sob a guarda da igreja católica é a mais acessível aos que observam externamente. A partir do ponto de vista que apresentei no capítulo 1, referente à eliciação de uma grupidade juvenil, podemos perceber alguns movimentos específicos que acabam por formar um grupo de jovens católicos, engajando-se em causas políticas e voltadas ao benefício da própria comunidade.

A organização da festa da padroeira da comunidade, Nossa Senhora das Vitórias celebrada no mês de Agosto, é um dos pontos observados. Os jovens são encarregados de parte da organização: a elaboração de um bingo e da decoração da capela local. Distribuídos, prosseguem arrecadando custos para a compra dos produtos necessários para ornar a capela local. Mesmo os jovens católicos empenhando-se na organização, boa parte das funções e direcionamentos são postos nas mãos das moças, responsáveis pela montagem e ornamentação da capela no dia da celebração à padroeira.

O momento que percebi equidade nas ações e engajamento diante da organização coletiva jovem, foi na articulação em prol da horta coletiva. O grupo responsável pela produção da horta e sua manutenção (ver Imagem 4), é diretamente ligado à igreja católica e, com isso, o processo de interação entre os jovens é diferenciado, pois, o espaço destinado à horta por ser na lateral da capela católica, tornou-se um impedimento para os jovens de outras congregações desenvolverem apreço à produção coletiva; Contudo, há a participação, mesmo que mínima, dos jovens das demais igrejas da comunidade. Nisso, percebemos a separação dos jovens em grupos que destoam por seus preceitos religiosos. A atuação de moças e rapazes em atividades estabelecidas em cronogramas é seguida a finco. Uns são responsáveis pela manutenção de limpeza do espaço, como a capina e a coleta do lixo local; outros se responsabilizam pela irrigação e coletada e limpeza das hortaliças. Sobre a ligação com a Igreja Católica, Gilmara explicou que o grupo dos jovens, o segmento que engloba a Pastoral da Juventude Rural, é um grupo que tem uma proposta diferenciada, pois o grupo não vai à

igreja apenas realizar louvores. Na explicação da Gilmara, existe a discussão politica, o envolvimento da igreja com as causas políticas. A temática que engloba os jovens do assentamento na discussão sobre juventude.

Imagem 4 – Horta coletiva dos jovens elaborada no terreno ao lado da igreja de Nsa. Sra. Das Vitórias. Fonte: Hayanne Barbosa, Dez. 2015.

Na ocasião de mais um tour pelo assentamento, acompanho um grupo em visita à horta recém-produzida (ver Imagem 4, acima). Com muita empolgação os jovens mostram-me as hortaliças e alguns legumes prontos para serem colhidos, além dos materiais comprados com o dinheiro da venda das primeiras colheitas de hortaliças, como pás, enxadas e sacos de sementes. Ao final, Gilmara falou-me que estavam planejando dividir o dinheiro que ganhassem entre os jovens do grupo, bem como realizaralgumas atividades fora do assentamento, atividades mais voltadas para o lazer como passeios à praia e idas ao cinema.

Um ponto que merece ser trabalhado é ação religiosa-política dentro do assentamento. Uma pequena sistematizaçãoda estrutura da Pastoral da Juventude Rural ou denominada, simplesmente, de PJR, é necessária para o entendimento da organização dos jovens católicos dentro da comunidade. A Pastoral da Juventude Rural surge em 1983, enquanto demanda de grupos de base para haver o fortalecimento dos coletivos jovens no meio rural sob a resguarda da Igreja Católica. Sua ramificação é efetiva enquanto inserção dos jovens numa discussão politizada sobre temáticas e demandas da juventude rural.

Gilmara explica que a PJR está subdividida em três grupos: comunidade, vivência e produção e resistência. Esse último tem influência direta sobre o projeto de uma horta desenvolvida pelos jovens dentro da comunidade. O objetivo está sendo, segundo palavras de C., jovem de 23 anos, que estava regando os canteiros:

incentivar os jovens a verem o campo como possibilidade de trabalho e não precisem busca a cidade como alternativa para inserissem no mercado de trabalho, ou seja, possibilita que os jovens fiquem no campo e não vá pra cidade.

O grupo relata que tem a pretensão de melhorar e ampliar a horta para que mais jovens possam se articular em prol da causa, da permanência dos jovens no campo. Relatam que não recebem assistência técnica de nenhum órgão, mas que o grupo foi convidado a participar da ferinha da EMATER-RN. A ação que ocorre em organização de grupos jovens de base que podem ser desdobrados em: Grupos de Jovens, formados dentro de cada comunidade e com ações locais; Grupos de Produção e Resistência, voltados para atividades de permanência da juventude no campo; Ou grupos de vivência, que acontecem em cidades e escolas em forma de eventos voltados para trocas de conhecimentos e experiências entre as(os) jovens de muitas localidades.

A articulação é por via segmentada e hierárquica, em primeiro momento pelo menos. Há uma organização municipal das(os) jovens de vínculos com as paroquias locais. Em instância superior, as ações regionais de vínculo com as dioceses. E por fim, as ações a níveis estaduais e nacionais, com coordenações de jovens estaduais e nacionais, respectivamente. As(os) jovens que se envolvem na PJR estão imersos numa teia complexa de demasiado contato com o urbano, em virtude da dinamicidade proporcionada pela movimento rural jovem em constantes momento de formação política dentro do assentamento.

Um exemplo é a participação da Gilmara enquanto figura central na articulação dos jovens diante de entidades como a Pastoral da Juventude Rural. Ela conta-me sobre a participação em um curso sob o tema “Fé e Política”, ofertado pela Arquidiocese em Natal. Tal curso volta-se para a juventude e, em especial, a juventude rural. Ocorrendo em três níveis de desenvolvimento: estadual, regional e federal. Pelo que percebi, outras jovens estão sendo inseridas em atividades políticas fora da comunidade. Nas palavras de Gilmara, “eu estou tentando colocar elas em cursos e oficinas de discussão”. O segmento da juventude católica possui o vínculo com o urbano por meio da interação com movimentos juvenis camponeses, mas não somente, pois em muitos momentos percebemos o direcionamento para a busca do lazer e a busca de bem de consumo.

A juventude enquanto um segmento em efervescência como apontei no capítulo anterior, torna-se foco das ações e esforços de muitos movimentos de lutas agrárias. É importante sublinhar que, nos diálogos sobre ativismos ou militâncias como fermento próprio da juventude rural, ressaltam-seos aprendizados e vivências no contato com outras realidades e possibilidades no proveito que as jovens tiram desse processo, em se tratando de construção de subjetividade e elaboração de um projeto coletivo de melhorias da comunidade.

Temos, diante desse quadro subdivido em segmentos, como expus acima, duas maneiras de dinâmicas dos jovens dentro do assentamento Vale do Lírio em relação ao pertencimento a religioso. Como vimos no segmento evangélico segue, em linhas gerais, as articulações que as congregações protestantes no Brasil desenvolvem, ou seja, estabelecem uma forte divisão geracional, dividem-se os fiéis em diversos grupos, isso facilita o aprendizado da religião em questão e reforça as posições sociais dos sujeitos na vida cotidiana e dentro da comunhão religiosa. No entanto, reduzem as discussões e o sentimento de mudança do contexto em que vivem os jovens para-dentro do coletivo da congregação local. Enquanto, o segmento católico estabelece mais contatos e discussões sobre as formas de mudança da realidade em que vive, investindo no sentimento coletivo de vínculo com a terra e a comunidade.

C

APÍTULO

3

A

S JOVENS MULHERES DO

V

ALE DO

L

ÍRIO

Este capítulo destina-se a reflexões voltadas para o aprofundamento da problemática de gênero dentro do assentamento Vale do Lírio – São José do Mipibu/RN, no que tange a relação das jovens com os demais moradores da comunidade, bem como dentro do próprio segmento jovem. Delimitar uma parte do trabalho para tratar com uma conceituação mais podada dentro da problemática de gênero, em um trabalho voltado para a área de gênero, é como usar uma lupa para investigar a luz, ampliá-la. Por isso, neste capítulo busco refletir a agência ou as maneiras de interação das jovens mulheres dessa comunidade estabelece com o meio urbano, voltando-se para a dinamicidade das jovens mulheres no assentamento.

Se retomarmos a discursão apresentada no quarto tópico do capítulo 1, logo ao início deste trabalho, teremos uma explanação sobre a formação de uma grupidade (WAGNER, 2010) no interior da comunidade, tal problematização torna-se necessária se voltada para os sujeitos que estabelecem contato com o urbano e pensados, a priori, enquanto grupo ou coletivo. Observo que no assentamento Vale do Lírio encontramos, realmente, empreitadas individuais de laços com o urbano e de elaboração de projeto de vida (DURSTON, 1996).

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