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Desenho metodológico do estudo

2.2. Segunda etapa

Para promover a construção e a pesquisa de uma inovação didática orientada à inclusão de conhecimentos tradicionais e o diálogo entre modos de conhecer nas escolas de Taganga foi preparado um protocolo para a celebração de reuniões temáticas entre professores escolares, especialistas e consultores tradicionais locais, e o pesquisador (Apêndice 5). Esse protocolo foi validado por meio de discussões com três professoras-investigadoras da educação básica e pesquisadoras educacionais do Grupo de Investigación Interculturalidad, Ciencia y Tecnología (INTERCITEC), na Universidad Distrital Francisco José de Caldas (Bogotá, Colômbia). Conforme consta no protocolo, treze reuniões foram planejadas para orientar o trabalho colaborativo, em torno da solução de problemas complexos da prática docente local, dando-se ênfase à configuração de abordagens para o estabelecimento de vias para que comunidades tradicionais tenham acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos que constituam meios de inclusão social, sem uma erosão e uma descaracterização de suas próprias culturas (EL-HANI; BANDEIRA, 2008). Nesse processo e devido à importância econômica, social e cultural que a pesca tem para a população de Taganga, as práticas e conhecimentos dos pescadores locais foram propostos como contexto para a promoção do diálogo entre distintos modos de conhecer na aula de ciências (MOLINA; MOJICA, 2013). Três dessas reuniões foram propostas para realizar uma autoavaliação formativa do processo de construção da inovação, assim como de sua implementação nas escolas locais, e planejar encontros e atividades futuras. Embora algumas dessas reuniões tenham sido celebradas como planejadas no protocolo ao longo do estudo, a maior parte delas foi celebrada de forma naturalística, durante visitas às escolas ou casas dos professores e pescadores, ou durante encontros casuais no parque ou na praia, ainda que orientadas pelo protocolo.

Assim, na segunda etapa, enquanto era realizada a aproximação etnoecológica, também foram visitadas as escolas frequentadas pelos estudantes oriundos da comunidade de Taganga e seus professores foram contatados. As primeiras visitas às três instituições educativas de Taganga foram realizadas em abril de 2013. Durante essas visitas um resumo do projeto de pesquisa foi apresentado às reitoras de cada instituição e a seguir entrava-se em contato com professores e professoras indicadas pelas próprias reitoras para

participarem do projeto. Dessa maneira o projeto foi apresentado a três docentes da educação básica secundária e a sete docentes da educação básica primária. Esses professores foram convidados para formar uma equipe de trabalho para a construção e implementação da inovação didática e os materiais didáticos associados. Além disso, eram levantadas informações sobre o possível uso de conhecimentos tradicionais nas salas de aula desses professores.

Nesse processo encontramos a resistência de alguns professores a se envolver na equipe de trabalho, percebendo-se tensões com a ideia de promover a prática da pesca entre crianças e jovens em lugar de um desenvolvimento em áreas professionais, ou com o possível desenvolvimento de um programa vocacional com ênfase na pesca ou na tecnologia pesqueira, proposto em vários momentos pelos pescadores para a finalização da escola secundária na escola pública local. Outros professores, por sua vez, manifestaram não ter disponibilidade para participar da equipe, como a professora de educação secundária da escola pública, que se encontrava desenvolvendo o “Projeto Ambiental Escolar” (ou PRAE), um projeto pedagógico para a análise e a compreensão dos problemas e das potencialidades ambientais locais, regionais e nacionais, e a geração de espaços para a participação na implementação de soluções acordes com as dinâmicas naturais e socioculturais (MEN, 2005), ou como uma das professoras da educação primária de uma das escolas privadas que participava ativamente nas atividades da igreja evangélica local. Por outro lado, professores envolvidos em uma organização cultural para o resgate da identidade cultural local, com incidência na comunidade e com projeto de identidade na educação primária, em uma das escolas privadas, aparentemente perceberam o projeto como uma competência as inciativas por eles promovidas, limitando sua participação durante o estudo.

Finalmente, a equipe foi consolidada com dois professores e uma professora da educação básica primária que manifestaram ter interesse e disposição em participar da equipe de trabalho (Quadro 3). Dois pescadores e líderes tradicionais, e uma mulher aquicultora local, envolvida na coleta de dados da atividade pesqueira artesanal da comunidade, envolvidos previamente durante a aproximação etnoecológica, em 2012 e 2013, participaram também dessa equipe (Quadro 2).

Quadro 3: Escolas e professores que participaram neste estudo. I.E. Maria Auxiliadora Escola privada Predomínio de alunos Tagangueros Prof. 1 Engenheiro em Informática (Nativo e morador local) >10 anos experiência I.E. Distrital Taganga Escola pública Predomínio de alunos Tagangueros Prof. 2 Professor normalista (Morador local <1 ano) 10 anos experiência I.E. Eduardo Carranza Escola privada Alunos Tagangueros e colonos Profa. 3 Bióloga (Não é moradora local) <1 ano experiência

O processo de construção da inovação didática que analisamos neste trabalho contou, assim, com a participação de professores das três escolas locais (um professor em cada escola), dois pescadores líderes da comunidade e uma mulher nativa, que participaram, junto com o pesquisador, de distintos processos de trabalho educacional durante a construção da inovação, entre maio e agosto de 2013, e sua implementação nas escolas locais, entre agosto e setembro de 2013 (Ver o Capítulo V). Contou-se, ainda, com o apoio de outros pescadores e pessoas da comunidade que forneceram ideias durante discussões em vários momentos do estudo.

O trabalho da equipe envolveu reuniões e encontros periódicos dos atores envolvidos, visando: discussões iniciais sobre a educação científica multicultural, a realidade e o conhecimento locais, e suas relações com a escola e, em particular, o ensino de ciências; discussão das expectativas de todos os atores envolvidos quanto à inovação educacional, o trabalho em sala de aula, a aprendizagem dos estudantes; mobilização dos saberes docentes, do conhecimento tradicional e do conhecimento educacional pertinentes para o planejamento da inovação; definição dos princípios de planejamento; planejamento da inovação; elaboração dos materiais didáticos associados.

Todas essas atividades foram filmadas, áudio-gravadas ou registradas em um diário de campo e entrevistas semiestruturadas foram realizadas para avaliar o processo de desenvolvimento da inovação. Essas entrevistas foram orientadas por um roteiro, somente como um marco de referência (Apêndice 6).

A seguir realizamos uma breve descrição das Instituições Educativas (I.E.) que se localizam em Taganga, uma de caráter público, a I.E. Distrital Taganga, sede Dumaruka, e duas de caráter privado, a I.E. María Auxiliadora e a I.E. Eduardo Carranza, nas quais o presente trabalho teve incidência (Figura 2).Incluímos a descrição dos professores dessas instituições que fizeram parte da equipe de trabalho na construção da inovação didática e dos materiais didáticos associados, assim como de sua implementação durante o ciclo de pesquisa empírica na sala de aula deste estudo. Complementarmente, apresentamos uma descrição dos pescadores que foram convidados a cada uma dessas turmas durante a implementação da inovação (Ver também o Capítulo V).