• Nenhum resultado encontrado

6 APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS

6.1 Questionário

6.1.2 Seleção da amostra

Segundo Mattar (1999), no processo de seleção de amostras, deve-se atentar para cinco etapas:

 definição do universo ou população da pesquisa;

 identificação dos tipos de amostras e amostragem;

 decisão sobre o tamanho da amostra;

 seleção de procedimento específico para determinação da amostra;

 seleção da amostra a partir das etapas anteriores.

a) Definição do universo ou população

Considerando que o Metrô de São Paulo não dispunha de dados referentes ao universo dos usuários com deficiência visual que utilizam o sistema, foi necessário estimar a quantidade de pessoas com deficiência visual a partir das informações disponíveis. Para tanto, foram utilizados diferentes registros, entre os quais se destacam:

 total de entrada de passageiros (registro de entradas nos bloqueios);

 total de passageiros transportados (deslocamentos realizados, considerando a utilização de mais de uma linha desde a estação de origem até a estação de destino);  total de monitorações realizadas (registro de auxílios prestados);

 média semanal de usuários com deficiência visual que utilizam o sistema (total de auxílios prestados às pessoas com deficiência visual).

A primeira questão identificada foi “Como estimar, a partir dos dados de monitoramento das pessoas com deficiência visual, a quantidade total de pessoas com deficiência visual usuárias do sistema metroviário (universo da pesquisa)?” Para proceder à estimativa, foi necessário considerar os seguintes fatores:

fator de transferência entre linhas: um mesmo usuário utiliza mais de uma linha

durante seus deslocamentos desde a estação de origem até a estação de destino;

frequência de uso do sistema metroviário ao longo do dia: um mesmo usuário

realiza mais de uma viagem por dia, ida e volta;

frequência de uso do sistema metroviário pelas pessoas com deficiência visual: um

mesmo usuário realiza mais de uma viagem durante a semana.

Em relação ao fator de transferência entre linhas, foram calculadas as diferenças entre entradas (passagens pagas) e passageiros transportados (deslocamentos nas diferentes linhas, desde a estação de origem até a estação de destino). O total apurado foi de 80,16% – média de março e maio/2012, meses que historicamente são considerados pelo Metrô de São Paulo como sendo típicos para se proceder cálculos e estudos que estejam relacionados à demanda– (Tabela 8), face à quantidade de feriados, dias úteis e hábitos de viagem dos usuários.

Tabela 8 – Fator de transferência entre linhas.

Rede Entradas Passageiros Transportados Fator de transferência

jan-dez/2009 706 (milhões) 975 (milhões) 0,724102564

jan-dez/2010 754 (milhões) 1.044 (milhões) 0,722222222

jan-dez/2011 811.657.000 1.087.234.000 0,746533865

jan-dez/2012 877.171.000 1.098.098.000 0,798809395

mar/12 80.451.668 100.398.099 0,801326607

mai/12 77.682.877 96.877.776 0,801864785

jan-dez/2013 888.624.000 1.106.738.000 0,802921739

Fonte: Elaborado pela autora a partir de CMSP, 2012, p. 91; CMSP, 2012 (93); CMSP, 2013 (p. 93); CMSP, 2014, p. 95.

Os dados relativos ao monitoramento das pessoas com deficiência são registrados pelo console de passageiros do Centro de Controle Operacional - CCO toda vez que um auxílio é solicitado em cada uma das estações. Se um usuário vai de uma estação a outra, numa mesma linha, são registrados dois acionamentos: um para auxiliar o embarque, e outro para auxiliar o desembarque. Se um usuário realiza uma viagem que tem início em uma estação de uma linha e tem como destino uma estação de outra linha, são registrados três acionamentos: o primeiro, na estação de embarque; o segundo, na estação de conexão, e o terceiro, na estação de desembarque. Nos meses de março e maio de 2012, foram registrados, em média, 25.179 monitoramentos por mês. Assim, quando aplicado o fator de transferência entre linhas (80,16%) à quantidade média de monitoramentos registrados no período (25.179 auxílios), obtém-se o resultado de 20.183 entradas durante um mês. Considerando a frequência de uso ao longo do dia (a ida e a volta), conclui-se que foram realizados 10.092 deslocamentos na rede metroviária por pessoas com deficiência visual.

A frequência de uso do sistema metroviário ao longo do dia está relacionada aos motivos da viagem – trabalhar, estudar, lazer – e implica dois deslocamentos: ida e volta.

A frequência de uso do sistema metroviário por pessoas com deficiência visual está relacionada aos hábitos de viagem. Esse dado foi obtido a partir da questão 5 do questionário, onde foi apurada a quantidade de pessoas que usam o metrô ao longo da semana (Tabela 9).

Tabela 9 – Frequência de uso do sistema metroviário ao longo da semana. Q5 – Frequência de uso do

sistema metroviário ao longo da semana

Quantidade de respondentes

um dia / semana 13

dois dias / semana 24

três dias / semana 27

quatro dias / semana 18

cinco dias / semana 93

seis dias / semana 32

todos os dias da semana 28

Total de respondentes 235

Fonte: Elaborada pela autora a partir do questionário aplicado (Q5).

A partir dos dados coletados, conclui-se que cada um dos 235 respondentes realiza, em média, 4,56 viagens por semana, o que totaliza 20,19 viagens ao longo de um mês. Dessa forma, dividindo-se o total de monitoramentos registrados (10.092) pelo número médio de viagens realizadas mensalmente pelos usuários com deficiência visual (20,19), concluiu-se que aproximadamente 500 diferentes pessoas com deficiência visual utilizam o sistema metroviário.

b) Determinação do tamanho da amostra

Somente foi possível chegar-se a uma conclusão sobre o universo de usuários com deficiência visual que utilizam o sistema metroviário ao longo da aplicação do questionário (questão 5). Dessa forma, ao término do período de aplicação dos 235 questionários, fez-se a avaliação do nível de confiança e da margem de erro obtida para efeito de validação dos dados coletados. Consequentemente, obteve-se um nível de confiança de 95%, e uma margem de erro de 4,66%, para questões com duas variáveis – sim/não.

c) Identificação dos tipos de amostragem

Optou-se pelo uso de amostra não probabilística uma vez que “a população toda não está disponível para ser sorteada” (MATTAR, 1999, p. 269). Além disso, a participação foi voluntária, obtida ora por indicação ora por meio de abordagem do usuário na estação, e “a decisão de responder ou não aos questionários cabe exclusivamente aos respondentes, que decidirão, em última análise, se farão ou não parte da amostra” (MATTAR, 1999, p. 269- 270). Acrescenta-se a isso o fato de não haver preocupação com a representatividade da população uma vez que o objetivo da aplicação do questionário era detectar aspectos positivos

e identificar pontos para melhoria no sistema metroferroviário a partir da percepção das pessoas com deficiência visual.

d) Seleção de procedimento específico para determinação da amostra

Conforme já relatado, para seleção dos respondentes, foram utilizadas duas estratégias de amostragem não probabilística:

– seleção não-aleatória, por indicação – cada um dos 15 respondentes do questionário “modelo 1” indicou outro usuário para participar da avaliação. Assim, foram identificados 15 novos potenciais respondentes e, a partir destes, novos contatos foram realizados. Essa técnica, chamada de amostragem bola-de-neve, permite que seja construída uma amostra representativa de um determinado subgrupo através de indicações sucessivas: “O pesquisador identifica um pequeno número de sujeitos, os quais, por sua vez, identificam outros na população” (GRAY, 2012, p. 127). Por meio de indicação e contatos telefônicos, foram aplicados 85 questionários;

– seleção não-aleatória, intencional – os usuários com deficiência visual foram abordados durante seus deslocamentos nas estações, momento em que foram informados dos objetivos da pesquisa e convidados a participar da avaliação: “Neste caso, o pesquisador deliberadamente seleciona os sujeitos em relação a uma ou mais características para ter o que se acredita ser uma amostra representativa” (GRAY, 2012, p. 126). Nos casos em que houve concordância, anotou-se o nome e o telefone, bem como as informações sobre a melhor data e horário para que fosse realizado o contato telefônico. Por meio das abordagens seguidas de contatos telefônicos, foram aplicados 150 questionários.