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SENTENÇA PENAL NO DIREITO PORTUGUÊS

CAPÍTULO 3 SENTENÇA JUDICIAL EM MATÉRIA PENAL NO DIREITO

3.2 SENTENÇA PENAL NO DIREITO PORTUGUÊS

Em Portugal a sentença é definida como a decisão que o juiz toma em relação ao processo criminal. Por meio da sentença o juiz comunica se considera que o arguido é ou não responsável pelo crime. Se a decisão é tomada por um Tribunal colectivo ou por um Tribunal de Júri, a sentença recebe o nome de “acórdão”.

O “Tribunal Colectivo” é aquele composto por três juízes que julga os processos respeitantes aos crimes mais graves, assim definidos aqueles cuja pena incidente é de prisão por mais de cinco anos.

Ao seu turno, o “Tribunal Singular” é o Tribunal constituído por um juiz que julga os processos respeitantes aos crimes menos graves.

Já o “Tribunal de Júri” é o Tribunal constituído por três juízes e quatro jurados. O Tribunal do Júri existem em Portugal desde 1826, e hoje é definido como o conjunto formado por juízes e cidadãos que se reúnem para decidir sobre fatos e questões de direito. Trata-se de um órgão composto por duas seções. A primeira é composta por cidadãos e a segunda é formada por juízes profissionais cuja missão é presidir ou dirigir as sessões orais e ditar a sentença segundo as declarações sobre os fatos contidas no veredito. O Tribunal do Júri é um grupo constituído por um número determinado de elementos que, depois de uma deliberação, devem chegar a uma decisão penal, segundo uma regra que determina o número de elementos necessários para poder emitir um veredito final433.

Diferentemente do Tribunal do Júri brasileiro, inglês e espanhol, que adota o modelo puro, Portugal adota o modelo escabinado, a exemplo da França e da Alemanha.

432 STJ-PT, Supremo Tribunal de Justiça de Portugal. Processo nº55/1985. Acórdão de 25 de março 1985.

Disponível em: <www.dgsi.pt>. Acesso em: 02 out. 2018.

433 JÓLLUSKIN, Glória. O Tribunal do Júri no ordenamento jurídico português: uma abordagem na

perspectiva da psicologia. In: Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, nº 6, p. 116-126. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2009. p. 118.

O modelo puro ou anglo-saxônico, composto apenas por cidadãos leigos, não conhecedores de questões de direito, embora possuam outros tipos de conhecimentos e experiências, aportando o seu ponto de vista para a valorização do caso a tratar, em que posteriormente o presidente do Tribunal do Júri (um juiz) decidirá sobre a forma na qual será aplicado o direito, vale dizer, decide a sentença a ser aplicada. No tipo puro existe a vantagem da maior participação popular no sistema de justiça, na medida em que é independente da decisão do juiz; porém existe a desvantagem de os jurados não intervirem na sentença434.

O modelo de Tribunal do Júri do tipo escabinado baseia-se na presença de juízes e cidadãos para decidir conjuntamente tanto sobre o veredito como, sobre a sentença. Nesse modelo é permitido aos leigos pronunciarem sobre o veredito e sobre o aspecto penal, porém a participação de juízes com seus conhecimentos e habilidades especializados acabam influenciando na opinião dos demais, reduzindo a participação dos leigos na decisão, predominando o critério dos profissionais435.

Atualmente o Tribunal do Júri português é presidido pelo presidente do Tribunal Colectivo e é composto por sete elementos: três juízes e quatro jurados efetivos, além de mais quatro jurados suplentes (Decreto-Lei nº 387-A de 29 de dezembro de 1987436).

A sentença penal em Portugal é disciplinada pelo artigo 365 e seguintes, do Código de Processo Penal português (Decreto-Lei nº 78, de 17 de fevereiro de 1987437), atualizado pela Lei nº 20, de 21 de fevereiro de 2013.

Quanto ao relatório, a sentença penal portuguesa começa com um relatório, que continha as indicações tendentes à identificação do arguido; do assistente e das partes civis; do crime ou dos crimes imputados ao arguido, segundo a acusação, ou pronúncia, se a tiver havido; e a indicação sumária das conclusões contidas na contestação, se tiver sido apresentada (Código de Processo Penal Português).

Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos fatos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de fato e de direito, que fundamentam a decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal. Trata-se do momento da motivação da sentença propriamente dita (Código de Processo Penal português).

434 JÓLLUSKIN, Glória. Op. cit., p. 119-120. 435 Idem, ibidem, p. 120.

436 PORTUGAL, Legislação. Decreto-Lei nº 387-A/87 de 29 de dezembro de 1987. Tribunal do Júri.

Disponível em: <http://www.apav.pt/apav_v3/images/pdf/regime_juri.pdf>. Acesso em: 22 set. 2018.

437 PORTUGAL, Legislação. Decreto-Lei nº 78/87 de 17 de fevereiro de 1987. Código de Processo Penal.

Disponível em: <http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei _mostra_articulado.php?nid=199&tabela=leis>. Acesso em: 22 set. 2018.

A sentença penal portuguesa termina pelo dispositivo que contém: as disposições legais aplicáveis; a decisão condenatória ou absolutória; a indicação do destino a dar a coisas ou objetos relacionados com o crime; d) a ordem de remessa de boletins ao registro criminal; e a data e as assinaturas dos membros do Tribunal. O dispositivo implica, em essência, na referência às disposições legais que são aplicáveis ao caso e na apresentação da conclusão (o denominado “silogismo judiciário”) (Código de Processo Penal português).

Em matéria de custas, “a sentença observa o disposto no artigo 513, nº 01 e nº 03, Código de Processo Penal português438 e no Regulamento das Custas Processuais (Decreto- Lei nº 34 de 26 de fevereiro de 2008439) em matéria de custas”.

Nas sentenças penais portuguesas são duas as decisões possíveis: a) a absolvição do arguido, caso o juiz entenda que não ficou demonstrado e comprovado que foi ele quem cometeu o crime em causa e, desse modo, não o castiga com qualquer pena:

Artigo 376 (sentença absolutória): 1 - A sentença absolutória declara a extinção de qualquer medida de coação e ordena a imediata libertação do arguido preso preventivamente, salvo se ele dever continuar preso por outro motivo ou sofrer medida de segurança de internamento. 2 - A sentença absolutória condena o assistente em custas, nos termos previstos neste Código e no Regulamento das Custas Processuais. 3 - Se o crime tiver sido cometido por inimputável, a sentença é absolutória; mas se nela for aplicada medida de segurança, vale como sentença condenatória para efeitos do disposto no n.º 1 do artigo anterior e de recurso do arguido (Código de Processo Penal português).

b) a condenação do arguido pela prática do crime:

Artigo 375 (sentença condenatória): 1 - A sentença condenatória especifica os fundamentos que presidiram à escolha e à medida da sanção aplicada, indicando, nomeadamente, se for caso disso, o início e o regime do seu cumprimento, outros deveres que ao condenado sejam impostos e a sua duração, bem como o plano individual de readaptação social. 2 - Após a leitura da sentença condenatória, o presidente, quando o julgar conveniente, dirige ao arguido breve alocução,

438 “Livro XI (da responsabilidade por custas). Artigo 513 (responsabilidade do arguido por custas): 1 - Só há

lugar ao pagamento da taxa quando ocorra condenação em primeira instância e decaimento total em qualquer recurso. [...]. 3 - A condenação em taxa de justiça é sempre individual e o respectivo quantitativo é fixado pelo juiz, a final, nos termos previstos no Regulamento das Custas Processuais” (Código de Processo Penal português).

439 PORTUGAL, Legislação. Decreto-Lei nº 34/08 de 26 de fevereiro de 2008. Regulamento das Custas

Processuais. Disponível em: <http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei _mostra_ articulado. php?nid=967&tabela=leis>. Acesso em: 22 set. 2018.

exortando-o a corrigir-se. 3 - Para efeito do disposto neste Código, considera-se também sentença condenatória a que tiver decretado dispensa da pena. 4 - Sempre que necessário, o Tribunal procede ao reexame da situação do arguido, sujeitando-o às medidas de coação admissíveis e adequadas às exigências cautelares que o caso requerer (Código de Processo Penal português).

O juiz, nesse caso, deve indicar, na sua decisão, quais os fatos e as provas que serviram de base para considerar o arguido culpado e qual a pena a ser aplicada, que pode ser de prisão, efetiva ou suspensa; ou de multa. Também existe a possibilidade de aplicação de pena acessória.

Em termos práticos, a omissão da motivação, nos aspectos indicados, implica a sanção da nulidade da sentença. É o que dispõe o artigo 379, alínea “a”, do Código de Processo Penal português:

Artigo 379 (nulidade da sentença): 1 - é nula a sentença: a) que não contiver as menções referidas no parágrafo 2º [da fundamentação], na alínea “b” do parágrafo 3º [da decisão condenatória ou absolutória], do artigo 374 ou, em processo sumário ou abreviado, não contiver a decisão condenatória ou absolutória ou as menções referidas nas alíneas “a” a “d” do parágrafo 1º, do artigo 389-A440 e 391-F441

(Código de Processo Penal português).

Na interpretação de Manuel António Lopes Rocha442 “não se compreenderia esta sanção particularmente severa, se o legislador não tivesse considerado a motivação como elemento essencial de um processo justo e equitativo”. Ainda de acordo com o referido Juiz do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, Manuel António Lopes Rocha443, na ordem prática “o cumprimento da injunção constitucional e legal da motivação defronta-se com algumas dificuldades, e, por isso, tem sido tema de muitos recursos para os Tribunais Superiores”. A fundamentação das decisões

440 “Artigo 389-A (sentença): 1 - a sentença é logo proferida oralmente e contém: a) a indicação sumária dos

fatos provados e não provados, que pode ser feita por remissão para a acusação e contestação, com indicação e exame crítico sucintos das provas; b) a exposição concisa dos motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão; c) em caso de condenação, os fundamentos sucintos que presidiram à escolha e medida da sanção aplicada; d) o dispositivo, nos termos previstos nas alíneas ‘a’ a ‘d’ do parágrafo 3º, do artigo 374” (Código de Processo Penal português).

441 “Artigo 391-F (sentença): é correspondentemente aplicável à sentença o disposto no artigo 389-A” (Código

de Processo Penal português).

442 ROCHA, Manuel António Lopes. A motivação da sentença. In: Documentação e Direito Comparado, nºs

75 e 76, p. 93-114. Lisboa: Procuradoria Geral da República, 1998. p. 101.

judiciais é fato garantidor do processo judicial, demonstrando à essencialidade da jurisdição no sistema jurídico-constitucional. Prossegue explicando que:

[...] o conteúdo do artigo 374 do Código de Processo Penal português se inspirou visivelmente no direito processual penal italiano, mesmo porque, quando o Código de Processo Penal português estava sendo elaborado, o Código de Processo Penal italiano ainda não estava em vigor, eis que foi aprovado em 22 de setembro de 1988, mas só entrou em vigor um ano depois, em 1989444.

Recorde-se que o Código de Processo Penal português é de 17 de fevereiro de 1987. É que a comissão que preparou o projeto do Código de Processo Penal português já conhecia o projeto do Código de Processo Penal italiano, posteriormente convertido em texto de lei. Tal conclusão decorre, por exemplo, da comparação entre o artigo 546º do Código de Processo Penal italiano, com o artigo 374 do Código de Processo Penal português, em particular a comparação entre os textos do parágrafo 2º, do artigo 374, com o da alínea “e”, do parágrafo 1º, do artigo 546, a saber:

a) parágrafo 2º, do artigo 374, do Código de Processo penal português:

Artigo 374 (requisitos da sentença): [...]. 2 - ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos fatos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de fato e de direito, que fundamentam a decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal. [...] (Código de Processo penal português).

b) alínea “e”, do parágrafo 1º, do artigo 546, do Código de Processo Civil italiano:

Artigo 546 (requisitos da sentença) 1. a sentença contem: [...] e) uma concisa exposição dos motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão, com a indicação das provas que baseiam a mesma decisão e a enunciação das razões pelas

444 ITÁLIA, Legislação. Codice di Procedura Penale. Testo coordinato ed aggiornato del D.P.R. 22 settembre

1988, nº 447. Disponível em: <http://www.polpenuil.it/attachments/048_codice_di_procedura_penale.pdf>. Acesso em: 22 set. 2018.

quais o juiz considera não atendíveis as provas em contrário; [...] (Código de Processo Civil italiano)445.

Como se extrai desse exemplo ilustrativo, as diferenças textuais são poucas, especificamente o texto português traz a mais a “enumeração dos fatos provados e não provados” e a menos a “enunciação das razões pelas quais o juiz considera não atendíveis as provas contrárias”.

No Código de Processo Penal italiano o tema da sentença é tratado no Título III do Código de Processo Penal (artigos 525 a 548). “Na forma do artigo 546, dedicado especificamente aos “requisitos da sentença”, consta que a sentença penal deve conter: a menção “em nome do povo italiano” e a indicação da autoridade que a profere; a identidade do acusado ou outras indicações pessoais destinadas a identificá-lo bem como a identidade das outras partes privadas; a acusação; a indicação das conclusões das partes; uma concisa exposição dos motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão, com a indicação das provas que baseiam a mesma decisão e a enunciação das razões pelas quais o juiz considera não atendíveis as provas em contrário; o dispositivo, com a indicação das normas legais aplicáveis; e a data e a assinatura do juiz446.

No direito brasileiro, o Código de Processo Penal se iguala praticamente ao sistema legal português, notadamente nos artigos 381 a 392, havendo perquenas divergências na questão do júri que não é composto por três juízes, mas somente um Presidente e seis jurados leigos, sorteados entre os cidadãos.

De acordo com o Código de Processo Penal Italiano, a sentença do Tribunal Colegial italiano deve ser assinada pelo presidente e pelo juiz-relator. No caso morte ou outro impedimento à subscrição do presidente, deverá assinar a sentença, com a prévia menção do impedimento, o membro mais antigo do Tribunal Colegial. Se o juiz-relator não puder assinar, pode subscrever apenas o presidente, mediante prévia menção do impedimento (artigo 615447)448.

445 “Artigo 546 (requisiti della sentenza) 1. La sentenza contiene: [...] e) la concisa esposizione dei motivi di fatto

e di diritto su cui la decisione è fondata, con l'indicazione delle prove poste a base della decisione stessa e l'enunciazione delle ragioni per le quali il giudice ritiene non attendibili le prove contrarie; [...]” (Codice di Procedura Penale).

446 “Artigo 546 (requisiti della sentenza italiano) - [...]” (Codice di Procedura Penale).

447 “Artigo 615 (deliberazione e pubblicazione) - 1. La corte di cassazione delibera la sentenza in camera di

consiglio subito dopo terminata la pubblica udienza salvo che, per la molteplicità o per l’importanza delle questioni da decidere, il presidente ritenga indispensabile differire la deliberazione ad altra udienza prossima. Si osservano, in quanto applicabili, le disposizioni degli artt. 527 e 546” (Codice di Procedura Penale italiano).

A sentença é considerada nula pelo Código de Processo penal italiano se a sentença não for motivada449, se faltarem ou forem incompletos os elementos essenciais do dispositivo e na falta de assinatura do juiz450.

Conforme Manuel António Lopes Rocha451 “o Código de Processo Penal italiano,em similitude com os Códigos Processuais Penais português e brasileiro, adota o princípio da motivação”, com o objetivo de “permitir o controle do processo lógico através do qual o julgador chega à decisão. Quanto à indicação dos motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão, a sentença deve conter uma “exposição concisa” (alínea “e”, do parágrafo 1º, do artigo 546, do Código de Processo Penal italiano).”

Este dispositivo legal funciona como elemento essencial para que a motivação constitua um remédio contra o arbítrio, ou, dito de outra forma, para sujeitar a decisão a um maior controle da parte da coletividade, e deve ser coordenada com a norma do artigo 192, parágrafo 1º, do Código de Processo Penal italiano, que dispõe, em tema de avaliação da prova, que o “juiz avalia a prova dando conta, na motivação, dos resultados adquiridos e dos critérios adotados”452.

A falta de apreciação de uma prova decisiva, quando a parte a requereu ao abrigo do parágrafo 2º, do artigo 495453 e a falta ou manifesto ilogismo da motivação, quando o vício resulta do texto da decisão impugnada constituem fundamento de interposição de recurso para a cassação da sentença, conforme o parágrafo 1º, do artigo 606454, do Código de Processo Civil italiano.

Mesmo antes do atual Código de Processo Penal italiano, de 22 de setembro de 1988, a jurisprudência daquele país já afirmava que a motivação da sentença tem que conter os requisitos de correção, de complementação e de lógica, como se extrai da seguinte decisão emitida em 1982, a saber:

Ementa: [...]. Em tema da obrigação de motivação da sentença, esta, para ser legal, deve apresentar as características fundamentais da “correção”, no sentido da sua aderência aos elementos probatórios adquiridos, do “completamento”, no sentido da

449 “Titolo II (atti e provvedimenti del giudice) dalla legge. [...]” (Codice di Procedura Penale).

450 “Artigo 546 (requisiti della sentenza) [...]. 3. Oltre che nel caso previsto dall’art. 125 comma 3, la sentenza è

nulla se manca o è incompleto nei suoi elementi essenziali il dispositivo ovvero se manca la sottoscrizione del giudice” (Codice di Procedura Penale italiano).

451 ROCHA, Manuel António Lopes. Op. cit., p. 110.

452 “Artigo 192 (valutazione della prova) - 1. Il giudice valuta la prova dando conto nella motivazione dei

risultati acquisiti e dei criteri adottati. [...]” (Codice di Procedura Penale italiano).

453 “Artigo 495 (provvedimenti del giudice in ordine alla prova) (Codice di Procedura Penale italiano). 454 “Artigo 606 (casi di ricorso) (Codice di Procedura Penale italiano).

sua extensão a todos os elementos relevantes para a formação dos juízos setoriais conducentes ao juízo decisório e da “lógica”, no sentido da sua conformidade aos cânones que presidem às formas do raciocínio e que a este confiram a natureza de ato de demonstração da realidade. [...]455.

Reafirmando sua interpretação, numa decisão mais recente do Cassazione Penale (Suprema Corte de Justiça Penal italiana), emitida em 27 de maio de 1992:

Ementa: [...]. A obrigação de motivação da sentença é satisfatória quando o juiz valora criticamente todos os elementos de prova, indicando, com total coerência lógico-jurídica, aqueles cuja relevância interessa à sua convicção; assim, não cumpre esse dever - e, consequentemente, está ferida de nulidade - a sentença, em cuja motivação, conforme resulta do texto da decisão impugnada, o juiz utiliza, ao explicar o seu raciocínio, argumentos apodícticos e, por isso, inaceitáveis no plano lógico, sem referência a específicos e bem individualizados elementos de fato. [...]456.

Conforme a verificação de Franco Cordeiro457 e Germano Marques da Silva458 “a motivação da sentença é exigência de todas as legislações modernas, exercendo, de um lado, a função de defesa do cidadão contra o arbítrio do juiz e, de outro, a garantia ao Estado de que sua vontade seja aplicada e que a justiça seja corretamente administrada. Ademais, o próprio juiz se defende, por meio da motivação da sentença que emite, contra a suspeita de parcialidade, de arbitrariedade ou qualquer outra eventual injustiça”.

A preocupação com as exigências da fundamentação motivada é revelada em outros diplomas processuais penais europeus, a exemplo do Código de Processo Penal alemão (Strafprozeßordnung StPO ), por meio de um conjunto de disposições, como as dos parágrafos 260 (Urteil, sentença)459, 261 (grundsatz der freien richterlichen Beweiswürdigung, livre apreciação da prova)460, 264 (Gegenstand des Urteils,o objeto da sentença)461 e 267 (Urteilsgründe, fundamentação da sentença)462. O parágrafo 267 do Código

455 Cassazione Penale, 10 de junho de 1982 apud ROCHA, Manuel António Lopes. Op. cit., p. 101. 456 Idem, ibidem, p. 111.

457 CORDEIRO, Franco. Guida alla procedura penale. Milano: Giufreè, 1966. p. 615.

458 SILVA, Germano Marques da Silva. A fundamentação das decisões judiciais: a questão da legitimidade

democrática dos juízes. In: Direito e Justiça, vol. X, Tomo 2, 1996. p. 21.

459 “Parágrafo 260 (urteil)” (Strafprozeßordnung - StPO). 460 “Parágrafo 261 (Strafprozeßordnung - StPO).

461 “Parágradfo 264 (Gegenstand des Urteils): (Strafprozeßordnung - StPO). 462 “Parágrafo 267 (Urteilsgründe” (Strafprozeßordnung - StPO).

de Processo Penal alemão regula com evidente minúcia a questão da fundamentação das sentenças.