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Serviços Ecossistêmicos visão da Ecologia

OS 15 ANOS DE SNUC:

3.3 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS X SERVIÇOS AMBIENTAIS

3.3.1 Serviços Ecossistêmicos visão da Ecologia

A partir da figura 3.3 (a) é possível desenvolver a teoria ecológica que emoldura o conceito de "serviços ecossistêmicos". O início do delineamento do conceito de serviços ecossistêmicos, propriamente dito dentro da Ecologia, portanto, foi dado por Holdren e Ehrlich em 1974 (Quadro 3.1). No artigo, os autores fazem menção a "serviços naturais43" aqueles serviços providos pelo meio natural para a humanidade e concluem que "estas funções de serviços públicos do ambiente global (serviços naturais) não podem ser substituídas pela tecnologia agora ou no futuro previsível44" (HOLDREN; EHRLICH, 1974, p. 283).

Após sete anos, o termo foi cunhado ao que conhecemos hoje como "serviços ecossistêmicos" (EHRLICH; EHRLICH, 1981) e utilizado em diversas áreas. O quadro 3.2 a seguir pontua os principais marcos teóricos conceituais de serviços ecossistêmicos feito por ecólogos.

O trabalho de Westman (1977) foi um marco, pois fez a distinção entre os bens e os serviços da natureza. Para o autor, os "bens" gratuitos da natureza fazem parte da estrutura do ecossistema: as espécies contidas neles, a sua massa e o seu arranjo. Desses aspectos

43Tradução de "natural services" (HOLDREN; EHRLICH, 1974, p. 282).

44Tradução de "These public-services functions of the global environment cannot be replaced by technology now or in the foreseeable future." (HOLDREN; EHRLICH, 1974, p. 283).

estruturais do ecossistema a sociedade obtém benefícios de diretamente explorá-los e/ou de usá-los ou apreciá-los. Já os "serviços" gratuitos da natureza vem das funções da natureza (ou funcionamento do ecossistema), ou seja, a dinâmica pela qual todos os componentes do ecossistema interagem entre si. O funcionamento do ecossistema, ou o fluxo de matérias e energia na comunidade biótica e seus efeitos na dinâmica do solo e atmosfera, trazem diversos benefícios para a sociedade, como: "absorção de poluentes, ciclagem de nutrientes, fixação do solo, entre outros" (WESTMAN, 1977, p. 961).

Westman (1977) afirmou ainda que os danos causados às estruturas dos ecossistemas só se tornam custos para a sociedade quando esses danos prejudicam o funcionamento dos ecossistemas. E que os métodos de valoração dos serviços da natureza, até o final da década de 1970, valoraram apenas os estoques e não os fluxos das funções da natureza.

Quadro 3.2 - Conceito de Serviços Ecossistêmicos (SE), principais autores, 1974 e 2015.

Ano Autor Definição SE

1974 John P. Holdren e Paul R. Ehrlich

"Serviços naturais são aqueles serviços providos para a humanidade pelo ambiente natural" (…) "Estas funções de serviços públicos do ambiente global (serviços naturais) não podem ser substituídas pela tecnologia agora ou no futuro previsível". (p. 283)

1977 Water E. Westman "As funções da natureza (...) são a dinâmica do ecossistema - os serviços gratuitos da

natureza."(...) "O funcionamento do ecossistema são os caminhos pelos quais os componentes do sistema interagem" (p. 961)

1977 Paul R. Ehrlich, Anne Ehrlich e John P. Holdren

Os serviços naturais foram referidos como "serviços públicos do ecossistema global"

1981 Paul R. Ehrlich e Anne Ehrlich

Serviços ecossistêmicos foi o nome dado às "'funções públicas de um ecossistema', que podem teoricamente ser afetadas pela supressão de qualquer espécie do sistema". "É a

dependência da civilização humana sobre os serviços prestados pelo ecossistema que nos interessa aqui (...)". (p. 86)

1997 Gretchen Daily "São as condições e processos pelos quais os ecossistemas naturais e as espécies, as quais a eles pertencem, sustentam e preenchem a vida humana. Eles mantêm a biodiversidade e a produção dos bens ecossistêmicos (…)" (p. 2) Fonte: Elaborado pela autora, com base nas referências apresentadas no quadro e em Mooney

e Ehrlich (1997).

capítulo, o termo "serviços ecossistêmicos" foi amplamente divulgado e utilizado tanto em publicações ecológicas quanto econômicas. O número de artigos publicados utilizando a palavra "Ecosystem Services" no título, resumo ou palavra-chave, desde 1984 até 2016 foi de 15.831, variando de n = 1 (1984) até n = 2.549 (2016) (Figura 3.4). Nos anos de 1985 a 1989 não foram registradas publicações com o termo (SCOPUS, 2016). Porém, a partir de 1997 (n = 14) houve um aumento crescente do número de publicações acerca do tema (Figura 3.4).

Figura 3.4 - Número de publicações usando o termo "ecosystem services" na base de dados da Elsevier - SCOPUS, até o ano de 2016.

Fonte: SCOPUS, Elsevier - Portal Periódicos CAPES (2016).

Nos escritos de Holdren e Ehrlich (1974), Westman (1977), Ehrlich e Ehrlich (1981) e Daily (1997) é possível notar a presença dos termos: estrutura dos ecossistemas, funcionamento, funções ou dinâmica dos ecossistemas, processos e condições ecossistêmicas. A estrutura de um ecossistema é todo o seu conteúdo, ou seja, todas as espécies existentes em seu ambiente físico (EHRLICH; EHRLICH, 1981; KANDZIORA; BURKHARD; MÜELLER, 2013; WESTMAN, 1977), que inclui a espécie humana. Funcionamento (EHRLICH; EHRLICH, 1981), dinâmica e funções (HOLDREN; EHRLICH, 1974; WESTMAN, 1977) e condições (DAILY, 1997) são termos que se referem à descrição funcional integrada da performance geral de um ecossistema ou uma indicação integrada dos efeitos das inter-relações ecológicas (KANDZIORA; BURKHARD; MÜELLER, 2013). Ou seja, englobam atividades biogeoquímicas de um ecossistema, seu fluxo de materiais

(nutrientes, água e gases atmosféricos) e os processos energéticos envolvidos (NAEEM, 1998).

Para Holdren e Ehrlich (1974), Westman (1977), Ehrlich e Ehrlich (1981), Naeem (1998) e Daily (1997), portanto, as funções ecossistêmicas, derivadas do funcionamento, dinâmica e inter-relação entre os componentes do ecossistema que incluem: a fixação do solo pelas plantas, importantes controladores de erosão; a ciclagem de nutrientes pelos microrganismos; a manutenção do balanço de gases na atmosfera, feita por florestas e importantes para a regulação climática; a oferta de água potável, no qual as florestas têm importante papel no ciclo da água; o ciclo energético para a produção de matéria orgânica.

Esses processos dinâmicos que ocorrem no ecossistema permitem que os seres humanos e todos os outros animais obtêm recursos necessários para a sobrevivência, como alimento, abrigo e energia. Segundo Kandziora, Burkhard e Müeller (2013), a total compreensão do conceito "funcionalidade ecossistêmica" é dependente de processos e estruturas ecológicas básicas, que também são pré-requisitos para a capacidade de auto- organização do sistema e sua habilidade de prover os serviços ecossistêmicos. Essas características dos ecossistemas estão resumidas dentro do conceito de "integridade ecossistêmica" (KANDZIORA; BURKHARD; MÜELLER, 2013).

O termo "serviços ecossistêmicos" é, portanto, proveniente do conjunto dos processos energéticos e dos fluxos de matéria (compreendido como funcionamento do ecossistema) que ocorrem em um ecossistema (DAILY, 1997; KANDZIORA; BURKHARD; MÜELLER, 2013; NAEEM, 1998; WESTMAN, 1977). Os bens ecossistêmicos, no entanto, podem ser definidos como a parte estrutural componente do ecossistema, como as espécies, e tudo os que o compõe, ou seja: peixes, madeira, produtos florestais, por exemplo (DAILY, 1997; NAEEM, 1998; WESTMAN, 1977) (Figura 3.3 a).