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PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

1.5. Descrição dos bairros selecionados 1 O Setor Norte

1.5.2. O Setor Sul

Assim como a maioria das áreas de expansão do núcleo urbano primaz, o Setor Sul teve sua constituição inicial, no fim do século XIX, de forma espontânea, tendo os seus primeiros bairros, como o Patrimônio e parte do Cidade Jardim, considerados periferia desprovida de infraestrutura que abrigavam a população assalariada e de baixa renda. No decorrer do século XX com o crescimento horizontal da cidade, conforme assegura Soares (1995) esse setor, às margens do rio Uberabinha e Córrego São Pedro, ficou reservado aos loteamentos de luxo, clubes campestres. Destaca-se ainda que neste setor é comum a existência de sítios, com e sem moradias para fim de semana.

Para além das áreas tradicionais do setor Central (Fundinho e adjacências) este é o Setor com os bairros mais elitizados, acrescenta-se ainda que especialmente nos últimos anos, com a expansão dos condomínios horizontais fechados, o Setor Sul tem tido grande valorização, por ter sido eleito pela população de maior status socioeconômico, como a ―área nobre‖, a qual coincide com a localização daqueles elementos listados por Soares (1995)

somados aos novos equipamentos e serviços, em quantidade significativa, direcionados ao atendimento da elite.

No entanto, apesar de elitizado, esse setor não exclusivo da elite, afinal são vários os espaços, nomeadamente os menos valorizados que são ocupados pela população mais pobre, seja de forma ―planejada e regular‖ via políticas públicas de habitação para a implantação de conjuntos habitacionais populares, ou mesmo irregular a partir da autoconstrução de moradia improvisada. Assim, apesar da ideologia do Setor Sul enquanto área nobre, em Uberlândia, a alta concentração da elite nos mais luxuosos condomínios é recente, sendo que a origem de sua ocupação, tal como as porções menos valorizadas ainda permanece como lócus da população das classes mais baixas. De modo que, nessa região pode ser observada a materialização da desigualdade socioespacial, inclusive evidente no âmbito interno de alguns bairros como o Cidade Jardim.

1.5.2.1. Cidade Jardim e Jardim Karaíba: Os “Jardins” mais tradicionais do Setor Sul

O bairro Cidade Jardim localiza-se próximo ao Rio Uberabinha com vista privilegiada para o centro da cidade. O início de sua ocupação foi entre final da década de 1970 e início da década de 1980, posto que 2 dos 3 primeiros loteamentos do bairro Cidade Jardim, assim denominados, tem a aprovação datada de 1981. Sendo que um, o Setor A, possuía lotes maiores com 1.000 m ² para atender a classe de maior poder aquisitivo, já a outra parte, a ampliação, tinha os lotes menores, em média de 300 m ², voltados para a classe de menor poder aquisitivo.

Apesar de ter sido concebido para atender às classes média e alta, parte dos migrantes que chegavam a Uberlândia na década de 1980 se instalavam nas partes menos valorizadas do Cidade Jardim, conforme relata Soares (1995, p.231).

Ainda assim, [a favela] sobrevive em diversos pontos da cidade, tais como nos bairros Dom Almir, Maravilha, Cidade Jardim, na FEPASA e no Anel Viário, cujos moradores vivem em péssimas condições, além de sofrerem uma constante ameaça de expulsão daquelas áreas, por pressão constante dos órgãos públicos [...]. Tais contradições permanecem visíveis no bairro Cidade Jardim, que concentra na parte mais alta uma população rica, inclusive em condomínios fechados (o bairro integrado abrange parte dos Jardins Barcelona e Nova Uberlândia) e em parte de sua periferia concentra uma população de renda mais baixa.

O loteamento denominado Jardim Karaíba, que deu origem ao bairro de mesmo nome data da década de 1980. Situado na porção central do setor Sul, esse foi um dos primeiros

loteamentos para atender a população dos estratos de renda mais elevados. Conforme o grupo Karaíba Imobiliária15, responsável pelo loteamento, ―o objetivo de atender a uma classe média que não tinha opção de morar em um bairro com características especiais, tendo como prioridade a ―qualidade de vida‖‘. Na época de sua implantação o loteamento ficava relativamente afastado do centro, bem como apresentava ―regras muito rígidas de ocupação para manter as características da proposta do projeto urbanístico‖:

O ponto alto do projeto foi determinado pela colocação das áreas verdes em frente às casas para que os moradores pudessem usufruir desta ―exigência legal‖ fazendo sua manutenção aliviando a Prefeitura do ônus de cuidar de uma praça que nem sempre é utilizada pelos moradores do bairro pela sua distancia das moradias.

É bom lembrar que as referidas áreas verdes foram colocadas em frente aos terrenos que davam fundos para a vista da cidade de Uberlândia, pois a procura na época era pelos lotes que davam frente para a cidade, para que o empreendimento pudesse se viabilizar, pois na época foi considerado como um grande desafio fazer um empreendimento imobiliário dentro de uma ―mata do cerrado‖.

Realmente o sucesso do empreendimento ―Jardim Karaíba‖ foi devido à qualidade do projeto urbanístico, bem como um projeto paisagístico que teve a preocupação de fazer um plantio de arvores ao longo das ruas, plantando uma arvore a cada divisa de lote (Grupo Karaíba, Karaíba Imobiliária. Disponível em: http://karaiba.com.br/, 2015).

Nesse bairro, foi implantado no ano de 1994 o primeiro condomínio fechado do setor Sul, o Condomínio Guanambia (MOURA, 2008). O status quo do bairro integrado Jardim Karaíba tem sido mantido ao longo dos anos, tendo ainda a maioria dos residentes enquadrada em um elevado padrão aquisitivo.

1.5.2.2. Lagoinha e Shopping Park: retratos da exclusão no Setor Sul

Apesar de parte do bairro Lagoinha apresentar hoje condições infraestruturais e população de status econômico médio, especialmente na porção mais baixa do bairro, às margens do Córrego, os moradores ainda são de renda muito baixa e não contam com um padrão mínimo de infraestrutura, conformando-se como verdadeiro ―cinturão de pobreza‖.

O bairro integrado Shopping Park, dista cerca de 10,5 Km do centro da cidade, constituído a atual periferia da mancha urbana. Além disso, carece de equipamentos urbanos comunitários. Compõem o bairro os Sítios de recreio Nossa Senhora Aparecida (parte) e Ibiporan (B, C e D), condomínios como (Park dos Jacarandás I e II, Park dos Ipês I e II, Gávea Sul, residencial jardins e varanda sul) e os loteamentos populares também denominados Shopping Park, dentre os quais os I e II datam da década de 1990 e os III, IV, V, VI e VII, que compõem a parte mais recente do bairro, foram criados em 2009 para atender

ao Programa ―Minha Casa, Minha Vida‖ voltado para reduzir o déficit habitacional, que atinge, sobretudo a população mais pobre. Moura (2008) destaca que os loteamentos Shoppink Park I e II, só receberão uma infraestrutura mais adequada com a instalação dos condomínios horizontais/loteamentos fechados e os equipamentos associados a ele, ou seja, após dez anos da sua constituição.