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Sustentabilidade: uma noção abrangente, mas inseparável de qualidade de vida e de saúde

LIÇÕES E EXPERIÊNCIAS DE UMA UTOPIA A SER ALCANÇADA

2.4. Sustentabilidade: uma noção abrangente, mas inseparável de qualidade de vida e de saúde

No centro do desenvolvimento sustentável é a ideia de assegurar uma melhor qualidade de vida para todos, agora e para as gerações vindouras (AUDIT COMMISSION, 2002)

A saúde indica se estamos caminhando ou não para o desenvolvimento sustentável.

(Paulo Gadelha, Presidente da FioCruz)

A globalização tem propagado, a partir do mundo ocidental urbanizado e pós- moderno, valores que têm como base o consumismo, por vezes, aproximando-os à qualidade de vida. Entretanto, é mais adequado que a qualidade de vida seja abordada em sentido próximo da ecologia humana, considerando as relações estabelecidas pela sociedade nos ecossistemas para as boas condições de vida. De forma semelhante, no campo da saúde, o estilo de vida e a situação de vida, têm historicamente integrado o debate em torno da importância das políticas públicas e movimentos sociais para a qualidade de vida, como exemplos tem-se “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra‖, de Engels, ou

―Mortalidade diferencial na França‖, de Villermé para a realidade europeia e os trabalhos de Mckeown (1982), Breilh et al. (1990), Nuñez (1994) e Paim (1994) para a realidade latino- americana (MINAYO; HARTZ e BUSS, 2000). A WHO (2012) também considera a saúde como uma referência importante de sustentabilidade das políticas urbanas para o desenvolvimento.

Com um protagonismo cada vez maior, as relações da qualidade de vida com temáticas como: sustentabilidade, desenvolvimento humano, saúde e sentimentos como felicidade, bem-estar, etc., têm sido tratadas em importantes teses, congressos acadêmicos e conferências promovidas por organismos internacionais. Além das conferências promovidas

pela Organização Mundial de Saúde50, há outras que abordam a saúde, na perspectiva de sua relação com o meio e sua importância para o alcance da sustentabilidade, da qualidade de vida e do bem-estar, bem como destacam a importância do acompanhamento das mudanças por meio de sistemas de indicadores. Nas conferências internacionais das UN, por exemplo, é frequente a abordagem dos desafios, ameaças e oportunidades do desenvolvimento humano em geral, e urbano em particular, considerando as dimensões ambientais, econômicas e sociais, essenciais ao conceito de desenvolvimento sustentável. De modo que, para compreender a noção de qualidade de vida não se pode desconsiderar a intersecção entre os conceitos de saúde e desenvolvimento sustentável.

A partir do reconhecimento de crises (ambientais, sociais e econômicas) e da necessidade de mudanças estruturais e de novos paradigmas para os sistemas socioeconômicos e políticos, que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual deve ser buscado por meio de políticas e ações em vários setores da sociedade, tendo em vista os três pilares do desenvolvimento (econômico, social e ambiental).

Não obstante, o conceito de sustentabilidade ter sido amplamente difundido na década de 1980, suas raízes remontam ao ano de 1949, na ocasião da Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos Naturais, ocorrida em Lake Sucess, nos EUA, quando se discutiu sobre a situação ambiental mundial.

Antes da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano em Estocolmo no ano de 1972, considerada a primeira Cimeira da Terra, a UNESCO promoveu duas conferências em Paris, uma em 1962 e outra em 1968, nas quais se abordou os reflexos das

50 As ligações entre sustentabilidade e saúde já foram discutidas sob várias perpectivas, p.e, nos documentos: 1) Health in the green economy (http://www.who.int/hia/green_economy/en/index.html). 2) WHO initiatives on housing, transport, health and environment linkages and sustainable health and development in all regions of the world (http://www.who.int/topics/environmental_health/en/). 3) DPSEEA model: driving forces, pressures, states of hazard/pollution, and exposures to risks, health effects as well as actions in Corvalan C, Briggs D & Zielhuis G, eds. Decision-making in environmental health: from evidence to action. Geneva, World Health Organization, 2000. 4) Health and environment, managing the linkages for sustainable development: a toolkit for decision-makers. WHO/United Nation Environment Programme (UNEP) synthesis report. Health and Environment Linkages Initiative (HELI), Geneva, World Health Organization, 2008. 5) Corvalan C, Briggs DJ, and Kjellstrom T. Development of environmental health indicators . In: Briggs D, Corvalan C, and Nurminen M, eds. Linkages and methods for environmental and health analysis. General guidelines, Geneva, United Nations Environment Programme, United States Environmental Protection Agency and World Health Organization, 1996. 6) Urban HEART. Kobe, World Health Organization Centre for Health Development, 2011 (http://www.who.int/kobe_centre/measuring/urbanheart/en/). 7) Environmental health indicators for the Rio+20 UN Conference on Sustainable Development. Background paper for WHO/NIEHS Expert consultation, Geneva, National Institute of Environmental Health Sciences, 17-18 May, 2012. 8) Governance for health in the 21st century (WHO), etc. Portanto, ao cumprir com sua função básica, ou seja, promover a melhoraria do nível de saúde no mundo, e com seus objetivos específicos, dentre os quais destacam-se: erradicar as epidemias e endemias; estabelecer padrões internacionais para produtos farmacêuticos e biológicos; auxiliar os governos; coordenar as atividades internacionais em matéria de saúde; contribuir para o aperfeiçoamento do ensino médio. A WHO também atua em relação ao meio ambiente.

ações antrópicas no ambiente, bem como se reconheceu a necessidade de medidas de intervenção. Especialmente, no documento da conferência de 1962 ―Recomendação relativa à salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e sítios‖ há indicações para a elaboração de planos urbanísticos e de ordenamento, que prezem pela proteção ambiental. Destaca-se ainda a criação do Clube de Roma, no ano de 1968, o qual agrega estudiosos, políticos, chefes de estado, bem como associações internacionais preocupados com a forma de crescimento da sociedade.

A pedido dos pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology, foi publicado pelo Clube de Roma o Relatório Meadows conhecido também como Relatório do Clube de Roma, com o título ―Os limites do crescimento‖, onde foram destacadas questões fundamentais para o futuro desenvolvimento da sociedade. A partir de modelos matemáticos foi proposto que, mesmo considerando o avanço das tecnologias, se mantidos a mesma intensidade da evolução populacional e da exploração dos recursos naturais, as ações antrópicas poderiam refletir em problemas como: perdas humanas e de terras aráveis devido à poluição, além da escassez de recursos energéticos.

Embora, não tenha ocorrido o uso explícito do termo desenvolvimento sustentável, na década de 1970 ocorreram evoluções significativas em relação ao entendimento da forma de ―desenvolvimento‖ da sociedade51. Afinal, sustentável (sustentare no latim) significa suster, conservar, manter, perpetuar, ou seja, que permita a manutenção e estabilidade ao longo do tempo. O que não era o caso, pois, se percebia uma situação de insustentabilidade, inclusive a partir de uma visão antropocêntrica, e não sistêmica e complexa, e com certa aproximação das teorias Malthusianas, tal como no relatório ―Os limites do Crescimento‖, o que induziu reflexões mais críticas sobre o desenvolvimento da humanidade. Logo, no ano de 1972, foi promovida pela ONU em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano que resultou na elaboração de uma declaração com 26 princípios basais, recomendações e quadros de ações para a preservação e melhoria do ambiente, que serviu de fundamento para a elaboração das políticas ambientais de vários países, inclusive o Brasil a partir dos capítulos sobre o ambiente da Constituição Federal de 1988 e as políticas deles decorrentes. Nesta ocasião criou-se também o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

51 Com foco nas áreas urbanas, o simpósio Sobre o Impacto da urbanização no ambiente humano (United Nations, 1970) ocorrido em New York, foi o primeiro grande fórum de discussão das questões do ambiente urbano, ao apontar a urbanização e alterações tecnológicas como condicionantes de suas alterações (PARTIDÁRIO, 2000).

A compreensão de que o desenvolvimento sustentável é complexo e, portanto requer abordagens mais holísticas e sistêmicas ganharam espaço entre os estudiosos, e foi difundida especialmente nos congressos e conferências, cujo tema era a educação ambiental, como a realizada no ano de 1977 em Tsibilisi (EUA).

O conceito de desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez no relatório da Estratégia de Conservação Mundial publicado no ano de 1980 pela United Nations

Environment Programme (IUCN) em parceria com a UNESCO. A ênfase até então era na

dimensão ambiental ―a integridade ambiental‖ ponderava-se os aspectos referentes às dimensões social, ecológica e econômica, dos recursos vivos e não vivos e as vantagens de curto e longo prazo de ações alternativas (VAN BELLEN, 2005, p.23). Entretanto, a ênfase no elemento humano, o equilíbrio entre as dimensões social, ambiental e econômica e a formalização e difusão da definição ―clássica‖ de desenvolvimento sustentável, que se tornou conhecida mundialmente, ou seja, ―o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" ocorreu no relatório ―Nosso futuro comum‖, também conhecido como Relatório de Brundtland52, elaborado e publicado em 1987 pela Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas.

Conforme consta neste relatório (1987, p.57), o desenvolvimento sustentável é, ―um processo de mudança, em que a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais estejam todas em harmonia, e melhorem o potencial presente e futuro para satisfazer às necessidades e aspirações humanas‖. Inerente ao conceito estão as dimensões social, econômica e ambiental, segundo Berger-Schmitt; Noll (2000, p.21) ―influenciando mutuamente umas as outras, em uma hierarquia de dependência: a economia é parte e depende da sociedade que se existe dentro do ambiente e é dependente dele‖.

Ao longo dos anos, a noção de desenvolvimento sustentável recebeu conotações mais amplas, que comportavam explicitamente a questão social, a saúde e a qualidade de vida. Neste sentido, destaca-se a definição da União Mundial da Conservação, do Programa das Nações Unidas para o Ambiente e do Fundo Mundial para a Natureza (1991) segundo a qual ―desenvolvimento sustentável significa melhorar a qualidade de vida sem ultrapassar a capacidade de carga dos ecossistemas de suporte‖. E a definição do Conselho Internacional

52 O nome Brundtlandt foi em homenagem a médica, mestre em saúde pública e ex-Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtlandt convidada pelo presidente ONU World Comission on Environment and Development para coordenar a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, cuja comissão elaborou o relatório ― O Nosso Futuro Comum‖.

para as Iniciativas Ambientais Locais (1994) em que ―desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que presta serviços ambientais, sociais e econômicos de base a todos os moradores de uma comunidade sem ameaçar a viabilidade dos sistemas naturais, urbanos e sociais de que depende a prestação desses serviços‖ (COMISSÃO EUROPEIA, 1996).

Na perspectiva social ―a preocupação maior é com o bem-estar humano, a condição humana e os meios utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condição‖. Tais, meios podem ser: o capital social e humano, que devem ser assegurados e aumentados, reduzindo diferenças e melhorando as condições de vida, a partir do acesso a serviços básicos, àgua limpa e tratada, ar puro, serviços médicos, segurança, educação, etc. (VAN BELLEN, 2005, p.37).

Berger-Schmitt e Noll (2000, p.24) destacam que desenvolvimento sustentável e qualidade de vida apresentam-se intrinsecamente relacionados, tendo o desenvolvimento sustentável, enquanto modelo geral de atuação, o objetivo maior assegurar a qualidade de vida, considerando as gerações futuras. Já a qualidade de vida em um sentido próximo de bem-estar/da boa vida é um componente da sustentabilidade. Porém, são conceitos distintos, nas palavras dos autores:

As a main difference between the two concepts one can consider that quality of life is related to the individual welfare in actual life domains, whereas sustainability represents a general model of acting which refers to collective qualities, such as equality, equity and the preservation of nature. This leads to the question, whether the principle of sustainability is compatible with quality of life and if so, whether quality of life can be conceived as a component of sustainable development or whether sustainability should be considered as a subdimension of quality of life (Noll 1999, p. 15). Various authors have held the view that the overarching goal of sustainable development ultimately is a higher quality of life for people (Wiman 1999; Hart 1998-99; OECD 1998b). The emphasis is placed on ‗all‘ which includes people of the present and of the future. Hence, a major difference between the goals of quality of life and sustainable development can be seen in the explicit importance assigned to intergenerational equity which extends the perspective of the concept of sustainability to the future (IISD 1998, p. 1-2). Sustainability considerations are essential for ensuring the quality of life of future generations. On the other hand, the concept of sustainability does not claim to develop a comprehensive formula of the ‗good life‘ as the quality of life concept does.

Pelo fato de a coordenadora da Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento ser médica, com uma visão de saúde relacionada com as questões ambientais e de desenvolvimento humano, no relatório ―Nosso futuro comum‖ há referências à relação entre os problemas ambientais e de saúde pública. É exemplificativa, a afirmação de que ―um mundo onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propenso às crises ecológicas, entre outras […]‖ e também que ―o desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo aumento do potencial produtivo

como pela garantia de oportunidades iguais para todos.‖ Contudo, pode-se afirmar que, pelo menos de imediato, não foi dispensada atenção especial à associação entre saúde e sustentabilidade, cuja relação só foi retomada de maneira explicita em 2012, devido aos esforços das entidades do setor da saúde como a WHO, em nível mundial, e a FioCruz no contexto brasileiro, na ocasião da preparação e ocorrência da Rio+20.

A primeira fase da difusão do conceito de desenvolvimento sustentável, bem como a inserção de recomendações para seu alcance na agenda pública internacional, a partir planos de ação e estratégias deve-se à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cimeira da Terra) em 1992 no Rio de Janeiro, especialmente a Agenda 21, na qual ―os seres humanos estão no centro de preocupação para o desenvolvimento sustentável. A que têm direito para uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza‖ (WHO, 1997). Além da agenda 21, resultaram desta Conferência os seguintes documentos: Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Princípios para a Administração Sustentável das Florestas; Convenção da Biodiversidade e a Convenção sobre Mudança do Clima53. Apesar de referirem basicamente à proteção ambiental e desenvolvimento econômico já que a incorporação da vertente social ocorreu somente na Cimeira Social de Copenhague em 1995 (LOURO, 2011), a agenda 21 e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento importantes, notadamente pela grandeza e amplitude que representam no sentido de delinear a busca do desenvolvimento sustentável ao longo do século XXI.

Além das condições ambientais uma das preocupações presentes na Agenda 21 são as necessidades humanas, inclusive a saúde, tida como uma condição básica para a realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável. A implementação da Agenda 21 pode permitir o alcance da qualidade de vida na sociedade. No entanto, demanda tempo, mais precisamente gerações, já que envolve ―mudança cultural, e não apenas ajustes econômico e político‖. Além disso, os primeiros períodos desta transição são os mais difíceis, porque a visão do que se deseja é fraca e resistência é forte. O que implica na necessidade de um propósito, uma visão, uma meta ser alcançada. (PEARCE, 1995, apud WHO, 1997, p.33). No quadro 11 são descritos os estágios da transição para um desenvolvimento sustentável e seus significados em termos de política, economia, sociedade e discurso, onde se vê a passagem de um

53 Sobretudo para avaliar os avanços desde a Rio 92 e colocar em prática a convenção sobre mudanças do clima, foi estabelecido em 1997 na 3 ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, em Quioto, o Protocolo de Quioto, que prevê a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa. Sendo que Cimeira de Bali, ocorrida em 2007, foi proposta a criação de um protocolo com metas mais ambiciosas e mais exigentes para ser sucessor ao Protocolo de Quioto.

discurso, por vezes vago/inconsistente, à concretização da noção no âmbito das diferentes esferas.

Quadro 11 - Fases do movimento para a sustentabilidade.

Política Economia Sociedade Discurso

E st ág io 1 sus te nt abi l ida de U lt ra -fra ca Integração política da boca para fora Menor ajuste econômico Pouca consciência e cobertura da mídia Discussão de grupos corporativos; exercícios de consulta. E st ág io 2 sus te nt abi li da de fra ca Integração política formal e entrega metas políticas Substancial reestruturação de incentivos à microeconomia Público em geral educado para visão de futuro Mesas redondas; grupos das partes interessadas;

vigilância parlamentar E st ág io 3 sus te nt abi li da de fort

e integração fortes Vínculos de

e acordos internacionais Avaliação econômica completa ; contas verdes em nível nacional e nos negócios; compensação verde de impostos. Integração currícular; iniciativas locais como parte do crescimento da comunidade Envolvimento da comunidade; geminação de iniciativas no mundo em desenvolvimento e desenvolvido. Fonte: Adaptado de WHO (1997). Org: Alves (2015).

Entre o final da década de 1980 e 1990, merece destaque também, no contexto do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), a concepção e difusão do conceito de desenvolvimento humano, fundamentado nas ideias de Amartya Sen e Mahbub ul Haq, e sua operacionalização e medição por meio do Índice de Desenvolvimento Humano. Tal conceito tem sido continuamente melhorado, abarcando noções, como liberdade humana, sustentabilidade, empowerment, etc. Segundo um paradigma que:

[…] coloca as pessoas no centro das preocupações e, finalmente, tem o objetivo de melhorar o bem-estar humano. Portanto, o desenvolvimento humano representa efetivamente um conceito de bem-estar centrado no indivíduo. Como mencionado anteriormente, é fortemente relacionado com a abordagem de capacidade no âmbito do conceito de qualidade de vida. O indivíduo é considerado como um agente ativo e participante, em vez de um beneficiário passivo no processo de desenvolvimento (Doraid 1997). (BERGER-SCHMITT; NOLL, 2000, p.25-26, tradução nossa). Logo após a ocorrência da Rio 92, é previsto no âmbito da UE no Tratado de Maastricht54, o compromisso por parte dos países europeus com o desenvolvimento sustentável, cujo compromisso se manteve e foi reforçado nos tratados reformadores,

54 Conhecido com Tratado da União Europeia, este tratado foi assinado em 1992, para entrada em vigor em 1 de janeiro de 1993, pelos membros da Comunidade Europeia marcando a criação do bloco econômico. No Tratado foram estabelecidas as linhas-mestras da política e das instituições europeias. Este tratado já passou por reformas por meio dos denominados Tratados Reformadores.

especialmente pelo Tratado de Lisboa (2007)55, que coloca assegurar o desenvolvimento sustentável; juntamente com a promoção da igualdade de oportunidades e da coesão social e combate à exclusão; elevação dos padrões de vida e melhoraria condições de vida e de trabalho; como um dos objetivos da União Europeia, que, enquanto comunidade, já havia publicado em 1990 o Livro Verde sobre Ambiente Urbano, o qual segundo Partidário (2000) foi a ―pedra fulcral na evolução da política ambiental urbana da europa comunitária‖.

Ainda no contexto europeu, a partir do Projeto Cidades Sustentáveis realizou-se a Primeira Conferência sobre Cidades Europeias Sustentáveis, em 1994 em Aalborg (Dinamarca), que resultou na Carta de Ålborg ou Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade, a qual representou um compromisso inicial, já que este documento foi a base para a Segunda Conferência Europeia das Cidades Sustentáveis realizada em 1996, para com a materialização dos objetivos do desenvolvimento sustentável, a partir de planos de ação locais no contexto das cidades europeias, cujos progressos deveriam ser monitorados por meio de indicadores de sustentabilidade. Dentres os objetivos previstos na Carta de Ålborg sobressaem: a participação da comunidade local, equidade social, o correto ordenamento do território, conservação da biodiversidade, a mobilidade urbana, entre outros.

Estes compromissos firmados na Carta de Ålborg serviram de inspiração e foram adequados à realidade brasileira, aos quais foram agregados outros dois eixos temáticos, a saber: "Educação para a Sustentabilidade e Qualidade de vida" e "Cultura para a Sustentabilidade", a fim de que estes embasasem o Programa Cidades Sustentáveis, lançado no ano de 201156 pela parceira da Rede Nossa São Paulo, da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e do Instituto Ethos. O programa tem como objetivo, ―sensibilizar e mobilizar as cidades brasileiras para que se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente sustentável‖, e oferece: I – Ferramentas (Plataforma Cidades Sustentáveis, Indicadores gerais, exemplos e referências nacionais e internacionais de excelência); II – Compromissos (assinatura de uma Carta Compromisso e prestação de contas

55 Conforme consta nos documentos do Conselho Europeu o Tratado de Lisboa é, até à data, o último dos Tratados que alteraram os Tratados fundadores das Comunidades e da União Europeia, como o Ato Único