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A significação é vivência pessoal de um sujeito, pois é por eie experi ­

No documento Doação de filho: um gesto símbólico (páginas 44-48)

mentada, mas é ao mesmo

tempo de

valor universal, pois pode

ser

vivenciada por outros sujeitos.

CAPALBO

Decidido o tema, iniciava-se agora o longo caminho de

busca às respostas para as tantas questões que me afligiam, visto ser a indagação, segundo BUSSINGUER (1990), parte que emerge,

não apenas em um ponto inicial da caminhada, mas que permanece, mesmo à medida que se avança em amplitude e profundidade.

Esse trajeto começa quando me posiciono interrogativa frente ao significado, para a mãe, da doação de filho e procuro na literatura pertinente encontrar outros autores que dividam comigo as mesmas inquietações. Após exaustiva pesquisa nos sistemas de

busca da Universidade (COMUT, LILACS, MEDELINE, ABSTRATS, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, PRODASEN...) descobri a enorme lacuna existente no que concerne ao problema da doação de filhos.

Nesta fase exploratória, investigativa da doação, para

que tivesse uma visão geral do problema considerado, busquei

matérias em jornais e revistas, realizei entrevistas com juizes,

profissionais especialistas na área, antropólogos, sociólogos;

contatei enfermeiras, médicos e assistentes sociais que convivem com situações de doação; recorrí a processos jurídicos relacionados

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TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 3

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l ao problema, visitei instituições como o S.O.S. Criança, Delegacia

da Mulher e Juizado da Infância e Juventude,

Nesta época, busquei contatar mães doadoras,

objetivando a construção do mundo empírico proposto por

BLUMER(1 969), bem como possíveis colaboradoras quando da coleta de dados, Para isso, realizei um levantamento nos processos

de doação do Juizado da Infância e Juventude, registrados no

período de junho de 1994 a junho do ano seguinte, tendo identificado 31 mães doadoras.

Reunidas, analisadas e organizadas todas as informações

em um dossiê, mais uma vez constatei que os raros dados encontrados, em sua essência, estão relacionados à sua

contrapartida, a adoção, apreendendo o conhecimento do todo de forma imprecisa e inacabada, como referido de antemão.

Entretanto, precisavamos de mais dados para subsidiar a

construção do mundo empírico vivido pela mãe doadora, fato que me levou a optar pela revisão de literatura de três temas que, na minha

percepção, se relacionam com o estudo como causas e

consequência ~ gravidez indesejada, gravidez na adolescência e

adoção.

Agora, minhas preocupações se voltavam para a necessidade de conseguir amostras de mães adolescentes, visto ser

do conhecimento comum serem estas as que mais doam, fato que me ievou, em um primeiro momento, a fazê-las sujeito único de meu estudo. Posteriormente, como não se comprovou na prática este a

priori, adotei como sujeitos do estudo mães que haviam doado filhos

em algum momento de suas vidas, ou estavam prestes a fazê-lo, uma vez que algumas ainda se encontravam internadas na maternidade.

Após a alta hospitalar, voltava a manter contato com estas mães que

me confirmavam a doação, exceto uma, que reverteu a intenção de

doar após ter o aceite dos patrões para criar o filho, sendo, portanto,

excluída do estudo. É importante salientar que encontrei mães que

diferença relevante quanto às reações e significados no trato do

tema em relação às doadoras recentes.

Quanto à coleta de dados, a proposta inicial era de realizá-la em três cenários distintos: o Hospital Geral de Fortaleza,

Juizado da Infância e Juventude, e Maternidade-Escola da Universidade Federal do Ceará. O primeiro justificava-se por ter

sido cenário preliminar de meu estudo e pela possibilidade de rápida locomoção até lá. Em relação ao Juizado da infância e Juventude, a

decisão decorreu por acreditar que, sendo o órgão especializado,

inclusive referido em entrevistas por profissionais locais, a

instituição apresentaria registro de razoável demanda.

Posteriormente, os dois foram descartados: O Hospital,

por se encontrar em reforma de instalação, com reduzido número de leitos, atendendo apenas os casos de urgência, enquanto o Juizado

da infância e Juventude não referendou as informações das

entrevistas, tendo registrado, contrariamente, pequena demanda, dado que a maioria dos casos era de crianças abandonadas em

residências de terceiros, ou em decurso de adoção.

Ainda assim, realizei a tentativa de contatar as 31 mães

identificadas no levantamento inicial, o que foi realizado apenas duas, porquanto as outras haviam mudado de endereço, a instituição que as abrigava fechara, as patroas não permitiram a entrevista ou o

endereço não conferia. No entanto, estas duas não fizeram parte do trabalho porque se recusaram a conceder entrevista.

A Maternidade-Escola, por sua vez, fundamentava-se pela média de mil(1000) partos mensais, absorção de 163 leitos de

maternidade (dos 300 existentes em Fortaleza destinados à

população carente), e o grande número de atendimento externo:

aproximadamente 28.000/mês.

Além destes dados, pesava o fato de ser a Maternidade- Escola Assis Chateaubriand a instituição onde desenvolvo minhas atividades de docente e, por conseguinte, ter maior facilidade de

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trajetóriametodológica

Num primeiro momento desta coleta, tomei contato com

os profissionais da Maternidade-Escola, explicando-lhes os objetivos

do estudo, oportunidade em que solicitava a cooperação deles no

sentido de se comunicarem comigo tão logo alguma mãe expressasse o desejo de doar o filho. Para que esta comunicação

fosse realizada, afixei cartazes em todos os setores, indicando

telefone e local onde poderia ser encontrada, além de realizar

visitas diárias, nos dois turnos, a todos os setores da Instituição. Em razão da receptividade e divulgação do trabalho, aos

poucos começaram a surgir os primeiros sujeitos do estudo. Após

me apresentar e convidá-las a participar da entrevista, explicava de

forma sucinta o objetivo do trabalho, demonstrando meu interesse em escutar suas experiências e vivências, como mãe que doou ou doaria o filho, numa expectativa de ajuda a outras mães que

porventura viessem a passar por semelhante situação.

Em seguida a essa abordagem era ressaltada à

informante meu respeito à sua autonomia e livre arbítrio na aquiescência ou não á entrevista, garantindo, por conseguinte, o

sigilo e o anonimato das falas em deferência aos aspectos ético-

legais dos direitos humanos, bem como que não seriam submetidas a

julgamentos ou censuras.

Vale ressaltar que, a príori, não houve o estabelecimento de um número fixo de participantes, dado ser a convergência das

falas indicando o desocultamenío do significado em questão, características próprias da abordagem qualitativa, a condição básica

determinante da amostra.

Nestes termos, a inclusão na amostra foi se fazendo à medida que eu ia identificando e contatando essas mães,

pessoalmente ou através de indicações feitas por enfermeiras,

auxiliares de enfermagem, assistentes sociais, médicos, outras mães doadoras, alunos, amigos e líderes da comunidade. Este fato me

levou a ampliar o cenário para domicílios, centro comunitário e meu próprio loca! de trabalho (Departamento de Enfermagem do Centro

de Ciências da Saúde da Universidade Federai do Ceará), já que

algumas mães assim preferiram.

Para captação das falas, fiz uso de gravador por entender ser este o melhor meio de garantia de fidedignídade de reprodução do pensamento e por me possibilitar maior atenção à entrevistada,

porquanto estaria livre de anotações durante o diálogo. Entretanto, sabedora de sua limitação como agente inibidor, não fiz de seu uso

condição imprescindível ao meu trabalho. Caso não houvesse

concordância com o emprego desse equipamento, a entrevista, ainda

assim, se realizaria, sendo as falas registradas logo após o término da conversa.

Para quebrar um pouco o gelo, deixando-as mais à

vontade e confiante frente ao gravador e a mim (uma vez que quase todas aceitaram ser entrevistadas no mesmo dia do contato, já que

não gostariam de retomar o assunto posteriormente, em seus lares ou empregos), fiz crer a elas que a entrevista seria na verdade uma conversa sobre seu cotidiano, suas alegrias, angústias e preocupações.

Como instrumento para coleta sistemática dos dados, pratiquei observações livres, diário de campo e uma entrevista semi-estruturada (anexo), fundamentada em três itens básicos -

identificação, gravidez e doação - no qual procurei explorar todas as possibilidades exprimidas com relação ao tema em estudo, considerando que o que se encontra na consciência da mãe só pode

ser captado a partir da análise e interpretação de sua fala, da sua

visão de mundo.

De acordo com KAHN e CARNNEL apud MINAYO (1993),

entrevista em pesquisa consiste de

conversa a dois, feita por iniciativa do

entrevistador,

No documento Doação de filho: um gesto símbólico (páginas 44-48)