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situajões como reais, elas são reais em suas consequências, este

No documento Doação de filho: um gesto símbólico (páginas 80-102)

dado se confirma nas falas expressas a seguir:

...a criança sofre muito assim junto com a mãe,

principalmente ela sendo filha de mãe solteira. Sempre tem na frente o preconceito de alguém. Eu acharia que a doação é uma coisa boa.

Hortênsia foi melhor para mim e para ela por causa se é

das pessoas falar da gente, soltar piada na cara da gente... ser solteira pesa muito na d ida da gente.

Acácia ... eu me representada um Upo, que nem casada eu era... eu mãe solteira... sendo odiada...

Vitória Régia

... é muito ruim porque a gente fica falada...

ter filho e não ter pai.

Camélia

O estigma da mãe solteira, embora em decadência nos países de Terceiro Mundo, ainda apresenta consequências que vão

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obstétrico. isto porque, segundo BETHEA (1982), as mães solteiras

recebem menos assistência anteparto, têm mais complicações na

gravidez e um índice mais acentuado de prematuridade com maior

risco de morte do que as casadas.

VITIELLO (1981), por sua vez, salienta que, em virtude do modelo social vigente, a mãe e o filho ficam à margem da produção e participação ativa e efetiva, afirmando que a gravidez ocorrida fora do casamento expropria a mulher e sua cria do seio familiar. Esta realidade é mostrada pelas entrevistadas quando dizem:

Porgue M em casa ninguém M criar, Aí só

para mim sustentar e ir arranjar emprego também não ia dar. Ai decidí dar.

Rosa Em primeiro lugar ele (o pai) não ia assumir?

em segundo eu não ía leóar para casa da minha

mãe? porgue inclusive ela nem sabe da gravidez, Petúnia ,,, minha mãe só me aceitava em casa se fosse

sem menino.

Acácia ... minha mãe disse gue não me guería mais em casa? gue me desconhecia como filha e gue eu fosse embora,

Jasmím

... ela (a mãe) disse gue não me gueria lã com

o filho.

Violeta

Ela me disse (a mãe): se Você for ter? Vai ter

gue ir para outro canto? agui eu não lhe guero. Camélia

É oportuno ressaltar o fato de que a mulher solteira, ao

engravidar, tende a passar pelos mesmos sentimentos e efeitos da

gravidez da mulher casada. Porém, seus ajustamentos e responsabilidades poderão ser maiores, visto que, freqüentemente, se encontra em dificuldade e não tem companheiro para partilhar.

Assim, ao tentar assumir as responsabilidades sozinha, a mulher descobre que o papel duplo, de mãe e mantenedora, é conflitante, com o desempenho de um prejudicando o outro,

principalmente se ela for adolescente, já que apresenta um duplo problema: enfrentar a adolescência e a maternidade.

A inaceitação pelo seu grupo social e familiar leva a mãe

a sentir-se culpada, mudando sua decisão de criar o filho, ganhando

a doação o significado de ambos se libertarem dos preconceitos.

Segundo ZAVOLLONI (1968), liberdade não é algo que o

homem manifeste como prerrogativa natural, mas algo que deve ser conquistado, e que, mesmo depois de conquistada, pode ainda ser perdida.

Considerando o fato de que, no linguajar comum, vários

significados são imputados ao termo liberdade e, embora haja uma determinada analogia entre eles, as diferenças são tantas que muitas

vezes se torna difícil a compreensão do vocábulo.

Assim, descobrimos na leitura dos discursos que a

doação do filho passa também pela independência do companheiro,

como forma da mãe se libertar de uma vida de submissão, violência

e limitações, na qual o filho representa o elo de direito do

companheiro sobre ela:

£w ia a^üewtar ficar com ele me batendo

direto e sendo ciumento, Ai eu decidi tfitfet minha tf ida sozinha e dar meu filho.

Margarida

Ele era muito notfo e eu muito notfa também, Ele Queria criar o filho, disse $ue ia botar uma casa

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e eu disse <t[ue não Queria. Bá certo

Per tfue eu 7# sé me encher de filho! não!

não! Vai certo Angélica

De acordo com BUSSINGUER (1990), no relacionamento homem e mulher, o domínio masculino se tem permanecido ao longo

da história, quando as mulheres, confinadas ao ambiente familiar e

destinadas à procriação, introjetaram valores que as levaram a se sentir inferiores e dependentes, aprendendo a renunciar à liberdade.

Embora seja nítida e considerável a evolução feminina, não será demais lembrar que em toda sociedade, sejam quais forem as condições em que vive sua população, ainda há uma

sobrecarga de trabalho para a mulher, que se acentua com a

maternidade. Assim, de acordo com MELO (1988), a capacidade

reprodutora da mulher, antes de libertá-la por seu poder de procriar

ou não, submete-a, expondo-a à opressão do homem.

Pensando em si e analisando a situação em que se

encontra, a mãe, ao doar o filho, demonstra uma consciência de

dominação que, apesar de permeada de incoerências e contradições, significa o passo inicial em direção à liberdade:

Acho 4ue a única coisa $ue passou peta minha cabeça foi tfue eu ia me sentir liOre deteí do pai

do menino.. .Se eu ficasse com esse filho eu tinha $ae éiéer com ele. Por isso eu achei melhor

éiéer sozinha e dei.

Margarida

Mas, nem sempre, a doação envolve apenas a ação individual da mãe doadora, Há casos em que a ação de outrem se configura não só como ajuda mas também forma de expectativa

Eu sinceramente me sinto alltfiada com isso que a

minha mãe está fazendo (doação) porque ela

está me ajudando ,,,,Í$so (a doação) Oai tirar um peso grande de mim,

Jasmâm

Buscando libertar-se das humilhações, obstáculos e preconceitos sociais, bem como do companheiro, a mãe, conforme se observa no esboço, direciona o futuro sob dois ângulos: pensando

nela e pensando em ambos:

Puníção/Vingança

A doação do filho assume também um significado de

punição/vingança dc companhemo e de membros da família. Embora

seja nítida e considerável a evolução da mulher, nada há de errado ou mau em dizer que a maternidade, apesar de enaltecida de glórias

e idéias de realização pessoal, representa, também, perdas

significativas e objetivas.

A decisão de ter ou não ter filhos numa relação estável ou supostamente estável, mesmo quando não planejados, talvez

seja, hoje em dia, a questão emocional mais difícil a ser enfrentada

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É sabido que, muitas vezes, a chegada de um filho é o começo do fim de um casamento, de uma relação afetiva, da

liberdade, independência e aspirações.

Segundo DESSER(1 993), SERAFIN et al(1991) e MALD0NAD0(1989), frequentemente a gravidez transcorre cheia de dúvidas, expectativas, tristezas e mágoas, dado que o companheiro,

após ser comunicado da gravidez, abandona a mãe ou recusa a paternidade, omitindo-se de ver ou registrar o filho.

Quando analisado o papel imposto pela sociedade à mulher, fica evidenciado que esta foi, por séculos, treinada para agradar o homem de “sua vida", mesmo quando não cabe a elas a opção de escolhê-los. Logo, não é difícil compreender por que os

vínculos destas mães com seus companheiros são frequentemente cheios de sonhos e projeções:

Eu fazia de tudo para agradar a ele e ficar com ele a dida inteira... mas não foi como eu

planejei,..

Violeta Eu tinha planos de construir uma família, ser

feliz, ter meus filhos... só isso.

Orquídea

Os planos gue eu tinha com ele era a gente dider numa boa... mas não deu certo mais.

Perpétua Eu pensei gue guando aparecesse gráüida, gue aguilo gue ele falada de não gostar de criança não podia ser. Se ele gostada de mim é claro gue ia gostar do nosso filho,., mas me enganei.

Azaléia

... eu pensei gue ia me assumir com minha filha.

£« achaOa que o Francisco tinha pensado melhor e Aí* dizer: “não, a Hortênsía é que é a mulher da minha Olda,

Hortênsía

De acordo com SHALVÍTZ(1986), enquanto as mulheres buscam sentimentos como segurança (emocional e financeira),

compreensão, apoio, companheirismo, amor e respeito no

relacionamento, os homens se encontram mais preocupados com sua

liberdade individual e menor nível de exigências por parte da

companheira.

Quando frustradas em suas aspirações, em vista da omissão, do abandono ou indiferença do companheiro, a mãe,

pensando em si, na interpretação destes gestos simbólicos, usa o filho como instrumento de punição ao companheiro, significando a doação o meio de concretização deste ato:

... ele não falou nada não. Sé fez acreditar que eu não tatfa grávida. Não recusou, nem disse

que não era dele. porque teVe multo que quando

eu dizia, dizia que não era dele.

Gérbera ... a gente não ficou mais junto. Quando ganhei neném ele sumiu. Passei a gravidez toda

só.

Acácia

Um dia eu disse: olha se chegar 0 dia de eu

ganhar essa menina e Você não tlVer comprado

nada para ela, fique sabendo, eu Vou dar!

Petúnia

Embora as demais depoentes não tenham expressado de

forma clara e verbal tal significado, pude perceber em muitas delas, através da linguagem dos gestos, nos silêncios e entrelinhas, que,

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de maneira dissimulada, suas ações tinham, em parte, esses

propósitos.

Mesmo quando o parceiro reconhece o filho e propõe que

este seja criado por seus familiares, a ofensa por ter sido preterida é

tão marcante que leva a mãe a recusar a proposta e, como forma de vingança, prefere doar o filho a pessoas estranhas:

Ele Queria tfue eu fosse deixar na casa dele para a mãe dele criar? aí eu disse: Oou não! fâão

Oou de jeito nenhum, Eu prefiro dar para outra pessoa...

Petúnia

...Oocê não disse que não queria a criança! Que

não qostaOa de criança ?. <. Üão interessa onde ela está. Eu não tfou dar o endereço. Aí não

dei.

Azaléía

A vingança, algumas vezes, também é dirigida a membros da família, em particular à própria mãe(avó), facultado ser ela, não

raramente, o objeto originário da rejeição ao neto:

... dei por Oin^ança.

assim, beus me perdoe

Eu me Oinquei dela

que è minha mãe...

Vitória Régia

Admitindo que todo comportamento implica uma percepção seletiva da situação (BLUMER,1969), a mãe, mesmo usando o filho como instrumento de sua ação, ao direcionar seu pensamento para ele, o faz justificando sua conduta em termos de proteção, ainda que de forma velada. Assim, a punição e vingança à

mas ela o justifica deixando entrever que pensa no filho, ao acreditar

estar oferecendo uma condição futura melhor para ele:

Prefírv assim (doarJ do gue ele õlõer com a

minha mãe porgue ela não sabe criar nem os

dela, guanto mais o dos outros.

Camélia

... Eu prefiro dar para outra pessoa gue tenha

mais condições de criar de gue dar para sua

casa (do pai) gue é cheio de criança de todo

tamanho, gue Oitfem sofrendo.

Petúnia

Percebe-se, também, que este sentimento de vingança dá lugar a mágoa e revolta, quando da falta de apoio da família e grupo

social.

Tá muito difícil para mim ir lá em casa, enfrentar minha mãe... eu não posso me controlar

porgue ela não deixou minha irmã criar minha

filha... a coisa gue eu mais gueria era a menina e ela não deixou criar.

Acácia ...eu guero muito bem a ela, mas mesmo assim,

eu tenho essa mágoa dentro de mim.

Vitória Régia

...Foi uma reOolta muito grande gue eu tioe,

Oou dar. Üou dar e pronto! Não guero nem

saber guem é a mãe. Se é rica ou pobre não

me interessa.

Camélia

Para BRIGGS apud SHALVITZ (1986), quando se

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razões ou conselhos. Ninguém quer que seus sentimentos sejam

ignorados, contrariados ou desprezados.

Na verdade, o que a maioria das pessoas quer é atenção e segurança, de modo que se sintam compreendidas. Portanto, é evidente nas faias o fato de que a atitude a ser tomada pela mãe, ao definir a situação, depende de vários fatores, entre os quais o apoio

recebido da família e do companheiro.

A figura que se segue permite visualizar que a ação materna para o significado de puníção/vingança à família e ao companheiro está direcionada, principalmente, para si, pois a mãe

se sente magoada e preterida.

Diagrama 3 - DIREÇÃO DA AÇÃO PARA O SIGNIFICADO DE PUNÍÇÃO/VINGANÇA

Atenuação da culpa

A análise compreensiva dos depoimentos revela, ainda, que algumas mães diante da gravidez são propensas a se julgar

culpadas, vívenciando a sensação de terem agido errado,

transgredindo princípios éticos, morais, religiosos e sociais. Isto porque a sociedade, ao censurá-las, tende a induzí-las a buscar

soluções para seus atos, revertendo idéias e intenções como modo

de abrandar essa sensação.

Como referido, a gestação é, talvez, a experiência mais

comovente e dramática da vida de uma mulher. A reação a ela

dependerá, em grande parte, segundo BETHEA(1 982), de ser

planejada, imprevista ou indesejada.

Uma vez gestante, a mulher reage de forma integral à

gravidez, sendo afetada em todo seu ser: aparência física, sentimentos, interações sociais, planos e outros.

Lidar com a gravidez indesejada, inesperada ou mesmo

planejada por uma das partes, parece-me ser o ponto nevrálgico da

doação do filho para a mãe, possivelmente porque isto implica

críticas e censuras e, consequentemente, sentimento de culpa.

A descoberta da gravidez frequentemente acarreta à mulher, entre outros problemas, conflitos e dificuldades, que vão

desde o abandono do grupo social (família e parceiro) à

incredulidade com relação a estar grávida.

É horrível, rejeitada pela primeira e secunda

família a$ora} pele marido! É muito triste. Violeta pensei: meu ôeus do Céu, com tanto remédio,

tanto recurso tfue tem, eu tioe de en^ratfidar! Logo eid)

Camélia ... meu beus, eu grávida!? l/ou sofrer. 0

homem náo está nem a4ui para assumir.

DáHa

... criar uma pessoa assim, sozinha, sem ter pai.

È chato.

Rosa

Ele disse ^ue o filho não era dele.

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Minha mãe disse gue não me gueria mais em

casa e me desconhecia como filh a.

Jasmim Figuei desesperada,

para criar.

Como é gue eu ia fazer Margarida

Não obstante tais problemas, quando indagadas sobre

como se sentiram ao confirmar a gravidez, as mães manifestaram sentimentos variados como vergonha, medo, tristeza, raiva, desespero e sofrimento. De maneira veiada, esses sentimentos refletem uma auto-crítica na qual a mãe, baseada em sua bagagem de conhecimento, se censura, se condena, ocasionando uma diminuição da auto-estima e consequente rejeição ao filho e a si:

... eu não saia, ficaéa sé dentre de casa... eu mesmo me afastei, não aparecia nem para es meus tios. Eu tinha Oergonha.

Rosa ... eu não títfe coragem de contar a ninguém da minha família. Sentí medo.

Margarida

Eu me senti horríéeL.. me sentí a pior pessoa do mundo. Figuei com raioa de mim... ficaéa com

Oergonha. Tão noéa!

Hortênsia

Eu saí da casa do meu tio com medo gue ele

descobrisse gue eu estiéesse gráéida. Eu não

saia para ninguém me éer.

Azaléia ... me senti chateada, triste. Aí comecei a não

gostar mais da criança gue estaOa dentro de mim. Eu mesmo fico me rejeitando.

Me sentí mal porque ia ter um filhe gue eu não

ia ter condições de criar.

Orquídea Eu não sentí nada...

Vitória Régia Eu tfuase fico louca... ftrfuei desesperada.

Petúnia

Eu sentí um aperto dentro de mim. Eu figuei com medo... principalmente guandotfue eram

dois.

Tulipa

Considerando que esses sentimentos emergem da

interação que a mãe estabelece consigo e com os outros, e que esta

interação permeia todo o comportamento humano, fica patenteado nas falas que a mulher, ao engravidar, se percebe causando

decepções a si e a seu grupo social, uma vez que, em seu cotidiano,

está sujeita a opiniões e falatórios da família, amigos e vizinhos:

... na hora gue eu sabia gue estaõa gráõida eu

sempre achaõa $ue era uma decepção $ue estaõa dando para ele (o paí/aõó).

Hortênsia A gente se sente rejeitada pelos homens, porgue eles gaerem moça e já soa mulher com 2 filhos, ai eu fico dizendo; Ah! fulana não é mais de nada. Tetfe 2 filhos... fico dizendo essas coisas comigo mesmo... por isso eu me sinto rejeitada por mim mesma.

CaméHa

A mãe disse: Jasmim, Oocè me decepcionou. Ai Oeio minha tia: popa Jasmim! Me decepcionei com Oocê. Cair de noOo numa barbaridade dessa!

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O CAMINHO PARA A INTERPRETAÇÃO

Quando eu p&ssatfa as pessoas me encaraãam

eu não respeitei a família, enOergonhei

eles trazendo um filho ao mundo porgue não tinha marido.

Vitória Régia ... o pessoa! fica com os olhão, aí eu não saio.

Angélica

A mãe ficou triste, disse gue não esperaOa dar essa decepção para ela... meu pai

esperaOa eu ter me perdido tão cedo...

Oizínhos fizeram agueles comentários. Minha e minha irmã ficaram com raitfa.

eu

não

os aOó Margarida

Minha irmã brigou, reclamou comigo... os amigos

disseram gue eu era louca por ter deixado

acontecer isso.

Petúnia Meu pai mal fala comigo... Minha irmã fica me

chamando de ... daguelas mulher gue não é de nada... prostituta.

Rosa

Nesta situação, ela passa a conter seus medos, suas

preocupações e seu querer, negando ou ocultando muitas vezes a

gravidez, com receio de ser rejeitada por parte dos outros:

... pedi a beus para gue não fosse Oerdade.

Azaléia Minha tia dizia gue eu tatfa grávida, ai eu dízia: “fâão estou grávida não!” Tu é doidal

Camélia Quando eu estaca grávida escondia era muito a minha barriga. ImprensaOa. ImprensaOa gue fazia era passar mal guando apertaOa.

Afora todas essas reações e temores em relação à gravidez, um aspecto importante ficou patenteado em alguns discursos: a violência contra a mulher. Concebendo que a interação

simbólica abrange todas as variedades de relações humanas, ou

seja, cooperação, consenso, conflito, discordância, exploração e outros, evidencia-se nas falas uma relação de autoridade e domínio, na qual a gravidez, vista como um crime, índuz a mãe a desistir de

si, buscando soluções extremas, como o suicídio:

Alew pai me amarrou dentro de um quarto 8 meses... Apanhei de primeiro ao último mês da gratfidez... Pegatfa de hera e meia de joelho.,. Meus irmãos ajudatfam meu pai a me trancar...

eu achei que tinha feito um crime na minha tf ida... meu pai se armou de faca para me

matar... já estatfa até pensando em suicídio.

Vitória Régia

... meu pai me bateu muito quando descobriu que eu esta tf a ^rátfida.

Caméiia

Entendendo que o comportamento humano se manifesta em termos do que as situações simbolizam, a mulher investida de uma situação de sofrimento, conflito e dificuldades, provenientes de

sua condição de gestante, vai, passo a passo, construindo sua ação

através de um processo de auto-índicações.

Indicar, na concepção interacionista, é retirar a coisa do

cenário, é mante-la à parte, é dar um significado, ou seja, é

transformar essa coisa, no caso a maternidade, em objeto.

Nesta visão, o comportamento humano é compreendido como uma resposta às intenções dos outros, vale dizer, ao futuro e intencional comportamento dos outros e não apenas às suas ações presentes. Vale salientar que essas intenções são transmitidas através de gestos simbólicos, isto é, sujeitos a interpretações.

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O CAMINHO PARA A INTERPRETAÇÃO

Assim, sendo o significado da gravidez atribuído pela

mãe, formada da interação social, ela se vê na obrigação de tomar

uma decisão, optando entre duas direções: assumir a maternidade

sozinha ou desistir do filho.

Ao julgar pela falta de apoio e discriminação originárias

da sociedade - que culpa, critica e condena essa maternidade - a mãe decide-se por abdicar do filho, o que vem ao encontro da perspectiva interacionista, segundo a qual, modificando-se os significados dos objetos, altera-se o mundo das pessoas. Para

BLUMER(1969), a vida em grupo representa um vasto processo de formação, sustentação e transformação de objetos.

Há casos em que o sentimento de culpa pela gravidez é

tão forte que a mãe, pensando em si, ao interpretar a situação que

vive, cogita ou experimenta abortar.

Togo que eu fiquei grátfida eu pensaãa assim, em abortar... guando eu estaóa no hiíeio de um mês,

dois meses.

Gardênia ... eu tentei abortar... tomei muita injeção,,, mar^uei o dia de tirar, só <tjue não tit/e coragem... cheguei a ir na dinica mas me sentí mal e saí correndo,

Azaléia Eu fiz um. Tomei aquele comprimido... C^totec.

Hortênsía

Eu pensei em abortar, Se não fosse a minha

patroa eu tinha feito.

Petúnia Eu e a Camélia íamos atrás de remédio... saímos arrancando de tudo... eu tomei boa noite,

cabadnha, cachaça com comida... era tanta mistura feia.

... tomei cabadnha} guina*í[uina f Cgtotec.,. o

negócio é tfue eu tomei muito remédio e não

abortei.

CaméHa Eu ia tomar mas tinha tfue pegar raiz de não sei

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