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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.2 Principais conceitos da Semiótica Social e abordagem multimodal

2.2.2 Signo

A noção de signo adveio da Semiótica tradicional, conceituado como o elemento no qual o significante (forma) e o significado se unem. Para a Semiótica Social, o processo de produção de signos é objeto do interesse do produtor de signos (sign-makers), o qual verifica a disponibilidade de recursos semióticos e a possibilidade desses recursos produzirem os significados pretendidos. Isso demonstra que a relação entre forma e significado é motivada e não arbitrária, conforme posição de Kress (1993), citado por Bezemer e Jewitt (2009). Nessa perspectiva, a forma ou significante utilizada pelo produtor de signos é realizada em interações sociais e torna-se parte dos recursos semióticos de uma dada cultura (KRESS, 2005).

Retomando Kress (1993), Jewitt (2013) afirma que o signo motivado e constantemente ressignificado como produtos de um processo social chama a atenção para os interesses e intenções que motivam a escolha de uma pessoa por um ou outro recurso semiótico.

Estudos de Adami (2017) sinalam que os signos não são neutros, havendo uma associação motivada entre significante e significado. Toda vez que selecionamos um signo,

selecionamos formas e recursos que nos estão disponíveis e associamos isso com o específico significado que queremos dar. Assim, em face da realidade que queremos representar, escolhemos os recursos (signos) mais aptos para isso. A motivação é revelada a partir da forma e significado, que, por sua vez, revelam o interesse de quem produziu o signo numa situação social situada de produção.

Outrossim, Kress (2005) afirma que todos os signos são metáforas sempre novas, ao explicar que a Semiótica Social parte da abordagem cognitivista de Lakoff e Johnson (1982, 1987).

Para Kress (2005, p.59), a Linguística aborda a descrição de formas, ocorrências e relações entre elas. Ela separa forma e significado: a sintaxe como estudo da forma e a semântica como estudo do significado. A Pragmática e muitas teorias sociolinguísticas abordam circunstâncias sociais (participantes, contextos de uso, efeitos). Já a Semiótica Social lida com representações, cuja forma e significado estão integrados em um todo, ou seja, nos signos, os quais são sempre novos e de acordo com os propósitos de seus produtores em contextos de uso, que inclui os aspectos pragmáticos. Os ambientes ou circunstâncias de uso são sempre parte integral na produção do signo, o centro da teoria. Portanto, para a Semiótica Social, forma e significado estão fundidos em apenas uma entidade. Não há separação, pois o signo é sempre significado como forma e forma como significado. Os significados são materializados em signos. Para Kress, o produtor de signos “produz” o signo e não apenas faz uso dele. Isso significa dizer que ele escolhe o recurso mais apropriado, com uma forma, para manifestar o significado, moldado pelos seus interesses, reformulando conceitos e conhecimentos em um constante “moldar”, sempre novo, dos recursos culturais.

São exemplos de signos “a fala, os gestos e demais artefatos textuais, os quais são analisados como resíduo material do interesse de seus produtores” (JEWITT, 2013, p. 252). Ainda conforme Jewitt, o foco analítico do signo está na compreensão de seus padrões interpretativos, de design e nos discursos, histórias e fatores sociais mais amplos que o modelam.

Kress (2005) aborda o posicionamento de Saussure diante do signo, o qual estabeleceu uma relação interna entre forma e significado. Para o linguista suíço, há uma relação de referência estabelecida pelo indivíduo entre o fenômeno que se apresenta no mundo e sua representação mental (o significante). Nesse mundo mental, o significado conecta-se ao significante para produzir o signo, que é expresso externamente, em forma tangível, audível, visível. No signo de Saussure, significante e significado estabelecem uma relação arbitrária convencionada pelo social. Nesse viés, a força social que estabelece a arbitrariedade é

suficientemente forte para vincular qualquer forma a qualquer significado. Assim, a convenção é estabelecida pela força social que age no decorrer do tempo para manter os signos estáveis.

Nessa abordagem, as ações dos indivíduos não podem modificar o signo ou a relação entre signo e sistema de signos, pois o sistema é estável, mantido pela força coletiva e naturalizado como convenção. Para Saussure, a ação individual é muito pequena em relação às formas e significados estabelecidos e mantidos pela convenção social, conclui Kress.

A par disso, Kress advoga que houve um erro na análise de Saussure no que se refere a níveis e formas, explicando que o nível do significado tem sua correspondência no significante como forma lexical, ou seja, como palavra, e não no nível fonético. Em Saussure, o significado (semântico) é pensamento realizado no som (fonético). Contudo, para Kress, significante (forma) e o significado são realizados no nível correspondente, que é o lexical. Assim, se o significante é uma palavra, deve ter correspondência no nível lexical e não no fonológico. Ele explica que, ao identificarmos qualquer coisa, a qual precisamos nomear, nossa preocupação é com a palavra (léxico) e o lugar social em que ela se encaixa, e não com o som.

Para Kress (2005), a noção de arbitrariedade do signo vai contra a noção de interesse do produtor (sign-maker), negando sua atuação na produção de signos e significados. Além disso, para ele, a constituição interna dos signos revela o interesse de seu produtor e a observação de semioses em qualquer nível revela constantes mudanças, em vez de rigidez ou repetição, não importa o modo semiótico. Por essa razão, o termo arbitrário é substituído pelo termo “motivado” para todos os tipos de signos, tendo em vista que significante e significado abrangem o componente social, por sua vez, político e ideológico.

A ideologia projeta um determinado tipo de mundo no discurso, no sentido de uma posição na vida, um modo de estar no mundo. Assim, os aspectos sociais, históricos, conhecimentos, formas e relações sociais estão presentes em discursos e gêneros do cotidiano. Kress (2005) ainda argumenta que os significados das práticas sociais estão presentes no significante como potencial significativo que são carregados adiante em constantes transformações em novos signos, reconstruídos sob a luz dos recursos escolhidos por produtores e reprodutores. Ressalta-se, ainda, que todos os signos são materializados mediante duas perspectivas e interesses: a do produtor de signos em relação aos seus interesses e a do público-alvo em relação à comunicação e à necessidade de angariar o interesse dele por meio da representação do significante. Por essa razão, o produtor deve atentar para encontrar o recurso apropriado para materializar o significado.

A interpretação de um signo, na visão de Kress (2005), ocorre na produção de um novo signo a partir do signo que se recebe como significante. O leitor vê o significante e o preenche com seus significados pessoais, a partir de suas experiências e conhecimentos. Nessa perspectiva, a forma interpretada pelo leitor é sempre uma transformação do que foi produzido. O resultado dessa transformação fica então disponível para o leitor como nova informação ou conhecimento sobre o mundo e é assimilado em sua forma transformada como conhecimento adquirido desse leitor. Essa assimilação ou integração em conhecimento adquirido produz um rearranjo de todos os elementos. Assim, o significado é integrado na totalidade existente de todos os significados organizados no sistema cognitivo do leitor. Conclui-se, portanto, que o receptor de um signo interpreta esse signo e não o decodifica, apesar de ser uma noção comumente aceita.