• Nenhum resultado encontrado

SILVEIRA VIRTUDE DECISÃO CONGREGAÇÃO FAC DIREITO PELOTAS REUNIÃO REALIZADA 23 CORRENTE

Tendo o presidente da CEIS/UFRGS, Nagipe Buaes, questionado o plenário sobre a validade de tal substituição, manifestou-se Ney Messias, afirmando “que tal substituição era perfeitamente regular, pois a Congregação pode regressar sobre ato que praticara, indicando novo representante seu, nesta Comissão”.251 Como entende-se já ter sido possível observar, Messias era um dos mais ativos participantes da comissão e, com Garrastazu Teixeira, eram os mais respeitados, a julgar pelo número de sugestões aceitas pelos demais membros da comissão.

Mas a principal questão tratada na 2ª reunião ordinária da CEIS/UFRGS, no entanto, foi a intervenção militar nas entidades estudantis, juntamente com as medidas consideradas necessárias para o desenvolvimento dos trabalhos da comissão e das subcomissões. Na 1ª reunião, a questão das intervenções já havia sido mencionada:

O Gal. Teixeira, a seguir, comunicou que mantivera contato com os Srs. Interventores nas entidades estudantis, ocasião em que o orador ficara de saber o local permanente de trabalho da Comissão, a fim de que os mesmos Srs. Interventores pudessem entrar em entendimentos com os integrantes da mesma.

O Sr. Presidente [então Lourenço Mario Prunes] sugeriu que o Gal. Teixeira convidasse os Srs. Interventores a comparecerem à próxima reunião plenária, quando a Comissão teria toda a satisfação em entrar em entendimentos com os mesmos, visando a uma plena coordenação de atividades.

O Gal. Teixeira afirmou que iria transmitir aos Srs. Interventores o convite do Sr. Presidente.252

Ainda um terceiro docente deixaria a comissão, com implicações bem mais significativas que nos dois primeiros casos citados. Moysés Westphalen participara da reunião de instalação da comissão e das duas primeiras reuniões ordinárias. No entanto, na terceira, ocorrida em 4 de junho de 1964, ausentou-se. Nagipe Buaes, já como presidente da CEIS/UFRGS, realizou na ocasião a leitura do “pedido de demissão” de Westphalen, que teria sido ocasionado “por motivos particulares” e, em vista disso, a comissão resolveu solicitar à Faculdade de Agronomia e Veterinária que outro docente fosse indicado como seu representante.253

250 UFRGS. CEIS. Ata da 2ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 26/05/1964. p. 3. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

251 Id. ibid. Grifos ausentes do original.

252 Id. Ata da 1ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 21/05/1964. pp. 11-12. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

253 Id. Ata da 3ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 04/06/1964. p. 1. UCS/CEDOC/LTM.

Segundo o que consta na respectiva ata, naquela reunião não se tocou mais no assunto. No entanto, fica evidente, a partir da análise das atas das reuniões seguintes, que o pedido de afastamento não fora bem recebido por alguns membros da CEIS/UFRGS.

Já na reunião seguinte, realizada em 8 de junho de 1964 – portanto, apenas quatro dias depois da anterior – Buaes informava que Cícero Menezes de Moraes havia sido escolhido como substituto de Westphalen na comissão. Nessa reunião, contudo, essa teria sido a única menção tanto a Westphalen quanto a Cícero de Moraes.254 Ao que tudo indica, aguardava-se a ocasião mais propícia, que viria na reunião e no dia seguintes.

Na 5ª reunião ordinária, realizada um dia depois da plenária anterior, o caso de Moysés Westphalen foi um dos principais pontos discutidos. Os diretores das faculdades correspondentes à subcomissão “A” estavam presentes para prestar esclarecimentos à CEIS/UFRGS sobre a “subversão” em suas respectivas unidades de ensino. Compareceram todos. Lá estavam os professores Luiz Leseigneur de Faria (Escola de Engenharia) – que, como mencionado, havia assumido a Reitoria “interinamente” desde o afastamento de Paglioli até a posse de Fonseca Milano –, João Baptista Pianca (Faculdade de Arquitetura), Milton Luiz Laquintinie Formoso (“Diretor em exercício” da Escola de Geologia) e, inclusive, Mozart Pereira Soares, diretor da Faculdade de Agronomia e Veterinária, unidade de ensino à qual, vale lembrar, Westphalen representara até então na CEIS/UFRGS. A esses diretores dirigiu-se Buaes já no início da 5ª reunião, informando os dois “quesitos a serem respondidos” por eles. O primeiro questionava-os sobre “irregularidades nas Faculdades que dirigem e que mereçam ser apontadas pela comissão, notadamente de casos de corrupção e malversação dos dinheiros públicos, para fins subversivos, uma vez que este particular não foi abordado no ofício sigiloso”.255 Observe-se, a partir do trecho grifado, que os alvos da comissão, assim como da “Operação Limpeza” em todo o país, eram a “subversão” e a corrupção. Note-se ainda que a CEIS/UFRGS, nessa ocasião, já havia se correspondido sigilosamente com os diretores das unidades – pelo menos, daquelas ali representadas, mas, provavelmente, também das demais.

A segunda questão feita pelo presidente da CEIS/UFRGS, Nagipe Buaes, aos diretores indagava se, “como membro do Conselho Universitário, ou por outras fontes”, poderiam “apontar indícios ou informações de fatos na Universidade que devam ser estudados pela

254 UFRGS. CEIS. Ata da 4ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 08/06/1964. p. 7. UCS/CEDOC/LTM. (8ª página, indicada com o dígito “7” em função de duas páginas terem sido numeradas com o dígito “6”).

255 Id. Ata da 5ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 09/06/1964. p. 1. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

Comissão de investigação uma vez que digam respeito a subversão, comunismo ou corrupção”.256 Nesse último trecho em destaque é possível perceber novamente que a CEIS/UFRGS visava aos mesmos alvos da “Operação Limpeza”. A segunda pergunta, que aparentemente pode parecer redundante, refere-se à universidade como um todo. Não tratava- se, portanto, de ouvi-los apenas sobre os “problemas” em suas respectivas faculdades e escolas, mas também de recolher deles “indícios ou informações” relativos à universidade como um todo. A menção ao Conselho Universitário é significativa nesse sentido, pois, como todos faziam parte do órgão máximo deliberativo da instituição, deveriam estar a par dos principais acontecimentos da vida universitária no período anterior ao Golpe. Essa questão será examinada novamente mais adiante.

Cabe, por fim, salientar que as duas questões feitas por Buaes aos diretores haviam sido elaboradas por Garrastazu Teixeira na reunião anterior, ocasião em que o general “pediu que as perguntas por ele formuladas aos Srs. Diretores façam parte da agenda do Sr. Presidente quando da presença em plenário dos Srs. Diretores de outras Faculdades e Escolas”.257

Logo após as perguntas, Guy Hellen Sosa Britto, secretário da CEIS/UFRGS, “leu o relatório enviado pela Faculdade de Agronomia e Veterinária, após o que, o sr. Presidente concedeu a palavra ao Prof. Mozart Pereira Soares, Diretor daquela Faculdade”.258

Mozart Soares observou que o relatório apresentado por Moysés Westphalen, que o substituíra na direção daquela unidade de ensino enquanto ele viajava, estava plenamente correto. Quanto às questões apresentadas por Nagipe Buaes inicialmente, afirmou não ter “qualquer elemento que possa trazer ao plenário, no tocante a malversação de dinheiros públicos, atos de corrupção ou atividades subversivas atentatórias ao regime democrático, tanto de professores, como de funcionários ou estudantes”.

Em resposta a uma circular que Buaes teria encaminhado àquela faculdade, retransmitindo mensagem do ministro Suplicy de Lacerda, tratando da situação de estudantes latino-americanos vinculados àquela unidade de ensino, Soares observou que aguardava a chegada ao plenário de uma relação de estudantes latino-americanos que freqüentavam a Faculdade de Agronomia e Veterinária, indicando “sua procedência, filiação, colocação nas séries, relação essa acompanhada de uma pequena apreciação do orador”. Afirmou, por fim, “que a conduta dos estudantes latino-americanos é sumamente confortadora” e que “a

256 UFRGS. CEIS. Ata da 5ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 09/06/1964. pp. 1-2. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

257

Id. Ata da 4ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 08/06/1964. p. 6a. UCS/CEDOC/LTM.

presença dos estudantes latino-americanos só tem estimulado os integrantes da Faculdade de Agronomia e Veterinária no exercício de seus deveres de hospitalidade”. Concluiu apontando que “aqueles estudantes aqui vieram aprender para melhor servir às suas nações e à própria humanidade” e, portanto, “não tinha absolutamente nada a apontar como indício da mínima suspeita”.259

Após as observações feitas por Mozart Soares, efetuou-se a leitura do relatório da Faculdade de Arquitetura, seguida do pronunciamento de seu diretor, sucedendo-se o mesmo procedimento para a Escola de Engenharia e para a Escola de Geologia. Por ora, cabe destacar que, após esses pronunciamentos, outras questões foram levantadas pelos membros da CEIS/UFRGS e respondidas pelos diretores indagados, que se retiraram do plenário a seguir.

Reiniciados os trabalhos da comissão, tomou posse Cícero Menezes de Moraes como representante da Faculdade de Agronomia e Veterinária, em substituição a Moysés Westphalen, sendo também indicado como presidente da subcomissão “A” em função de ser, dentre seus integrantes, o mais antigo no magistério. A seguir, foi lido um ofício enviado por Westphalen, “em que o mesmo tece considerações e despede-se da Comissão”.260 Provavelmente, nessa comunicação Westphalen apresentasse explicações para seu pedido de afastamento da CEIS/UFRGS. Infelizmente, tais informações não foram reproduzidas na referida ata, nem puderam ser encontradas nos acervos documentais pesquisados. De qualquer modo, é extremamente significativo que “o sr. Gen. Teixeira, logo após, solicitou fosse lida, para conhecimento do plenário, a ficha de informações sobre o Prof. Westphalen, ficha essa enviada pelo III Exército”.261 Enquanto buscava-se o documento, a formação da subcomissão da Reitoria foi discutida, sendo lida, logo a seguir, a referida ficha de informações de Moysés Westphalen.262 Divergindo em parte das afirmações feitas, “o Prof. Cícero declarou que o

259

UFRGS. CEIS. Ata da 5ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 09/06/1964. p. 2. UCS/CEDOC/LTM.

260 Id. ibid. p. 8. 261

Id. ibid.

262 É necessário explicitar que as “informações” reunidas na referida ficha constituíam um tipo específico de documento e de conhecimento, produzido por órgãos do Aparato Repressivo especializados nessa tarefa. Para evitar confusões, doravante tais “informações” serão referidas com inicial maiúscula, diferenciando assim este sentido estrito daquele que coloquialmente é atribuído ao termo. Baseadas em um ou mais “informes” – que eram, por sua vez, o “dado bruto inicial”, a “matéria-prima” daqueles órgãos –, as Informações eram o típico documento produzido pelos órgãos de informação, que o designavam justamente através daquele termo. Mais especificamente, conforme Ana Lagôa, que cita, por sua vez, um manual da ESG, “Informe, para a ESG, ‘é qualquer dado (observação, fato, relato ou documento) que possa contribuir para o entendimento de determinado assunto, problemas ou situação. Informação é o conhecimento de um fato ou situação resultante do processamento inteligente de todos os informes disponíveis, relacionados com o referido fato ou situação, devendo sempre atender a uma necessidade de planejamento, de execução ou de acompanhamento de atos decisórios’”. LAGÔA, Ana. SNI: Como nasceu, como funciona. São Paulo: Brasiliense, 1983. pp. 15-16; FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record, 2001. pp. 95-100.

primeiro item da aludida ficha não corresponde à realidade, pois ele, orador, votou a favor do Prof. Westphalen, e crê que nada há a seu (dele, Professor Cícero) respeito, com relação ao comunismo”.263 Mesmo sem ter acesso à ficha de Informações referida, é possível depreender seu conteúdo em linhas gerais, a partir da citada afirmação de Cícero Moraes. Fica claro que nela acusava-se Westphalen de ter alguma relação com “o comunismo”. No livro Universidade e Repressão, há menção a quatro acusações que o 3º Exército teria dirigido a ele e que, muito provavelmente, correspondem à referida ficha de Informações. A defesa de Cícero Moraes fica mais inteligível considerando-se tais acusações, que seriam:

1ª) em certa ocasião, teria ‘falado mal’ do III Exército; 2ª) seria ‘amigo de comunistas’; 3ª) teria sido eleito, para a CEIS, por ‘quatro comunistas’ da Faculdade de Agronomia e Veterinária; e 4ª) seria ‘protetor’ do Professor Luiz Carlos Pinheiro Machado, também dessa Faculdade.264

Percebe-se, a partir do cruzamento dessas informações, que Cícero Moraes não se opôs frontalmente às afirmações feitas pelo 3º Exército, mas buscou apenas observar discordância em relação ao item – que na ata é indicado como 1º e no trecho citado da publicação é referido como 3º – em que se afirmava que Westphalen “teria sido eleito por ‘quatro comunistas’” daquela faculdade, já que isso implicava Moraes. Assim, segundo as fontes a que se teve acesso, teria ele adotado uma postura discreta e ‘segura’, nem defendendo seus colegas nem os acusando de algo.

Ainda que nas atas de reunião da CEIS/UFRGS a que se teve acesso o nome do prof. Luiz Carlos Pinheiro Machado só apareça em raros e pouco elucidativos momentos, ao que tudo indica, a inclusão de seu nome como ‘protegido’ de Westphalen na ficha de Informações enviada pelo 3º Exército à CEIS/UFRGS contribuiu significativamente para seu afastamento sumário. Só foram encontradas duas ocorrências de seu nome, ambas na ata da 7ª reunião ordinária, em meio a uma discussão sobre o caráter dos pronunciamentos dos acusados perante a CEIS/UFRGS. Uns eram favoráveis a considerá-los como depoimentos, outros como defesas, e outros ainda como ambos. Luiz Carlos Pinheiro Machado é citado em função do pronunciamento de Cícero Moraes, como exemplo de depoimento que também constituiu defesa do acusado.265

263 UFRGS. CEIS. Ata da 5ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 09/06/1964. p. 9. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

264

ADUFRGS. Universidade e Repressão: Os expurgos na UFRGS. Porto Alegre: L&PM, 1979. p. 28. 265 UFRGS. CEIS. Ata da 7ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária,

Nessa mesma reunião, foi lido pelo secretário um documento encaminhado por Mozart Soares a Garrastazu Teixeira. Junto a ele, o diretor da Faculdade de Agronomia e Veterinária encaminhava os seguintes documentos ao militar e à CEIS/UFRGS:

1. Ata da reunião do Conselho Departamental em que o Prof. Westphalen foi eleito como representante da Faculdade junto à Comissão.

2. Pedido de demissão do Prof. Westphalen da dita Comissão.

3. Relatório lido pelo Prof. Westphalen em sessão da Congregação de 11/6/64, contando as normas que nortearam sua conduta naquela Comissão e que mereceram daquele órgão integral solidariedade e apoio unânime.

4. Lista dos Professores que compareceram à citada reunião da Congregação. 5. Lista dos alunos que compareceram à reunião em que, na presença do Prof. Westphalen, o Diretor transmitiu o apelo recebido do III Exército, a propósito da situação de alguns Estudantes Universitários do Rio Grande do Sul face à Revolução democrática vitoriosa.

6. Resumo das palavras proferidas pelo Diretor da Faculdade, respeitado o exato sentido das mesmas, quando transmitiu aos alunos o citado apelo do III Exército.266

Afirmou ainda Mozart Soares, no referido documento, que havia ocorrido “não somente distorção, mas até uma completa inversão no sentido das palavras então pronunciadas por mim e confirmadas na ocasião pelo Prof. Westphalen, o que é intolerável”. Em vista disso, o diretor teria reunido outra vez seus alunos “para pôr-lhes a par das inverdades que serviram de apoio à ficha sobre aquele professor”, obtendo, deles também, “integral solidariedade e apoio, no sentido de restituir a verdade, pelos meios que julgasse convenientes”. Por fim, no documento, Mozart Soares fez uma expressiva defesa de Westphalen, afirmando que transmitia aquelas informações “em defesa não só de um dos mais ilustres professores desta Casa, reconhecido como um modelo de dignidade em sua vida pública e privada, como também em nome da verdade”.267

Observa-se assim que a ficha de Informações oriunda do 3º Exército, anteriormente referida, teve significativo impacto não somente no interior da comissão, mas também junto aos docentes e discentes da Faculdade de Agronomia e Veterinária. Ainda que os esforços de Mozart Soares, ao que parece, não tenham sido em vão e Westphalen tenha por fim sido poupado, o “protegido” deste, Luiz Carlos Pinheiro Machado, acabaria ainda assim sendo expurgado.

A 7ª reunião foi marcada pela presença do ex-reitor Elyseu Paglioli e por debates em torno de sua administração. Percebe-se, pela significativa mudança na forma do texto da ata daquele encontro em comparação às atas das reuniões anteriores, que muito provavelmente a 7ª reunião da CEIS/UFRGS foi gravada e posteriormente transcrita.

266

UFRGS. CEIS. Ata da 7ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 02/07/1964. p. 22. UCS/CEDOC/LTM.

Naquele dia, após a leitura dos relatórios e o pronunciamento dos respectivos diretores, como já mencionado, Laudelino Teixeira Medeiros, presidente da Subcomissão “D” e representante da Faculdade de Filosofia na CEIS/UFRGS em substituição a Lourenço Mario Prunes,268 fez um curioso senão sintomático questionamento:

O Prof. Laudelino, a seguir, referiu-se a um tipo de estudante que é relativamente raro, mas que existe na Universidade: o estudante profissional. Esse estudante permanece no ambiente universitário com finalidades estranhas e contrárias aos objetivos da Universidade, e, algumas vezes, com fins subversivos. É um estudante que repete intencionalmente, ou, então, que permanece na Escola, através de outros cursos, com a intenção de ficar no ambiente universitário. Perguntou, o orador, logo após, se os srs. Diretores não teriam algum elemento para dizer da possível existência desse tipo de estudantes em suas Faculdades ou Escolas.269

Travou-se amplo debate acerca da existência de “estudantes profissionais” nas escolas ali representadas por seus diretores. Após os mesmos deixarem a reunião, Ney Messias sugeriu que fossem suspensas as reuniões plenárias destinadas a ouvir os demais diretores das unidades de ensino. Claramente, alguns membros da CEIS/UFRGS não estavam satisfeitos com a participação dos “convidados”. Jacy Carneiro Monteiro, apoiando a sugestão de Messias, observou que “os srs. Diretores procuram defender as suas Escolas, quando os integrantes das subcomissões sabem que existem elementos fortemente implicados, e esses elementos não são relatados por alguns dos srs. Diretores”.270

2.2.4 - Relações da CEIS/UFRGS com o Aparato Repressivo

Um aspecto observado a partir da análise das atas da CEIS/UFRGS é a troca de informações entre a comissão e órgãos do Aparato Repressivo, notoriamente o 3º Exército e o DOPS/RS. Percebe-se, desde a reunião de instalação da comissão, a presença do “Gal. Jorge Cesar Teixeira, Assessor Militar indicado pelo 3º Exército”.271 Não era a primeira intervenção do militar. Após o Golpe, antes de ingressar na CEIS/UFRGS, Garrastazu Teixeira teria

268 UFRGS. CEIS. Subcomissão “D”. Ata da Reunião de Instalação dos Trabalhos da Subcomissão letra D, integrada pelas faculdades de Direito, Filosofia, Ciências Econômicas e Escola de Artes, 29/05/1964;

Id. Ata da 1ª Reunião da Subcomissão letra D, integrada pelas faculdades de Direito, Filosofia, Ciências

Econômicas e Escola de Artes, 01/06/1964. UCS/CEDOC/LTM.

269 UFRGS. CEIS. Ata da 5ª Reunião Ordinária da Comissão Especial de Investigação Sumária, 09/06/1964. pp. 5-6. UCS/CEDOC/LTM. Grifos ausentes do original.

270

Id. ibid. p. 9. Grifos ausentes do original.

271 Id. Ata da Reunião de Instalação da Comissão Especial de Investigação Sumária, 18/05/1964, p. 1. UCS/CEDOC/LTM.

atuado como interventor no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPTEC).272

Segundo Angélica de Moraes, que, como mencionado, em fins da década de 1970273 chegou a entrevistar o gen. Jorge Garrastazu Teixeira (quando ele exercia a função de “Chefe da Segurança” da Companhia Riograndense de Telecomunicações, a CRT), o militar “havia sido nomeado pelo Ministério da Guerra e [...] acumulava as funções de representante do Ministério da Educação”.274 Porém, uma leitura da Ata da Reunião de Instalação da CEIS/UFRGS dá uma perspectiva um pouco distinta. Nessa reunião, o Reitor recém empossado José Carlos Fonseca Milano observou, abrindo os trabalhos da comissão, que a mesma havia sido criada com base em portaria do Ministro da Educação e Cultura, Flávio Suplicy de Lacerda, enviada à UFRGS por telegramas. Neles, solicitava o ministro que a Reitoria entrasse em contato com o Comandante do 3º Exército, a fim de que um servidor militar fosse designado para “assessorar” a comissão. Os dois telegramas foram transcritos na referida ata e são claros no sentido de que o “assessor militar” seria designado pelo Comandante do 3º Exército. É possível, portanto, que o gen. Garrastazu Teixeira tenha sido