• Nenhum resultado encontrado

Sistema de Governo e Convenções da Assembleia de Deus

Freston define o governo da AD como oligárquico, o que significa que era comandado por pessoas com enorme poder político e concentrado em um pequeno número de famílias com alto poder aquisitivo e poder político (1993, p. 72). Entende-se a oligarquia como um pequeno grupo de interesses ou lobby, que controla as políticas sociais e econômicas em benefício de interesses próprios, tal palavra também é aplicada a grupos sociais que monopolizam o mercado econômico, político e cultural de um país, mesmo sendo a democracia o sistema político vigente. Resumem-se as oligarquias como sendo grupos sociais formados por aqueles que detêm o domínio da cultura, política ou da economia de um país e que exercem esse domínio no atendimento de seus próprios interesses, em detrimento das necessidades das camadas populares.

Tentar explicar a estrutura da AD pode parecer um tanto confuso e complexo e, para dar a dimensão necessária, Fajardo (2015) defende, em seu doutorado, a tese do “esgarçamento”, ou seja, a igreja cresceu justamente devido à sua diversidade e “esgarçamento” institucional. Já Freston aponta a AD como um sistema de “complexa teia de redes compostas de igrejas-mães e igrejas congregações independentes”, em linhas gerais, as redes não necessariamente habitam uma região geográfica contígua, e, claro, dá margem a controvérsias sobre “invasão de campo” (1993, p. 72).

Todavia, nos dias 5 e 10 de setembro do ano de 1930, ocorre, na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, a primeira reunião da Convenção Geral das Assembleias de Deus no

Brasil, doravante CGADB6, e, nesse encontro, a reivindicação dos pastores brasileiros foi de

mais autonomia a frente dos suecos. Após a criação da CGADB, “o centro de poder desceu do Norte/Nordeste para o Sudeste” e o “Rio de Janeiro passou a ser o centro das decisões da liderança e a pioneira igreja do bairro de São Cristóvão” (FAJARDO, 2015, p. 83-85).

Em tempo, é preciso sinalizar que Freston (1993, p. 72-73) assinala que a convenção geral é o órgão máximo da instituição, porém, na realidade, é um centro fraco, pois existe nela exposição financeira e há produção de muita tensão nos modelos de liderança carismática. Outro fator de exposição, segundo Fajardo (2015), é o fato de que a CGADB representa apenas a liderança da instituição, de forma que somente pastores e evangelistas podem se filiar a ela.

A CGADB, apesar de nominalmente representar a Assembleia de Deus no país, na realidade é uma entidade que representa apenas sua liderança. Somente pastores e evangelistas podem se filiar a ela. Assim, a Convenção não conta com um cadastro de números de membros das igrejas e nem mesmo exerce controle sobre a administração dos templos, sendo assim um órgão de sua classe dirigente. (FAJARDO, 2015, p. 85).

O grande expoente nacionalista da AD foi Paulo Leivas Macalão, gaúcho, nascido em 1903, que se converteu no Rio de Janeiro, em 1924. Macalão se destacou logo após sua conversão, tornando-se secretário da igreja e organizando uma banda musical. E, no ano de 1926, após atrito com a liderança sueca, desenvolve um trabalho de evangelização independente, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Gedeon Alencar (2013) destaca que os atritos de Macalão com os missionários suecos, seu nacionalismo e toda a sua origem social fizeram com que ele fosse mais longe que outros pastores.

Macalão vem de uma família rica, de tradição militar, portanto nacionalista. O governo do Getúlio (seu conterrâneo gaúcho) e o tenentismo é um substrato conceitual importante na sua formação. Ele não aceitou se submeter à liderança de um jovem sueco – ou mais grave – e/ou de uma mulher? Em 1932, quando Vingren vai embora, Nyström assume em seu lugar. Por que não Macalão que já era um pastor com ministério consolidado na cidade? (ALENCAR, 2013, p. 142).

Macalão começou a abrir núcleos da AD nas casas de membros recém-convertidos, mas, em 1929, abriu sua igreja no bairro de Madureira, que se tornou seu centro de atividades e,

6 A CGADB ganhou personalidade jurídica em 1946. Atualmente reúne-se ordinariamente a cada dois anos em

uma cidade diferente do país. Até abril de 2015 a entidade já havia realizado 48 assembleias gerais, sendo 42 ordinárias e 6 extraordinárias (www.cgadb.com.br). (FAJARDO, 2015, p. 83).

pouco tempo depois, centro de seu ministério, o ministério de Madureira. Foi neste momento que a igreja AD passou a ter dois grupos ligados que, “com o tempo passaram a ser denominadas respectivamente de igrejas ‘da Missão’ (lideradas pelos missionários suecos) e igrejas do ‘Ministério de Madureira’ (lideradas por Macalão)” (FAJARDO, 2015, p. 88). Anos mais tarde, o ministério liderado por Macalão ultrapassou as fronteiras do Rio de Janeiro, indo para o estado de Goiás, em 1936, e, dois anos depois, chegou a São Paulo.

Foi em 1989 que a AD Madureira emancipou-se por completo da CGADB, com a qual, até então, mantinha ligações políticas e estreitas. O Ministério de Madureira criou, então, a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil - Ministério de Madureira (CONAMAD). Tentar dimensionar a quantidade de convenções existentes no Brasil é uma tarefa muito difícil. Em 1993, ano de publicação da tese de Paul Freston, havia 47 convenções estaduais e ministérios filiados, além dessas, hoje, muitos estados possuem mais de uma convenção, devido a desentendimentos históricos.

Por outro lado, é desta maneira que a igreja cresce no Brasil, dando, de certo modo, autonomia para cada congregação e adaptando as diversas facetas sociais de cada região, ou seja, proporciona um sistema com “igrejas livres”, sem uma liderança em nível nacional, mas com diversos presidentes de ministérios independentes e locais, que governam suas redes de igrejas com um sistema de governo eclesiástico episcopal.

Conforme Maxwell Fajardo (2015, p. 115), desde a década de 1980, a instituição AD se transformou efetivamente em uma fragmentação institucional. Quem observa tal fenômeno de fora, pode se fazer a seguinte pergunta: Por que manter-se coligado a uma convenção? Somente uma resposta não satisfaria tal pergunta, pois elas podem ultrapassar até mesmo o campo do pesquisador. De qualquer maneira, podemos citar algumas: a) pertencer a uma instituição centenária pode dar crédito ao pastor, à instituição e ao fiel, pois pertencer a um grupo, certamente, significa ter aceitação e legitimidade dentro da comunidade; b) por mais divergências que ocorram dentro do campo assembleiano, ou seja, de usos e costumes, liturgia, capital, simbólicos, existe uma “linha tênue” que gere o senso mínimo de um assembleiano; c) a estrutura de convenção pode dar ao pastor e à instituição uma retaguarda que ele procura para sua igreja; d) a estrutura assembleiana é, de fato, muito similar ao que Freston (1993) afirmou: é caudilhesca e oligárquica, o que retrata bem o modus operandi político e social brasileiro, logo, a adaptação desses pastores não é um desafio; e) de certa forma, a convenção não adentra com o pastor na instituição a qual ele pastoreia, ou seja, existem limitações de funções, o que dá autonomia e liberdade ao pastor para trabalhar.