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1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.4.2 Sistematização do corpus

Salientamos que, no que se refere à violência no futebol, a análise recai sobre uma pequena parte de tudo que é elaborado e construído pela mídia esportiva impressa. Admitimos, assim, a inquestionável impossibilidade de analisar tudo que é noticiado sobre o assunto. A análise e os respectivos resultados e reflexões recaem, portanto, sobre um corpus, elaborado através dos jornais Folha de São Paulo e Zero Hora. O corpus é constituído por textos jornalísticos que abordam a questão da violência no futebol. Destaca-se, como vimos

anteriormente, através de Mouillaud (1997) e Charaudeau (2006), que os textos jornalísticos impressos estão imbricados em uma série de dispositivos mais amplos. Desse modo, são passíveis de influenciar e serem influenciados, por exemplo, pelo dispositivo jornalismo impresso, pelo dispositivo midiático e pelo dispositivo cultural de um determinado povo.

De modo inicial, os textos (reportagens, notícias, artigos de opinião, colunas) foram divididos de acordo com as principais manifestações de violência existentes no futebol, sendo elas: entre torcedores de clubes adversários; entre torcedores do mesmo clube de futebol; entre torcedores e jogadores; vandalismo contra o patrimônio dos clubes (quebras de cadeiras no estádio, depredação de lojas, por exemplo) e entre torcedores e policiais. Dentro dessas abordagens principais, foi possível encontrar outras relacionadas a elas como: evitar ou solucionar problemas; possibilidade e medo da violência; problemas sociais que atingem o futebol; consequência de atos violentos; segurança nos estádios e arredores.

As referidas abordagens foram identificadas ao longo de 125 textos recolhidos dos jornais Folha de São Paulo e Zero Hora, entre os meses de agosto de 2012 e maio de 2013. O referido período coincide com a segunda metade do Campeonato Brasileiro de Futebol e com as primeiras fases da Copa Libertadores da América. Através dos textos, tentamos identificar como as estratégias discursivas constituem efeitos de sentido, afirmam e manuseiam valores sobre determinado assunto e levam as pessoas a consumirem um produto jornalístico.

A escolha por trabalhar com jornais justifica-se através dos seguintes dizeres de Landowski (1992, p.117-118): “o jornal se caracteriza como um instrumento excepcionalmente poderoso de integração dos múltiplos universos de referência que ele toma como objeto”. O jornal tem a capacidade de informar sobre tudo, mesmo que, por vezes, de forma reduzida e, possibilita vários vieses de leitura e análise, como diz o autor: “Discurso plural, o jornal, talvez, mais que qualquer outro discurso social, se presta a uma enorme diversidade de abordagens, que podem dizer respeito tanto aos conteúdos ideológicos como às estruturas narrativas ou as estratégias de discurso que aí se manifestam”.

Como afirma Charaudeau (2006, p.59), “Se as manchetes dos jornais são diferentes, é porque, para se diferenciar do concorrente, cada jornal deve produzir efeitos diferentes”. Isso ajuda-nos a explicar o motivo de selecionarmos textos sobre o mesmo assunto produzidos por mais de um veículo de comunicação, no caso, Jornal Folha de São Paulo e Jornal Zero Hora.

O Jornal Folha de São Paulo foi fundado no ano de 1921, pertence ao Grupo Folha e, segundo dados do mês de fevereiro de 2013, divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), é o maior jornal de circulação do Brasil com uma média diária de 298.112 exemplares.

O pico de circulação é atingido aos domingos com 322.395 exemplares. O jornal possui cerca de dois milhões de leitores, dos quais 54% são do sexo masculino e 55 % pertencem a classe B. Os assuntos relacionados ao esporte são divulgados de segunda a domingo no formato tabloide.

O Jornal Zero Hora foi criado na cidade de Porto Alegre, no ano de 1964, e passou a pertencer ao grupo RBS em 1970. Zero Hora é o maior jornal do Rio Grande do Sul e da região Sul do Brasil e o sexto do país em circulação média diária com 184.674 exemplares48. Atinge o pico de circulação aos domingos com cerca de 248 mil exemplares. O jornal possui cerca de um milhão e quatrocentos mil leitores, dos quais 52% são do sexo feminino e 58% pertencem a classe B. Os assuntos sobre esporte são divulgados na segunda, no formato caderno, e de terça a domingo no formato seção.

Recebem destaque em nosso estudo, a análise de estratégias discursivas e efeitos de sentido presentes na cobertura referente a morte do garoto boliviano, torcedor do São José de Oruro, Kevin Espada, o qual foi atingido por um sinalizador marítimo arremessado por um torcedor do Sport Club Corinthians Paulista, em um jogo realizado entre os dois times pela Copa Libertadores da América de 2013, na cidade de Oruro, na Bolívia. Contabilizamos 34 textos jornalísticos que trataram do acontecimento em nosso corpus. A análise dos textos sobre o referido acontecimento acontecerá no item “De São Paulo a Oruro”.

Outro destaque refere-se às torcidas organizadas. Dedicamos um item, denominado “Torcidas e torcedores violentos, em Xeque”, para textos que mencionam ações violentas de torcedores e de torcidas organizadas, bem como para textos que tratam do medo causado por eles, das consequências dos atos, dos benefícios que recebem dos clubes, da importância que têm para os clubes, do segmento “infiltrados” que atua nas torcidas organizadas e das tentativas de solução para o problema. Nesse item, incluímos, por exemplo, a violência entre membros de torcidas organizadas do Grêmio Football Porto-Alegrense e os constantes conflitos causados por alguns torcedores do Palmeiras.

Ressaltamos que pretendemos abordar as divisões elaboradas no segundo parágrafo desse item sobre as manifestações de violência no futebol no interior dos três destaques apontados anteriormente.

2 OS JOGOS DO FUTEBOL E A VIOLÊNCIA

O presente capítulo visa, através de investimento teórico, a apresentar vínculos estabelecidos entre futebol, cultura, sociedade e o jornalismo esportivo, bem como, os vínculos desse imbricamento com a violência que circunscreve o referido esporte, mais especificamente, a violência envolvendo os espectadores e as torcidas organizadas. O investimento teórico proposto é fundamental para que consigamos atingir o último objetivo específico estabelecido para esta investigação: refletir sobre as relações existentes entre a violência no futebol, mídia e sociedade.