• Nenhum resultado encontrado

Para aplicação do método Fleuriet as contas patrimoniais foram classificadas em três categorias: Erráticas, Cíclicas e Não Cíclicas. A partir daí foram determinadas as três variáveis utilizada no método: capital de giro (CDG), necessidade de capital de giro (NCG) e saldo em tesouraria (T). Os resultados obtidos estão demonstrados na Tabela 10, a seguir apresentada:

Tabela 10 – Evolução Comparativa do CDG, NCG e T das IES de Capital Aberto – Período de 2007 a 2013

Fonte: Elaborado pelo autor

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Anhaguera CDG -58.401 -33.963 218.481 1.053.677 268.363 391.767 478.023 NCG 22.252 86.099 195.245 222.100 259.832 321.210 409.963 T -80.653 -120.062 23.236 831.577 8.531 70.457 68.060 Estácio CDG 206.771 174.998 187.341 250.930 357.571 317.915 979.892 NCG 30.890 31.821 56.704 130.006 231.282 245.154 375.200 T 175.881 143.177 130.637 120.924 126.289 72.761 604.692 Kroton CDG 337.259 152.795 454.867 67.154 -126.553 171.986 355.987 NCG 30.266 54.778 65.813 99.113 167.414 129.373 190.280 T 306.993 98.017 389.054 -31.959 -293.967 42.613 165.707 Valores em R$ mil

No Quadro 4, está demonstrado a situação financeira de cada uma das companhias educacionais apurada em conformidade com Método Fleuriet. O enquadramento da situação financeira foi efetuado com base na configuração apresentada no Quadro 2.

Quadro 4 - Comparativo da Situação Financeira pelo Método Fleuriet das IES de Capital Aberto – Período de 2007 a 2013

Empresas Anhanguera Estácio Kroton

2013 Sólida Sólida Sólida

2012 Sólida Sólida Sólida

2011 Sólida Sólida Péssima

2010 Sólida Sólida Insatisfatória

2009 Sólida Sólida Sólida

2008 Péssima Sólida Sólida

2007 Péssima Sólida Sólida

Fonte: Elaborado pelo autor

A Anhanguera, nos anos de 2007 e 2008 apresentava uma situação financeira péssima, e assim estava mesmo antes da abertura de capital. Uma classificação da situação financeira como péssima indica que a empresa não tem recursos em caixa ou equivalentes de caixa e o seu capital de giro (CDG) é inferior a zero (capital de giro negativo) e também inferior à sua necessidade de capital de giro (NCG).

Mesmo com a captação do IPO de 2007, no montante de R$ 360 milhões, referente à oferta primária e que efetivamente ingressou no caixa, a Anhanguera não conseguiu redefinir uma estrutura de capital menos arriscada. Esse valor foi investido em aquisições de 13 campi e 450 polos e ainda foram destinados para expansão dos negócios representado pelo surgimento de 5 novos campi mediante crescimento orgânico. Os ativos imobilizado e intangível cresceram R$ 696 milhões, correspondente à uma variação de 598% em relação ao ano anterior. O passivo

circulante aumentou R$ 651 milhões e o não circulante R$ 160 milhões. Com esse quadro, o saldo em tesouraria (T) em 2007, ficou negativo em R$ 81 milhões e o capital de giro (CDG), negativo em R$ 58 milhões, enquanto a necessidade de capital de giro (NCG) estava positiva em R$ 22 milhões.

Em 2008, a situação financeira permaneceu péssima, mesmo com entrada de novos recursos no montante de R$ 548 milhões, mediante aumento de capital em dinheiro. A empresa manteve sua política agressiva de aquisições investindo aproximadamente R$ 340 milhões. Aos ativos imobilizados e intangíveis foram adicionados R$ 587 milhões, representando um aumento de 84% em relação ao saldo de 2007. Em contrapartida os passivos circulante e não circulante aumentaram R$ 750 milhões e R$ 135 milhões, significando acréscimos de 92% e 80%, respectivamente, em relação ao ano de 2007. Além disso, a Anhanguera não teve uma boa performance, apurando prejuízo no exercício de 2008 de R$ 26 milhões e um EBITDA de apenas R$ 38 milhões. Fechando o exercício de 2008, o saldo em tesouraria (T) estava negativo em R$ 120 milhões e também negativo foi o CDG de R$ 34 milhões, ao passo que o NGC ficou positivo em R$ 86 milhões.

Em 2009, a IES não realizou nenhuma aquisição. Efetuou captação de recursos no valor de R$ 304 milhões provenientes da emissão de notas promissórias e debentures. Ainda em 2009, obteve lucro líquido de R$ 67 milhões e EBITDA de R$ 135 milhões. Com isso, a empresa equilibrou-se e sua situação financeira foi classificada como sólida, assim como as das demais. Uma classificação da situação financeira como sólida indica que a empresa tem recursos em caixa e equivalentes de caixa, o CDG e a NCG são positivos e o CDG e maior que NCG.

De 2007 a 2009, mesmo com apresentação de prejuízos de R$ 17 milhões (2007) e R$ 8 milhões (2009), a Kroton manteve uma situação financeira sólida. Isso ocorreu porque no ano de 2007, a empresa captou R$ 416 milhões no IPO de julho e mais R$ 62 milhões em uma oferta suplementar realizada em agosto daquele mesmo ano, sendo que desse total de R$ 478 milhões, o montante de R$ 396 milhões, correspondente à oferta primária, ingressou no caixa da empresa. A IES, nos anos de 2007 e 2008, efetuou aquisições no montante de R$ 117 milhões,

sendo que no total foram desembolsados R$ 248 milhões para pagamento das aquisições de participação societária (R$ 103 milhões), compras de imobilizado (R$ 56 milhões) e intangível (R$ 89 milhões). Em 2009, ocorreu aporte de capital de R$ 388 milhões, o que fez com que a empresa em 31 de dezembro de 2009, demonstrasse um saldo de caixa e equivalentes de caixa no montante de R$ 410 milhões. Naquele ano, 2009, a Kroton, a exemplo de suas concorrentes não realizou nenhuma aquisição de participação societária.

Em 2010, os recursos em caixa foram basicamente destinados para aquisição de imobilizado no montante de R$ 326 milhões e na aquisição de 100% na participação da IUNI Educacional, no valor total de R$ 184 milhões. Com isso, a Kroton passou a apresentar uma situação financeira insatisfatória, enquanto as demais estavam classificadas como sólidas. Uma classificação da situação financeira como insatisfatória indica que a empresa não tem recursos em caixa ou equivalentes de caixa, o CDG e NCG são positivos, entretanto, o CDG é inferior à NCG. Assim pode-se constatar objetivamente essa situação na Tabela 10, onde está demonstrado que em 2010, o saldo em tesouraria (T) era de 32 milhões negativos, o capital de giro (CDG) e a necessidade de capital de giro (NCG), positivos, entretanto, o CDG no montante de R$ 67 milhões é inferior à NCG de R$ 99 milhões. Os motivos da situação financeira classificada como péssima decorreram preponderantemente dos seguintes aspectos: a) em 2010 o ativo intangível teve um aumento líquido de 424 milhões, equivalente a um acréscimo de 244% em relação a 2009; b) o imobilizado teve um aumento líquido de R$ 56 milhões, acréscimo de 33% em relação a 2009; e c) redução de R$ 384 milhões dos recursos em caixa e equivalentes de caixa, correspondente a uma diminuição de 94%.

No ano de 2011, a Kroton teve uma piora na sua situação financeira que de insatisfatória passou a ser classificada como péssima, enquanto as demais permaneceram com situação sólida. Essa piora na situação financeira decorreu, a exemplo de 2010, em virtude das inversões de capital em aquisições que atingiram a quantia de R$ 1,1 bilhão, sendo que parte, no valor de aproximadamente R$ 670 milhões foi liquidada a vista. A maior parcela no valor de R$ 1,0 bilhão refere-se à

aquisição a União Norte do Paraná de Ensino Ltda. – UNOPAR. Assim, o passivo circulante teve um aumento de R$ 450 milhões representando um acréscimo de 336% em relação ao ano de 2010, e dessa forma, a combinação do desencaixe financeiro para o pagamento à vista e o aumento do passivo com dívidas de aquisição, provocou um desiquilíbrio momentâneo da estrutura de capital, reduzindo recursos de curto prazo, circulantes, para financiamento de ativos não circulantes. Uma situação péssima indica que a empresa está financiando ativos permanentes com dívidas de curto prazo, e nessa circunstância a expansão dos negócios pode agravar a situação em decorrência do crescimento do saldo negativo de caixa e equivalentes de caixa, classificando a situação da empresa como de grande risco de insolvência. Essa era a situação da Kroton em 31 de dezembro de 2011, facilmente visualizado na Tabela 10, onde consta saldo negativo de tesouraria (T) de R$ 294 milhões, capital de giro (CDG) negativo de R$ 127 milhões e uma necessidade de capital de giro (NCG) positiva de R$ 167 milhões.

Em 2012, a Kroton continuou sua estratégia e investiu R$ 582 milhões nas aquisições do Grupo Uniaselvi (R$ 530 milhões) e do Centro Educacional Cândido Rondon – Unirondon (R$ 52 milhões), sendo pagos à vista R$ 335 milhões. Entretanto, parte do financiamento para essas aquisições teve origem das atividades operacionais, referente lucro líquido de R$ 202 milhões e um EBITDA de R$ 329 milhões, apurados no ano de 2012, e outra para por recursos de acionistas por aumento de capital de R$ 597 milhões. Com essa formatação, os recursos de caixa e equivalentes de caixa aumentaram R$ 64 milhões, um acréscimo de 42% em relação ao ano de 2011, enquanto o passivo circulante foi reduzido em R$ 215 milhões, representando um decréscimo de 37% em relação ao ano anterior. Favorável à situação financeira parte das dívidas contraídas se concentrou no passivo não circulante, que aumentou R$ 262 milhões, correspondente a 29% de acréscimo em relação a 2011.

A Estácio no período de 2007 a 2013, apresentou uma situação totalmente estável, classificada em todos os anos como situação financeira sólida. Apresentou lucro líquido nos sete anos estudados, com tendência constante de crescimento.

Demonstrou uma grande capacidade de geração de caixa por meio de suas atividades operacionais. No período de 2007 a 2012, investiu R$ 247 milhões em aquisições, quantia bastante inferior ao investido por suas concorrentes de capital aberto, as quais investiram, no mesmo período, juntas, R$ 3,1 bilhões (Anhanguera – R$ 1,2 bilhão e Kroton – R$ 1,9 bilhão). A Estácio tem mantido uma estratégia de aquisições de pequenas instituições. O seu maior investimento, na quantia de R$ 57 milhões, ocorreu no ano de 2007 para aquisição do Centro Universitário Radial com aproximadamente 10.800 alunos. Em setembro de 2013, a IES divulgou ter assinado termo de compromisso para aquisição, pela quantia de R$ 615 milhões, da empresa TCA Investimentos e Participações Ltda, empresa controladora da UNISEB – União dos Cursos Superiores SEB Ltda, que possuí aproximadamente 37 mil alunos, matriculados em cursos de graduação e pós-graduação nas modalidades presencial e à distância. A referida aquisição está em processo de análise para aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Caso seja aprovada essa aquisição poderá modificar a situação financeira da Estácio no ano de 2014. Os saldos de tesouraria (T) foram positivos em todos os anos e em 2013, atingiu a quantia significativa de R$ 605 milhões equivalente a 3,7 vezes maior que o da Kroton (R$ 165 milhões) e 8,9 vezes maior que o da Anhanguera (R$ 68 milhões). Essa relevante diferença de recursos em caixa tem como principal origem a captação de R$ 617 milhões mediante oferta pública realizada em 2013. O capital de giro (CDG) esteve sempre positivo e superior à necessidade de capital de giro (NCG).

Nos anos de 2012 e 2013, todos as empresas foram classificadas com situação financeira sólida, que pode-se notar facilmente essa condição na Tabela 9, verificando que todas apresentam saldo positivo em tesouraria (T), de capital de giro (CDG) e de necessidade de capital de giro (NCG), sendo o valor do CDG maior que o valor da NGC.

Com relação a situação financeira, as três empresas, no decorrer de 2007 a 2013, se destacaram. A Anhanguera por ter iniciado no mercado de ações com

situação péssima e ter conseguido sua recuperação no ano de 2009 e se manter numa situação financeira sólida até 2013.

A Kroton iniciou com uma situação financeira sólida e enfrentou problemas nos anos de 2010 e 2011, por agressividade nas aquisições. Em 2010 sua classificação financeira caiu para insatisfatória e em 2011 para péssima, entretanto, apresentou uma rápida recuperação e em 2012 e 2013, mediante captação de recursos e geração de caixa pelas suas atividades operacionais, voltou a ter sua situação financeira classificada como sólida.

A Estácio se lançou no mercado de ações com uma situação financeira classificada como sólida e isso não se modificou nos anos seguintes. Entre os destaques de recuperação de suas concorrentes a Estácio teve destaque positivo por sua capacidade de estabilidade, transparecendo uma eficiente capacidade de gestão do capital de giro, sem frequentar as zonas de risco de insolvência.