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2.2 Trajetória escolar: estudar para aprender, estudar para ascender profissionalmente

2.3.2 A situação do setor de autopeças

Apesar das mudanças sistêmicas que ocorreram na década de 1990, no sentido da modernização do parque industrial no Brasil, e na região do ABC Paulista, as inovações tecnológicas mantiveram-se concentradas nas matrizes das multinacionais em seus países de origem, relegando aos países que recebem suas filiais a montagem de veículos e peças, e não o desenvolvimento de novos projetos.

Interessa dizer, para melhor compreensão sobre os dois segmentos estudados, autopeças e as montadoras, que, de 2004 até 2009, o setor automotivo encontrava-se em um cenário de crescimento bastante consistente. A partir desse período, porém, isto começa a mudar, porque as exportações diminuem e as importações aumentam, fenômeno que vem se intensificando desde a crise mundial de 2008. Tal cenário tem sido tencionado, em virtude da concorrência que fica mais acirrada desde então.

Ainda segundo estudos do Dieese (2012), a partir de 2005, começa a haver um aumento de importações que segue subindo até superar as exportações, fato ocorrido em 2009.

15 Djalma Leite é um deles. Eleito na Itaesbra pelos trabalhadores, cumpre atualmente seu mandato e negociou

junto à empresa a participação dos trabalhadores no curso Trabalho e Cidadania, instalando, a partir do acordo assinado, a seguinte condição: trabalhadores participam semanalmente da atividade.

“De modo geral, em 2011, as importações totais de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus cresceram 30%, isto é, somaram 858,0 mil unidades em 2011, frente a 660,1 mil unidades de 2010.” (DIEESE, 2012, p. 13). Esse processo ocorre por dois motivos fundamentalmente: pela entrada de novas marcas no mercado e por estratégia das empresas montadoras tradicionais se dedicarem a fabricar carros mais simples no País e importarem os produtos com maior valor agregado.

Os modelos brasileiros possuem baixa tecnologia agregada aos produtos, e os preços dos automóveis são altos. Como as multinacionais instaladas no País organizam suas estratégias a partir da realidade de suas matrizes, vai ocorrendo, num curto espaço de tempo, uma série de deslocamentos e reorganizações das relações entre as empresas e na focalização de seus produtos.

Essa realidade do setor atinge mais fortemente as autopeças, uma vez que elas mantêm uma espécie de dependência em relação às montadoras, considerando seu posicionamento na cadeia produtiva. Esse reflexo é sentido no nível de emprego no segmento. Observa-se, porém, que, apesar de os saldos mais recentes serem negativos, no grupo de autopeças, o comportamento tem sido mais favorável do que no período passado. No último ano (jun- 2013/jun-2012), 690 postos de trabalho foram eliminados nas autopeças; no ano anterior, a redução foi de 3.163 trabalhadores.

A tabela 3 traz números que informam sobre a tendência em termos de faturamento, no setor de autopeças, no período de 2002 a 2011.

Tabela 3 - Faturamento do Setor de Autopeças (Brasil, 2002-2011)

Ano Faturamento(1) em moeda corrente (R$ milhões) Faturamento atualizado INPC-IBGE de 31/12/2011 (R$ milhões) Crescimento anual sobre base atualizada (%) Crescimento acumulado sobre base atualizada (%) 2011 93.903 99.612 8,7 8,7 2010 86.387 91639 7,2 16,6 2009 75.668 85.458 3,3 12,7 2008 75.171 88.389 3,4 16,5 2007 68.283 85.493 4,5 21,8 2006 62.121 81.788 -1,7 19,7 2005 61.464 83.200 7,8 29,1 2004 54.254 77.147 24,9 61,2 2003 40.938 61.782 11,8 80,2 2002 33.176 55.267 - -

Fonte: SINDIPEÇAS. Elaboração: Subseção do Dieese CNM/Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Nota: (1) Faturamento com ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) e sem IPI (Imposto

Com a Tabela 3, observa-se que o nível de faturamento do setor de autopeças sobre os reflexos da crise mundial em 2008, a partir de 2010 há uma recuperação apontada pelos dados.

Estão distribuídos nos subsetores automotivos um total de 85,3% da categoria. Esse montante representa hoje 56,2% dos empregos, e pelos subsetores Produtos de Metal (16,9%) e Máquinas e Equipamentos (12,2%)” segundo o DIEESE.

Segundo Dieese (2011), em 22 anos o nível de emprego entre os metalúrgicos oscilou bastante, refletindo, ao longo desse período, interferências das mais diversas, tanto nos aspectos econômicos quanto políticos, por meio das políticas adotadas pelo governo federal. A abertura de mercado na década de 1990, a Reestruturação Produtiva, que acontece de forma mais sistêmica nesse período, assim como diversas crises internacionais vivenciadas ao longo dessas décadas, trouxeram consequências que impactaram diretamente nos metalúrgicos, como o alto nível de desemprego.

Figura 15 – Trabalhadores na Base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (1992-2013)

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.

Elaboração: Subseção Dieese / Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

De 1989 a 199216, foram perdidos cerca de 42,5 mil postos de trabalho17; a partir do final de 2003, no entanto, começa haver uma retomada: de 2003 a 2011, a categoria recuperou 29,1 mil postos de trabalho, apesar da interrupção do crescimento no período da crise de 2008. Entre os municípios que compõem a base do sindicato, o que concentra a grande maioria de trabalhadores, cerca de 64%, é São Bernardo do Campo. Os trabalhadores se distribuem entre os diversos segmentos de metalurgia, embora boa parte deles se concentre no setor automotivo (57,4%), distribuídos entre montadoras e autopeças.

Ao serem analisados os dados relacionados à permanência no trabalho, o Dieese (2011) aponta que 30,8% dos metalúrgicos, em 2010, estavam há mais de 10 anos na mesma

empresa; mas, ao analisar os dados das montadoras em separado, chega a 60% os funcionários com mais de 10 anos de casa.

A vivência de Breno e seu pai na Itaesbra ilustra esse nível de estabilidade, que é alto em relação à média nacional – embora mais recentemente empresas pertencentes ao segmento de autopeças estejam refletindo um índice de desemprego mais agudo em virtude da crise de 2008 e o nível de rotatividade neste segmento ser muito superior muito maior quando comparado às montadoras.

Já em relação à valorização da escolaridade há um diferencial importante entre o que vivenciaram os trabalhadores nas décadas 1970 e 1980 e os de hoje. Se há diversos pontos convergentes, há também nuances que atualizam a nova realidade nas fábricas. Os trabalhadores são mais escolarizados e isso reflete também um novo modelo de produção. Neste capítulo desenvolveremos o modelo que orientava a produção e gestão das fábricas nos anos 1970: o fordismo. No capítulo III, trataremos das diferenças vivenciadas hoje com o modelo japonês ou, os padrões toyotistas de produção.

A figura 16 apresenta a evolução do rendimento médio real dos trabalhadores na base de 1994 até 2010.

Figura 16 - Rendimento Médio Real dos Trabalhadores na Base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – 1994- 2010 (R$ de dezembro de 2010)

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego – MTE

Elaboração: Subseção Dieese / Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

O gráfico acima sinaliza valorização salarial média dos trabalhadores metalúrgicos na região, apontando para maior intensificação da valorização positiva no período entre 2002 e 2010. Mais a frente, no capítulo IV, algumas informações dão conta de que tais dados estão associados às campanhas salariais da categoria, que contabilizaram reiterados aumentos reais superando a inflação, ao longo deste período específico.

Ainda no gráfico abaixo, evidenciam-se as diferenças que marcam as médias salariais dos metalúrgicos do ABC Paulista em relação ao restante do estado e ao país como um todo. Consistindo em uma significativa margem superior dos salários médios dos trabalhadores desta região em relação ao restante. Se comparadas, as remunerações de metalúrgicos do ABC, em relação aos metalúrgicos do Estado de São Paulo e o do Brasil, as médias em 2010 ficariam R$ 3.401,16, R$ 2.198,89 e R$ 1.892,94, respectivamente(Fig. 17).

Figura 17 – Salários dos Metalúrgicos por região

Fonte: Subseção Dieese – SMABC Elaboração da própria pesquisadora.

Por fim, a remuneração média mensal do total de trabalhadores metalúrgicos da base do Sindicato dos Metalúrgicos em 2010 era de R$ 3.604,19 e, no segmento das montadoras, o salário era de R$ 6.125,71, e nas autopeças, de R$ 2.308,30 (Fig. 18).

Figura 18 – Remuneração média mensal dos trabalhadores metalúrgicos (2010)

Fonte: Subseção Dieese – SMABC Elaboração da própria pesquisadora.

Aindano que se refere ao perfil dos metalúrgicos, há uma aproximação da quantidade de trabalhadores por faixa etária, quando comparados os dados de 1994 e 2010. No grupo de trabalhadores de até 29 anos, em 1994, representavam 36% e, em 2010, 33,3%; de 30 a 39 anos, em 1994, o índice era 33,6% contra 29,5%, em 2010; já o grupo de 40 a 49 anos, em 1994, compunham 56,9% e, em 2010, 55,3% (Fig. 19).

Figura 19 – Porcentagem de Trabalhadores por Faixa Etária

Fonte: :Subseção do Dieese – SMABC Elaboração da própria pesquisadora.

No ano de 2013, segundo o dieese, os metalúrgicos na faixa etária de até 29 anos somavam 27.534 jovens, sendo 22.555 homens e 4.979 mulheres. Este número representa 27,2 % do total de 101.115 trabalhadores. (Fig. 20).

Figura 20 – Jovens metalúrgicos

Fonte: Subseção Dieese – SMABC Elaboração da própria pesquisadora.

Entre os jovens de até 29 anos 16,4% não completaram o ensino médio, segundo o Dieese. Cerca de 63% desses jovens terminaram o segundo grau, e 12% já concluíram ensino superior.18 Nas montadoras a escolaridade é maior 51,6% ensino médio e 30,8% com ensino superior (incompleto e completo), já nos outros segmentos, incluindo as autopeças há 66,8% com ensino médio, e 17,2% com ensino superior (incompleto e completo).

Em relação às diferenças salariais entre jovens trabalhadores de montadoras e autopeças, considerando jovens de até 35 anos, o rendimento médio entre os dois grupos é de -50,6%. Nas montadoras o valor é de R$5.438,56, e nas autopeças é R$2.688,66.