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2.2 Trajetória escolar: estudar para aprender, estudar para ascender profissionalmente

2.3.1 Trabalhando em autopeça Itaesbra

O jovem Breno realizou o Ensino Médio e espera em breve entrar na faculdade. Mas seu sonho maior no passado era mesmo seguir o caminho do pai: ser metalúrgico.

Desde que eu era pequeno eu sabia que ia trabalhar com meu pai, meu pai me levava lá, eu e meu irmão. Ficávamos impressionados com os barulhos das máquinas, assustava! E a própria fábrica: sensacional, era demais... Com 18 anos eu comecei a cobrar pra me colocar lá. Era uma época fraca, estava mandando embora, assim que melhorou, com 18 anos mesmo, eu entrei na Itaesbra, e estou lá até hoje. Ah! Ele [seu pai] ficava com o pé atrás, porque ele não sabia, né? Não acreditava, quando a pessoa indica alguém e essa pessoa não corresponde às expectativas, o culpado é quem indicou. Não deveria ser assim, mas é. Ele me olhava como uma criança, assim que ele colocou ele viu que eu vesti a camisa e eu estou lá até hoje, não estou na sombra dele. Ele sabe disso. Eu gosto demais de lá. Eu pretendo mudar meus ares, por isso que eu quero fazer faculdade, mas, poxa… eu só tenho o que agradecer. Eu conquistei um monte de coisas lá, aprendi muita coisa, sempre você tem que tirar um pedacinho de onde você tá, e lá eu tirei bastante coisa.

A empresa em que o jovem Breno trabalha, assim como seu pai, a Itaesbra, foi fundada em 1956 por quatro europeus italianos e espanhóis. O nome da empresa faz alusão a essa origem, sendo composto pelos prefixos de: Itália, Espanha e Brasil. É dirigida atualmente pelo italiano Luigi Ugo Quarta. É uma empresa nacional e possui duas plantas: uma em São Bernardo do Campo (SP) e a outra em Diadema (SP). A que é foco de atenção, aqui, é justamente esta última, situada na Região Metropolitana de Diadema, em São Paulo (Figura 13), local em que trabalham os jovens entrevistados14, entre eles, Breno.

Figura 13 – Itaesbra, situada na Região Metropolitana de Diadema (SP)

Fonte: Itaesbra. Disponível em: <http://www.itaesbra.com.br/>. Acesso em: junho/2,014.

14 Em visita realizada à empresa, em Diadema (São Paulo), esta pesquisadora foi recebida pelo Coordenador de

Recursos Humanos, Antônio Roberto Ribeiro dos Santos. Na ocasião, realizou-se reunião, em uma sala próxima à recepção, e depois foi possível observar, do andar superior, a fábrica e os trabalhadores que ali se encontravam exercendo suas funções. Notou-se que se trata de uma empresa com perfil moderno, maquinários novos, limpa e

A empresa nasce em São Paulo, no bairro de São João Clímaco, onde permanece até 2009, ano em que ainda mantém a produção parcial em São Paulo, mas inaugura em Diadema sua nova matriz. Em 2011, a empresa elimina suas funções em São Paulo e abre uma nova filial em São Bernardo do Campo.

O trabalho nessa nova planta de São Bernardo do Campo foca a estamparia da linha branca; já em Diadema a prioridade é a estampagem de aço para o setor automotivo, apesar de também se dedicar à linha branca (eletroeletrônicos) e ao ramo de motocicletas. O aço é um material muito utilizado pela indústria automotiva e metal mecânica. As empresas do segmento de autopeças recebem-no em forma de bobinas e, por meio de corte e conformação de metais, modelam as peças que serão vendidas para clientes, como montadoras da região que as utilizaram para montagem dos carros (Fig. 14).

Figura 14 - Peças fabricadas pela empresa Itaesbra

Fonte:Itaesbra. Disponível em: <http://www.itaesbra.com.br/>. Acesso em: junho, 2014.

A empresa conta ainda com equipamentos modernos para estar em condições de competitividade. Alega estar cada vez sendo mais demandada para desenvolvimento de subconjuntos e conjuntos soldados por parte das montadoras, por exemplo. Isso a coloca em permanente desafio de se superar e qualificar seus funcionários para que sejam capazes de acompanhar e participar desses investimentos.

A Itaesbra apresenta-se como uma empresa modernizada, com um sistema de gestão integrado, buscando relacionar qualidade, desempenho ambiental segurança e saúde, e responsabilidade social.

Os dados socioeconômicos dos trabalhadores fornecidos pela empresa, conforme Tabela 2, dão conta de que atualmente existem 465 funcionários na planta em Diadema e 98 na de São Bernardo do Campo. Em termos de escolaridade, 91% (423) têm Ensino Médio completo, apenas 23 com curso Técnico e 18 com Ensino Superior. Moram em municípios próximos à empresa, em média 30% em cada um destes: São Paulo, Diadema e São Bernardo do Campo. A média de idade é de 27 anos. Trabalham apenas 28 mulheres em Diadema e 2 em São Bernardo do Campo. A maioria dos trabalhadores ocupa funções diretamente ligadas à produção e, atualmente, estão distribuídos assim: 39 em cargos administrativos, 5 deles em área comercial; 264 na mão de obra direta; e 160 na mão de obra indireta.

Tabela 2: Trabalhadores na Empresa Itaesbra em Diadema (N = 465)

Variáveis N %

Gênero Mulheres 28 6%

Homens 437 94%

Faixa etária Média de 27 anos

Escolaridade

Ensino Médio Completo 423 91% Formação técnica 23 5,4% Superior Completo 18 3,6%

Municípios em que residem

São Paulo 154 ≈ %

São Bernardo do Campo 154 ≈ %

Diadema 157 ≈ %

Funções

Mão de obra direta 266 57,2% Mão de obra indireta 160 34,4% Cargos administrativos 39 8,4%

A empresa oferece os mesmos benefícios aos trabalhadores das diferentes plantas: cesta básica ou cartão alimentação no valor de R$ 75; convênio médico cujo valor por vida é de R$ 6,50; transporte fretado, com desconto de 6%, conforme previsto em lei; e refeitório, que é terceirizado;

Conta com dois representantes sindicais pertencentes à regional de Diadema no organograma político do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Na estrutura organizacional do Sindicato, os dirigentes eleitos nas fábricas se vinculam a regionais específicas nas cidades em que atuam politicamente. Neste sentido, são consideradas

atualmente as regionais de São Bernardo do Campo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, e Diadema. A regional de Diadema tem representação sindical (dirigentes eleitos da base do SMABC) em 46 empresas. Em cada empresa pode haver mais de um representante e, ao todo, atualmente somam 93 diretores sindicais, ou Comitês Sindicais de Empresa (CSEs), como são designados15. O capítulo IV elucidará a estrutura política e organizacional do SMABC, com descrição de dados que envolvem os trabalhadores desta base.

O acordo firmado entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Itaesbra que assegura aos trabalhadores 1 dia por ano de formação (Programa Trabalho e cidadania como visto no Capítulo I, inaugura os acordos feitos entre as autopeças, e vale o destaque de que, entre as empresas que já negociaram, apenas recentemente estão inseridas todas as montadoras, que são as com maior tradição na organização dos trabalhadores. Além disso, ao considerar a relação entre o número de trabalhadores na fábrica e o dos que já passaram pelo curso Trabalho e Cidadania no sindicato, esta é a empresa que mais enviou trabalhadores ao sindicato para participação em atividade.