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A política de recursos humanos é um ponto que se apresenta como uma fragilidade relevante para a biblioteca, sob dois aspectos: a existência de um bibliotecário e da necessidade de capacitação para os funcionários da biblioteca. Em relação à quantidade de auxiliares, percebe-se que a unidade possuiu funcionários em número considerável, mas que também tem déficit de capacitação, como demonstra o DSC:

Os problemas na questão do desenvolvimento de recursos humanos da biblioteca se referem à falta de pessoal e falta de capacitação. A biblioteca precisa de muitas pessoas, o bibliotecário teria que ter uma posição mais estratégica na biblioteca, no entanto, ele parte também para o atendimento. Sabemos que todo mundo tem as suas necessidades fisiológicas, às vezes, uma pessoa falta por motivo de doença, e temos que nos desdobrar, e aí ficam essas pendências, eu acho que tem setores aqui que tem muita gente trabalhando, talvez a biblioteca também comportasse mais gente. Não, a

biblioteca necessita de mais pessoas. Já a capacitação, infelizmente deixa um pouco a desejar, os auxiliares da biblioteca tem um bom tempo que não realizam capacitações, até foi solicitado no planejamento do ano passado uma capacitação para restauração que deveria ocorrer nesse ano para, pelo menos, um servidor, mas devido ao corte de orçamento, não foi possível fazer. (Há problemas no desenvolvimento de recursos humanos – Administração)

A preocupação com os recursos humanos da biblioteca está presente nos indicadores de desempenho da norma ISO 11620; das Diretrizes IFLA sobre serviços da

biblioteca pública; das Diretrizes IFLA/UNESCO para a biblioteca escolar; no Instrumento de Avaliação Institucional do Sinaes; nos elementos de diagnóstico organizacional propostos

por Almeida (2005b); e no Modelo de Avaliação de Biblioteca Universitária propostos no Seminário Avaliação da Biblioteca Universitária Brasileira (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2008; IFLA, 2013; IFLA, 2005; BRASIL. Inep, 2011; ALMEIDA, 2005; LUBISCO, 2011).

No Modelo de Avaliação de Biblioteca Universitária é apontado como padrão mínimo de qualidade a proporção de um bibliotecário para cada 750 a 1.000 alunos e como proporção ideal a quantidade de um bibliotecário para cada 400 a 500 alunos. Para atingir o padrão mínimo a biblioteca necessita de, pelo menos, mais um bibliotecário6.

Entre os aspectos que Barbosa e Franklin (2011) elencam para o cumprimento da missão das bibliotecas está o elemento pessoas, que corresponde ao corpo profissional que executa as tarefas de acordo com as funções delegadas para alcançar o objetivo de difusão da informação.

Se a quantidade de pessoas não se apesenta em número suficiente, depreende- se que os processos que envolvem a gestão sobre o planejamento, organização, execução e controle sejam comprometidos. Ou seja, mesmo que a biblioteca busque a qualidade e eficiência em seus processos, deparar-se-á com a falta de recursos humanos, tanto em quantidade quanto em qualidade, nos quesitos de formação técnica e de capacitação.

Mas a discussão sobre a falta de funcionários vai além dos aspectos que envolvem a estrutura organizacional da instituição, relacionam-se à crise institucional7 sofrida pelas instituições públicas de educação superior. Verificamos no seguinte trecho do DSC a influência do Estado no que tange a questão dos recursos humanos:

[...] o que ficou faltando foi em relação ao que foi pactuado entre o reitor com o Ministério [da Educação], bem como com várias escolas, que foi em relação ao número de professor e de técnicos administrativos. (A transformação em IF impactou na biblioteca – Administração)

6 Acrescenta-se que nas entrevistas foi citado que a biblioteca estava à espera de mais um

bibliotecário. O concurso ainda não havia sido homologado.

A criação de novas vagas, tanto para bibliotecários quanto para auxiliares, depende exclusivamente do Estado e não se pode deixar de refletir sobre a histórica influência neoliberal, que, de acordo com Santos (2008), contribuiu para a perda de prioridade das instituições públicas de ensino superior nas políticas nacionais, implicando para essas instituições em baixo investimento. Ainda que a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica se apresente como um contraditório à cultura neoliberal, as influências desta ainda se apresentam sutilmente em relação ao capital de investimento.

Os recursos financeiros podem ser refletidos da mesma forma que os recursos humanos em relação ao investimento na biblioteca, como apontam os trechos dos DSCs abaixo:

Não existe um recurso específico para a biblioteca, existe um capital de investimento anual, que é destinado de acordo com as demandas levantadas. Trabalhamos com planejamentos anuais, costuma-se fazer um planejamento anual de acervo e de materiais de expediente, mas, na maioria das vezes, são realizados cortes no orçamento. (IC: A biblioteca não possui recursos específicos, porém um planejamento anual para aquisição de materiais – Administração)

[...] Eu acho que não foi tudo ruim não, teve muita coisa positiva, foi um momento ímpar da rede, onde o investimento foi muito alto para quem aderiu ao programa. Essa parte financeira o Ministério cumpriu, ainda éramos CEFET, estava naquele processo de transição e o espaço físico da biblioteca foi ampliado, tendo sua área triplicada. Esse campus teve resultados de estrutura, de investimentos [...] (IC: A transformação em IF impactou na biblioteca – Administração)

Quando se verifica que a biblioteca busca por um padrão mínimo em relação à quantidade ideal de funcionários e tem que realizar corte em seu orçamento, pressupõe-se que a prioridade do Estado não é investir em uma quantidade ideal, seja em recursos humanos ou financeiros, mas sim em manter o mínimo para funcionamento dos IFs e das universidades federais.