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Sugestões de melhoria e medidas a adotar em prol do equilíbrio trabalho/vida pessoal

Parte II – Metodologia

5. O ENVOLVIMENTO COM A ORGANIZAÇÃO – Hospital de Braga

5.3. Sugestões de melhoria e medidas a adotar em prol do equilíbrio trabalho/vida pessoal

Foi solicitado aos colaboradores entrevistados a apresentação de sugestões no que toca a medidas a adotar pelo Hospital de Braga que fossem de encontro às necessidades pessoais/familiares e laborais dos profissionais. Os inquiridos revelam uma intervenção particularmente ativa neste campo.

Grande parte dos profissionais sugeriu a criação de uma creche ou ATL como medida facilitadora do equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, considerando-a também benéfica para a organização:

“Creche, até acho que para o hospital era muito proveitoso. [Tal] facilitaria, em muito, menos absentismo por parte dos pais, aquela coisa de nos ligarem do infantário a dizer que o nosso filho tem febre. Imaginemos que eu entro ao turno às 8h, e nos ligam por volta das 11h, que eu só vou sair às 14h30, ou às 15h, que o miúdo tem febre e que alguém tem de o ir buscar. A questão [alternativa da creche no HB] de estarmos no hospital, irmos lá ver a criança, vermos que ela está bem, darmos autorização que façam ben-u-ron, e diz-se ‘olhe daqui por uma horita passo por aqui outra vez’. [Assim como] A facilidade

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de amamentarmos as crianças até mais tarde, sem sairmos do serviço e a cumprir horário normal. E depois adequava-se aos nossos horários. Enquanto nós, temos que arranjar alguém que no máximo dos máximos às 19h esteja disponível para ir buscar a Maria. Facilitava muito, eu acho que mesmo em termos da instituição, do absentismo que há, e dos prolongamentos dos horários de amamentação que às vezes há porque as pessoas necessitam daquele horário, [isso] baixaria imenso. E nós [HB] por acaso temos condições físicas para isso. Claro que exigia o investimento de alguém particular, mas eu também já disse: eu não conheço ninguém na área da educação nesta cidade se não eu dizia ‘aquilo era uma mina de ouro!’ [Risos]. Clientes não faltavam, e é muito difícil arranjar infantário agora. Para não falar no retorno financeiro, porque eu não estou à espera que abram uma creche para [eu] não pagar… As pessoas pagavam o mesmo que pagavam fora, mas pagavam mais ‘motivadas’! [risos].” (Enfermeira, em união de facto e com um filho, em regime de horário por turnos)

“Isso é uma pergunta difícil [risos]. Nós temos muitos colaboradores que têm filhos, e vemos e sabemos que os colaboradores com filhos, com aqueles que mais dificuldades têm, se calhar, o hospital poderia ter uma visão para essas pessoas e ir de encontro do que elas necessitam. Fosse com uma creche, com um ATL… Por exemplo, nas férias agora existe uma espécie de ATL. Fora isso, nunca pensei muito nesta questão, ou talvez por não sentir necessidade.” (Assistente técnica, solteira e sem filhos)

“Bom...eu já não digo ajustar os horários às necessidades, porque talvez seja pedir de mais, mas talvez criar um ATL, um poderíamos deixar os filhos até sair.” (Enfermeira, casada, com dois filhos)

Foram propostas outras medidas como horários flexíveis, abordagem individualizada das necessidades do colaborador, e diálogo entre direções e/ou chefias, tal como revelam os próximos testemunhos.

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“Permitir um horário flexível; o plano de férias como já falado; nos dias de aniversário dos filhos podermos sair mais cedo.” (Assistente técnica, casada e com três filhos)

“Deviam dar mais incentivo à natalidade, a termos um horário mais flexível de acordo com a nossa vida familiar, analisar caso a caso, que não temos esse apoio que era necessário por parte da empresa.” (Assistente técnica, casada e com dois filhos)

“Se eles tivessem sensibilizados para as necessidades dos colaboradores, não exigiam tanta burocracia, para isso e para exercer horário fixo, não precisavam de me pedir requerimentos. Está a haver muita desumanização. Eu, para ter as coisas, chego aqui aos recursos humanos e escrevo papéis, as pessoas nem sequer falam comigo, nem sequer sabem quem eu sou, e são elas que vão ditar a minha vida. Proponho maior diálogo entre as chefias e direções por forma a ajudarem a resolver as questões dos colaboradores.” (Técnica de Diagnóstico e Terapêutica, divorciada, com dois filhos e em regime de horário fixo atualmente)

“Se calhar a melhor medida era escutar as necessidades dos colaboradores. Porque eu não sei onde é que a informação se perde, porque eu acho que a informação circula, eu acho que as chefias conhecem as necessidades dos seus colaboradores. Agora, eu depois não sei avaliar acima desse nível, mas que a informação tem de se perder em algum sítio, sim. Ou então é porque a instituição não lhe interessa, porque eu acredito que qualquer chefe já conseguiu identificar quais são os elementos que têm mais necessidades.” (Enfermeiro, casado e com dois filhos)

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5.4. Perceções sobre o Hospital de Braga como uma P.P.P.10

A conjuntura financeira atual, associada a uma mudança de programa de gestão, pode produzir diferentes opiniões. Esta temática não foi abordada diretamente nas entrevistas, mas acabou por revelar-se um assunto importante para os entrevistados. O descontentamento com a pressão para uma maior produtividade, com os rácios desequilibrados profissionais-doentes, e outras exigências crescentes foram associadas, pelos entrevistados, ao estabelecimento da parceria público-privada do Hospital de Braga. Tal é tornado evidente mesmo quando, em termos gerais, os indivíduos avaliam favoravelmente a parceria:

“Já aqui trabalho há muitos anos e estou satisfeita. Mesmo com esta mudança, acho que ficámos a ganhar. Às vezes temos um ritmo um bocadinho mais à frente do que aquele que deveríamos ter, claramente, mas acho que houve muita coisa em que ficámos a ganhar!” (Enfermeira, casada e com dois filhos)

Outros pareceres são claramente mais negativos:

“Eu não gosto deste hospital, estou satisfeita por trabalhar, uma pessoa tem de trabalhar, e como eu digo, eu gosto do que faço, como eu comecei no antigo hospital de S. Marcos, a gente acaba por ter uma afinidade. Acho este hospital muito desumano!” (Técnica de Diagnóstico e Terapêutica, divorciada, com dois filhos e em regime de horário fixo atualmente)

“Acho que ainda há muito a fazer em termos de cuidar de quem cuida, há muito a fazer, porque acho que esticamos demais e durante um período demasiado longo e agora começa a chegar… A partir daqui [do presente nível de exigências] corremos o risco de quebrar, e nota-se claramente nas equipas, e acho que está na altura de olhar para isto, com olhos de olhar, as pessoas, as pessoas deram, deram, deram, estica, estica, estica, mas ficou muita coisa para trás, a remuneração, as evolução nas carreiras, os rácios doente- enfermeiro e [doente-] auxiliares, temas que envolvem muitos milhões de

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euros, mas que não sei se, de outra forma, isto se pode aguentar. E dou um exemplo: porquê que uma ponte dura 100 anos, porque de dia passam milhares de carros, mas de noite, o ritmo abranda, se assim não fosse as pontes ao fim de 10 anos caiam todas! [risos]. O que eu acho é que, de repente, nunca chega o que se faz, oh pá, menos um bocadinho, temos que ter tempo para fazer a manutenção do que nos pedem.” (Enfermeiro-chefe, casado e com dois filhos)

“Não estou satisfeito, porque se calhar as prioridades que são definidas para este hospital não vão de encontro àquilo que eu considero que deviam de ser as prioridades para uma instituição de saúde. Eu percebo que a produção e o número, que seja importante porque isto é uma empresa, mas se calhar antes de tudo devia de se saber que isto é um hospital e nem sempre devia estar o número e a produção à frente de certas regras e de certos valores.” (Enfermeiro, casado e com dois filhos, em regime de horário por turnos) “Eu aqui não tenho nome nem categoria, eu aqui sou o número mecanográfico XXXX” (Enfermeira, casada, com dois filhos e em regime de horário fixo atualmente)

6. NÚCLEOS FAMILIARES NA ORGANIZAÇÃO E IMPACTO NA PERCEÇÃO DA RELAÇÃO