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Sujeitos da pesquisa: professores participantes do Projeto Diálogos sobre o

3. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

1.3. Sujeitos da pesquisa: professores participantes do Projeto Diálogos sobre o

Faremos uma breve descrição dos professores participantes do Projeto Diálogos

sobre o Ensino de Ciências, com o objetivo de contextualizar o leitor quanto a algumas

características que distinguem os indivíduos envolvidos na pesquisa. As diferenças pessoais e de personalidade e formação se expressam na forma e na quantidade de informações que conseguimos coletar de cada indivíduo. Assim, enquanto PB pôde ser entrevistada sobre sua formação e história de vida, PQ não aceitou participar de entrevistas e PC nos forneceu algumas informações pessoais, ao longo das conversas

cotidianas. De PF, que foi afastado por motivos de saúde, logo no início do projeto, temos poucas informações.

PB – Professora de Biologia, licenciada em instituição superior particular de ensino. Interessou-se pela Biologia porque sempre gostou da “natureza”, já que morava na zona rural quando criança. Ali, relatou ter grandes dificuldades para realizar os estudos (“a escola era longe, o ensino era fraquinho”); na época do ginásio, os pais se mudaram para a cidade e ela terminou os estudos na rede pública. Conta que o ensino era muito fraco nessa época e, por ter que trabalhar durante o dia, realizou o ensino secundário no período noturno. Tinha o sonho de fazer Odontologia, mas, devido às condições financeiras da família, e também por julgar impossível passar em uma universidade pública, resolveu cursar Biologia, que era a matéria com a qual tinha mais facilidade na escola. Anos depois, realizou um curso de habilitação em Matemática, em uma faculdade que, posteriormente, foi extinta.

Formada, deu aula em muitas escolas da região e também da cidade durante 15 anos, sendo efetivada em 2010 na escola que foi a sede do projeto em questão. Em determinado momento fez uma complementação em matemática, por se tratar de disciplina que “sempre falta professor”, assim, ministrou por alguns anos, aulas de matemática também.

Já fez pós-graduação em Gestão Escolar e realizou concomitante ao Projeto

Diálogos sobre o Ensino de Ciências Naturais, uma especialização semipresencial em

ensino de Biologia promovido pelo Programa Rede São Paulo de Formação Docente (REDEFOR)

PB relata possuir muitas dificuldades com os conteúdos de sua disciplina, afirmou não gostar de Zoologia ou de ensinar Zoologia, tentava inclusive não assumir aulas junto a turmas em que esses conteúdos deveriam ser desenvolvidos; por outro lado, afirmou gostar de Ecologia, sendo este o tema que mais apreciava trabalhar com os alunos. Relatou sentir-se bastante insegurança para o trabalho com alguns tópicos do conteúdo e avaliou que essa insegurança vinha sendo um fator determinante em sua prática docente, no sentido negativo. PB atribui essas dificuldades a falhas na sua formação inicial.

No entanto, demonstra grande interesse para com a aprendizagem e o desenvolvimento profissional, embora, em muitos momentos, tenha manifestado intensamente desestimulada com a profissão docente, devido a problemas freqüentes

com a indisciplina dos alunos, os horários “picados” das aulas que lhe são atribuídas, falta de tempo hábil para aperfeiçoamento e, principalmente, o descaso dos dirigentes e do governo com relação a essa situação.

Entre os professores que participaram do projeto, PB era a professora que mais se destacava em se mostrar à vontade para colocar suas dúvidas e perguntar. Essa atitude foi incentivada pelos colaboradores externos por entenderem que contribuiria para desenvolvimento profissional dos professores participantes.

PB mostrou, em geral, uma significativa disposição para experimentar e investigar, característica esta que se manifestou desde o início do projeto, não tendo ocorrido por sua influência.

PQ – Professora de Química (licenciada), formada por instituição particular de ensino. É efetiva da rede pública de ensino há cerca de dez anos, onde também realizou sua formação básica (ensino fundamental e médio). Não reside na cidade onde trabalha, tendo que viajar toda semana para a mesma. Aos finais de semana volta para a cidade de origem, por isso, espera conseguir remoção para lá.

PQ procurou evitar ao máximo, ao longo do projeto, situações em que seus saberes disciplinares e pedagógicos pudessem ser expostos (em situações que revelavam certa precariedade de seus saberes disciplinares, procurava dar a impressão de que dominava o assunto, e falava com “ar professoral”). No entanto, mostrava-se interessada pelas atividades do Projeto, participando ativamente até quando, em determinado momento do Projeto Diálogos sobre o Ensino de Ciências, passa a exercer o cargo de vice-diretora, ficando gradativamente impedida de participar das reuniões do projeto.

PQ pediu para não ser entrevistada, de forma que não temos muitas informações sobre sua história de vida. Ela demonstra ser mais segura com relação a sua disciplina e ao ensino que ministra. Também apresenta grande interesse em aperfeiçoar-se, de forma que durante os dois anos que participou do nosso projeto de formação, fez dois cursos: um promovido pela Unesp, cujo tema era “Educação Ambiental” e uma “Especialização

em ensino de Química”, realizada à distância e promovida pela Secretaria da Educação

do Estado de São Paulo.

Ao final desses dois anos, PQ conseguiu sua remoção e deixou a escola e o

PC – Professora de Ciências, formada por instituição particular de ensino. Tem como primeira formação Fisioterapia, mas cursou Pedagogia, também, pois seu campo de formação estava “saturado e nunca falta aula para o professor”. Não é efetiva da rede pública, de forma que participou do Projeto Diálogos sobre o Ensino de Ciências

Naturais, durante um ano (o segundo ano do projeto na escola). No ano letivo seguinte,

PC também não pegou aula na escola do Projeto.

Percebemos forte ligação da PC com a formação em fisioterapia, sendo que seu interesse em cursos de aperfeiçoamento tinha sempre relação com essa área. Demonstrava-se interessada e compromissada com as ações do Projeto Diálogos sobre

o Ensino de Ciências Naturais, mas não expressava claramente suas dúvidas e

dificuldades.

Foi frequente que PC criasse contendas em relação às explicações científicas apresentadas pelos colaboradores externos, mesmo quando não havia razão imediata para isso, parecendo, em vários momentos, estar primeiramente preocupada em demonstrar conhecimentos e desafiar “a autoridade” dos colaboradores externos, e não tanto em verificar se o projeto poderia trazer alguma contribuição para os participantes. Além disso, deu indícios, em vários momentos, de que não enxergava valor em discussões mais teóricas, pertinentes a campos como o da didática das ciências

PF – Professor de Física efetivo da escola, formado em instituição da rede pública de ensino superior. Pareceu-nos, pela pouca convivência que tivemos que apresentava boa formação em Física, bem como uma boa cultura geral. Em muitos momentos, inclusive, parecia interessado em exibir seus conhecimentos para os presentes. Apresentava-se bastante desestimulado com as políticas públicas de educação e, embora interessado com as questões do Projeto Diálogos sobre o Ensino de Ciências

Naturais (pedindo materiais e literatura com relação a alguns temas), foi afastado por

motivo de doença logo nas primeiras reuniões do projeto, permanecendo afastado por, praticamente, todo o período em que ficamos na escola.

Pesquisadores (ou colaboradores externos) – Tratavam-se de quatro pesquisadores, sendo o coordenador do projeto, biólogo, docente da universidade e orientador dos demais. Um doutorando, biólogo, autor do presente trabalho, cujo interesse principal era a investigação da formação de professores por meio de atividades práticas. Um mestrando, biólogo, cujo enfoque era o uso da História da Ciência por

professores de Biologia e, outro mestrando, químico, com interesse no estudo das atividades práticas no ensino de química.

No próximo capítulo, apresentaremos os dados e algumas análises realizadas. Para facilitar a leitura, decidimos por algumas convenções:

No decorrer do presente texto adotamos como convenção o uso da fonte em itálico e entre aspas para representar as transcrições das falas dos professores, assim como siglas (PB, PQ, PC e PF) que correspondem aos códigos de identificação dos sujeitos, para preservação de sua identidade. Também utilizamos, nas transcrições das falas e dos acontecimentos, frases ou informações complementares entre colchetes. Esses acréscimos foram feitos no intuito de esclarecer e contextualizar as informações que julgamos importante para o leitor. Os pesquisadores não foram nomeados nem diferenciados por siglas, sendo usada a primeira pessoa do plural para identificá-los.