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Como já mencionado, a abordagem de pesquisa é qualitativa e a mesma é de caráter exploratório. Dessa forma, as seguintes técnicas de coleta de dados foram empregadas: entrevista semiestruturada e fotos do interior dos estabelecimentos (gôndolas, ponto de gôndolas, ilhas etc.). Foram entrevistados três varejistas de pequeno porte (dois supermercados de vizinhança e uma mercearia).

A coleta de dados nas pesquisas qualitativas e quantitativas pode fazer uso dos mesmos instrumentos, todavia, existem aquelas mais adequadas e, consequentemente, mais usuais para cada tipo de pesquisa. Nas pesquisas qualitativas, as técnicas de coleta de dados comumente utilizadas são entrevista, observação e documentos (Triviños, 1987; Yin, 2010).

Segundo Triviños (1987), devido ao pesquisador qualitativo considerar a participação do sujeito como um dos elementos da ação científica, o mesmo se apoia em técnicas que fortalecem a sua implicação e da pessoa informante no processo científico. De acordo com o autor, as técnicas que favorecem a pesquisa nesse contexto são as entrevistas semiestruturadas, abertas ou livres, os questionários abertos e a observação livre. Triviños ainda ressalta que todas essas técnicas descritas exigem do pesquisador atenção no informante, às anotações de campo e a si mesmo, o que as diferencia de técnicas empregadas em pesquisas quantitativas.

A respeito dos documentos (as fotos também podem ser consideradas documentos na pesquisa) como técnica de coleta de dados, Yin (2010) aborda que eles são de extrema importância para a pesquisa, pois proporcionam que os dados obtidos por meio deles possam corroborar e aumentar as evidências de outras fontes; no caso desta pesquisa, as entrevistas semiestruturadas. Marconi e Lakatos (1996) diferenciam os documentos em dois tipos: diretos

e indiretos. Os documentos diretos (utilizados nesta pesquisa) são aqueles que resultam da própria pesquisa no campo (a exemplo das fotos tiradas no interior dos estabelecimentos).

Yin (2010) ainda destaca dois pontos fundamentais a serem considerados sobre os documentos: são redigidos para alguma especificidade (principalmente no caso de documentos indiretos); e atualmente apresentam-se excessivamente dentre as possíveis fontes de coleta de dados. A respeito da atual abundância de documentos, principalmente em decorrência da internet, o autor salienta que o pesquisador deve ter a capacidade de selecionar documentos centrados nos objetivos da pesquisa, para reduzir o desperdício de tempo na coleta de dados. As fotos tiradas pelo próprio pesquisador são encaradas nesta pesquisa como um meio de contornar estas prováveis dificuldades em manusear os documentos.

Ao realizar uma pesquisa qualitativa é fundamental prestar atenção à forma como a coleta dos dados será concebida, ou seja, qual formato de entrevista é o mais adequado (Alves, Da Silva, Sigolo & Caldana, 1987). Marconi e Lakatos (1996) descrevem que a entrevista:

É um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social.

Esses mesmos autores a diferenciam em três tipos: padronizada ou estruturada; despadronizada ou não estruturada; painel. As entrevistas não estruturadas ainda contam com três modalidades: focalizada, clínica e não dirigida. Triviños (1987), por sua vez, faz outra diferenciação: estruturada (fechada), semiestruturada, livre (aberta). Vergara (2012) adiciona ainda mais uma diferenciação, a qual considera o número de pessoas presentes na entrevista (individual ou coletiva). Considerando as classificações dos diferentes tipos de entrevistas pelos autores acima citados, o tipo de entrevista utilizado nesta dissertação foi semiestruturado, individual e focalizado.

Utilizando a entrevista semiestruturada como uma das técnicas de coleta de dados, é adquirido o benefício da liberdade tanto para o investigador quanto para o entrevistado (Triviños, 1987), pois ela favorece a construção da informação por parte do entrevistado com o advento de insights em meio às perguntas presentes no roteiro (Yin, 2010). Isso pode ser obtido com a inclusão, exclusão e alteração das perguntas ao longo da entrevista pelo investigador, dando a ela uma característica mais aberta do que as do tipo estruturadas, embora ambas se apresentem de forma mais focalizada (Vergara, 2012).

As entrevistas semiestruturadas devem possuir um roteiro com tópicos gerais selecionados e elaborados de forma a serem abordados com os entrevistados (Cannel & Kahn,

1974). A sequência dos tópicos do roteiro da entrevista semiestruturada deve ser flexível a ponto de permitir que as respostas do entrevistado fluam de maneira dinâmica por todos os temas presentes no roteiro. Ou seja, o entrevistado pode responder a uma questão ainda não levantada pelo entrevistador, assim como pode retomar alguma em um momento posterior (Alves et al., 1987). O roteiro de entrevista semiestruturado foi elaborado de acordo com a literatura levantada e pode ser conferido no Apêndice.

Para o sucesso da entrevista, Triviños (1987) defende que o entrevistador deve ser o mais explícito possível em relação aos seus objetivos, de forma a possibilitar ao investigado um entendimento da situação e ideia de pesquisa, deixando-o confortável e orientado na aplicação da entrevista. Triviños ainda sustenta que, para uma entrevista consistir de qualidade, a mesma não deve ultrapassar os 30 minutos, podendo o investigador retornar outras vezes ao campo para concluí-la (Yin, 2010). Vergara (2012), por outro lado, apresenta uma faixa de tempo adequada para a realização da entrevista de 90 a 150 minutos, não sendo essa uma regra, mas sim uma sugestão que deve ser considerada de acordo com o tipo da pesquisa. Nesta pesquisa, as entrevistas duraram, em média, de 60 a 90 minutos, estando parcialmente conformes com a orientação de Vergara (2012).

Considerando o que sustenta Vergara (2012) a respeito da dificuldade de agendamento de entrevistas, neste estudo elas tiveram como objetivo abordar todos os aspectos possíveis levantados na teoria pesquisada. A adoção da entrevista em um único momento do tempo não extingue a necessidade de revisão e análise de cada uma delas, revisões as quais devem ser feitas logo após sua execução, pois essa prática de retroalimentação auxilia na formulação de hipóteses, as quais proporcionam ao investigador maiores fontes de informação para elaborar a entrevista seguinte (Yin, 2010).