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4 PROCEDIMENTOS PRÓ-ATIVOS PARA O TRATAMENTO DA

4.4 Técnicas de Conflitos de Tráfego

TAB. 4.2. Descrição genérica dos níveis de notas associados às condições das características da via analisadas.

Nível Condições da característica avaliada Nota

1 Não existe o problema descrito 10

2 Existe uma quantidade pequena do problema descrito 7 3 Existe uma quantidade moderada do problema descrito 3 4 Existe uma grande quantidade do problema descrito 1

Fonte: Nodari (2003)

0%

50%

100%

Sem conflitos Conflitos Acidentes

FIG. 4.1. Representação esquemática da proporção entre conflitos e acidentes.

Fonte: Adaptado de Nodari (2003)

As Técnicas de Conflitos de Tráfego (TCT) são um tipo de pesquisa que vem sendo utilizada em alguns países como uma nova forma de abordagem da análise dos problemas da segurança viária. Podem-se definir como estudos baseados na observação direta e análise dos conflitos no trânsito com o objetivo de realizar um diagnóstico e uma avaliação mais precisa e detalhada dos problemas de segurança viária, bem como dos efeitos de alternativas de intervenção (GALENO, 2002).

Já desde a década de 80 se considerava a observação sistemática dos conflitos como uma importante ferramenta para detectar e entender os problemas de segurança viária e para estudar o funcionamento e comportamento dos diferentes elementos do sistema de tráfego.

HYDEN (1995) apud GALENO (2002) observa que além da facilidade com que é possível realizá-los, os estudos suportados nas TCT fornecem bastante clareza sobre a natureza dos acidentes e sobre a efetividade das possíveis medidas mitigadoras. A autora assinala que a acurácia nos resultados é maior quando empregadas as TCT do que no caso de utilizar só os métodos tradicionais baseados na estimativa e expectativas de acidentes.

De acordo com FRAMARIM (2003), o elemento fundamental associado à análise de acidentes por meio das TCT é o tempo para colisão ou Time to Colission (TTC), que consiste no espaço de tempo existente entre o ponto no qual se situam os dois usuários da via, no momento de executar a manobra, ao possível ponto de impacto, considerando que os mesmos mantenham velocidade e direção inalteráveis. O TTC é dependente da velocidade de circulação dos usuários em conflito e da distância entre estes e o possível ponto de impacto.

As TCT desenvolvidas tratam, principalmente, os conflitos entre veículos. Não obstante, recentemente se conseguiu adequar um dos métodos, no Brasil, para a análise dos conflitos veículo pedestre. Entre suas vantagens principais destacam-se as seguintes, segundo expostas por GALENO (2002):

- possuem mais informações a respeito das condições de tráfego que os boletins de acidentes, servindo de complemento a eles ou mesmo substituindo-os, eventualmente, em sua ausência;

- facilitam a identificação de problemas operacionais e de segurança, bem como a seleção de medidas corretivas;

- permitem o conhecimento do grau de insegurança de um local em pouco tempo, especialmente em países nos quais as estatísticas sobre acidentes não são confiáveis, podendo ser empregadas mesmo sem dados de acidentes;

- possibilitam que os estudos de segurança possam ser executados logo em função das necessidades do diagnóstico, e

- permitem que a eficácia das medidas corretivas possa ser avaliada imediatamente depois de cada intervenção e ser usada para aprimorar as medidas introduzidas.

Entre as desvantagens mais importantes, a autora menciona as que seguem:

- nem todos os acidentes são precedidos por uma manobra evasiva, sendo que uma técnica baseada na observação destas manobras vai referir somente àqueles incidentes onde tal manobra ocorra;

- a subjetividade da tomada de informação pode comprometer a qualidade do diagnóstico, pelo que se deve enfatizar no treinamento dos pesquisadores, e

- a correlação entre conflitos e acidentes ainda não foi perfeitamente definida para todos os tipos de interseções e trechos viários.

As possibilidades e as vantagens da aplicação das TCT são especialmente interessantes para os países em desenvolvimento, onde não existe um procedimento adequado para a coleta de informação ou onde o sistema de dados de acidentes é insuficiente. Entretanto, resulta contraditório que sua utilização nestes países seja só incipiente e isolada, empregando-se com mais freqüência precisamente em países desenvolvidos. No Brasil, além do caso mencionado para o estudo de conflitos entre veículos e pedestres num corredor da cidade de Belém, as

TCT também têm sido aplicadas no estudo de conflitos veiculares em interseções semaforizadas de São Paulo e Rio de Janeiro por Pietrantonio, nos anos de 1991 e 1998, e por Guedes, em 1995 (GALENO, 2002; FRAMARIM, 2003).

Têm sido desenvolvidos vários tipos de métodos para a aplicação das TCT, cada um com características e embasamentos diferentes. Não obstante, são cinco os principais métodos disseminados pelo mundo. São elas as técnicas inglesa, francesa, americana, sueca e canadense. Enquanto a técnica inglesa é recomendável para interseções mais simples, tanto urbanas quanto rurais, a americana pode ser usada em interseções urbanas com problemas operacionais mais complexos. Os métodos francês e sueco são aplicáveis, sobretudo em contextos urbanos, em estudos do tipo antes e depois . Já o método canadense pode ser aplicado em interseções de qualquer tipo. No ANEXO V ampliam-se algumas características desses métodos.

Sendo que uma das questões importantes é o fato das técnicas terem sido desenvolvidas e aplicadas em países industrializados com padrões de tráfego diferentes aos brasileiros, FRAMARIM (2003) apresenta 6 critérios de avaliação para comparar os métodos com respeito à sua aplicabilidade nas condições brasileiras. A TAB. 4.3 mostra a avaliação do desempenho de cada uma das TCT mencionadas.

TAB. 4.3. Avaliação do desempenho das TCT.

Tipo de TCT Critério

Inglaterra França EUA Suécia Canadá

Elementos de definição regular ruim ruim bom bom

Índices de avaliação ruim ruim bom ruim bom

Material didático regular ruim regular bom bom

Preenchimento da planilha ruim regular bom bom bom

Informações da planilha de campo ruim regular ruim bom bom Aplicações anteriores no Brasil não sim sim sim não

Fonte: Adaptada de Framarim (2003)

Na análise realizada, os elementos de definição considerados para avaliar a severidade do conflito são o TTC, a distância mínima entre os usuários conflitantes e o tipo de usuário envolvido. No caso dos índices de avaliação, são levados em conta os índices dos dados dos conflitos apresentados nos manuais de cada técnica. Em relação ao item material didático é analisada a disponibilidade do material em inglês e de fitas de vídeo cassete para o treinamento dos observadores.

No preenchimento da planilha, a avaliação é feita com base nas facilidades e no tempo gasto para o registro dos dados de campo. Já em informações da planilha de campo se analisam o tipo e a relevância para o estudo do conflito de tráfego das informações reportadas.

O último campo da TAB. 4.3 especifica se a técnica foi utilizada antes no Brasil.

Na avaliação realizada por FRAMARIM (2003), dois métodos se destacam pelo seu desempenho com relação à sua adequabilidade às condições brasileiras: o canadense e o sueco. No entanto, se salienta como uma limitação da técnica canadense o fato de não se ter aplicado antes no Brasil, enquanto reconhece no método europeu a importante restrição de não considerar os prováveis conflitos resultantes da interação entre os usuários da via e o ambiente viário.