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Técnicas de Análise e Interpretação de Dados

CAPÍTULO IV – Metodologia e Contexto da Investigação 1 Investigação Qualitativa

1.6. Técnicas de Análise e Interpretação de Dados

Como técnicas de análise e interpretação de dados iremos abordar a análise de conteúdo. De facto “análise de conteúdo é a expressão genérica

utilizada para designar um conjunto de técnicas possíveis para tratamento de informação previamente recolhida” (Lima e Pacheco, 2006:107).

Os dados que pretendemos submeter à análise de conteúdo, tal como sugere Van der Maren, referido por Lima e Pacheco (2006), podem ser dados

invocados pelo investigador ou dados suscitados pelo investigador. Os primeiros

englobam os dados de observação, notas de campo, documentos de arquivos, legislação, artigos, entre outros. Os dados suscitados pelo investigador abrangem as entrevistas semi-directivas ou não directivas, diários, relatos etc (p. 107).

A análise de conteúdo tem por objectivo tratar a informação simplificando-a, ou seja, trabalhar a informação de forma a explicitá-la mais fácil e resumidamente. “Trata-se, pois, de um trabalho de economia, de redução da informação, segundo determinadas regras, ao serviço da sua compreensão para lá do que a apreensão de superfície das comunicações permitiria alcançar” (Lima e Pacheco, 2006:107).

Cada investigador que utiliza a análise de conteúdo, ainda segundo Lima e Pacheco (2006), fá-lo de uma forma única pois cada um questiona-se de maneira diferente. Sempre que utiliza esta técnica de tratamento de dados, o investigador, usa-a de uma maneira distinta uma vez que o nível de conhecimento sobre a questão varia de estudo para estudo, bem como os dados recolhidos. Porém o mais importante é que o método utilizado seja sempre submetido a técnicas de validação. A sua objectividade e sistematização, também devem ser testadas e, sempre que se justifique, melhoradas (p. 109).

Em Lima e Pacheco (2006:123), Gighlione e Matalon apresentam tipos de validade que podem estar relacionados com a análise de conteúdo: a validade de conteúdo, a validade preditiva, a validade comparativa e a validade interpretativa. Depois de se ter averiguado quais os dados pertinentes para o objectivo da investigação, estes devem ser submetidos à categorização, isto é, devem ser classificados e reduzidos em categorias (Lima e Pacheco, 2006: 109). A categorização pode ser criada com base em dois procedimentos: os procedimentos fechados e os procedimentos abertos (p. 109).

Os procedimentos fechados são aqueles em que o investigador possui previamente uma lista de categorias apropriadas ao objecto em estudo. Esta é

fornecida pela teoria adoptada e que é apresentada no quadro conceptual. Neste caso, as categorias apresentadas tem como objectivo clarificar os dados (Lima e Pacheco, 2006: 109).

Nos procedimentos abertos ou exploratórios as categorias devem emergir do próprio material. Neste caso não existem teorias gerais que descrevam ou expliquem os fenómenos em causa. A categorização é instável e provisória “até todo o material pertinente ter sido absorvido” (Lima e Pacheco, 2006: 110).

Para Lima e Pacheco (2006), com vista à verificação da validade em relação à categorização, o investigador deve definir exactamente cada categoria, explicitando o que esta representa (p. 110).

Outra forma de caracterizar as categorias é proposta por L. Bardin. Para este a análise de conteúdo pode apresentar-se sob as seguintes formas: análise categorial, análise de avaliação, análise de enunciação, análise de expressão, análise das relações e análise do discurso.

A análise categorial remete para a utilização de categorias existentes ou para a “criação de categorias específicas nos moldes apontados por Ghiglione e Matalon” (Lima e Pacheco, 2006: 111). É a técnica de análise de conteúdo mais utilizada e cronologicamente mais antiga (Bardin, 1977:153).

Na análise de avaliação trata-se de fazer a análise do conteúdo temática através de categorias com carácter avaliativo. Tem por objectivo “vir a estabelecer a direcção e a intensidade das atitudes do(s) sujeito(s) em relação a determinados objectos” (Lima e Pacheco, 2006: 111).

No que se refere à análise de enunciação, esta analisa o discurso produzido pelo sujeito sob todas as suas vertentes, de sentido, sintácticas e de encadeamento, com vista à produção de ilações sobre o seu autor.

A análise da expressão propende caracterizar estilos discursivos e tirar ilações sobre a autoria de um texto, a sua autenticidade e valores ideológicos (Lima e Pacheco, 2006: 111).

A análise das relações pretende compreender a existência de co- ocorrências presentes num discurso ou conjunto de discursos.

Por último, a análise do discurso, tem por objectivo ser uma análise semântica e lógica, feita através de uma análise “automática do discurso” (Lima e Pacheco, 2006: 111).

Para proceder à análise de conteúdo temos que considerar alguns métodos, segundo Bardin (1977) estes são: a organização da análise, a codificação, a categorização, a inferência e o tratamento informático.

No que concerne à organização da análise esta encontra-se organizada pela seguinte ordem: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (Bardin, 1977:95).

Na pré-análise, segundo Bardin (1977), procede-se à organização do material. É neste momento que se procede à escolha dos documentos, se formulam as hipóteses e os objectivos e os indicadores que estarão na base da interpretação final (p. 95).

Durante a exploração do material procede-se à codificação, desconto ou enumeração tendo por base as regras estabelecidas previamente.

A fase do tratamento dos resultados obtidos e interpretação consiste no tratamento dos dados tornando-os significativos e válidos. Para tal, podem ser utilizadas operações estatísticas simples ou complexas. Os resultados serão, ainda, submetidos a testes de validação e provas estatísticas, procurando-se sempre um maior rigor possível. No final e após a confrontação dos resultados com o material e as inferências obtidas poderá proceder-se a uma nova análise (Bardin, 1977:101).

Codificar é transformar, segundo determinadas regras, os dados de qualquer documento. Essa transformação pode fazer-se por recorte, agregação ou enumeração, permitindo, desta forma, descortinar as características pertinentes do documento. O recorte corresponde à escolha das unidades, a enumeração à escolha das regras de contagem e a classificação e a agregação correspondem à escolha das categorias.

As unidades podem ser de registo ou de contexto. As unidades de registo correspondem a uma parte do conteúdo que se pretende considerar como unidade de base com vista à categorização e contagem de frequência. As unidades de registo mais utilizadas são: a palavra, o tema, o objecto ou referente, a

personagem, o acontecimento e o documento. As unidades de contexto permitem uma melhor compreensão para codificar as unidades de registo e correspondem a uma parte da mensagem, são exemplos disso “a frase para a palavra e o parágrafo para o tema” (Bardin, 1977:107).

Antes de se proceder à enumeração devemos fazer a distinção entre a unidade de registo, ou seja, aquilo que se conta e a regra de enumeração, isto é, como se conta. Existem diversos tipos de enumeração, podemos enumerar tendo em consideração a presença ou ausência de alguns elementos, podemos atender à frequência da presença dos elementos, à sua frequência ponderada se algum elemento for mais importante, à intensidade se pretendemos analisar valores e atitudes, à direcção, à ordem e à co-ocorrência.

Segundo Bardin (1977) “A categorização é a operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação de elementos constitutivos de um conjunto e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos” (p. 117). Para proceder à classificação dos elementos em categorias é necessário investigar o que cada um tem em comum com o outro permitindo o seu agrupamento. A categorização engloba duas etapas: o inventário e a classificação. No inventário procede-se ao isolamento dos elementos, na classificação repartem-se os elementos procurando organizar a mensagem (p. 118).

Para construirmos uma boa categorização esta deve ser defensável, ou seja, deve obedecer a vários princípios. A categorização deve ser, deste modo mutuamente exclusiva, homogénea, exaustiva, pertinente, produtiva e objectiva (Lima e Pacheco, 2006: 122). A exclusão mutua significa que o conteúdo de cada categoria é único, não havendo sobreposição entre conteúdos de categorias diferentes. A homogeneidade refere-se à coerência de critérios, isto é, as categorias devem estar organizadas segundo o mesmo princípio. A exaustividade significa que a categoria deve ser capaz de albergar todas as unidades de registo e que estas foram codificadas. A pertinência remete para o sentido da categoria relativamente ao material empírico e/ou ao quadro teórico. A produtividade, por seu lado, refere-se à capacidade das categorias fornecerem resultados pertinentes em relação aos índices de inferência, aos dados e às hipótese (Bardin, 1977:120-

121). Por último, a objectividade indica que cada unidade de registo se enquadra numa categoria independentemente de quem elabora a categorização (Lima e Pacheco, 2006: 123).

A inferência reporta-se a uma interpretação controlada dos resultados da análise do conteúdo. Essa interpretação deve ser feita com base na literatura disponível e sobre o tema e problemática em questão. Apoia-se nos elementos clássicos da comunicação ou seja, no emissor, na mensagem, no receptor e no

medium. No que concerne à mensagem existem dois níveis de análise distintos: o

continente (significantes ou código) e o conteúdo (significados ou significação). O código serve de indicador para revelar realidades subjacentes, a significação traduz-se pelo estudo formal do código.

O tratamento informático tem-se revelado de grande importância na investigação. Apesar de não substituir o investigador e de depender deste para a sua análise um ordenador é uma ferramenta importante na análise de conteúdo. De destacar/salientar a sua aplicação nos seguintes casos: se a unidade de análise é a palavra, se a análise é complexa e engloba muitas variáveis, se se pretender fazer uma análise de co-ocorrências, se a investigação implica várias análises sucessivas, se a análise carece de tratamento estatístico. Noutros casos a sua aplicação é inútil, como por exemplo, na análise exploratória, quando a análise é única e especializada ou a unidade de codificação é muito grande.

Existem, contudo, vantagens na utilização de um ordenador, por exemplo: aumento da rapidez, maior rigor na organização da investigação, flexibilidade na utilização dos materiais que podem ser utilizados sempre que necessário, maior facilidade na reprodução e troca de documentos entre investigadores, manipulação de dados complexos, favorece, ainda, a criatividade e a reflexão do investigador, uma vez que o liberta de tarefas entediantes e fastidiosas.

O uso do computador pode surgir para tratar o texto ou para tratar os resultados. No primeiro caso reporta-se à análise de materiais linguísticos enquanto que o segundo se refere à análise de dados numéricos (Bardin, 1977: 143-145).

Após esta breve abordagem à evolução da investigação qualitativa e seus métodos de trabalho. Estamos agora cientes das diferentes perspectivas e

abordagens deste tipo de investigação. Apesar de não termos aprofundado muito este estudo sobre a investigação qualitativa, pois esse não é o nosso propósito, cremos que ficou aqui uma elucidação sobre a mesma.