3.7 M´etodo de Sobolev
4.1.2 Execuc¸˜ao do CV
4.1.2.3 Tarefa: Calcular as Populac¸˜oes dos N´ıveis do hidrogˆenio (job:4)
Ap´os ottempcalcular as temperaturas em cada um dos pontos da grade, torna-se poss´ıvel cal- cular as densidades populacionais de cada um dos n´ıveis atˆomicos. Para isto, o CV deve ser executado com a opc¸˜ao JobType=4.
O CV utiliza uma simplificac¸˜ao do ´atomo de dois n´ıveis com cont´ınuo, onde
n1+ n2+ np = nH, (4.6)
sendo n1e n2 s˜ao as densidades populacionais de ´atomos de hidrogˆenio no estado fundamental,
e no primeiro estado excitado respectivamente, e np ´e a densidade populacional de ´atomos de
hidrogˆenio ionizado. De acordo com Hartmann & MacGregor (1980), para temperaturas abaixo de 8000 K, o cont´ınuo e as linhas de Lyman tornam-se opticamente muito espessas, e podem ser consideradas como estando em Equil´ıbrio Termodinˆamico. Nesse caso, pode-se tamb´em consi- derar que toda a ionizac¸˜ao ocorre por fotoionizac¸˜ao a partir do n´ıvel n=2, e todos os processos de recombinac¸˜ao ocorrem para n=2. O modelo de Hartmann et al. (1994) utiliza este fato para escrever a equac¸˜ao de ionizac¸˜ao da seguinte forma
n2
np
= Rκ2
R2κ
onde R2κ e Rκ2 s˜ao a taxas de fotoionizac¸˜ao e de recombinac¸˜ao do n´ıvel n=2, e podem ser
encontradas a partir das Eqs. (3.195) e (3.196), respectivamente. Para se calcular as taxas de fotoionizac¸˜ao e de recombinac¸˜ao radiativa, utiliza-se um campo de radiac¸˜ao que ´e formado por contribuic¸˜oes da fotosfera estelar e da regi˜ao de choque de acrec¸˜ao, cada uma pesada de acordo com o ˆangulo s´olido que subentende cada ´area. Ambas as regi˜oes contribuem com um campo radiativo Planckiano onde as temperaturas s˜ao as temperatura efetiva da estrela (Tfot), e a tempe-
ratura da zona de choque (Tch). Hartmann & MacGregor (1980) mostram que para um campo de
radiac¸˜ao Planckiano, a taxa de fotoionizac¸˜ao pode ser escrita como
Riκ =
8πWν3
iκ
c2 E1(hνiκ/kT ), (4.8)
onde νiκ ´e a frequˆencia de ionizac¸˜ao do n´ıvel n=i, W ´e o fator de diluic¸˜ao, e E1 ´e a primeira
integral exponencial. Sendo ω∗(ri) o ˆangulo s´olido coberto pela estrela visto do ponto localizado
em ri, e ωch(ri) o ˆangulo s´olido coberto pela zona de choque visto pelo mesmo ponto, ent˜ao a
taxa de fotoionizac¸˜ao pode ser escrita como
Riκ(ri) = ω∗(ri) 4π 8πν3 iκ c2 E1(hνiκ/kTfot) + ωch(ri) 4π 8πν3 iκ c2 E1(hνiκ/kTHS). (4.9)
A taxa de recombinac¸˜ao, no caso de um campo Planckiano, pode ser escrita de maneira seme- lhante, mas depende da temperatura de radiac¸˜ao do local, ou seja,
Rκi(ri) =
8πν3
iκ
c2 E1[hνiκ/kT (ri)]. (4.10)
Como, no processo de busca pelos pontos ressonantes, tamb´em j´a foram encontrados os valores de ω∗(ri) e ωch(ri) para cada ponto, e o valor de νiκ est´a presente no arquivo hydrogen.dat, ´e necess´ario apenas calcular o valor das integrais exponenciais para se conhecer as taxas de fotoionizac¸˜ao e recombinac¸˜ao em um determinado ponto da grade. O m´etodo num´erico utilizado para resolver integrais exponenciais ´e descrito em Abramowitz & Stegun (1964).
A densidade de el´etrons possui uma componente devido aos el´etrons ionizados do ´atomo de hidrogˆenio, e outra componente devido a metais na regi˜ao. A contribuic¸˜ao met´alica para o n´umero de el´etrons depende do coeficiente αM = 10−4, de modo que
ne = np+αMnH. (4.11)
A raz˜ao entre as populac¸˜oes dos n´ıveis n=1 e n=2 pode ser encontrada com ajuda da equac¸˜ao de equil´ıbrio radiativo [Eq. (3.201)], que neste caso torna-se
n1 B12 Z φνJνdν + C12 ! = n2 A21+ B21 Z φνJνdν + C21 ! . (4.12) Se fizermos nu Aul+ Bul Z φνJνdν ! − nlBlu Z φνJνdν≡ nuAulZul, (4.13) podemos reescrever a equac¸˜ao de equil´ıbrio radiativo como
n2
n1
= C12
C21+ A21Z21
O termo Zul representa a quantidade l´ıquida de radiac¸˜ao que est´a sendo produzida no local, e tamb´em pode ser escrito na forma
Zul = 1− R
φνJνdν
Sul
. (4.15)
O segundo termo de Zul representa a raz˜ao entre a radiac¸˜ao incidente e a radiac¸˜ao produzida em um determinado ponto. Se temos mais radiac¸˜ao sendo produzida do que radiac¸˜ao incidente Zul ´e positivo, caso contr´ario ´e negativo. Quando o local est´a em equil´ıbrio termodinˆamico, Zul = 0. Segundo HHC, podemos substituir Z21 pela probabilidade de escape (β) da linha de Lyman α,
que pode ser encontrada pela Eq. (3.220), β21(r) = 1 4π Z 1− e−τ21(r,n) τ21(r, n) dω de modo que n2 n1 = C12 C21+ A21β21 . (4.16)
Os valores de C12 e C21 podem ser encontrados com a relac¸˜ao Ci j = Ωi j(T )ne, onde Ωi j(T ) ´e a
sec¸˜ao reta de colis˜ao do n´ıvel a temperatura T e tem valores fornecidos no arquivohydrogen.dat
para diversas temperaturas. Os valores tabelados no arquivo devem ser interpolados para que se possa obter o valor correto de Ωi j(T ) no ponto. O coeficiente A21 ´e o coeficiente de emiss˜ao
espontˆanea, e seu valor tamb´em ´e fornecido pelohydrogen.dat.
Para calcular o valor de β21, considera-se que a profundidade ´optica de Lyα ´e alta, de modo
que e−τ21(r,n) ≪ 1, e β21(r) = 1 4π Z 1− e−τ21(r,n) τ21(r, n) dω≈ 1 4π Z 1 τ21(r, n) dω,
que, utilizando a definic¸˜ao dada pelo m´etodo de Sobolev para a profundidade ´optica [ver Eqs. (3.206), (3.222), (3.223)], torna-se: β21(r) = 1 4π ν12 cχ12 Z |Q(ri, n)|dω = 1 4π ν12 cχ12 ¯ Q(ri, n). (4.17)
Uma alta opacidade para Lyα implica que n2/n1 << 1, o que faz com que
χ12≈
πq2 e
mec
f12n1. (4.18)
O valor da forc¸a de oscilador, f12, ´e encontrado a partir das relac¸˜oes de Einstein [Eqs. (3.59),
(3.60) e (3.108)] e do valor de A21. O valor de ¯Q(ri, n) j´a foi calculado no passo anterior do CV,
e ´e simplesmente lido do arquivo de grade.
As Eqs.(4.6) - (4.16) formam um sistema de eqs. n˜ao-lineares, que nos possibilita encontrar os valores de n1, n2, np e ne, como func¸˜ao da temperatura local, da densidade total de part´ıculas
nHe do campo de radiac¸˜ao. O CV resolve, finalmente, este sistema de equac¸˜oes, grava todos os
valores encontrados no arquivo de grade, e ´e finalizado. Com estas novas informac¸˜oes no arquivo de grade, torna-se poss´ıvel calcular as func¸˜oes-fonte em cada um dos pontos da grade.
4.1.2.4 Tarefa: Calcular as Func¸˜oes-Fonte (job:2)
O pr´oximo passo para se calcular os perfis de linha, ´e calcular as func¸˜oes-fonte em cada ponto da grade. Esta tarefa ´e executada com a opc¸˜ao JobType=2, ou chamando o CV pela linha de comando com a opc¸˜ao “-j 2”. Outra informac¸˜ao muito importante, que deve ser passada ao c´odigo durante esta tarefa, s˜ao os n´ıveis superior e inferior da transic¸˜ao respons´avel pela linha espectral desejada. Estas informac¸˜oes podem ser introduzidas no pr´oprio arquivo de configurac¸˜ao atrav´es dos parˆametros UpperLevel e LowerLevel, ou ao se chamar o CV utilizando as opc¸˜ao “-u n´ıvel-superior” e “-l n´ıvel-inferior”.
Durante esta tarefa o CV lˆe o arquivo de grade, e o arquivo bin´ario contendo as informac¸˜oes sobre os pontos ressonantes (surfaces.dat). Com as informac¸˜oes contidas nesses dois arquivos ´e poss´ıvel calcular as func¸˜oes-fonte S , e o campo de radiac¸˜ao m´edio ¯J em cada um dos pontos,
referente `a linha desejada. Antes, por´em, o CV calcula a opacidade da linha em cada ponto da grade, e em cada um dos pontos ressonantes, utilizando a Eq. (3.206)
χlu = πq2 e mc fulnl 1− glnu gunl ! .
No passo anterior, entretanto, o CV calculou apenas as densidades de n1e n2, o que nos permitiria
calcular apenas a opacidade para a linha de Lyα. Para calcular a opacidade da linha de Hα, por exemplo, precisar´ıamos da densidade populacional do n´ıvel n = 3, que n˜ao foi calculada. O CV resolve o problema, ao considerar que as densidades populacionais dos n´ıveis mais excitados s˜ao sempre menores que n2 ou n1, e como a degenerescˆencia de um n´ıvel mais excitado ´e sempre
maior que a de um n´ıvel menos energ´etico (gu > gl), o termo glnu
gunl ≪ 1, o que torna v´alida a seguinte aproximac¸˜ao:
χlu(ri)≈
πq2e
mc fulnl(ri). (4.19)
A mesma considerac¸˜ao foi feita nos c´alculos de opacidade das linhas de Lyman durante a tarefa anterior. Nesta aproximac¸˜ao, a opacidade de todas as linhas de Balmer s˜ao iguais, e dependem apenas da populac¸˜ao de n2. A densidade do n´ıvel n3seria necess´aria para a opacidade das linhas
de Paschen, n4para a opacidade das linhas de Bracket, e assim sucessivamente.
Para encontrar as profundidades ´opticas τ(ri, n) ´e utilizado o m´etodo de Sobolev, que diz que [ver Eq. (3.222)] τ(ri, n) = χlu(ri) c ν0 1 |Q(ri, n)|.
Os valores dos gradientes de velocidade Q(ri, n) necess´arios est˜ao gravados no arquivo surfa-
ces.dat, e, portanto, ´e trivial calcular a profundidade ´optica em cada ponto da grade, e em cada um dos pontos ressonantes ao longo de uma determinada direc¸˜ao.
Conhecendo a profundidade ´optica em cada ponto, o CV consegue calcular as probabilidades de escape em cada ponto dadas pelas Eqs. (3.220), (3.225) e (3.226). As probabilidades de escape, por sua vez, s˜ao utilizadas no c´alculo da func¸˜ao-fonte da linha espectral em quest˜ao em cada ponto da grade com a ajuda da Eq. (3.203),
onde
ε≡ ε′/(1 + ε′). e
ε′≡ Cul(1− e−hν/kT)/Aul,
O valor de Cul depende apenas da temperatura local T , e da densidade populacional local de el´etrons, ne. Portanto, no caso do ´atomo de dois n´ıveis, a func¸˜ao-fonte da linha n˜ao tem de-
pendˆencia direta nas densidades populacionais dos n´ıveis envolvidos na formac¸˜ao da linha. Ini- cialmente, calculamos ¯Jν utilizando a func¸˜ao de Planck no ponto, ou seja, Sl = Bν[T (ri)], onde T (ri) ´e a temperatura local do ponto localizado em ri.
Conhecendo o valor de Sl em cada ponto, o CV consegue calcular o valor do termo de contribuic¸˜ao n˜ao-local para a intensidade espec´ıfica atrav´es da Eq. (3.221)
F(r) = 1 4π Z 1− e−τ(r,n) τ(r, n) N X j=1 S (rj)h1− e−τ(rj,n)ie−Pi=1j−1τ(ri,n) dω,
e o utiliza, ent˜ao, para encontrar um melhor valor para ¯J, utilizando a Eq. (3.224)
¯
J =1 − β(r) S (r) + βc∗(r)I∗+βcc(r)Ich+ F(r).
Este novo valor de ¯J, ´e ent˜ao aplicado na Eq. (3.227) Sl =
(βc∗I∗+βccIch+ F)(1− ε) + εB(T )
β + ε− βε ,
e um novo valor para a func¸˜ao-fonte da linha Sl ´e obtido. Este novo valor ´e utilizado, ent˜ao, para obter uma melhor estimativa para F(r). Este processo iterativo ´e repetido MaxIteration vezes. O valor que utilizamos ´e MaxIteration=4, suficiente para garantir a convergˆencia da soluc¸˜ao, que ocorre rapidamente devido `a baixa contribuic¸˜ao do termo F(r) no valor da func¸˜ao-fonte.
A Eq. (3.224) ´e v´alida para o caso da acrec¸˜ao magnetosf´erica e, quando consideramos apenas o caso com o vento de disco, n˜ao existe uma mancha quente na superf´ıcie da estrela. Portanto, uma outra equac¸˜ao deve ser utilizada. Esta nova equac¸˜ao, ao inv´es da mancha quente, possui um termo que considera a radiac¸˜ao gerada no disco de acrec¸˜ao, e ´e escrita como
¯
J =1− β(r) S (r) + βc∗(r)I∗+βdis(r)Idis+ F(r), (4.20)
onde βdis(r) = 1 4π Z ωdis 1− e−τ(r,n) τ(r, n) e −PN j=1τ(rj,n)dω (4.21)
representa a probabilidade de um f´oton em r atingir o disco de acrec¸˜ao e ωdis ´e o ˆangulo s´olido
coberto pelo disco de acrec¸˜ao neste mesmo ponto. O termo Idis representa a intensidade de
radiac¸˜ao emitida pelo disco de acrec¸˜ao. A temperatura do disco de acrec¸˜ao ´e controlada pelo parˆametro DiskwindTDMax no arquivo de configurac¸˜ao do CV, e este parˆametro representa a temperatura m´axima dentro do disco de acrec¸˜ao em unidades de K. Segundo Hartmann (1998), a temperatura no disco de acrec¸˜ao ´e dada por
Td4 = 3GM∗M˙acr 8πσ̟3 " 1− ̟ i ̟ 1/2# , (4.22)
onde ̟ ´e a distˆancia de um ponto sobre o disco de acrec¸˜ao at´e a estrela, e ̟i ´e o raio interno
do disco. Como essa equac¸˜ao foi calculada para o modelo de boundary layer, onde o disco de acrec¸˜ao chega at´e a superf´ıcie da estrela, ̟i=R∗. A temperatura m´axima no disco de acrec¸˜ao pode ser encontrada derivando a Eq. (4.22),
Td,Max = 0,488 3GM∗M˙acr 8πσ̟3 i !1/4 , (4.23)
e ocorre em ̟Max = 1,36 ̟i. Quando ̟ = ̟i, a Eq. (4.22) vai para zero, o que n˜ao ´e fisicamente
realista e torna esta regi˜ao do disco problem´atica. Este problema aparece devido `as considerac¸˜oes feitas em relac¸˜ao ao momento angular nas regi˜oes de contorno do problema (Hartmann 1998). Como o raio de truncamento do disco ´e maior que R∗, a regi˜ao de onde a coluna de acrec¸˜ao ´e lanc¸ada est´a bem distante da regi˜ao problem´atica. O valor utilizado em DiskwindTDMax ´e a temperatura m´axima do disco calculada pela Eq. (4.23). E a temperatura em qualquer raio do disco pode ser parametrizada em func¸˜ao de Td,Max, utilizando a seguinte lei de escala
Td(̟) = Td,Max̟−3/4 1− 1 ̟ !1/2 , (4.24)
se ̟ for dado em unidades de raio estelar. O CV utiliza esta lei de escala para calcular a tem- peratura em qualquer ponto do disco de acrec¸˜ao. Considera-se que o disco seja formado por v´arios an´eis de espessura infinitesimal de raio ̟ e temperatura Td(̟) que emitem como corpo
negro. A partir desta suposic¸˜ao o CV calcula a intensidade especif´ıca, Idis, sendo emitida de cada
um destes an´eis infinitesimais, para utiliz´a-la na Eq. (4.20), e, consequentemente, encontrar as func¸˜oes-fonte em cada ponto da grade do vento de disco.
Apesar do CV considerar emiss˜ao de corpo negro no disco de acrec¸˜ao, e das temperaturas no disco serem da ordem de 103K, a contribuic¸˜ao do disco para o cont´ınuo na regi˜ao vis´ıvel do
espectro ´e bem menor que as contribuic¸˜oes da fotosfera da estrela e da mancha quente. O campo de radiac¸˜ao do disco de acrec¸˜ao, portanto, ter´a influˆencia m´ınima na formac¸˜ao das linhas e no cont´ınuo na regi˜ao do espectro vis´ıvel, e, a n˜ao ser em casos onde ˙Macr>107M⊙ano−1, pode ser totalmente desprezado.