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Teleologia: predestinação de uma organização

3. O Radicalismo e o movimento operário: a relação entre a Unión Cívica Radical e a

3.4 O sindicalismo argentino na década de 1910: transformações em movimento

3.4.2 Teleologia: predestinação de uma organização

Outras modificações foram realizadas além da declaração de neutralidade política e se ajustam à interpretação “teleológica”. Basicamente, a federação até então se organizava a

290 O militante considera a dissidência um grande erro e declara: “Era na verdade uma minoria os francamente dissidentes; muitos anarquistas estavam dispostos a cooperação com os adversários de ontem, crendo em sua boa fé”, SANTILLÁN, op. Cit., pg. 244. Para o autor, caso os quintistas tivessem se mantido na federação, com o tempo eles poderiam convencer seus companheiros do erro que estavam cometendo. Já Sebastian Marotta relata até mesmo o caso de alguns sindicatos cujos delegados votaram contra a supressão, mas que em nova assembleia foram desautorizados pelas bases. MAROTTA, op. Cit., pg. 196.

291 MANULI, Martin, “Hacia la unidad de la clase obrera: el entendimiento anrquista-sindicalista revolucionario (Argentina, 1910-1915)”, comunicação realizada durante a mesa Historia de la Izquierda en la Argentina: política, sociedad e ideas (1880-1960), coordenada por Hernán Camarero e Carlos Herrera durante a XIII Jornadas Interescuelas, Catamarca, agosto de 2011., pp. 12-21. Texto mimeo gentilmente fornecido pelo autor.

partir de um documento conhecido como Pacto de Solidariedad, aprovado durante o seu IVº Congresso em 1904. Além da supressão da declaração referente à finalidade da federação – adicionado ao Pacto durante o Vº Congresso -, o IXº Congresso modificou o 7º, o 14º e o 15º artigos do documento, além de agregar o 19º e o 20º artigos292.

Em relação ao 7º artigo, sua versão original estabelecia o funcionamento do Conselho Federal, sem especificar nenhuma obrigação, com nove membros mais um delegado por cada federação local com caráter de delegados credenciados. As modificações aprovadas no IXº Congresso ao mesmo tempo que ampliavam a representatividade da base no Conselho Federal, ao admitir um delegado deliberativo por cada sindicato federado e não mais por federação regional, atribuía ao órgão central faculdades até então inéditas. Caberia ao Conselho, junto aos delegados, a decisão sobre as chamadas “questões de ordem geral”, como os boicotes e a declaração de greve geral – que ganhava um caráter notoriamente defensivo. Atribuía ao conselho a autoridade de resolver alguns assuntos por motivos de “força maior”, sem especificar em que se consistiriam estes casos. Era criada também, anexa ao Conselho Federal, uma secretaria responsável por recolher estatísticas relevantes para a federação.

A modificação do 14º artigo limitava a possibilidade de um delegado representar outras agremiações que lhe conferissem esse poder. A partir do IXº Congresso, um delegado não poderia representar mais do que cinco organizações. Já o 15º, que em sua versão original apenas admitia nos congressos delegados que fossem sócios de alguma das sociedades aderidas e nunca houvessem exercido cargo político algum, como deputado, vereador, empregados de alto rango na administração pública, etc., em sua nova versão restringia esta proibição apenas aos membros do Conselho Federal e que estes somente não poderiam exercer ao mesmo tempo as funções de político e conselheiro do sindicato. A restrição definitiva nas esferas de decisão da federação por haver exercido um cargo político era abolida.

O artigo 19º incluía a recomendação para que as sociedades aderidas elaborassem um estatuto em “consonância” com o Pacto de Solidariedad e inspirassem sua ação em seus princípios. E por fim, o 20º artigo proibia a possibilidade de que um membro do Conselho Federal ocupasse ao mesmo tempo o cargo de delegado deliberativo.

Assim, para além da eliminação do “comunismo anárquico”, durante o IXº Congresso, a federação conferia maior poder aos sindicatos ao ampliar os poderes deliberativos dos

292Ver: “Pacto de Solidariedad de la Federación Obrera Argentina aprobado en el IV Congreso de La Fora del 2 de Agosto de 1904”, versão integral in BILSKY, La FORA… e “Carta Ogránica de la F.O.R.A” e os artigos modificados, in BDNT, Nº 41, Abril de 1919.

delegados sindicais em detrimento dos representantes das federações locais. Ao mesmo tempo, e de maneira contraditória, buscava dar maior centralidade para o Conselho Federal como organismo executivo e - pelos menos demonstrava a intenção - uma maior racionalidade para as ações da federação ao criar uma secretaria de estatísticas. Concentrar as decisões no Conselho Federal também serviria para impedir que outros órgãos da federação, como havia ocorrido com a FORA e a direção de seu jornal La Protesta, pudessem competir com as decisões do conselho. Regulamentava a representatividade dos delegados e ao abolir a proibição definitiva de que delegados exercessem cargos políticos, o IXº Congresso parecia acenar claramente para uma aproximação com os trabalhadores filiados ao PS, apesar dos protestos do partido devido à manutenção do rechaço das organizações políticas alheias aos sindicatos. A organização laxa, que parecia ter sido o segredo do sucesso da FORA durante a primeira década do século XX, começava a dar lugar a uma organização mais centralizada e com hierarquias mais definidas.

Estas transformações refletiram-se na prática da FORA – agora IXª – durante os anos vindouros? Um comentário do inspetor do DNT José Elías Niklison - que não escondia suas simpatias pela supressão do finalismo, pois este havia transformado “os sindicatos aderidos [à federação] em cátedras de sectários”- sobre o IXº Congresso apontam para uma perspectiva interessante. Em um memorial produzido para o DNT e publicado em abril de 1919, o funcionário do governo reclamava que os delegados presentes no IXº Congresso, apesar da supressão do “comunismo anárquico”, “não quiseram apartar, nem apartaram a FORA de suas ulterioridades libertárias”, como se pode observar em suas proclamações sobre “as instituições sociais e política atuais” e na manutenção quase integral do Pacto de Solidariedad. Pondera Niklison que:

“quase poderia se afirmar que, de ser possível a reconstrução total da Federação, prescindindo da base formada pelos antigos núcleos operários dela precedentes, o mesmo Pacto teria sofrido modificações de importância, o que revela nos dirigentes da época, além do exato conhecimento das circunstâncias do momento e certa complacente adaptação ao meio, as proveitosas lições do passado...” 293.

Niklison parece ter razão em um ponto: poucas foram as mudanças realizadas pelo congresso, ainda mais se quisermos fundamentar este momento como um marco divisório da ação histórica do proletariado argentino. A modificação do Pacto e não sua ruptura durante o IXº Congresso pode ainda ser interpretada como um acordo com as agrupações anarquistas que se posicionaram contrárias ao finalismo da federação. Porém, a análise do inspetor sugere

mais: foi uma maneira de evitar que as transformações que os Sindicalistas pretendiam impor ao movimento operário e que timidamente foram introduzidas no IXº Congresso terminassem por desmontar toda a estrutura e tradição na qual a classe operária argentina havia se educado até então. Uma das “proveitosas lições do passado” - e isso não deve impressionar a ninguém se tivermos em conta que estes militantes sacrificaram sua própria organização - era o quão destrutivo e desagregador poderia ser um enfrentamento direto ao que poderíamos chamar de forismo, não tanto pela sua já desgastada e isolada direção defensora do “comunismo anárquico”, mas pela cultura política do proletariado argentino.

Assim, podemos afirmar que o enorme crescimento da FORA IXª a partir de 1915 se deu ainda sobre as bases construídas pelos quintistas na década anterior. O Sindicalismo Revolucionário foi constituindo-se como força hegemônica dentro do movimento operário se escorando e se aproveitando das diversas experiências que o rodeavam. Uma ruptura mais profunda só poderia ocorrer caso ela se justificasse na ação, demonstrasse sua efetividade e não como uma evolução teleológica. Existiam condições para essa transformação? Num contexto como o de 1915, caracterizado pela repressão aberta, refluxo das lutas e início da crise econômica, parece que não. Entendemos que o pragmatismo político demonstrado por esses militantes que forjaram a unificação das federações não recomendaria nesse instante tal atitude. Mas nesta mesma vereda, em que buscavam a reconstrução e reinvenção das práticas do sindicalismo na Argentina e impulsionados pela melhoria nas condições econômicas ao fim do conflito mundial, a FORA IXª avistou Hipólito Yrigoyen e seus mistérios...

A convocação do Xº Congresso exatamente ao fim de 1918 não foi à toa e deve-se ter em conta questões referentes tanto ao conflito social na Argentina quanto aos acontecimentos na Europa do pós-guerra que já reverberavam na região do Prata.

Do ponto de vista do movimento operário na Argentina, os três anos transcorridos desde o último Congresso foram de um salto gigantesco nos números da FORA IXª. Como visto no capítulo anterior, nesses anos o número de cotistas por ano cresceu mais de 20 vezes, a média mensal destes mais de dez vezes e o número de sindicatos filiados quase sete vezes. As greves, que depois de 1910 minguaram, retornam em 1917 atingindo a centena de movimentos e a centena de milhar de grevistas. A interferência favorável e o reconhecimento de facto por parte do governo de alguns sindicatos, mas principalmente da FORA IXª como representante dos interesses dos trabalhadores, devem ser levados em conta para o crescimento da organização e para a sensação de triunfo da direção da Federação.

É notável também o reconhecimento conferido à Federação pelo próprio PS, que sofria novamente com questionamentos internos. No bojo destes questionamentos, surgiu em 1914 o

Comité de Propaganda Gremial, que tinha como propósito a criação de uma seção sindical do partido. Acusado este comitê pela FORA IXª como uma tentativa de dividir o movimento operário, o PS aproveita-se da situação para desautorizar a crescente organização e afirmar que o Comitê Executivo do partido recomendava aos seus afiliados militarem “nos organismos já constituídos, para fortificá-los e desenvolvê-los”294. Reconhecia-se a

impossibilidade de se contrapor à FORA IXª e ainda aproveitava-se para impedir outra ruptura no partido.

A prática dos últimos anos parecia ter dado razão às modificações ensaiadas durante o IXº Congresso. Era chegada a hora, segundo o Conselho Federal, de que “a ação dos trabalhadores se desloque no sentido da consolidação de seus organismos de combate, seja em quanto se refere à estabilidade dos mesmos, como no que concerne a uma clara e sólida orientação revolucionária e de classe”295.

Foi neste clima de triunfalismo, de crescimento exponencial da organização, de vitórias significativas296 e de um inédito reconhecimento por parte do governo da federação operária – tudo isso tendo como trilha sonora os ecos das revoluções operárias na Europa - que se realizou o Xº Congresso nos dias 29, 30 e 31 de Dezembro de 1918 na cidade de Buenos Aires. Participaram 115 organizações, sendo 34 da Capital Federal297. A presidência ficou a cargo de Francisco J. García, sendo eleitos vice-presidentes J. Della Latta, José F. Penelón e como secretários Vicente Todaro, E.D. Semería, Luis Lauzet e H. Villalba.

Como um dos primeiros atos, o Congresso aclamou uma declaração proposta por Penelón de solidariedade dos trabalhadores argentinos ao proletariado revolucionário da Europa, “particularmente com os trabalhadores da Rússia e da Alemanha pelos heroicos esforços que realizam para lograr os desejos que constituem o nervo da atividade criadora do proletariado universal”. A declaração ainda “Formula ferventes votos para a consolidação da República Socialista Federal dos Sovietes de Rússia” e apelava para que os proletários das nações aliadas não cedessem aos ímpetos do capitalismo em “utilizar suas energias para reestabelecer o predomínio da situação de privilégio das classes burguesas na Rússia operária ou impedir que proletariado alemão realize seus propósitos de emancipação integral”. Ao fim

294 “Informe presentado por el Comité Central al XIV Congreso Nacional Ordinario del Partido Socialista reunido en Avellaneda, provincia de Buenos Aires, los días 7 y 8 de julio de 1918”, citado em BDNT, Nº 41, Abril de 1919, pp. 84-92.

295 Ibidem, pg. 73.

296Nos anos de 1917-1918, dos 269.104 trabalhadores que entraram em greve, 150.376 tiveram resultados favoráveis ou parcialmente favoráveis em suas mobilizações. Porém, deve-se ressaltar que boa parte da responsabilidade destes números é relativa às massivas greves nos transportes (ferroviários e marítimos) nas quais o governo interviu preferencialmente a favor dos trabalhadores.

da nota, o congresso encarregava o Conselho Federal de preparar e realizar um ato público de solidariedade aos operários alemães e russos298.

O triunfal memorial apresentado pelo Conselho Federal procurava enfatizar como as lutas parciais pelo melhoramento de salários foram uma das responsáveis pelo crescimento da organização. Destacava as excursões realizadas pelos delegados pelo interior e a sindicalização em uma série de regiões até então submetidas aos “privilégios e prerrogativas feudais que caracterizam o régime capitalista das selvas”. Ainda segundo o memorial, em claro recado à FORA Vº, a organização nos últimos anos, “Com a fria serenidade do cirurgião consciente de sua função, afundou o bisturi para extrair pela raiz a fístula que a carcomia”. Nas palavras de Marotta, “O balanço moral da FORA tem inapreciável saldo positivo”299.

A principal questão a ser discutida e sancionada era a nova Carta Orgânica da entidade formulada pelo Conselho Federal e que deveria substituir completamente o Pacto de Solidariedad de 1904. A declaração de princípios, apesar de suscitar certa polêmica durante o Xº Congresso, que comentaremos mais a frente, chama mais atenção não tanto pelas polêmicas, mas sim pelas profundas diferenças com as do Pacto de Solidariedad. Enquanto na declaração de princípios do antigo documento abundavam referências difusas como “todo homem”, “os povos”, “explorados de todas as nações”; declarações vagas sobre o sistema social vigente, que este era causa de “guerras intestinas, crimes, degenerações, perturbando o conceito amplo da humanidade” e que o antagonismo de classes havia convertido “ao homem em lobo do homem”, a linguagem presente na Carta Orgânica apresentava um conteúdo muito mais classista. A generalidade da exploração do homem pelo homem é substituída na Carta pela do proletário pelo burguês, as duas únicas categorias sociais existentes no mundo. Os privilégios burgueses são entendidos como fundamentados na concentração dos meios de produção, privilégio econômico que se traduz em político e na instituição por excelência burguesa, o Estado300. A luta de classes assume um caráter fundamental na interpretação da realidade, assim como na ação da FORA IXª.

O ponto polêmico citado acima e que contrapôs no Xº Congresso os socialistas (PS e PSI) e anarquistas e sindicalistas diz respeito à declaração de que:

“o sindicato é a forma específica de agrupação operária, posto que é uma associação que liga por interesses aos trabalhadores frente a seu inimigo comum: o capitalismo; que por isso mesmo reúne em seu seio a todos os produtores, quaisquer sejam suas opiniões a respeito da política, religião ou outro dogma”.

298 Citado em BDNT, Nº 41, Abril de 1919, pp. 123-124. 299 MAROTTA, op. Cit., pp. 231-233.

O parágrafo seguinte contemporizava a questão, afirmando que:

“o sindicato isolado não representa por si só a soma de poder de conquista da classe operária; antes bem, se pretende permanecer desvinculado do conjunto das organizações cometeria o mesmo erro que o operário que somente confia em sua ação individual; as organizações operárias devem estar reunidas entre si”301.

Nas falas durante a discussão sobre a declaração de princípios, foi notável a emergência do antigo debate de 1906 entre Sindicalistas e socialistas. Por um lado, trabalhadores ligados aos partidos socialistas criticavam a exclusividade do sindicato como forma específica de organização dos operários. Já Sindicalistas e anarquistas procuravam agora diminuir a importância da declaração e mesmo chamar a atenção para o parágrafo seguinte. Foi apenas Della Latta, delegado da FOF pela estrada de ferro Buenos Aires Sud, que chamou a atenção para a contradição entre os dois parágrafos, alegando que, já que a declaração se encontrava confusa, sua organização recomendava consultar a classe operária sobre suas aspirações. A votação não só expressou essa contradição, como também o peso relativo da hegemonia Sindicalista Revolucionária: 41 delegados votam a favor da declaração contra 38.

Até o 26º artigo todas as propostas foram aceitas. Destacamos alguns artigos que parecem consolidar as transformações da federação que começaram a ser gestadas desde o IXº Congresso. Em primeiro lugar, chamam a atenção os artigos 11º e 12º que declaram que “A FORA propiciará a criação de Federações de indústria entre todas as organizações de ofício similares no país e que estejam federadas” com o propósito de ampliar os horizontes da luta operária e de ao mesmo tempo acrescentar sua eficácia. A opção pela organização por ofícios é abandonada e em seu lugar estimulada à organização por ramo de produção. Em segundo lugar, o artigo 16º reafirmava e ampliava a série de atribuições do Conselho Federal das quais destacamos os incisos e e f, pelos quais a direção do órgão oficial de imprensa e dos fundos gerais ficavam sob responsabilidade do Conselho Federal. O desmonte da antiga FORA parecia agora completo.

O Secretário geral também recebeu uma série de atribuições, como por exemplo, ser o representante do Conselho Federal nas questões internas e externas à federação (art. 21º) e redator de todos os comunicados do mesmo (art. 22º). Porém, a maior polêmica, opondo novamente os socialistas e os Sindicalistas e anarquistas surge em relação ao 26º artigo que estabelecia que “O secretário Geral não poderá ser candidato a nenhuma função política; aceitar uma candidatura deste gênero implicaria na renúncia de seu cargo de secretário”.

Alguns reivindicavam a supressão do artigo, enquanto outros propunham sua extensão a todo o Conselho Federal. A votação é realizada pelo número de cotistas representados por delegado, o que favorecia enormemente aos Sindicalistas Revolucionários que controlavam as duas maiores federações presentes, a FOM e a FOF. O resultado foi: 60 delegados representando 18.986 cotistas a favor da cláusula contra 33 delegados representando 13.983 cotistas.

O resto dos 40 artigos foi votado sem maiores problemas, porém devemos destacar alguns deles: o 39º, que estabeleceu uma proporcionalidade entre o número de cotistas e de delegados deliberativos por sindicatos; os artigos 43º ao 47º, que regulavam o financiamento da federação por meio da contribuição de cinco centavos por afiliado (sendo eximidos aqueles sindicatos envolvidos em uma greve geral) e o 52º que centralizava o poder de decisão sobre a declaração de boicotes ou mobilizações por solidariedade no Conselho Federal. Como último ato do congresso, é divulgado o resultado da votação do novo Conselho, colocando na maioria dos cargos militantes ligados ao Sindicalismo Revolucionário, sendo seguido dos socialistas de ambos os partidos e apenas uma pequena representação de anarquistas302. O congresso terminou as 3:30 da madrugada do dia 1º de Janeiro de 1919, seis dias antes de se iniciar a “Semana Trágica”.

Frente às teses relativas à perda de hegemonia do anarquismo no movimento operário argentino, levantamos alguns pontos que sugerem que este processo tenha sido mais demorado, não podendo ser identificado nem ao fim da “Greve do Centenário”, nem no IXº Congresso da FORA. Quiçá, poderíamos afirmar que as transformações promovidas na federação durante seu Xº Congresso ao fim de 1918 pelos Sindicalistas Revolucionários poderiam marcar o fim da hegemonia anarquista na organização do movimento operário argentino. Poderíamos agregar a esse argumento o fato de que durante este congresso as grandes discussões não giraram mais em torno de posicionamentos anarquistas contra Sindicalistas. Mais: vimos que as discussões se remetiam muito mais às antigas disputas entre a UGT e o PS na primeira década do século XX. Mesmo assim, nem tudo isso seria suficiente, pois, como visto na narrativa da greve geral de janeiro de 1919, a FORA Vº - ou mesmo as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por esta - exerceu um papel essencial durante aquela jornada. A chamada para a greve geral realizada pelos quintistas foi prontamente atendida pelos mais diversos sindicatos.

302 Os membros do Conselho Federal (titulares mais suplentes) por corrente política são: 13 Sindicalistas Revolucionários, quatro socialistas, três socialistas internacionalistas, dois anarquistas e um socialista sem partido. BDNT, Nº 41, Abril de 1919, pp. 125-129 e MAROTTA, op. Cit., pp. 234-239.

Da mesma forma que o anarquismo não pôde ser extinto por meio de um decreto – melhor dizendo, pela supressão de um -, as modificações elaboradas pelo último congresso também não poderiam ser automaticamente inculcadas na classe operária de Buenos Aires,