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A Unión Cívica Radical e Hipólito Yrigoyen: dissidência oligárquica e as origens do

3. O Radicalismo e o movimento operário: a relação entre a Unión Cívica Radical e a

3.3 A Unión Cívica Radical e Hipólito Yrigoyen: dissidência oligárquica e as origens do

obrerismo yrigoyenista

A vitória da Union Cívica Radical nas eleições presidenciais de 1916 foi um marco na história política argentina. Após a reforma eleitoral promovida pela Lei Saenz Peña de 1912, a “ordem conservadora” - período de hegemonia das elites agroexportadoras - cedeu lugar para um regime o qual Waldo Ansaldi caracteriza por uma hegemonia pluralista em contraposição à hegemonia orgânica dos latifundiários e grandes comerciantes. O novo regime eleitoral estabeleceu o sufrágio universal obrigatório e secreto para os homens maiores de 18 anos. Dois terços dos cargos disputados eram ocupados pela lista de candidatos com maior número de votos e o outro terço pela seguinte em número de votos.

A modificação do regime político, ampliando a participação ainda que de maneira restrita (excluía do direito ao voto estrangeiros, mulheres e habitantes dos territórios nacionais), permitiu o acesso às esferas de decisão política de vários grupos antes marginalizados pelo regime fraudulento estabelecido em 1880. Entre esses grupos destacam- se o Partido Socialista, que no ano de 1919 somava seis deputados e um senador, e o principal beneficiário da “Lei Sanez Peña”, a Unión Cívica Radical, que alcançou a maioria na Câmara de deputados em 1920 e exerceu a presidência da Nação por três mandatos consecutivos a partir da eleição de Hipólito Yrigoyen em 1916226, contando principalmente com o apoio massivo da classe média e de alguns setores da classe operária227.

A origem da UCR nos remete às dissidências que o regime político e as transformações econômicas promovidas pelo governo do General Roca começaram a produzir. A elite roquista, que ascendeu ao poder em 1880, via-se como uma elite ilustrada, de inspiração liberal, positivista e laica, que deveria guiar a massa ignara e heterogênea da população argentina rumo ao progresso. Se do ponto de vista econômico estes senhores

226ANSALDI, Waldo, “La trunca transición del régimen oligárquico al régimen democrático” in Nueva Historia

Argentina: democracia, conflicto social y renovación de ideas (1916-1930), Tomo VI, org. Ricardo Falcón, pp. 15-30.

227 Para os votos Radicais no periodo segundo as classes sociais, ver. WALTER, Richard J., “Election in the City of Buenos Aires during the First Yrigoyen Administration: Social Class and Political Preferences” in The Hispanic American Historical Review, Vol. 58, Nº 4, Novembro de 1978, pp. 595-624. Discutiremos os dados e reflexões fornecidos por Richard Walter com mais profundidade na próxima seção.

promoveram o enorme crescimento dos fins do século XIX e começo do XX, sua visão social do processo os levou a restringir sua base política, até mesmo nas filas das classes dominantes – é notável o exemplo da Igreja Católica -, sendo caracterizados por seus inimigos como membros del régimen ou oligarquia. Reunidos no Partido Autonomista Nacional e sob o comando de Roca, eram os setores econômicos hegemônicos como os latifundiários de Buenos Aires, grupos da região litoral há pouco incorporados às atividades agroexportadoras e alguns setores dominantes das províncias do interior – o próprio Roca era oriundo de uma família de produtores de cana-de-açúcar da longínqua província de Tucumán – que compunham esse grupo228.

A crise de 1890 acirrou uma série de antagonismos entre os membros das elites dentro do Estado e aquelas que estavam longe ou tinham uma pequena participação política desde 1880. Somados à dissidência oligárquica encontravam-se setores universitários e de profissionais liberais – novos setores emergentes devido à diversificação econômica do país - que viam seu acesso à política e às carreiras de Estado limitadas pelo clientelismo da chamada oligarquia. Os grupos reunidos pela oposição al régimen sob a alcunha de Unión Cívica se alçaram em armas contra o presidente Juárez Celman em 26 de julho de 1890 no movimento que ficou conhecido como a “Revolução do Parque”. Sufocado por tropas oficiais, o movimento, somado à profunda crise econômica, levou à renúncia do presidente e à substituição de diversos governadores. Mesmo com essas mudanças, Leandro Além – uma das principais figuras da Union Cívica – em agosto daquele ano já se dava conta da insuficiência do movimento de 1890: seria necessário desmontar a chamada maquina roquista peça por peça.

Para tanto, a agrupação se reuniu em janeiro de 1891 na cidade de Rosário e lançou a candidatura do veterano Bartolomé Mitre para a presidência – que, mesmo afastado do centro do poder político pelo regime roquista, mantinha uma grande base política, principalmente em Buenos Aires - e de Bernardo de Irigoyen para a vice-presidência para as eleições de abril de 1892. A fórmula durou pouco, pois em março Mitre entrou em acordo com Roca sobre as eleições. A partir dessa manobra do septuagenário ex-presidente, a Unión Cívica se dividiu entre os “acordistas” na Unión Cívica Nacional e os “anti-acordistas” reagrupados na Unión Cívica Radical, sob a liderança de Leandro Além.

No mês de novembro de 1892, a UCR lançou uma declaração de princípios onde exigia que as instituições, principalmente financeiras, não fossem mais usadas como

228 ROMERO, Luis Alberto, “El surgimento y la llegada al poder”, in El Radicalismo, vários autores, Buenos Aires: Ediciones CEPE, 1974, pg. 11.

instrumentos da política oficialista; limitações da ingerência do Estado na economia; fomento da pequena propriedade rural e reformas legislativas que diminuíssem o poder do Poder Executivo. A reforma do sistema político, considerado pela UCR como excludente, falsificador e manipulador dos princípios constitucionais de representatividade, terminou por se transformar na única plataforma política consensual dentro da organização229.

Um novo levante em 1893 foi derrotado, porém conseguiu colocar em pauta na Câmara de Deputados e no Senado a discussão sobre a legitimidade do regime político. Outra consequência imediata do levante de 1893 foi o abandono temporário da revolução como principal estratégia da UCR. Diferentemente de 1890, a insurreição de 1893, que atingiu diversas províncias em que governadores chegaram a ser depostos, acarretou em prisões, exílios, censura da imprensa e a declaração do Estado de Sítio até abril de 1894. A rotunda derrota iniciou uma crise nas filas da UCR, aprofundada pelo suicídio de Leandro Além em 1896, cindindo a agrupação entre aqueles que começavam a relativizar a posição “anti- acordista”, representados por Bernardo de Irigoyen, e os adeptos da ação radicalizada – principalmente do levante armado e da abstenção total do processo eleitoral -, liderados pelo sobrinho de Além, Hipólito Yrigoyen230.

Deve-se notar que as revoluções Radicais não se propunham a buscar propriamente a transformação do regime político ou social, mas sim uma suposta regeneração e moralização – a ideia de retorno é essencial na ideologia Radical. Para os Radicais, mas principalmente para o grupo de Leandro Além e Hipólito Yrigoyen, a república, que havia iniciado sua virtuosa história na Revolução de Maio, tinha sido sequestrada por alguns poucos que utilizavam-se de suas instituições para a realização de projetos pessoais. Reivindicavam o sufrágio universal como forma de moralizar a política, ao mesmo tempo em que os seus movimentos sediciosos mostravam a necessidade de que a oligarquia compartilhasse o poder político com importantes e novos setores sociais que o processo de expansão econômica havia criado ou momentaneamente excluído. Segundo Rodolfo Puiggrós, “O Radicalismo não ameaçava [o regime roquista] em seus interesses fundamentais. Ao contrário: sua participação tornava-se indispensável para assegurar a paz e a administração [lema da administração de Roca]” e, para tanto, para aumentar a base de sustentação social do projeto roquista em suas linhas gerais. Tão inofensivo à ordem vigente era o Radicalismo que, ainda segundo o autor, “um movimento vencido tantas vezes quanto empunhou as armas obteve de seu tradicional

229 PERSELLO, Ana Virginia, Historia del Radicalismo, Buenos Aires: Edhasa, 2007, pp. 15-22. 230 Ibidem, pg. 25-27.

inimigo as garantias legais para suplantá-lo do poder”231. A UCR se consolidou como a união

entre a dissidência oligárquica e de setores médios, tanto dependentes das elites afastadas do poder como surgidos da diferenciação social produzida pela expansão econômica.

Depois do suicídio de Leandro Além, a supremacia de Hipólito Yrigoyen e dos “anti- acordistas” começou a ficar clara já no ano de 1898 quando o partido decidiu abster-se de todas as eleições, mas principalmente no destacado papel que o sobrinho de Além desempenhou no último levante armado dos radicais em 1905. A partir de 1906 o partido passou a se reorganizar, mas não conseguiu se livrar da coexistência conflituosa de divergências estratégicas e doutrinárias, reflexo da divisão de classes entre oligarquia dissidente, mais afeita aos acordos e alianças, e os setores médios mais radicalizados. Duas principais facções que refletem essas divisões vão se consolidar nos anos 1920 e ficaram conhecidas como “personalistas” e “anti-personalistas”, sendo a primeira liderada e inspirada por Hipólito Yrigoyen.

Foi por fim, na década de 1910, que Yrigoyen se consolidou como líder do Radicalismo e encabeçou a organização nacional do partido, ganhando a presidência da Nação em 1916 nas primeiras eleições presidenciais realizadas sob a Lei Saenz Peña. Das múltiplas questões e discussões suscitadas pelo inédito governo Radical, o que realmente nos interessa é a aproximação de Yrigoyen ao movimento operário.

O polêmico obrerismo de sua administração está longe de ser considerado como um consenso dentro do próprio Radicalismo, mas sim como característica da facção conhecida como pernsonalista ou yrigoyenista. A aproximação de Yrigoyen com a classe operária, segundo Waldo Ansaldi232, suscitou duas linhas mestras interpretativas: esta seria a expressão dos ideais de harmonia social do Radicalismo yrigoyenista ou apenas uma estratégia para disputar os votos socialistas entre os operários.

A primeira interpretação está presente em toda a historiografia – muitas vezes hagiografia – de Yrigoyen, vinculada ao partido Radical. Felix Luna, Héctor J. Iñigo Carrera e Gabriel del Mazo sustentam que a política trabalhista de Yrigoyen era expressão de uma política de bem estar social baseada em ideais de harmonia social inspirados nos ideias do filósofo alemão Karl Christian Friederich Krause (1781-1832), de seus discípulos Henrich Ahrens (1808-1874), Wilhelm Tiberghien (1819-1901) e principalmente de seu divulgador

231 PUIGGRÓS, Rodolfo, Yrygoyenismo, Buenos Aires: Corregidor, 1974, pg. 22. 232 ANSALDI, op. Cit., pg. 37.

espanhol, o pedagogo Hermenegildo Giner de los Ríos233. Este ideal também seria nada mais que um desdobramento do movimento pela moralização do poder político. Del Mazo nos fornece a elaboração mais precisa que a historiografia Radical produziu sobre a aproximação de Yrigoyen ao movimento operário. Segundo del Mazo:

“O primeiro governo do radicalismo, ao enfrentar as forças privadas incidentes de modo antissocial em nossa economia, quis dar ao Estado um caráter de amparador dos bens comuns e como garantia econômica para a liberdade de cada pessoa. Começou assim um processo político e econômico de promoção e custódia dos direitos do trabalhador; de defesa do patrimônio comum da Nação; de desagregação do regime de privilégios próprios do status anterior. O primeiro governo Radical se propôs a complementar no [plano] econômico a grande conquista civil do voto livre do povo”234

Já em relação à segunda interpretação citada por Ansaldi, o trabalho clássico de David Rock sobre o período é o mais emblemático. Rock afirma que pela própria ideia de “harmonia social”, pela extrema antipatia a tudo que fosse ligado ao socialismo – “inimigos da propriedade privada” -, pela afirmação Radical “exagerada e dogmática das possibilidades de mobilidade social que oferecia a sociedade argentina”, além do caráter policlassista e de partido catch all da UCR, não havia outro motivo para o governo se preocupar com a classe operária a não ser por uma estratégia eleitoral de duas frentes: a primeira, explorar os setores sociais recém incorporados ao sistema político pela lei Saenz Peña com o intuito de ganhar a maioria no Congresso; e a segunda disputar votos na Capital Federal e impedir o crescimento na Província de Buenos Aires de seu principal rival nesses locais, o Partido Socialista235.

Além das duas correntes interpretativas elencadas por Waldo Ansaldi, poderíamos agregar outras duas formuladas por dois pensadores distantes do meio acadêmico, porém com grande impacto nas discussões políticas e historiográficas argentinas, a saber, as interpretações do militante peronista egresso do comunismo Rodolfo Puiggrós e do militante trotskista Milciades Peña.

Puiggrós afirma que a interpelação da classe trabalhadora como interlocutora política depois da reforma eleitoral era algo natural, inevitável, resultado das transformações sociais e econômicas que o país sofreu na virada do século XIX para o XX – a ascensão da política de massas. Segundo o autor, os problemas e as limitações da política trabalhista de Yrigoyen eram resultados do fato do governo Radical, quando ascendeu ao poder, não conseguir – ou

233 LUNA, Félix, Yrigoyen, Buenos Aires: Hyspamerica, 1985 (1954); DEL MAZO, Gabriel, La primera

presidencia de Yrigoyen, Buenos Aires: CEAL, 1986; IÑIGO CARRERA, Héctor J., La experiencia radical, Buenos Aires: Ediciones La Bastilla, 1980. Para o resgate das influencias “krausistas”, ver PASSALACQUA, Eduardo H., “Noticia Preliminar sobre el Pensamiento Yrigoyenista”, in Yrigoyen: Su pensamento escrito, Dir. Comité Nacional de la Unión Cívica Radical, Buenos Aires: Pequén Ediciones, 1984, pp. 11-12.

234 DEL MAZO, op. Cit., pg. 86.

não querer - transformar as estruturas do Estado argentino, ação que Perón não tardou em realizar formulando a Constituição de 1949 e incorporando nela uma legislação trabalhista. Haviam passado setenta anos desde as formulações de Juan Bauptista Alberdi – um dos principais formuladores da Constituição argentina – sobre a supremacia dos direitos individuais sobre os coletivos. Realidade esta (não prevista pelos homens que fizeram a Constituição argentina) que o desenvolvimento do capitalismo e da luta de classes já havia colocado em cheque no começo do século XX. Ainda segundo Puiggrós, a UCR, mas principalmente o yrigoyenismo, representava o primeiro bramido das reivindicações reprimidas das massas populares236.

Já Peña, além de enfatizar que a vitória Radical teve mais de continuísmo que de transformação – “governar para não mudar nada” - interpreta a ascensão de Yrigoyen por meio do conceito marxista de bonapartismo. A crise de legitimidade del régimen haveria levado ao poder uma figura carismática que procuraria colocar-se acima de todas as classes. A política de aproximação à classe operária do yrigoyenismo seria apenas uma estratégia deste para angariar apoio e contrabalançar as pressões dos setores da classe dominante afastados do poder desde a eleição de 1916 e que se opunham ao governo Radical237.

A polêmica parece não ter fim e Ricardo Falcón a retoma propondo que, se é certo que as políticas trabalhistas de Yrigoyen tivessem vieses eleitorais, alguns episódios relativos à intervenção de governantes da UCR em favor dos operários – principalmente na Província de Santa Fé -, anteriores à eleição de Yrigoyen, demonstram uma maior complexidade do comportamento deste partido em relação à classe operária238. Porém, a mais notável característica do trabalho de Falcón é a ênfase que o autor dedica à inspiração “krausista” dos princípios de harmonia social.

Tática eleitoral, propostas de harmonia social em uma sociedade convulsionada por enormes transformações, busca de apoio político de setores sociais até então segregados pela ordem vigente, forma de contrabalançar as pressões dos adversários políticos. A mera enumeração das diversas interpretações sobre a aproximação de Yrigoyen à classe operária já evidenciam os enormes dividendos políticos que o governo Radical poderia auferir com essa tática.

236 PUIGGRÓS, op. Cit., pp. 53-76.

237 PEÑA, Milciades, Masas, caudillos y elites: La dependencia argentina de Yrigoyen a Perón, Buenos Aires: Editores Fichas, 1971, pp. 21-22

238FALCÓN, Ricardo, “Políticas laborales y relación Estado-sindicatos en el gobierno de Hipólito Yrigoyen (1916-1922)”, in La cuestión social en Argentina: 1870-1943, Buenos Aires: Editorial La Colmena, 2000, pp. 120-122.

Da boca - ou da pena - de Hipólito Yrigoyen, são poucas as pistas que podemos retirar para tentar elucidar esta polêmica. Por mais que o Radicalismo, principalmente com a ascensão de Raul Alfonsín à presidência em 1983, tentasse reviver o pensamento yrigoyenista ou mesmo conceder o status de doutrina política para as realizações de seu governo239, o “mistério” que envolve este personagem é superior a qualquer um destes intentos. Manuel Gálvez, escritor e ensaísta argentino, no prólogo de seu livro Vida de Hipólito Yrigoyen – El hombre del mistério, de 1939, relata suas dificuldades em reconstruir o itinerário biográfico do político, já que este “não escreveu uma só carta em toda sua vida (...) nem ele falou de si mesmo, salvo de sua obra política, e, mesmo assim, de maneira difícil que para muitos de seus ouvintes eram sibilinos místicos”. Foi um homem de origem modesta e praticamente ignorado: “Ninguém o escutou falar sobre seus sonhos, seus planos”. Por fim, Hipólito Yrigoyen nunca expressou ideias originais, “nem parecia representar ideia alguma e, mesmo assim, chegou à presidência da Argentina”240.

Juan Hipólito del Sagrado Corazón de Jesús Yrigoyen241, nascido em Buenos Aires no ano de 1852, era filho de um imigrante basco francês cuidador de cavalos, Martim Yrigoyen Dodagaray, com Marcelina Além, filha de Leandro Antonio Além e irmã do líder Radical Leandro Nicéforo Além . O velho Além havia sido um entusiasta do regime de Juan Manuel Rosas e devido aos serviços prestados ao caudilho na Sociedad Popular Restauradora – a conhecida mazorca -, conseguiu certo destaque e algumas posses, principalmente no que hoje é o bairro de Balvanera na cidade de Buenos Aires. Após a queda do caudilho em 1852, foi fuzilado pelos adversários de Rosas e pendurado em uma forca na atual Praça de Maio por várias horas.

Segundo Gálvez, “A queda de Rosas foi uma catástrofe para os Além. Perderam proteção e consideração”242. A família Além, com medo de ser perseguida pelo novo regime,

buscou extrema discrição a ponto de Yrigoyen ter sido batizado apenas aos quatro anos de idade devido aos receios de represálias por parte de sua mãe. Além, muito tempo depois

239 Durante o governo Alfonsín, é aprovada a lei 12.839 que ordena a publicação pela imprensa do Senado de um compêndio intitulado “Documentos de Hipólito Yrigoyen. Apostolado Cívico, Obra de Gobierno, Defensa ante la Corte” no ano de 1986. Possuindo a totalidade dos escritos conhecidos do ex-presidente, esta produção se resume a algumas mensagens ao poder legislativo, a polêmica com o também Radical Pedro Molina (cujas respostas do adversário de Yrigoyen estão suprimidas desse volume) e sua defesa perante a Suprema Corte argentina na ocasião de seu julgamento após ser derrubado em Setembro de 1930. Tão escassa é sua produção que os autores tiveram de agregar como parte de seu “Apostolado Cívico” as cartas em que autorizava a doação de seu salário como professor para uma funcionária da escola em que lecionou filosofia ou a doação de seu salário como primeiro mandatário para a Sociedade Beneficente.

240 GÁLVEZ, Manuel, Vida de Hipólito Yrigoyen – Hombre del mistério, Buenos Aires: Pié de Imprenta, 1939, pp. 3-4.

241 Para a biografia de Hipólito Yrigoyen, GÁLVEZ, Manuel, op. Cit. e LUNA, Félix,op. Cit. 242 GÁLVEZ, op. Cit., pg. 29.

quando já era o reconhecido líder dos Radicais, ainda queixava-se aos amigos sobre o estigma que havia lhe caído sobre as costas de ser filho de um “enforcado”. Na faculdade de Direito era constantemente desafiado e prejudicado por seus professores, grande parte egressos do exílio depois da queda de Rosas243.

Se para os Além a queda de Rosas significou um descenso social, para Yrigoyen – filho de um cuidador de cavalos analfabeto – a filiação a esta família foi o que o possibilitou seguir seus estudos. Yrigoyen reúne em si as duas principais origens sociais do Radicalismo: a oligarquia dissidente, por parte de mãe, e os setores médios dependentes e em ascensão, por parte de pai.

A proximidade com o tio advogado e político trouxe mais dividendos: aos vinte anos de idade e pela influência deste é designado como delegado de polícia no distrito de Balvanera, antiga morada dos Além e também distrito eleitoral de seu tio, onde o sobrinho será de extrema utilidade para a construção de sua base política244. É também pela indicação de seu tio que consegue entrar na Faculdade de Direito em 1873.