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2.2. PERSPECTIVAS TEÓRICAS E AS ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

2.2.2. Teoria dos Custos de Transação

Mesmo anteriormente ao aparecimento do Modelo ECD, já nos primórdios do século XX, principiou-se o questionamento da própria firma.

Coase (1937, tradução nossa) em seu artigo “The Nature of the Firm” busca uma nova definição de firma, perguntando-se acerca da necessidade da mesma, caso a produção fosse regulada apenas pelos movimentos de preço e, portanto, de mercado. E encontra o autor que a “coordenação dos vários fatores de produção são realizados sem a intervenção do mecanismo de preços” e de sua análise resulta que a firma é um encadeamento de contratos, ou nexo de contratos, e que a internalização da relação contratual é feita com o intuito de se diminuir os custos de transação necessários à realização das diversas atividades.

Existe uma visão marginalista, em que o ponto de equilíbrio é aquele onde o custo adicional de transação no mercado é confrontado com o custo de produção internalizada.

Estes custos de transação observados por Coase (1937), bem como seus desdobramentos para a firma, foram objeto de aprofundado estudo de Williamson (1975), que diante do “Homem Contratual”, assume pressupostos de racionalidade limitada e de oportunismo dos agentes, em conjunto com a condição de especificidade de ativos em que são realizadas as transações, observando, então, a firma como um nexo de contratos, ou ainda uma sucessão de transações, e procura analisá-la nas dimensões e condicionantes dessas mesmas transações.

Tanto para Coase (1937), quanto para Williamson (1975), a empresa cresce até o ponto em que obter um determinado insumo no mercado seja mais interessante que a elaboração própria

do mesmo. Este último identificou cinco fatores como relevantes na escolha da estrutura de governança: oportunismo, racionalidade limitada, baixa freqüência, incerteza e complexidade, bem como impacto da informação.

Williamson (1975) observa que os aspectos humanos que representam problemas para o estabelecimento do tipo de governança em determinada transação são o oportunismo dos atores, que leva a um comportamento dissimulado e de proteção dos interesses próprios, e a racionalidade limitada, que mostra que há restrições de informação que ocasionam assimetria e outras limitações para a racionalidade dos atores. Quando duas ou mais partes realizam transações recorrentes, o parceiro mais vulnerável se beneficiará da internalização da atividade, devendo mantê-la sob seu controle, sempre que houver opções restritas de contratação no mercado, que se apresentem condições complexas ou até mesmo incertas, ou ainda situações em que a informação necessária para sua realização possa representar altos custos de obtenção.

Williamson (1985) explica que a economia dos custos de transação baseia-se e pressupõe que a transação seja a unidade de análise, sendo que qualquer problema pode ser observado como contratual e que a cada transação, em seus diferentes atributos, refere-se uma estrutura de governança apropriada, sendo essencial o aspecto da especificidade de ativos. Portanto, os atributos das transações e os incentivos para as alternativas de estrutura de governança devem ser adequadamente compreendidos.

Assim, prossegue o autor observando que as formas de governança podem variar desde o contrato clássico de mercado até a hierarquia, centralizada, no outro extremo, sendo que são admitidas as formas híbridas entre ambos. Fica claro que a preocupação central da teoria dos

custos de transação é a conseqüência econômica da apropriada escolha da estrutura eficaz de governança diante dos diferentes tipos de transações envolvidos.

Para avaliar as transações, Williamson (1985) refinou sua definição sobre as três dimensões mais relevantes nas mesmas: a especificidade dos ativos envolvidos, o grau de incerteza da transação e a sua freqüência, sendo que para ele:

As principais dimensões de acordo com as quais as transações diferem, são especificidade de ativos, incerteza e freqüência. A primeira é a mais importante e a que mais diferencia a economia dos custos de transação de outros tratamentos da organização econômica, mas as outras duas têm papel significativo. (WILLIAMSON, 1985, tradução nossa)

Para Williamson (1985) as principais diferenças que determinam os limites entre o mercado e a firma são:

• Mercados promovem incentivos e inibem distorções burocráticas de maneira mais efetiva que as firmas;

• Mercados podem obter economias de escala e escopo; • A firma tem acesso a diferentes instrumentos de governança.

Ainda conforme o autor, os investimentos em ativos específicos são aqueles investimentos duráveis para apoio a determinada transação, sendo esta supostamente durável e dotada das devidas salvaguardas, podendo ser de quatro tipos diversos: especificidades localistas, especificidades de ativos físicos, de recursos humanos e de ativos dedicados.

Para Hill (1990) a mão invisível do mercado leva ao relacionamento de cooperação, uma vez que este diminui os custos de transação. Para esse autor, haverá equilíbrio no aparecimento de um relacionamento de cooperação e confiança, salientando os aspectos dinâmicos no

comportamento dos atores econômicos, quando são necessários investimentos relevantes em ativos específicos.

Williamson (1985) explica que, numa transação, as partes envolvidas estabelecem sua escolha entre investimentos em ativos específicos para a transação, que devem ser economicamente mais eficientes, ou investimentos genéricos. Evidente que os primeiros são mais arriscados, uma vez que haverá prejuízos caso o contrato seja interrompido ou prematuramente finalizado. Se o investimento puder ser aproveitado com outros propósitos, os eventuais problemas surgidos no decorrer do contrato podem ser resolvidos, cada um seguindo seu caminho. A escolha para o investimento específico é função da análise entre o risco estratégico e a redução do valor investido.

Desta maneira, Williamson (1985) mostra que a teoria dos custos de transação interpreta que os preços inicialmente ofertados para uma determinada transação no mercado podem desencadear o início de uma relação contratual, que será renovada, num ambiente competitivo, em função de seus custos e diante da necessidade de investimento em ativos específicos, tanto materiais, localistas e dedicados, quanto de recursos humanos.

Evidentemente, ao longo de um contrato, o treinamento específico em recursos humanos cria o aprendizado necessário à geração de economia no processo, também a comunicação vai sendo facilitada, tornando-se menos onerosa ao longo do tempo. Nesse período, também poderá haver o surgimento da confiança, que dotará o relacionamento de maior adaptabilidade e intensificando a possibilidade de sobreviver a maior estresse, para citar alguns exemplos.

Diante das incertezas, Williamson (1985) observa que a estrutura de governança difere na sua capacidade de resposta às variações que possam ocorrer. A estrutura híbrida de governança ocorre quando há especificidade mista de ativos, sendo que um contrato relacional ou uma governança bilateral são indicados para atividades recorrentes. Nos contratos relacionais, a estrutura envolve investimento de longo prazo no próprio relacionamento e na governança bilateral, sendo que os atores devem efetuar investimentos específicos de forma a gerar dependência mútua e proteção contra o oportunismo.

A teoria dos Custos de Transação é a “fonte mais fecunda como determinante da cooperação interfirmas”, visando à consolidação da vantagem da firma (GUILLOUZO, 2001) e respalda a avaliação das formas de governança adequadas às alianças, uma vez que exaure as razões de eficiência e de redução de custos para colaboração, principalmente diante das circunstâncias e motivos de sua formação, da natureza dos investimentos para a colaboração e o caráter específico da transação (CHILD; FAULKNER; TALLMAN, 2005).

Assim, a colaboração interfirmas, interpretada como uma forma híbrida de governança, que não é uma simples compra no mercado ou “at arms length”, mas também não é uma verticalização, está baseada nas seguintes vertentes teóricas principais: na citada Teoria dos Custos de Transação (WILLIAMSON, 1975, 1985) e na Teoria dos Recursos da Firma, ou RBV (Resouce-Based View) (BARNEY, 1986, 1991; PETERAF, 1993). Entretanto, como mostram Madhok e Tallman (1998), pode-se observá-las como sendo parte uma da outra, na medida em que se pode entender os recursos da firma como sendo suas características internas específicas e responsáveis, inclusive, pela determinação da estrutura ótima de governança e pela decisão de investimento em ativos específicos.

Essas características podem ser consideradas como habilidades ou competências, conforme denominadas pela Teoria dos Recursos da Firma.