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3.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

3.1.2 Teoria econômica

A primeira exploração sobre as diversas correntes teóricas que buscam explicar a internacionalização de empresas aborda a teoria econômica. Essa corrente privilegia a racionalidade econômica, e busca o entendimento dos motivadores econômicos e das vantagens competitivas associadas como explicação para a direção das empresas para o exterior.

Dentre as principais teorias econômicas que influenciaram o pensamento sobre internacionalização, destacam-se:

a) A Teoria da Internalização (Buckley e Casson, 1976) ressalta que o investimento direto seria a forma de entrada utilizada por empresa multinacional detentora de vantagens diferenciadoras e o objetivo fosse a proteção dessas vantagens. A empresa adota a posição de avançar para processos mais complexos de internacionalização, da posição inicial da exportação, como forma de manter a propriedade exclusiva sobre os recursos e conhecimentos compartilhados no exterior. As transações são internalizadas ou integradas no âmbito da própria empresa, como forma de evitar a ineficiência ou maiores custos das operações realizadas pelo livre mercado. b) A Teoria do Custo de Transação (Williamson, 1975) aborda os custos decorrentes da atuação em mercados externos. Esses custos podem ter origem na contratação externa para condução de atividades de atuação externa ou pela utilização da própria estrutura da empresa para condução dessas atividades. Variando em sentido inverso, os dois tipos de custos influenciam diretamente a qualidade final dos processos executados pela empresa. O crescimento do custo na busca de informações, por exemplo, poderá levar a empresa a minimizar riscos na execução das atividades e lhe trazer alguma vantagem competitiva.

c) A Teoria da Organização Industrial (Caves, 1971) se baseia na premissa de que a internacionalização seria uma forma da empresa explorar as vantagens existentes em outros países e mitigar o risco das oscilações imprevistas das exportações e importações. Considerando que fazer negócios no mercado externo é mais custoso e trabalhoso que no mercado doméstico, para ter sucesso na operação internacional a empresa deve explorar as vantagens comparativas decorrentes das imperfeições de mercado e produtos. d) A Teoria do Ciclo de Vida do Produto (Vernon, 1966) tem por fundamento a exploração de vantagens competitivas existentes no país de origem da empresa. Desfrutam de vantagem comparativa ao transferir para o exterior as tecnologias ou operações cujas oportunidades já foram exploradas no mercado de origem, de modo a permitir a retomada do ciclo de lucratividade. As multinacionais que operam sob essa perspectiva veem os países estrangeiros

apenas como locais de exploração, e as subsidiárias instaladas fora do mercado de origem não teriam capacidade de gerar valor agregado para a corporação.

Dunning (1993) desenvolveu a teoria denominada “paradigma eclético da produção internacional”, abordagem relacionada com produção realizada no mercado externo por meio de investimento direto no exterior - IDE. Do ponto de vista da empresa, a internacionalização via IDE seria opção mais lucrativa, embora dotada de maior complexidade. Seria contraponto à atuação no mercado externo com base no comércio exterior, de menor complexidade que o modelo de internacionalização via IDE, mas com limitações de retorno econômico.

A teoria do paradigma eclético desenvolvida por Dunning (1993) se baseia diretamente na teoria econômica, e explica porque as empresas se internacionalizam sob a ótica das principais abordagens da teoria econômica sem, contudo, pretender ser uma teoria alternativa.

O paradigma eclético de Dunning (1993) tem por objetivo explicar, de forma integrada, as motivações (o porquê), a localização (onde) e a forma (como) as empresas multinacionais desenvolvem suas operações internacionais. Basicamente, o paradigma é composto por três fatores: posse (ownership), localização (location) e internalização (internalization) = OLI.

a) posse: são vantagens específicas da empresa, provenientes de sua propriedade e/ou nacionalidade. Podem ter natureza estrutural, quando detém a posse ou acesso exclusivo a recursos que criam ativos, ou transacional, se evidenciada a capacidade da empresa em administrar eficazmente conjunto de ativos localizados em países diferentes, além da competência em gerir alianças estratégicas;

b) localização: vantagens específicas de localização, e abrange aspectos relacionados às condições locais de onde instaladas. Podem ter natureza estrutural, sob o ponto de vista de quanto que as condições institucionais, econômicas e culturais influenciam o desempenho da companhia. Ou, também, em dimensão transacional, que significa a capacidade da organização em gerar valor a partir da gestão coordenada de ativos em diferentes países, a partir da administração de questões como risco cambial, arbitragem financeira, flexibilidade na produção etc.;

c) internalização: caracterizada como vantagens específicas de internalização de recursos, e abrange as possibilidades de transferência de ativos intragrupo (componentes, matérias-primas, equipamentos e tecnologia), sem precisar se valer do mercado tradicional.

Uma questão relevante abordada pelo Paradigma Eclético é a opção da empresa pelo modelo de investimento direto no exterior – IDE no seu processo de internacionalização, por meio da montagem de uma operação no exterior. Essa decisão ocorreria quando os custos da transação, principalmente, inviabilizam formas de internacionalização menos complexas como a exportação ou licenciamento.

O pré-requisito para a internacionalização de uma empresa por meio de IDE seria a existência de vantagem competitiva inicial, uma vantagem específica de posse. Essa vantagem inicial é potencializada quando ocorre a combinação com as vantagens de se internalizar as operações em situação de localização ótima. No quadro a seguir, Pinto et al. (2010) demonstram a combinação dos três fatores OLI (posse, localização e internalização) em contraponto com três formas básicas de internacionalização (exportação, licenciamento e IDE).

Tipos de Vantagem

Posse Localização Internalização Modo de entrada nos mercados externos Exportação OK X OK Licenciamento OK X X Investimento direto no exterior - IDE OK OK OK

Quadro 2 – Modelos econômicos - Vantagens competitivas e modos de entrada no mercado externo

Fonte: Adaptado de Dunning, J, apud Pinto et al. (2010, p.15)

O paradigma eclético de Dunning recebeu críticas de diferentes origens. Johanson e Vahlne (1990) compararam a abordagem econômica do paradigma eclético com a escola comportamental. O paradigma eclético seria excessivamente voltado para explicar o padrão da produção internacional, sem aprofundamento sobre como ocorreria a entrada nos mercados externos. Reconhecem que o paradigma eclético teria maior poder explanatório quando aplicado a firmas experientes, com atuação sedimentada em diversas regiões do mundo, enquanto que a escola comportamental teria poder explanatório mais efetivo nos estágios iniciais do processo de internacionalização, por ser um modelo comportamental e, portanto, ser mais aplicável a firmas menos experientes.

Johanson e Vahlne (1990) criticaram também a pouca flexibilidade do paradigma eclético e sua aplicabilidade mais voltada para atividades de manufatura. Criticaram também a ausência de abordagens sobre aspectos como aprendizagem organizacional e a utilização de formas de cooperação empresarial (alianças estratégicas, por exemplo) como estratégias de entrada em novos mercados.

Dunning (1997) reconheceu algumas críticas feitas ao paradigma eclético, tanto que, posteriormente, revisou a sua teoria e incorporou novas questões relacionadas com a globalização da economia e os novos paradigmas dominantes na economia e nas estratégias de negócios das empresas. Incluiu em suas abordagens vantagens de propriedade trazidas pelo relacionamento entre empresas, em particular oriundas de alianças estratégicas e redes de relacionamento, adicionalmente à sua abordagem original focada quase que exclusivamente na produção internacional e no investimento direto no exterior.

Ressalvadas a pertinência das críticas ao paradigma eclético de Dunning, é inegável sua contribuição, ainda nos dias atuais, para a compreensão sobre a forma de entrada de empresas no mercado externo. Mesmo considerando que as abordagens de Dunning tenham ocorrido por volta dos anos 60 e 70, e que tenha por foco a indústria de caráter mais tradicional e a manufatura, também é inegável que os pressupostos de vantagens competitivas associadas à localização ou posse de algum ativo ou recurso físico podem ser aplicados à lógica de negócios atual. Especificamente quando se trata de negócios intensivos em recursos intangíveis, baseados no conhecimento (comércio eletrônico e tecnologia da informação, por exemplo).